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A CIÊNCIA E O PODER NA SOCIEDADE DO SÉCULO XIX

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Academic year: 2022

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A CIÊNCIA E O PODER NA SOCIEDADE DO SÉCULO XIX

FAZOLI, Ana Paula Brunelli1 LUCIANO, Mariana Juriatto1

RODRIGUES, Stefany1 LIVIO, Milena dos Santos2

DIAS, Fabiano Moura3

INTRODUÇÃO

No século XIX o conhecimento científico estava em ascensão e exercia plenos poderes sobre a sociedade da época. O conceito de doença mental ainda não estava completamente definido e o tratamento concedido à enfermidade era de extrema exclusão do convívio social.

Nesse período não se buscava unicamente compreender a loucura, mas também conquistar méritos e camuflar problemas sociais através da ciência.

O trabalho acadêmico apresentado tem como objetivo analisar, dentro do contexto histórico, as relações entre poder e ciência, a vulnerabilidade dos indivíduos diante dos estudos científicos, a moralidade dos atos praticados pelo médico e apresentar ações de intervenções humanitárias, a serem desenvolvidas por profissionais da saúde e que contribuam para a vida e o viver na sociedade de indivíduos excluídos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa tem origem em um trabalho interdisciplinar que envolveu disciplinas do primeiro de uma instituição de ensino superior do estado do Espirito Santo, onde é feito uma de análise interpretativa da obra O Alienista de Machado de Assis. Este tipo de pesquisa visa identificar os pressupostos, que o autor utiliza

1 Graduandas do Curso de Nutrição e Psicologia do Centro Universitário São Camilo-ES.

paulafazoli@hotmail.com

2 Mestre em Ciências das Religiões, Especialista em Saúde Família, Fisioterapeuta e Professora do Centro Universitário São Camilo, milenalivio@saocamilo-es.br

3 Mestre em Ciências da Reabilitação, Pós-Graduado em Fisioterapia em Terapia Manual e professor do Centro Universitário São Camilo-ES, fabianodias@saocamilo-es.br

Cachoeiro de Itapemirim- ES, julho de 2016.

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como fundamento de sua argumentação estabelecendo relações com outros conhecimentos, o que significa conferir um alcance mais amplo aos resultados obtidos com a leitura analítica (GIL, 2008).

Utilizou-se a revisão bibliográfica a fim de trazer fundamentação científica às discussões realizadas sobre a obra central. Buscaram-se como material bibliográfico o próprio livro “O Alienista”, artigos científicos encontrados no Google Acadêmico e livros relacionados a conteúdos abordados ao longo da pesquisa.

As referências foram selecionadas por data, sendo incluídas no estudo as publicações encontradas dentro do período dos últimos dezoito anos. Os artigos foram previamente selecionados através da leitura de seus títulos e posteriormente foi realizada uma leitura crítica e reflexiva aos resumos a fim de eliminar os artigos que não correlacionavam com o objetivo desse trabalho.

DESENVOLVIMENTO

O conto “O Alienista” relata a história do Dr. Simão Bacamarte, um grande estudioso que se entrega de corpo e alma as atividades científicas.

Percebendo que na pequena vila os doentes mentais viviam isolados em suas residências e excluídos da sociedade, Bacamarte resolve se dedicar aos estudos da psiquiatria e constrói na cidade um asilo, a Casa Verde.

O conto machadiano se desenrola no século XIX, neste período o Brasil passava por grandes transformações. O contexto histórico da narrativa foi marcado por uma sociedade aristocrática, elitista, escravocrata e com limitada participação política. Tal assertiva pode ser comprovada através das atitudes de Bacamarte em relação ao tratamento dado a loucura. O poder político legitimava os seus atos, pois era um homem ilustre e da nobreza.

De certa forma verifica-se uma soberania por parte do médico, visto que, a sociedade se submetia aos seus estudos científicos, que por fim, já não tinham critérios para classificar os verdadeiros casos de internação, acarretando um desconforto na população. No trecho a seguir pode ser comprovada a afirmação: Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo modo para a Casa Verde; daí a

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alegação de que não havia regra para a completa sanidade mental [...]. (ASSIS, 2016, p. 26).

Para os estudiosos desse tema, a característica essencial da vulnerabilidade refere-se a um atributo relativo à capacidade de resposta dos indivíduos ou grupos frente a situações de risco ou constrangimento. Dessa forma, a vulnerabilidade pode ser entendida como a incapacidade dos indivíduos de enfrentar os riscos existentes ao seu redor, ampliando, a perda do seu bem-estar. (PADOIN; VIRGOLIN, 2016).

Diante do comportamento do médico pode se dizer que o mesmo não foi pautado em valores morais. De acordo com Fortes (1998), a moral é o conjunto de valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações sociais. Kant apud Ricouer (p.11, 2011) afirma que “não se deve tratar uma pessoa como um meio, mas como um fim em si”. E acrescenta que se deve agir de tal forma que trate a humanidade na própria pessoa e na pessoa de outrem, nunca como um meio.

