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Processo

21133/20.1YIPRT-A.L1-2

Data do documento 13 de maio de 2021

Relator Inês Moura

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Procedimento de injunção > Honorários

SUMÁRIO

O procedimento especial de injunção do Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de setembro pode ter lugar quando está em causa a reclamação do pagamento de quantia pecuniária, que não exceda € 15.000,00, a título de honorários por serviços prestados por advogado, no âmbito de contrato de mandato celebrado entre as partes, por configurar uma obrigação pecuniária emergente de contrato.

TEXTO INTEGRAL

Acordam na 2ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa

I. Relatório

Vem Sofia…, advogada em causa própria, intentar procedimento de injunção contra Bruna…, com vista à condenação desta no pagamento da quantia de € 5.533,30 a título de honorários.

Alega sinteticamente que celebrou um contrato de mandato com a R., no âmbito do qual lhe prestou serviços jurídicos em diversos processos judiciais que correram termos e que identifica, findo os quais emitiu Nota de Honorários e Despesas no valor global de € 5.431,30 que enviou à R. que não procedeu ao pagamento de qualquer quantia sendo devidos juros vincendos.

A R. veio deduzir oposição alegando que nunca foi previamente estabelecido um preço para os serviços e que entregava à A. o dinheiro que esta lhe pedia, ficando com a convicção de que estava a pagar os serviços prestados, cuja estimativa de custos a A. nunca lhe forneceu nem informou do valor/hora que cobrava, mais referindo que em face dos honorários que lhe foram solicitados pediu a realização de um laudo à Ordem dos Advogados. Suscita a exceção dilatória do erro na forma de processo e consequente nulidade de todo o processado, no entendimento de que ao caso não é aplicável o procedimento de injunção, sempre concluindo a final pela

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improcedência do pedido.

Cumprido o contraditório, foi proferido despacho que julgou improcedente a exceção dilatória suscitada do erro na forma do processo, com o teor que se reproduz:

“I – Do erro na forma de processo

A ré na oposição apresentada veio invocar a exceção de erro na forma de processo, argumentando que o procedimento de injunção não é o meio processual idóneo para a autora reclamar da ré o pagamento da quantia em causa, por estar em causa honorários devidos por serviços de patrocínio prestados por advogado, no âmbito de contratos de mandato forense cujo montante foi fixado unilateralmente pela autora.

Regularmente notificada, veio a autora exercer o seu direito ao contraditório, pugnando pela improcedência da exceção invocada.

A consequência do erro na forma de processo consiste, regra geral, na anulação, maior ou menor, dos atos praticados (artº 193 nº 1 do CPC), sendo que só se anulam unicamente os atos que não puderem ser aproveitados.

Percorrido e analisado o requerimento injuntivo, extrai-se do mesmo que a autora invocou a celebração com a ré de um contrato de mandato de forense e que as quantias aqui reclamadas correspondem à contrapartida pelos serviços prestados no âmbito desse contrato.

O processo é comum ou especial (artº 546.º nº 1 do CPC). O processo especial aplica-se aos casos expressamente designados na lei e o processo comum aplica-se a todos os casos a que não corresponda processo especial (artº 546.º nº 2 do CPC).

Perante determinado caso concreto o problema do erro na forma do processo a empregar impõe que se aprecie se, para o caso vertente, a lei estabeleceu algum processo especial.

O caso ou casos para que o processo especial foi criado pela lei estão designados pelo fim. Por sua vez, o fim a que se destina qualquer processo é-nos dado pela respetiva petição inicial, onde o autor ou requerente baliza a finalidade que se propõe atingir, formulando o pedido que pretende ver acolhido pelo tribunal. Assim sendo, deve empregar- se processo especial quando o pedido formulado na petição inicial corresponde precisamente ao fim para o qual a lei estabeleceu esse mesmo processo especial.

Nos termos previstos no artigo 7.º do regime legal anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98 de 1 de setembro, a injunção é uma providência que tem por finalidade conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias a que se refere o artigo 1º do diploma preambular.

Por sua vez, este artigo 1.º do diploma preambular estabelece a aprovação do regime dos procedimentos destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a €15.000.

A ação especial de condenação destinada a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a €15.000 visa o reconhecimento do direito a uma prestação pecuniária e a imposição ao réu devedor do cumprimento dessa prestação (artºs 1 do Decreto-Lei nº 269/98, de 1 de Setembro, 4 nºs 1 e 2 b) do CPC). Mas a primeira

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principal característica deste processo especial é que essa prestação só pode ter um objeto: a entrega de dinheiro. Impõe-se que se tratar de uma obrigação pecuniária.

