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Gestão democrática da educação e a inexperiência do diálogo: humanização da escola pública

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Academic year: 2022

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Gestão democrática da educação e a inexperiência do diálogo:

humanização da escola pública

Karen Karoline Tavares PESSOA1 Millena Ítala de Oliveira FEITOSA2 Orientadora: Kylzia Andréa Azevedo PEREIRA3

Resumo: O presente trabalho pretende discutir o tema da democracia numa abordagem freireana e refletir sobre a inexperiência democrática, inexperiência de diálogo e da gestão democrática nas escolas públicas. Tendo como foco a sociedade brasileira e sua dita democracia. O estudo de ordem investigativa e bibliográfica tem como objetivo compreender o contexto atual com um olhar crítico- reflexivo a um passado recente, que ainda lança reflexos dicotômicos na sociedade contemporânea, como: autoritarismo- autonomia; escravidão-libertação.

Palavras-chave: Inexperiência democrática. Inexperiência do diálogo. Gestão democrática.

Introdução

As escolas da rede pública de ensino defendem uma proposta de gestão pública democrática, com a participação de todos nas tomadas de decisão, que é a democratização da escola pública. No entanto, nos deparamos com autoritarismo e acúmulo de poder. Diante desta conjuntura, o presente estudo pretende entender o contexto atual e suas disparidades. Como também, perceber os reflexos dicotômicos contidos na nossa sociedade contemporânea, abordando a inexperiência do diálogo/democrática e os reflexos da colonização na atualidade. Na busca da humanização da escola pública e conscientizações dos indivíduos que dela participam, com o intuito de construir um ambiente humano e fraterno.

Inexperiência democrática

O sentido marcante de nossa colonização, fortemente predatória, à base da exploração econômica do grande domínio, em que o “poder do senhor” se alongava “das terras às gentes também” e do trabalho escravo inicialmente do nativo e posteriormente do africano, não teria criado condições necessárias ao desenvolvimento de uma mentalidade permeável, flexível, característica do clima cultural democrático, no homem brasileiro (FREIRE, 2009, p. 74).

O Brasil, no decorrer do seu processo de formação histórico-cultural foi fortemente marcado pela colonização portuguesa. Herdamos um passado de

1 Graduanda do Curso de Pedagogia | FAFIRE

2 Graduanda do Curso de Pedagogia | FAFIRE

3 Professora do Curso de Pedagogia |FAFIRE

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2 colonização/dominação, ainda hoje, continuamos de certa forma, servos da doutrina europeia, posta para alienar/ dominar o povo brasileiro.

Sabemos que a cultura colonizadora desconsidera as especificidades (cultural, religiosa e de identidade) do povo colonizado. Com a colonização/exploração econômica do território nacional, sofremos as consequências deste ato dominador na formação da massa.

A educação foi um instrumento utilizado como ferramenta de manipulação portuguesa, perpassada pela Pedagogia Jesuítica, que com seus métodos pedagógicos tinham como objetivo a subordinação das pessoas e dos relacionamentos dos membros, professores e alunos (relação vertical), desconsiderando elementos (histórico, cultural, político, social e pessoal) dos sujeitos brasileiros que ficaram sem voz e sem vez.

Para Freire (2009), a inexperiência democrática caracteriza uma “mentalidade feudal”, através de uma estrutura colonial. E nesta conjuntura, constituímos nossas bases democráticas, continuamos a alimentar a nossa inexperiência democrática e a delas nos alimentar. De forma impositiva, pois, desconhecemos nossa verdadeira realidade. E por não conhecer o real, vivemos na ilusão fantasiosa da democracia de um país livre. Que se a alonga às práticas escolares, nas relações “dialógicas”, nas relações “horizontais”, na construção “coletiva” e na Gestão Democrática da Escola Pública.

Os nossos colonizadores não se preocuparam com a formação de uma civilização pensante, pois vinham para cá com a intenção de explorarem a terra, enriquecerem o quanto antes e voltarem rapidamente a Portugal.

