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Pº C.P. 40/2010 SJC-CT

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Pº C.P. 40/2010 SJC-CT Prazo do depósito electrónico de documento particular autenticado. Dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica referida no art. 5º da Portaria nº 1535/2008, de 30 de Dezembro.

PARECER

Foi superiormente determinado que este Conselho se pronunciasse sobre o assunto em epígrafe.

Na base desta determinação superior está um conjunto de casos 1 reportados ao

IRN, I.P. pelo Helpdesk do registo predial online, em que terá havido uma “inoperacionalidade” da plataforma electrónica referida no art. 5º da citada Portaria nº 1535/2008 nos dias 17 e 18 e em parte do dia 19 (e também 16?) do passado mês de Abril do corrente ano, cujas efectiva verificação e respectivas causas aliás desconhecemos.

É sobre esta problemática que vamos emitir

Pronúncia:

1- No Pº R.P. 67/2009 SJC-CT sustentámos que no processo de formação do denominado “documento particular autenticado” enquanto título dos actos elencados no art. 22º do D.L. nº 116/2008, de 4 de Julho, é possível descortinar três momentos: a outorga e assinatura pelas partes do documento particular, a autenticação deste documento e o depósito electrónico deste documento particular autenticado e respectivos documentos instrutórios.

Afirmámos que não há prazo, a partir da data da assinatura do documento particular, para a autenticação.

1- Sobre os quais não se justifica uma pronúncia concreta, desde logo porque tal poderia colidir com o poder/dever de qualificação do conservador/oficial de registo do serviço de registo a quem o pedido de registo do facto tenha ou venha a ser formulado.

O que aqui está em causa é a apreciação geral e abstracta da matéria controvertida, que permita a resolução tanto quanto possível esgotante dos casos colocados ou a colocar.

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O instrumento de autenticação deve conter a designação do dia, mês e ano em que for lavrado e assinado, só devendo conter a hora em que se realizou quando tal for solicitado pelas partes [cfr. art. 46º, nº 1, a), ex vi do art. 151º, nº 1, ambos do C.N.].

Como expressamente refere o nº 2 do art. 6º da citada Portaria nº 1535/2008 «a promoção do depósito electrónico de documento particular autenticado que titule acto sujeito a registo predial dispensa o registo em sistema informático previsto na Portaria nº 657-B/2006, de 29 de Junho» 2.

Resulta do exposto que o instrumento de autenticação de documento particular que titule (ainda não completamente) qualquer dos actos previstos no art. 22º do D.L. nº 116/2008 não contém a hora em que se realizou 3 - a não ser que as partes tenham

solicitado à entidade autenticadora essa menção -, pelo que, em princípio, não será possível comprovar documentalmente esse facto 4.

2- No que toca ao terceiro momento do processo de formação do título, já dissemos no citado Pº R.P. 67/2009 SJC-CT alguma coisa. Designadamente, que «o documento particular autenticado e os documentos que o instruíram e que devam ficar arquivados por não constarem de arquivo público devem ser depositados na plataforma electrónica através do sítio da Internet com o endereço www.predialonline.mj.pt (cfr. art. 24º do D.L. nº 116/2008 e Portaria nº 1535/2008)», e que «este depósito electrónico é

2- Decorre linearmente da al. d) do art. 3º da citada Portaria nº 657-B/2006 que o registo no sistema informático da autenticação dos documentos particulares deve conter a data e a hora de execução do acto. Importa acentuar que os documentos particulares sujeitos a este tipo de autenticação não são os previstos no art. 22º do D.L.nº 116/2008, ainda que titulem actos sujeitos a registo predial que não sejam os previstos naquela disposição legal.

3- A possibilidade da menção da hora em que se realizou o instrumento notarial não figurava no Código do Notariado aprovado pelo D.L. nº 47 619, de 31 de Março de 1967 (cfr. art. 62º), passando a figurar no actual Código do Notariado aprovado pelo D.L. nº 207/95, de 14 de Agosto (cfr. já citado art. 46º, nº 1, a)).