O recurso a esta ação não é, pois, admissível para exigir o cumprimento de qualquer outra prestação, como por exemplo, de uma obrigação de informação, de prestação de facto ou de entrega de coisa.

E a segunda principal característica deste processo especial é que essa obrigação pecuniária tem de ser emergente de um contrato.

Posto isto, temos de concluir que o processo de injunção adotado foi o acertado, dado que foi utilizado para o fim a que a lei o destina: o reconhecimento do direito a uma prestação pecuniária, de valor inferior a €15.000, emergente de um contrato de prestação de serviços, mais concretamente, um contrato de mandato forense.

Na verdade, não acolhemos o entendimento defendido no aresto citado pela ré, perfilhando, ao invés, o entendimento que, de forma bem mais expressiva, tem sido sufragado na nossa jurisprudência, por ser aquele o único que encontra respaldo legal. Isto porque não se alcança que a lei restrinja a aplicação do processo de injunção a determinado tipo de contratos ou que exclua outros, como seja, o contrato de mandato forense.

Assim, o procedimento especial de injunção pode ser usado em todas as situações em que se pretenda exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos, independentemente, desse valor se encontrar previamente definido inter partes e dos meios probatórios que possam vir a ser realizados a requerimento das partes ou por iniciativa do tribunal.

Em face do exposto, forçoso se torna, pois, concluir que o procedimento de injunção é o legal e adequado para obter o pagamento da quantia reclamada pela autora.

Nesta conformidade, julgo totalmente improcedente, por não provada, a exceção invocada de erro na forma do processo.”

Por não se conformar com esta decisão veio a Requerida dela interpor recurso, pedindo a sua revogação e substituição por outra que julgue procedente a exceção dilatória do erro na forma de processo e consequente nulidade do mesmo, apresentando para o efeito as seguintes conclusões que se reproduzem:

A) No douto despacho proferido nos presentes autos, em 11/11/2020 e ora apelado, a Meritíssima Juíza a quo proferiu despacho no âmbito do qual decidiu, julgou totalmente improcedente, por não provada, a exceção invocada de erro na forma do processo

B) Com a demanda dos presentes autos, pretende a apelada/autora ser ressarcida dos serviços jurídicos prestados à apelante/ré, no âmbito da representação judicial exercida em determinados processos judiciais e a assessoria jurídica prestada para outos assuntos em que foi consultada e para o efeito socorreu-se do processo de injunção – Decreto Lei 269/98 de 1 de setembro.

C) Na oposição oportunamente deduzida a apelante/ré discutiu e impugnou o valor reclamado:

por não estar devidamente liquidado; o considerar elevado e desfasado da realidade, tendo em

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conta os serviços efetivamente prestados; por ter procedido a todos os pagamentos que ao longo do mandato lhe foram sendo pedidos; porque lhe foram apresentadas notas de honorários compreendendo atos administrativos e jurídicos, sem que se encontrem diferenciados, sem que se informe o tempo despendido e qual o valor/hora cobrado, critérios essenciais na elaboração das notas, que não foram previamente informados e/ou acordados.

D) Invocou a ora apelante/ré ao deduzir a exceção de erro na forma de processo o recente Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa processo nº 7628/19.3YIPRT.L1-8- Relator: Carla Mendes de 11-12-2019, no âmbito do qual se concluiu existir erro na forma de processo no recurso ao processo de injunção para obter um título executivo com vista à obtenção do cumprimento coercivo da obrigação pecuniária, no caso em que se peticiona o pagamento de honorários, cujo valor não foi acordado entre as partes, pois não se compadece com a celeridade e agilização do processo, como também resulta numa diminuição de garantias de defesa dos réus.

E) Mais se declara que tal erro afasta/impede o aproveitamento de qualquer ato praticado, visto que a ação é intentada através de formulário simplificado inadmissível em qualquer outra forma de processo, uma vez que a tramitação (injunção) não defende, nem acautela as garantias de defesa dos requeridos (réus), devendo os requerentes, advogados que pretendam cobrar os seus honorários socorrer-se da ação declarativa comum.

F) Com o Decreto Lei nº 269/98, de 1 de setembro pretendeu o legislador criar um processo simplificado para a litigância de massa empresarial, onde não havendo litígio sobre o conteúdo central da obrigação, haveria apenas litígio sobre o pagamento.

