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Revista Eletrônica de Biologia

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Academic year: 2021

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Revista Eletrônica de Biologia

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Reprodução da aranha de jardim, Argiope argentata (Araneae: Araneidae)

Reproduction of the silver argiope, Argiope argentata (Araneae: Araneidae)

João Paulo Burini Robles Arine

Graduação em Ciências Biológicas. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, Campus Sorocaba, SP

e-mail contato: thyrfinger@gmail.com

Resumo

Durante os meses de abril a junho foi feita a coleta de 9 ootecas da aranha Argiope argentata para estuda-las no que se diz respeito ao sucesso reprodutivo – caracteristicas como o número de ovos colocados por desova, cuidado parental, parasitas de ovos, entre outros. Foi encontrada uma diferença máxima de 123 a 255 ovos entre as ootecas, mas não foi possivel identificar as variáveis que incluenciam esse número na oviposição.

Palavras-chave: Ooteca, oviposição, sucesso reprodutivo, cuidado parental

Abstract

From April to June 9 egg sacs of the spider Argiope argentata were collected in order to study their reproductive success – features like number of eggs laid in each breeding season, parental care, and brood parasites, among others. We found a maximum difference of 123 to 255 eggs between the egg sacs, but it was not possible to identify the variables which influenced these numbers in oviposition.

Keywords: egg sac, oviposition, reproductive success, parental care.

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A família Araneidae compreende 2985 espécies de aranhas que caçam por meio da construção de uma teia orbicular, sendo assim uma das famílias mais numerosas de aranhas, englobando aproximadamente 7% das espécies descritas na ordem Araneomorphae. Nessa família são reconhecidos atualmente 167 gêneros, entre os quais está Argiope, com 75 espécies (PLATNICK, 2009) e que apresenta uma extensa distribuição geográfica(LEVI, 2004).

Argiope argentata (Fabricius, 1775) tem ocorrência dos EUA até Argentina, no extremo sul da América (LEVI, 2004), e se mostra adaptada a viver em ambientes transformados pela ação do homem, podendo ser encontrada em locais como pastagens, lavouras (GARCIA et al., 2004) e locais bem urbanizados, como em jardins junto às residências (BRAZIL et al., 2005). Apesar de sua ampla distribuição, a espécie tem sua biologia reprodutiva pouco estudada.

O dimorfismo sexual é bem pronunciado no gênero Argiope, em geral as fêmeas atingem um tamanho quatro vezes maior do que os machos (HORMIGA et al., 2000); em Argiope keyserlingi (Karsch, 1878) um macho sexualmente maturo chega a ter apenas 7% da massa corporal de uma fêmea adulta (ELGAR et al., 2000). O período reprodutivo das espécies de clima temperado ocorre no outono, com o nascimento dos filhotes durante a primavera (LEBORGNE & PASQUET, 2005); em clima tropical há ocorrência de aranhas sexualmente maturas durante o ano todo (ROBINSON & ROBINSON, 1970 apud ADES, 1991).

Todas as aranhas envolvem seus ovos com fios de seda, geralmente constroem um envolucro completo, chamado ooteca, que mantêm condições ideais de umidade e temperatura para o desenvolvimento dos ovos no interior. Em alguns casos, camadas compactadas de teia ainda ajudam na proteção dos ovos contra o ataque de invasores parasitóides (FOELIX, 1996).

Estudos prévios sobre a oviposição de Argiope bruennichi (Scopoli, 1772) mostraram que essa espécie tende a investir mais nas ootecas no início do período reprodutivo, colocando inicialmente uma massa de ovos mais pesada do que nas construídas posteriormente (LEBORGNE & PASQUET, 2005). A quantidade de

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relação à reserva fornecida para os filhotes, mas não no tempo de oviposição (LEBORGNE & PASQUET, 2005).