A questão que se nos afigura pertinente colocar é a de saber se a hora deve ser reportada ao início ou ao termo (fim) do instrumento, porquanto entre os dois momentos pode decorrer mais ou menos tempo (conforme a complexidade subjectiva e objectiva do instrumento). Seja qual for a razão de ser da menção, a nós parece-nos que ela deve ser reportada ao termo (fim) do instrumento [imediatamente antes da assinatura – cfr. al. n) do nº 1 do art. 46º do C.N.]. Por exemplo, havendo que contar um prazo fixado em horas cujo termo a quo é a realização do instrumento, se este tiver durado mais de uma hora não é irrelevante que dele conste a hora do início ou a hora do termo [cfr. art. 279º, b), do C.C.].

4- A conclusão do texto é reforçada com o disposto no nº 1 do art. 9º da Portaria nº 1535/2008, onde expressamente se refere que o formulário de depósito electrónico deve conter a data da autenticação (e não também a hora).

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condição de validade da autenticação do respectivo documento particular (cfr. art. 24º, nº 2, do D.L. nº 116/2008)».

Na economia do parecer, cremos justificar-se a transcrição do seguinte trecho do citado parecer emitido no Pº R.P. 67/2009 SJC-CT:

«Por razões de segurança jurídica – sobre a data em que o documento particular

adquiriu a natureza de documento particular autenticado e sobre o interesse, que também será público, em que a forma do negócio jurídico seja completamente observada na mesma data da autenticação -, o depósito electrónico deverá ser efectuado na data da autenticação, e só em circunstancialismo excepcional é que aquele depósito poderá ser efectuado nas 48 horas seguintes (cfr. art. 7º, nºs 1 e 2, da Portaria nº 1535/2008). Portanto, o depósito electrónico só será válido se for efectuado no prazo e com observância dos demais requisitos legalmente fixados. Sendo efectuado fora do prazo ou com violação desses requisitos, a invalidade do depósito electrónico afectará a validade da autenticação e o documento particular não chega a adquirir a natureza de documento particular autenticado. Terão, então, as partes, querendo aproveitar o documento particular, que confirmar novamente perante entidade autenticadora (a mesma ou outra) o seu conteúdo, ou seja, terá que ocorrer nova autenticação, seguida de (novo) depósito electrónico nos termos legalmente fixados».

Reiterando embora o que foi dito no citado parecer, teremos que reconhecer que não ficou esgotada a apreciação da matéria.

Vamos tentar avançar na compreensão da norma que, se bem ajuizamos, está em tabela na consulta dos autos, e que é o artigo 7º da Portaria nº 1535/2008, cuja redacção, na parte que interessa, é a seguinte:

«1- O depósito electrónico de documentos particulares autenticados deve ser

efectuado na data da realização da autenticação do documento particular.

2- Se em virtude de dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica referida no artigo 5º não for possível realizar o depósito, este facto deve ser expressamente mencionado em documento instrutório a submeter, indicando o motivo da impossibilidade, a data e a hora do facto e a identificação da entidade autenticadora, devendo o depósito ser efectuado nas quarenta e oito horas seguintes.

(…)».

2.1- O primeiro sentido a retirar do texto legal é que o depósito electrónico deve ser efectuado na data, ou seja, no dia da realização da autenticação do documento particular.

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Ainda que do instrumento de autenticação do documento particular conste a hora em que se realizou, o prazo para o depósito electrónico não é de horas, antes este depósito deverá ser efectuado no próprio dia da autenticação.

Afigura-se-nos líquido que a lei não exige que o depósito electrónico seja imediato, ou seja, efectuado logo de seguida à realização da autenticação do documento particular. Como também não exige que o depósito electrónico, que compete à entidade autenticadora (cfr. art. 6º, nº 1, da Portaria nº 1535/2008), seja realizado na presença das partes outorgantes do instrumento de autenticação. Como já assinalámos no Pº R.P. 67/2009 SJC-CT, as partes devem ficar cientes de que com a realização do instrumento de autenticação o procedimento de titulação do negócio jurídico não ficou completo e que a última fase deste procedimento – o depósito electrónico do documento particular autenticado e dos documentos instrutórios que devam ficar arquivados por não constarem de arquivo público -, absolutamente necessária para que o negócio jurídico adquira perfeição, ou seja, se torne idóneo para produzir os efeitos a que tende, depende da subsequente actuação da entidade autenticadora.