G) A agilização e celeridade é patente na tramitação uma vez que na petição inicial o autor exporá sucintamente a sua pretensão e respetivos fundamentos, o réu é citado para contestar no prazo de 15 dias e a audiência de discussão e julgamento realiza-se no prazo de 30 dias, podendo haver lugar à suspensão de audiência para realização de diligência indispensável à boa decisão da causa – artigos 1, 3 e 4 do citado Decreto Lei.

H) Nos presentes autos, pretende a apelada/autora o pagamento de honorários, no valor de € 5.431,30, não questionando a apelada/ré o mandato em si, mas sim a inexistência de acordo quanto ao seu valor e a liquidação efetuada.

I) O valor reclamado relativamente ao quantum dos honorários, não está assente, não foi acordado entre as partes, nomeadamente a assunção da dívida no contrato de mandato celebrado, sendo certo que não foi junto no requerimento inicial nenhum documento, nem as notas de honorários, nem as faturas correspondentes (prestação de serviços), tendo a apelada/autora reservado a sua junção (bem como os demais documentos) para a audiência de julgamento.

J) Está em causa, não só o acordo quanto ao valor dos honorários- tendo sido oportunamente apresentado pela apelante/ré junto da Ordem dos Advogados, um pedido de Laudo, no âmbito do qual se aguarda decisão- mas também o facto de, só em audiência, a apelante/ré ser confrontada com os documentos que fundamentam a demanda e sobre eles se poder

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pronunciar com total amplitude, resultando manifesto que a tramitação (injunção) não se compadece não só com a celeridade e agilização do processo, como também pode resultar numa diminuição de garantias de defesa da apelante/ré.

K) As partes estão de acordo sobre a existência de um contrato de mandato, mas estão em desacordo quanto ao seu conteúdo, defendendo a apelada/autora o direito de fixar livremente o valor pelo trabalho realizado, sem sequer atender às regras da profissão, e defendendo a apelante/ré de que nunca lhe foi comunicado qual o valor que o serviço solicitado implicaria, ou os parâmetros pelo qual tal serviço se regeria.

L) A divergência assinalada entre as partes, não se pode considerar como um simples exercício de contraditório, ao abrigo de uma impugnação motivada, mas sim uma indicação de que as partes não acordaram no valor a liquidar.

M) Visando o presente procedimento especial simplificado, a apreciação de obrigações pecuniárias emergentes de contrato, não estando as partes de acordo sobre o conteúdo de uma obrigação principal, nem estando o mesmo corporizado em qualquer suporte físico ou troca de comunicações, falecem as bases para considerar existir um acordo quanto à obrigação pecuniária a constituir, o que é um pressuposto do recurso ao procedimento especial de injunção.

N) Ora, sendo o preço um dos elementos essenciais do contrato, não cumpre neste procedimento estar a averiguar aquilo que as partes pretenderam ou não contratar, na medida em que o processo próprio para a apreciação e indagação das declarações de vontade é a ação declarativa comum.

O) Saliente-se que os honorários de advogado, pela sua especificidade, têm sido amiúde considerados pela doutrina e jurisprudência, como uma prestação não meramente pecuniária, que depende de vários fatores, não exclusivamente ligados à mera execução material do serviço, sendo na tradição do foro, peticionados em ação declarativa comum.

P) Deverá concluir-se que a ação dos presentes autos não se subsume aos requisitos exigidos no artigo 1º e seguintes do Decreto Lei 269/98, não se encontrando o direito definido, um eventual crédito da apelada/autora deve considerar-se litigioso, por não ter sido fixado no seu conteúdo, não se compadecendo, com o recurso ao processo de injunção para obter um título executivo com vista à obtenção do cumprimento coercivo de uma obrigação pecuniária.

Q) Acresce, que este erro afasta/impede o aproveitamento de qualquer ato praticado, visto que a ação foi intentada através de formulário simplificado inadmissível em qualquer outra forma de processo, uma vez que a tramitação (injunção) não defende, nem acautela as garantias de defesa da apelante/ré, devendo a apelada socorrer-se da ação declarativa comum.

R) Ainda que se admita, sem conceder, que o mandato forense tem natureza contratual e que os honorários constituem uma obrigação pecuniária, não é menos verdade que esta obrigação não surge liquidada em definitivo ab initio.

S) Só assim não sucederia se os honorários estivessem já previamente fixados contratualmente (conforme prevê o artigo 105º, nºs 1 e 2 do Estatuto da Ordem dos Advogados) – ou tabelados,

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o que é ilegal, como se sabe.