Aranhas do gênero Argiope podem apresentar inimigo naturais que parasitam suas ootecas, vespas da família Ichneumonidae (Hymenoptera) são parasitóides que atacam um grande número de presas, dentre as quais, diversas espécies de aranhas (LIMA, 1962; FITTON et al., 1986). O contato da vespa com uma teia pode servir para guiá-la até a aranha hospedeira ou ooteca (GAULD, 1988 apud LAURENCE, 2008). Com seu ovipositor alongado, algumas espécies colocam seus ovos no interior da ooteca e suas larvas se alimentam das aranhas em desenvolvimento (LIMA, 1962). Em casos em que há uma grande quantidade de ovos na ooteca da aranha, a larvas empupam sem consumir necessariamente todos os ovos, deixando com que alguns se desenvolvam completamente (FITTON et al., 1986).

Larvas da vespa Tromatobia ornata (Gravenhorst, 1829) já foram encontradas dentro de ootecas de A. bruennichi (SACHER, 1988; LEBORGNE & PASQUET 2005), mas não há estudos específicos sobre parasitóides em ootecas de A. argentata.

O objetivo deste trabalho é estudar o sucesso reprodutivo de Argiope argentata, no campo e em laboratório, principalmente no que se refere às características das ootecas, como disposição, identificação parasitóides caso presentes e o número de ovos por desova.

3) Materiais e Métodos

Para se realizar a coleta de ootecas de A. argentata, foram feitas várias visitas entre os meses de Abril a Junho em uma área de pesquisa da PUC-SP, localizada na represa Itupararanga, em Votorantim, SP. A vegetação da área se caracteriza por grandes fragmentos de mata atlântica separados por corredores de pastagens.

Não houve a necessidade de se especificar necessariamente um local único para coleta, pois o objetivo deste trabalho não é estudar caracteristicas de apenas uma população, e sim da espécie no geral, assim sendo, também foi feita a coleta de três

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ootecas em zona rural (vegetação característica de mata atlântica) do município de Piedade, SP.

Quando encontradas as ootecas, antes da coleta foi levado em consideração para se tomar nota, os locais em que elas se encontravam dispostas em relação à teia da aranha-mãe e se estavam sob cuidado parental.

Inclusive as ootecas que foram encontradas com os ovos já eclodidos, abertas, foram coletadas para análisar se havia a presença de algum parasitóide. Um casal de aranhas adultas encontradas nas teias com as ootecas também foram coletadas, para passar pelas chaves dicotômicas publicadas por Levi (2002) e confirmar a identificação da espécie como A. argentata (Figura 1).

Em laboratório as ootecas coletadas foram abertas com o auxilio de pinças para se fazer a contagem de ovos ou exúvias que haviam em cada uma, e procurar por traços de parasitóides nas que se encontravam já abertas.

Figura 1: Casal adulto de A. argentata, sendo a: macho; b: fêmea.

4) Resultados e Discussão

Durante as saídas a campo, foi constatado que o habitat preferido das A. argentata é o de vegetação aberta, elas foram encontradas com bastante facilidade nas pastagens, com suas teias construidas nas moitas de braquiária, mas nenhuma dentro de mata fechada.

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As aranhas adultas não apresentavam cuidado parental em relação as ootecas. Há a possibilidade de que mesmo não havendo cuidados sobre os ovos, o cuidado parental começe após a eclosão dos mesmos, quando os filhotes retornam à teia da aranha-mãe para repartir as presas capturadas. Segundo Ruttan (1990) este tipo de comportamento promove uma maior tolerância entre irmãos, diminuindo a taxa de canibalismo nos primeiros estágios de vida.

A relação de fornecimento de presas entre a aranha-mãe e filhotes já foi estudada experimentalmente em diversas espécies, em algumas delas, como em Theridion sisyphium (Theridiidae), ocorre inclusive a regurgitação de alimento para as aranhas recém-nascidas (KULLMANN, 1972 apud GONZAGA, 2007).