Concluímos, assim, que o depósito electrónico deve ser efectuado no mesmo dia da realização da autenticação do documento particular 5.

2.2- A lei (nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008) prevê que «em virtude de dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica referida no artigo 5º» a entidade autenticadora não logre efectuar o depósito electrónico no dia da realização da autenticação do documento particular.

Parece-nos evidente que a hipótese da norma não contempla quer a inabilidade da entidade autenticadora em lidar com as regras de acesso à plataforma electrónica e de utilização desta (cfr., designadamente, os art.s 9º e 10º da Portaria nº 1535/2008) quer as deficiências do equipamento informático utilizado na operação de depósito,

Ainda outras dificuldades de carácter técnico mas não respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica poderão eventualmente ocorrer, e prima facie não se nos afigura que tais dificuldades sejam causa justificativa da inobservância da regra do nº 1 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008, ou seja, do comando legal de

5- Partindo do pressuposto de que a entidade autenticadora é livre de exercer a sua função em qualquer dia (incluindo sábados, domingos e dias feriados) e a qualquer hora, e do pressuposto de que a infra-estrutura tecnológica necessária à realização do depósito, em suporte electrónico, está franqueada todos os dias (incluindo sábados, domingos e dias feriados) e 24 horas por dia, poder-se-á colocar a hipótese de o instrumento de autenticação ter início num dia e terminar no dia seguinte.

É claro, no nosso modesto entendimento, que neste caso a data da realização da autenticação é o “dia seguinte”, o que deverá constar sem ambiguidades do instrumento.

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depositar electronicamente o documento particular autenticado no próprio dia da realização da autenticação 6.

De qualquer modo, a concreta situação de «dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica» no momento do acesso, melhor dizendo, da tentativa de acesso a esta plataforma electrónica pela entidade autenticadora de determinado documento particular deverá ser confirmada perante o serviço de registo onde foi formulado o pedido de registo do facto titulado por aquele documento particular autenticado e (ulteriormente) depositado electronicamente através do IRN, I.P., entidade a quem compete a manutenção do sítio na Internet com o endereço www.predialonline.mj.pt (cfr. art. 2º da Portaria nº 1535/2008).

A confirmação da situação de dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica deverá ser oficiosamente solicitada pelo serviço de registo peticionado àquela entidade, que deverá responder com a maior brevidade por telecópia ou por correio electrónico.

2.3- Ponto sobre que importará reflectir é sobre a relevância temporal da situação de dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica. A questão poderá colocar-se nos seguintes termos: deverá a entidade autenticadora aguardar algum tempo pelo franqueamento da plataforma electrónica?

A lei diz-nos que o depósito deve ser feito no próprio dia da realização da autenticação e que, havendo dificuldades técnicas atinentes ao funcionamento da plataforma electrónica, este facto deve ser expressamente mencionado em documento instrutório a submeter, indicando o motivo da impossibilidade, a data e a hora do facto e a identificação da entidade autenticadora.

A nossa dúvida reside na determinação da noção de hora. Se se entender que hora significa no contexto a vigésima quarta parte do dia natural, seria sustentável o entendimento de que a situação de dificuldades técnicas atinentes ao funcionamento da plataforma electrónica deveria perdurar por uma hora 7. Se se entender que hora

significa momento ou instante, então a hipótese legal verificar-se-á desde que no momento do acesso, melhor dizendo, no momento da tentativa de acesso à plataforma

6- Sem pretendermos tomar posição sobre o ponto, não deixaremos de referir que a fórmula empregada no nº 2 da Portaria nº 657-B/2006 – sobre o registo em sistema informático dos actos de reconhecimento de assinaturas e de autenticação e tradução de documentos particulares por câmaras de comércio e indústria, advogados e solicitadores -, «dificuldades de carácter técnico» sugere uma abrangência mais ampla.