T) Contrariamente aos contratos para que o Decreto Lei nº 269/98 foi pensado, no mandato forense, à partida, não se encontra convencionado o “preço” devido, tal “preço” será obtido em consideração do preceituado no artigo 105º, nº3 do referido Estatuto da Ordem dos Advogados, pressupondo-se ainda a possibilidade de emissão de Laudo por esta Ordem.

U) Por via do regime decorrente da transposição para a nossa ordem jurídica interna da Diretiva nº 2000/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Junho de 2000, procedeu-se à equiparação dos créditos dos profissionais liberais a créditos derivados de transações comerciais para efeito de utilização do procedimento de injunção e da ação com processo especial conexa, porem, que depende de se tratar de honorários constantes de tabelas com valor certo acessíveis ao público.

V) No mesmo sentido, leia-se Salvador da Costa, Da Injunção e as Conexas Acção e Execução (4ª Ed., págs.41 ss.), onde se discorre também das razões pelas quais a Diretiva nº 2000/35/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Junho de 2000, não infirma a conclusão exposta, pois que os honorários em questão não fazem parte de uma tabela prévia nem foram fixados por acordo das partes.

W) Verifica-se, pois, erro na forma do processo, gerador de nulidade passível de ser conhecida oficiosamente pelo tribunal (artigos 202º e 206º, 2, ambos do Código de Processo Civil).

X) E porque o procedimento de injunção tem uma natureza bem diversa da ação declarativa de condenação, não pode deixar de concluir-se que os atos praticados (mormente o requerimento inicial), não são aproveitáveis.

Y) Não há possibilidade de aproveitamento do processado uma vez que do mesmo resultaria uma flagrante diminuição das garantias de defesa da requerida (artigo 199º, nº 2 do Código de Processo Civil), o seguimento do processo far-se-ia nos termos especiais do artigo 3º e 4º do Decreto-lei nº 269/98 de 1 de setembro e não segundo a tramitação comum da ação declarativa, o que não é, como se compreende, admissível.

Z) Crê-se, com o devido respeito e salvo melhor opinião, que a solução correta é, por conseguinte e com estes fundamentos, contrária à adotada pela Meritíssima Juíza do Tribunal de primeira instância.

AA) Ocorre de forma manifesta erro na forma do processo, carecendo as partes de ir dirimir o litígio na forma comum, forma processual onde terão a amplitude necessária para a discussão o conteúdo do contrato celebrado e apurar a obrigação de pagamento, não sendo o ora processado aproveitável para forma comum, atento o seu carácter sucinto e a inevitável limitação do seu direito de ação e de defesa.

BB) Termos em que deve ser dado provimento ao recurso, julgando-o provado e procedente, e ser o despacho recorrido alterado, julgando-se provada a exceção de erro na forma de processo, por ser a solução que mais se coaduna com os princípios do direito processual civil e com os princípios gerais de direito, assim se fazendo justiça.

A Recorrida veio responder ao recurso pugnando pela sua improcedência e confirmação da

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decisão proferida.

Foi proferido despacho pelo tribunal a quo a admitir o recurso no modo e forma própria.

II. Questões a decidir

Tendo em conta o objeto do recurso delimitado pela Recorrente nas suas conclusões- art.º 635.º n.º 4 e 639.º n.º 1 do CPC- salvo questões de conhecimento oficioso- art.º 608.º n.º 2 in fine:

- do erro na forma do processo por os honorários de advogado não poderem ser reclamados através do procedimento de injunção previsto no Decreto Lei 269/98.

III. Fundamentos de Facto

Os factos relevantes para a decisão do recurso são aqueles que constam do relatório elaborado.

IV. Razões de Direito

- do erro na forma do processo por os honorários de advogado não poderem ser reclamados através do procedimento de injunção previsto no Decreto Lei 269/98

Insurge-se a Recorrente contra a decisão do tribunal a quo que considerou próprio o recurso à providência de injunção, para reclamar o pagamento de honorários de advogado não definidos previamente.

O Decreto Lei 269/98 de 1 de setembro, alterado pelo Decreto Lei 107/ 2005, de 1 de Julho, dispõe no seu art.º 7.º: “Considera-se injunção a providência que tem por fim conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações a que se refere o artigo 1.º do diploma preambular, ou das obrigações emergentes de transacções comerciais abrangidas pelo Decreto-Lei 32/2003, de 17 de Fevereiro.”