A ideia de Kant apud Ricouer (2011) é um tanto profunda, todavia, deve se ter em mente que, as pessoas daquela época se encontravam em uma situação na qual alguém exercia um poder sobre elas simplesmente para satisfazer interesses pessoais. A narrativa também traz uma crítica ao cientificismo, à sociedade da época e às relações de poder. Discorre Lakatos e Marconi (1999, p. 46) acerca do Estado positivo ou científico:

O homem tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos através da observação científica e do raciocínio formulando leis; portanto, não mais procura conhecer a natureza íntima das coisas e as causas absolutas.

Nota-se como característica dessa filosofia positivista, desenvolvida por Augusto Comte (1798-1857), a aplicação do método científico para estudar os fenômenos que ocorriam na sociedade, perceptível no texto quando Costa, um dos mais estimados cidadãos de Itaguaí, é trancafiado na Casa Verde simplesmente por seus sentimentos cavalheirescos, conforme se verifica no trecho: “Bacamarte aprovava esses sentimentos de estima e compaixão, mas acrescentava que a ciência era a ciência, e que ele não podia deixar na rua um mentecapto”. (ASSIS, 2016, p. 11).

A princípio, as internações na Casa Verde poderiam ser diagnosticadas como loucura. No decorrer do conto, sucederam-se vários casos que passaram a afligir a população de Itaguaí. Verificou-se que o interesse de Bacamarte era

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exclusivamente o estudo cientifico da loucura. Cada comportamento deveria ser estudado e explicado cientificamente. Qualquer atitude suspeita era caso para internação, e assim internou o amigo, o padre da vila e até mesmo a esposa.

Diante da explanação, percebe-se que a concepção de loucura e o tratamento dado à enfermidade, esteve longe de ser humanitária, pois o profissional estava voltado para uma abordagem exclusivamente científica.

No contexto atual, referido profissional é convocado a humanizar os cuidados no âmbito da saúde, pois isso implica respeito à dignidade. Afima Pessini e Bertachini (2014, p. 437): “Na base de tudo está o resgate do valor da pessoa humana como um todo, um ser multidimensional, isto é, físico, psíquico, social e espiritual”. E acrescentam: Humanização, ética, cuidado sensível, acolhida e hospitalidade são hoje palavras de ordem que devem se concretizar em sentimentos, atitudes e políticas de ação no frio mundo da assistência da saúde.

Cumpre salientar que, é imprescindível a realização de trabalhos por profissionais da saúde no intuito de auxiliar a sociedade a lidar, compreender e aceitar a necessidade de cuidados aos indivíduos vulneráveis, que sofrem pela exclusão social. Isso deve ser feito através de atitudes inclusivas. Expõe Gomes e Ruiz (2014, p. 575):

O objetivo final é que todos os seres humanos possam se reconhecer e respeitar enquanto seres humanos, não obstante as diferenças [...] e sabiamente superando toda sorte de preconceitos que “excluem” o ser humano da convivência com os outros, humanizar é incluir e incluir é humanizar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do personagem Simão Bacamarte, que passa a exercer poderes sobre todos os indivíduos integrantes da sociedade, se assemelha com várias situações da realidade cotidiana. Atualmente, pode ser visto a hipocrisia do ser humano representada por poderes políticos voltados principalmente para a obtenção de prestígio pessoal e social.

Na obra Machado de Assis não apresenta soluções para os problemas decorrentes daquela época, apenas enfatiza as relações de interesse e poder que existiam em torno do conhecimento científico.

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Hoje, o tratamento dado à loucura vem evoluindo juntamente com a humanidade. Busca-se, cada vez mais, tratar essas pessoas com dignidade e respeito, pois são cidadãos com plenos direitos e deveres. É importante frisar que, os meios acadêmicos vêm desenvolvendo um trabalho de extrema conscientização dos profissionais da saúde, de modo que esses possam adotar posturas mais humanas, principalmente, diante de enfermidades que tendem a excluir os indivíduos da sociedade, colocando-os em situação de vulnerabilidade.

BIBLIOGRAFIA

ASSIS, M. de. O alienista. Universidade da Amazônia. Núcleo de Educação à distância. Disponível em: http://www.elivros-gratis.net/livros-gratis-machado-de- assis.asp. Acesso em 06 jun. 2016.

FORTES, P.A. de C. Ética e Saúde: questões éticas, deontológicas e legais, tomada de decisões, autonomia e direitos do paciente, estudos de casos. 1 ed. São Paulo: EPU, 1998.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Editora atlas, 2008, 200 p.

GOMES, A. M. de A.; RUIZ, E. M. A Política Nacional de Humanização: O movimento HumanizaSus. In: PESSINI, L.; BERTACHINI, L.; BARCHIFONTAINE, C.

de P. Bioética, Cuidado e Humanização: Humanização dos cuidados de saúde e tributos de gratidão. São Paulo: Edições Loyola, vol. III, 2014, 280 p.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Sociologia Geral. 7 ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 1999.

PADOIN, I. G.; VIRGOLIN, I. W. C. A vulnerabilidade social como uma dificuldade a participação política. In: Seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Unicruz, 2016.

PESSINI, L.; BERTACHINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. de P. Bioética, Cuidado e Humanização: Humanização dos cuidados de saúde e tributos de gratidão. São Paulo: Edições Loyola, vol. III, 2014, 280 p.

RICOUER, P. Ética e Moral. 1 ed. Covilhã: Luso Sofia:press, 2011, 19 p.

Referências

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