7- Rejeitamos liminarmente, por na letra da lei não ter o mínimo de correspondência verbal, o entendimento de que a entidade autenticadora deve, dentro do dia da realização da autenticação, fazer várias tentativas para aceder com sucesso à plataforma electrónica.

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electrónica, esta, por dificuldades técnicas de funcionamento, não se encontre franqueada.

Pela nossa parte, associamos ao termo hora empregado na lei o significado de momento ou instante, pelo que basta que se verifique uma impossibilidade momentânea de acesso à plataforma electrónica para que ocorra a hipótese da norma do nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008. Não cremos que no pensamento legislativo figure a exigência de colocar a entidade autenticadora à frente do computador à espera que a plataforma electrónica possibilite o depósito.

De qualquer modo, no plano da qualificação registal, o conservador/oficial de registo terá, neste ponto, a tarefa facilitada, porquanto não é a ele que competirá apreciar se a hipótese legal se verificou.

2.4- Confrontando-se com dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica, a entidade autenticadora deverá elaborar documento onde expressamente mencione o facto, indicando designadamente a data e a hora da ocorrência e o motivo da impossibilidade de funcionamento da plataforma electrónica.

A lei qualifica este documento como documento instrutório «a submeter», ou seja, que deverá ser depositado electronicamente conjuntamente com o documento particular autenticado e com os documentos instrutórios que devam ficar arquivados por não constarem de arquivo público.

2.5- Mais diz a lei que o depósito electrónico - do documento particular autenticado, dos documentos instrutórios que devam ficar arquivados por não constarem de arquivo público e do “documento instrutório” – deve ser efectuado «nas quarenta e oito horas seguintes».

Este segmento da norma suscita-nos algumas dificuldades de interpretação.

Desde logo, saber se estamos perante um prazo de horas. Segundo o art. 279º, d), aplicável ex vi do art. 296º, ambos do C.C., em caso de dúvida é havido como prazo de dois dias o designado por 48 horas. E decorre também das alíneas b) e e) do mesmo artigo, ex vi igualmente do art. 296º, que na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr, e que o prazo que termine em domingo ou dia feriado transfere-se para o primeiro dia útil 8.

Qual o evento a partir do qual o prazo para o depósito electrónico começa a correr? A nosso ver, o evento determinante do termo inicial do prazo para o depósito

8- Se não erramos, é jurisprudência pacífica que o sábado é equiparado ao domingo ou ao dia feriado.

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electrónico é a verificação do não funcionamento da plataforma electrónica, feita no próprio dia da realização da autenticação.

Pergunta-se: o prazo fixado no nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008 é de 48 horas ou de dois dias? Estamos perante um prazo legal e, em princípio, as regras da al. d) do art. 279º não devem ser aplicadas aos prazos legais (cfr. Pires de Lima e

Antunes Varela, in Código Civil anotado, Vol. I, 1967, pág. 191). No caso em apreço,

porém, cremos modestamente ter que «descer ao subsolo, onde há mais raízes – mas também maior dificuldade e menos luz» (cfr. Baptista Machado, Sobre a aplicação no tempo do novo Código Civil, 1968, pág. 7). Como já acentuámos, as partes ao assinarem o instrumento de autenticação do documento particular devem ficar cientes de que a perfeição do acto jurídico está dependente de um sub-procedimento essencial – o depósito electrónico – que é condição de validade da autenticação. E também já sublinhámos que é a segurança jurídica que justifica o rigor com que o legislador regulamentou o depósito electrónico do documento particular autenticado e dos respectivos documentos instrutórios. Cremos que importa não só compatibilizar a segurança jurídica com o aproveitamento dos negócios (favor negotti) mas também tomar em consideração direitos e interesses dignos de tutela, que seriam desprotegidos com a assunção da tese de que a citada norma legal fixa um prazo de horas. Na verdade, se o prazo fosse de horas ele teria que ser cumprido aos sábados, domingos e dias feriados, fosse quem fosse a entidade autenticadora 9. Ora, sendo embora certo que a