No preâmbulo do Decreto Lei 269/98 enuncia-se quanto seu objetivo, que o mesmo surge da necessidade de encontrar alternativas para a litigância de massa e crescente instauração de ações de baixo valor, criando mecanismos mais céleres e simplificados destinados à rápida obtenção de um título executivo que, considerando o seu âmbito de aplicação, se tratam de questões geralmente simples.

De acordo com o art.º 1.º do diploma preambular, para o qual remete o art.º 7.º do Decreto Lei 269/98, o procedimento de injunção só pode ter lugar quando tem por fundamento o incumprimento de obrigações emergentes de contratos de valor não superior a € 15.000,00 ou de obrigações emergentes de transações comerciais abrangidas pelo Decreto Lei 32/2003 de 17 de fevereiro.

O que decorre do regime legal exposto é que o procedimento de injunção apenas pode ser utilizado quando se destine a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a € 15.000,00 ou, independentemente desse valor, se estiverem em causa obrigações emergentes de transações comerciais, nos termos definidos nos art.º 2.º e 3.º do Decreto Lei 32/2003.

Na situação dos presentes autos, não estamos manifestamente perante obrigação emergente de transação comercial, com o âmbito traçado pelo Decreto Lei 32/2003, restando saber se

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pode ser utilizada a injunção com vista à reclamação do pagamento de honorários de advogado, matéria que, no entender da Recorrente, não se compadece com a simplicidade processual inerente a este procedimento.

O pedido formulado e os fundamentos que o suportam e que são alegados pelo Requerente é que determinam o juízo a realizar sobre o preenchimento dos requisitos legais para a utilização do procedimento de injunção. Neste sentido, vd o Acórdão do TRC de 24/01/2012 no proc.

546/07.0TBCBR.C1 in www.dgsi.pt onde se refere: “os pressupostos que habilitam a utilização do procedimento da injunção devem ser aferidos em face do constante do requerimento injuntivo”

Avaliando a situação dos autos quanto ao requisito do limite do valor do pedido, é patente que o valor aqui reclamado pela Requerente não é superior a € 15.000,00, importando então verificar se o pedido e a causa de pedir invocados permitem dizer que o que é por ela exigido é o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato.

Constata-se que a Requerente se dedica à atividade da advocacia, reportando-se o pedido ao pagamento de uma dívida de honorários, que é reclamada enquanto retribuição devida na sequência de contrato de mandato celebrado entre as partes, nos termos da previsão dos art.º 1157.º, 1158.º n.º 1 e 1167.º al. b) do C.Civil, contrato cuja existência não é posta em causa pela Requerida.

A este respeito, ensina-nos Salvador da Costa, in A Injunção e as Conexas Ação e Execução, pág. 48: “O regime processual em causa só é aplicável às obrigações pecuniárias directamente emergentes de contratos, pelo que não tem a virtualidade de servir para a exigência de obrigações pecuniárias resultantes, por exemplo, de responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, de enriquecimento sem causa ou de relações de condomínio.”

A exigência imperativa feita pelo legislador é que estejam em causa obrigações pecuniárias emergentes de contrato, não sendo por ele imposta qualquer limitação aos contratos que podem estar na origem do procedimento de injunção, nem se vendo qualquer motivo que possa justificar uma interpretação restritiva de tal previsão legal, dela excluindo alguns tipos de contrato. A exigência legal não se reporta a qualquer simplicidade ou complexidade das obrigações cujo cumprimento é peticionado, sendo apenas necessário que estejam em causa obrigações pecuniárias emergentes de contrato celebrado entre as partes.

Diz-nos o Acórdão do TRP de 11/03/2014 no proc. 103296/12.5YIPRT in www.dgsi.pt : “Ora, e no que respeita ao pedido de cumprimento de obrigações pecuniárias, a verdade é que a lei não faz qualquer limitação do seu campo de aplicação. Ou seja, a lei não especifica nem restringe a sua aplicação a um específico tipo de contratos, nem faz quaisquer exigências quanto à forma de fixação, por acordo ou unilateralmente, das obrigações pecuniárias. Donde se conclui que este procedimento se mostra adequado e é aplicável a todas as situações em que se pretenda exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos e desde que o valor dessas obrigações não exceda, como é o caso, o valor de €15.000,00.”

No caso, não há dúvidas de que estamos perante uma obrigação pecuniária diretamente

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emergente de contrato de mandato celebrado entre as partes, suscetível de se integrar na previsão do art.º 1.º do diploma mencionado.