Desse modo, seria necessário que o povo “dominado” fosse manipulado para que os objetivos dos “dominadores” fossem alcançados, ou seja, a população nativa precisava deixar de ser sujeito para passar a ser objeto de alienação.

Nossa sociedade ainda apresenta traços estruturais econômicos e sociais do período colonial, na realidade somos inexperientes quando se trata de democracia.

Pois, a nossa formação histórico-cultural ocorreu sem experiência de diálogo. Nós não tivemos acesso a experiências de autogoverno.

Acredita-se que, com a democracia, os sujeitos participam do processo histórico e renunciam a sua posição de objeto, assumindo o papel de sujeito. E a educação,

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3 neste contexto, deve ser mais ativa em suas práticas, favorecendo atitudes dialógicas, críticas e reflexivas. Para que os sujeitos possam acompanhar o processo de emersão democrática.

A escola na voz da massa, na ingenuidade tipicamente humana e no diálogo das relações humanas, reproduz por um caráter democrático a liberdade do sujeito, crítico, reflexivo, ativo, que tem esperança, fé, sonhos, e que se relaciona porque ama.

Inexperiência do diálogo

Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo. Daí que seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação de dominação. [...] porque é um ato de coragem, nunca de medo, o amor é compromisso com os homens [...] a causa da libertação. Mas, este compromisso porque é moroso, é dialógico (FREIRE, 2005, p. 92).

Para Freire (2005), não há como pensar no diálogo sem pensar no amor. Como também não é possível existir um diálogo verdadeiro sem verdade nos sujeitos. O pensar é crítico, criador, reflexivo, transformador, libertador e pronunciador da palavra. Desse modo, não há diálogo sem amor, não existe prenúncia sem verdade e não há libertação se não existe amor para eu-tu e para o mundo. “falar, por exemplo, em democracia e silenciar o povo é uma farsa. Falar em humanismo e negar os homens é uma mentira” (FREIRE, 2005, p. 94).

Segundo Freire (2005), o diálogo precisa estar fundamentado no amor para ter sua funcionalidade atingida, não podendo ser usado para dominar uma parte. Se não houver amor, não é construtivo, não é diálogo e não liberta. Uma das grandes dificuldades em pôr em prática o diálogo é a inexperiência.

Nossa formação cultural não valoriza a troca, o questionamento, fomos instruídos a apenas ouvir, concordar. No entanto, estamos nos libertando dessa educação opressora e passando a fazer valer a democracia que está estabelecida em nossa constituição.

Um indivíduo instruído de forma humana, que conhece o amor, respeito e diálogo, não se utiliza de práticas opressoras. Ele pratica a tolerância e utiliza seus sentimentos para favorecer a democracia.

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4 Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo. Não há, por outro lado, diálogo se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante (FREIRE, 2005, p. 92).

É necessário que o diálogo seja feito com sentimento verdadeiros, para que suas lutas sejam comuns e não haja dominador e nem submisso. As relações necessitam ser constituidas, a partir da horizontalidade.

Entretanto, não devemos achar que ter diálogo com a massa é um ato de caridade, nem aceitar passivamente que o diálogo seja usado para discursos de dominação, o diálogo não é conquista, é libertação.

Nosso papel não é falar ao povo sobre a nossa visão do mundo, ou tentar impô-lo a ele, mas dialogar com ele sobre a sua vida e a nossa. Temos de estar convencidos de que a sua visão do mundo, que se manifesta nas várias formas de sua ação, reflete a sua situação no mundo, em que se constitui. A ação educativa e política não pode prescindir do conhecimento crítico dessa situação, sob pena de se fazer “bancária” ou de pregar no deserto (FREIRE, 2005, p.100).

A educação precisa urgentemente abranger a perspectiva humanística de mudança; “a educação não é neutra”, necessariamente está a serviço da transformação ou da opressão. Se a escola assume o posicionamento da tomada de decisão crítica de mobilizaão, intervenção contra a acomodação da massa perante a

“dominicação”, então a educação não é neutra. Não existe neutralidade na comunicação, onde há pronunciação, há problematização, há transformação.