As ootecas foram sempre encontradas presas na vegetação (Figura 2) a uma altura média de 1 metro do chão, próximas à teia da aranha que fez a postura. A teia utilizada para a construção da camada externa das ootecas apresenta em sua maior parte uma cor esverdeada, o que lhes permite camuflar com a vegetação em que se encontram e pode garantir uma vantagem contra predadores guiados visualmente.

Figura 2: Ooteca encontrada presa em moita de braquiária.

Até fim do prazo definido de três meses para a conclusão deste projeto, nove ootecas foram coletadas (Tabela 1), sendo que duas delas continham aranhas recém-nascidas já emergidas dos ovos, duas estavam vazias, e cinco tinham em seu interior apenas as exúvias das aranhas jovens, o que indica que elas crescem e realizam sua primeira troca de exoesqueleto ainda dentro da ooteca, antes de sair para o exterior.

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Em algumas espécies de Argiope que ocorrem em clima temperado, como Argiope bruennichi, as aranhas jovens podem permanecer durante uma estação inteira dentro da ooteca, a espera de condições favoraveis para sair (BERGTHALER, 1995).

Tabela 1: relação das ootecas coletadas. Ooteca Contagem Conteúdo

1 123 aranhas jovens 2 151 aranhas jovens 3 255 exúvias 4 186 exúvias 5 211 exúvias 6 0 vazia 7 171 exúvias 8 162 exúvias 9 0 vazia

Não foram encontrados sinais de parasitas em nenhuma das ootecas coletadas, o que não exclui a possibilidade de que eles existam, pois podem simplesmente não ocorrer na região, ou não estarem ativos durante os meses em que o projeto foi realizado. Um estudo publicado por Legborne e Pasquet (2005) mostrou que de 112 ootecas de Argiope bruennichi coletadas durante o periodo de dois anos, 21% continham parasitas no primeiro ano, e 44% no segundo. Em outro trabalho, foi mostrado que de 115 ootecas de Argiope aurantia coletadas, 56% continham até dois tipos de parasitóides (LOCKLEY & YOUNG, 1993).

Confome a contagem que foi feita no conteúdo de cada ooteca, foi encontrada uma variação que vai de 123 a 255 ovos na postura (Tabela 1, ootecas 1 e 3 respectivamente). A metodologia de coleta de ootecas em campo utilizada neste projeto impediu encontrar as relações que levam a essa variação de numero na desova, para isto, seria necessário acompanhar espécimes individualmente durante todo seu período reprodutivo.

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Outras aranhas da familia Araneidae como Nephila clavata e Nephila edulis, produzem menos ovos quando há deficiência de alimento na fase adulta (MIYASHITA, 1990; CHRISTENSON et al., 1979). Outra variavel já foi estudada em Cyrtophora cicatrosa, nesta espécie, quanto mais velha é a aranha menores quantidades ovos são colocados por ooteca (PALANICHAMY, 1984).

Sendo assim, o meio mais adequado para se estudar o efeitos das variaveis que afetam o número em produção de ovos seria a criação em laboratório de casais sexualmente maturos. Zschokke e Heberstein (2005) propõem para projetos de pesquisa um modelo prático de criação de aranhas de teia orbicular em laboratório, que envolve apenas uma moldura para que construam sua teia, um estudo individual de espécimes nesse sistema possibilitaria acompanhar as posturas de ootecas de cada aranha e compara-las durante seu período reprodutivo, sendo assim uma metodologia ideal para o estudo de fatores que podem estar ligados as variações na produção de ovos, tais como tamanho da aranha-mãe, alimentação, tempo que entrou em período reprodutivo ou temperatura da estação.

5) Conclusões

Com a realização deste projeto foi possível concluir que ocorre uma grande variação no número de ovos que as Argiope argentata colocam por ooteca, a diferença máxima encontrada entre duas ootecas situou-se entre 123 a 255 ovos, no entanto, com a metodologia utilizada sem o acompanhamento das fêmeas que fizeram as posturas, não foi possivel estudar também os fatores que induzem essa variação na produção de ovos.

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6) Bibliografia

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Referências

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