Alega ainda a Recorrente como obstáculo à utilização deste procedimento a circunstância dos honorários não terem sido previamente estabelecidos entre as partes, não se compadecendo a questão com a celeridade e simplicidade da tramitação do procedimento de injunção, pondo em causa as suas garantias de defesa. Não pode concordar-se com este entendimento.

Se é certo que os honorários de advogado, atento o disposto no art.º 105.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, podem não ser contratualizados previamente, não se vê a relevância que tal questão possa ter na decisão da forma pela qual os mesmos podem ser reclamados.

Isso mesmo pode acontecer no âmbito de qualquer outro contrato de prestação de serviços, já que as partes não são obrigadas a fixar previamente o valor da retribuição.

Diz-nos sobre esta matéria o Acórdão do TRL de 30/04/2013 no proc. 162450/12.1YIPRT.L1-7 in www.dgsi.pt : “Não existe fundamento legal para excluir as acções de honorários, intentadas por advogado na sequência da prestação dos serviços próprios desta sua profissão, do âmbito próprio das acções para cumprimento de obrigação pecuniária emergente de contrato, previstas no Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de Setembro. Assim sendo, visando a requerente exigir o pagamento da retribuição que liquidou e que lhe será devida em função do cumprimento de mandato judicial, previamente acordado com a requerida, tal matéria insere- se e reconduz-se ao cumprimento de uma obrigação pecuniária emergente de um contrato celebrado entre as partes, in casu um contrato de mandato oneroso, legalmente tipificado nos artigos 1157.º e 1158.º do Código Civil.

É absolutamente irrelevante, para estes precisos efeitos, que a quantia final de que a A. é titular, respeitante aos serviços prestados enquanto advogada da Ré, não tenha sido antecipadamente acordada.”

Não se desconhece o argumento da simplificação processual do procedimento de injunção, que tem vindo a ser invocado por alguma jurisprudência para fundamentar a impossibilidade da reclamação das dívidas de honorários através do procedimento da injunção, na qual se integra o Acórdão do TRL de 11/12/2019 no proc. 7628/19.3YIPRT.L1-8 também in www.dgsi.pt, acórdão citado pela Recorrente e que a mesma segue de perto no presente recurso.

Afigura-se, no entanto, que é uma jurisprudência muito minoritária que tem vindo a pronunciar-se neste sentido. Em sentido contrário, veja-se a título de exemplo os Acórdãos do TRL de 02/10/2012 no proc. 31205/09.8T2SNT-A.L1-7, do TRL de 27/03/2012 no proc.

262406/09.5YIPRT.L1-7, do TRL de 29/09/2009 no proc. 167945/08.9YIPRT.L1-7, do TRP de 22/06/2006 no proc. 0632709,do TRC de 14/10/2014 no proc. 138823/13.1YIPRT.C1, do TRC de 27.05.2015 no proc. 83525/14.3YIPRT.C1 e do TRE 05/05/2011 no proc. 349611/10.4YIPRT.E1, todos em www.dgsi.pt

Sendo verdade que a celeridade e a simplificação são características deste procedimento, é preciso não esquecer que no caso de ser deduzida oposição a tramitação do processo passa a ser feita nos termos previstos nos art.º 3.º e 4.º do Decreto Lei 269/98, não se vendo que

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através de tal regulação não possam ser asseguradas as garantias de defesa da Requerida, sendo aliás sempre admitida a suspensão da audiência para a realização de diligência indispensável à boa decisão da causa.

Por outro lado, tal como realça o Acórdão do TRL de 30/04/2013 já citado; “Incumbirá à requerente a alegação e prova dos factos constitutivos do seu direito, a saber a existência de um contrato de mandato oneroso, da prestação de determinados serviços e do valor dos mesmos. Assiste, nesta medida, à requerente, em termos gerais, o direito a lançar mão deste procedimento especial.”

Resta concluir que atento o pedido e a causa de pedir apresentados, estamos perante uma situação que reúne os requisitos legais que permitem a utilização do procedimento de injunção, por estar em causa apenas o cumprimento de obrigação pecuniária emergente de contrato celebrado entre as partes, na previsão do art.º 1.º do preâmbulo do Decreto-lei 269/98 de 1 de setembro, não merecendo qualquer censura o despacho recorrido que assim o decidiu.

V. Decisão:

Em face do exposto, julga-se o presente recurso interposto pela R. totalmente improcedente, confirmando-se a decisão recorrida.

Custas pela Recorrente.

Notifique.

*

Lisboa, 13 de maio de 2021 Inês Moura

Laurinda Gemas

Gabriela Cunha Rodrigues

Fonte: http://www.dgsi.pt

Referências

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