No ambiente escolar, é necessário ao educador conhecer a realidade e os pensamentos de seus educandos, assim, ele alcançará mais facilmente o entendimento e principalmente o interesse do aluno. Aproximando-se das suas expectativas, das suas aspirações, ajudando a firmar e formar novas ideias.

Se é dizendo a palavra com que, “ pronunciando” o mundo, os homens o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens [...] por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizados, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro (FREIRE, 2005, p. 91).

Então, entendemos que o dialogo é a base da transformação e libertação do homem. E que um sujeito crítico, dialógico, reflexivo, não se constitui com uma

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5 educação vertical e fechada. Nem com transmissão de conteúdos e depósito de informações. A democratização da escola inicia-se com o fim do autoritarismo e se encontra no diálogo.

Gestão democrática nas escolas públicas

A gestão democrática é respaldada legalmente, inclusive pela LDB n° 9.394, de 1996, mas, na prática, a gestão nas escolas públicas, com suas eleições diretas, conselhos, grêmios, participação da comunidade, não garantem a democratização nas instituições de ensino. Pois, no cotidiano escolar, a prática é ilegitima ao que propõe o ideário democrático.

A inexperiência de gestão democrática está correlacionada à inexperiência democrática e inexperiência de diálogo do povo brasileiro. Com isto é fácil perceber que a Escola não está solta no espaço, a escola é massa, é elite, é demonstração de poder, “dominação”, manipulação, alienação, acomodação. Mas, a escola é também espaço de transformação, pronunciação, mudança, esperança e libertação.

Assim, partindo de uma perspectiva humanística, freiriana, espera-se que as práticas pedagógicas nas escolas sejam de esperança e de mudança. Espera-se que a gestão democrática possa ampliar os horizontes da classe popular, no exercício pleno da cidadania. E que a massa se liberte das opressões e privilégios da elite.

Entendendo que, a gestão democrática é constituída a partir dos interesses das pessoas como um todo, na pluralidade e plenitude dos sujeitos. Não da concessão patriarcal que oferece feitos e que trata pessoas como objetos de manipulação, determinando de forma autoritária o que deve ser feito ou não.

A gestão libertária da mudança possui horizontes de pronunciação da palavra, do amor, da esperança, reflexão, crítica. Que busca estabelecer uma relação verdadeira entre a participação, dialogicidade, acreditando que tais elementos são fundamentais para a construção e exercício da democratização da gestão pública popular das escolas e dos homens.

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6 Considerações finais

Sendo assim, partindo da inexperiência democrática, do diálogo, e assim da inexperiência da gestão democrática, podemos acolher recursos consistentes para que haja condições de uma real mudança, e não para a acomodação pela falta de experiência.

Acreditamos que a mudança só é realizada quando se sabe o que quer mudar.

Não se muda o que não se conhece, a massa pode se mobilizar, “fazer barulho”, mas não emerge, porque não teve condições formativas para entender o processo da verdadeira democratização.

A elite se mascara para confundir a massa. Atualmente temos um partido político de direita, que tem história na ditadura, repressão, corrupção, mas que mudou o nome do partido para “Democratas”. E a massa, inocente, acredita que para se ter democracia precisa de representantes com fachadas democráticas.

É evidente que, ao enxergarmos a verdadeira realidade, no libertaremos do aprisionamento castrador da ideologia “dominante”. No instante em que os sujeitos se percebem como “sujeitos de relações”, que pronunciam, problematizam, transformam e constroem a história política, social, cultural e pessoal de sua nação, sua identidade é criada e os objetos tornam-se sujeitos.

Diante disto, nós, sujeitos, não podemos usar de nossa prática educativa para difundir o autoritarismo e aprisionarmos a mente de nossos alunos. A democracia não se ensina, se participa e se dialoga.

Todavia, temos a esperança, não de braços fechados, que a massa brasileira se move. Não acreditamos no fim do autoritarismo, mas acreditamos na emersão da massa. Não acreditamos no fim da dominação, mas acreditamos na libertação e no diálogo próprio da existência humana.

Referências

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.

_________ . Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

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7 _________ . Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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