respectiva plataforma electrónica funciona também aos sábados, domingos e dias feriados 24 horas por dia, não cremos que tivesse sido propósito do legislador vincular a entidade autenticadora a efectuar depósitos electrónicos nesses dias. Se a entidade autenticadora está disponível para outorgar com as partes instrumento de autenticação de documento particular aos sábados, domingos e dias feriados, é natural que esteja vinculada a efectuar o depósito electrónico desse documento e dos documentos instrutórios no próprio dia. Mas já não é aceitável que esteja vinculada a efectuar depósitos electrónicos aos sábados, domingos e dias feriados de documentos particulares que foram autenticados em dias úteis mas que não logrou depositar electronicamente no

9- Assumimos o melindre da afirmação do texto. Não excluímos à partida a aplicação da norma da al. e) do art. 279º do C.C. ao prazo de horas. Mas nos casos em apreço não vemos como aplicar a jurisprudência do Tribunal Constitucional na espécie eleitoral – que defende que se o «terminus» do prazo recair em dia não útil transfere-se para o primeiro dia útil transfere-seguinte, pela hora da abertura da transfere-secretaria do Tribunal (cfr., por todos, Acórdão nº 1/90, publicado no Diário da República II Série de 23.04.90) -, porquanto a plataforma electrónica está franqueada 24 horas por dia, incluindo aos sábados, domingos e dias feriados, pelo que a aplicação da citada jurisprudência levaria, na melhor das hipóteses para o beneficiário, a sustentar que o «terminus» do prazo para efectuar o depósito electrónico se transferiria para as 00 horas do primeiro dia útil seguinte. Mais um motivo para nos inclinarmos para a tese do texto.

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próprio dia por dificuldades técnicas atinentes ao funcionamento da plataforma electrónica.

Em face do exposto, é nosso entendimento que o prazo fixado no nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008 é de dois dias a contar do dia da realização da autenticação do documento particular a depositar electronicamente, e, terminando esse prazo em sábado, domingo ou dia feriado, transfere-se para o primeiro dia útil.

Ainda na nossa opinião, o termo hora é utilizado na citada norma, não para fixar o termo a quo do prazo para efectuar o depósito electrónico – o termo inicial deste prazo é o dia da realização da autenticação do documento particular a depositar – mas para determinar o momento da verificação do não funcionamento da plataforma electrónica a que se refere o art. 5º da citada Portaria, tendo em vista a confirmação dessa situação pela entidade competente perante o serviço de registo a quem foi formulado o pedido de registo do facto titulado pelo documento particular autenticado depositado electronicamente.

2.6- O já apreciado segmento da norma do nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008 – que nos diz que o depósito electrónico, não sendo possível efectuá-lo na data da realização da autenticação do documento particular, deve ser efectuado nas quarenta e oito horas seguintes – pressupõe que nos dois dias seguintes ao dia da realização da autenticação, ou ainda, sendo o caso, no primeiro dia útil seguinte, a plataforma electrónica referida no art. 5º da citada Portaria esteja em funcionamento, viabilizando a realização do depósito electrónico.

Quid iuris, porém, se na hora (momento) em que a entidade autenticadora for

efectuar o depósito novas (ou as mesmas) dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica impedirem a realização do depósito?

Cremos que, na coerência intrínseca do sistema, a solução não pode deixar de ser a de repetir o procedimento justificativo da impossibilidade de realização do depósito, devendo então a entidade autenticadora elaborar novo documento instrutório, abrindo-se um novo prazo de 48 horas (melhor dizendo, de dois dias) a contar da data (do dia) em que se verificou a impossibilidade de realização do depósito electrónico (desde que esta tenha sido verificada dentro do anterior prazo legal).

2.7- Afirmámos no ponto 2.4 que o documento instrutório justificativo da impossibilidade de efectuar o depósito electrónico na data da realização da autenticação do documento particular - e, sendo caso disso, o documento instrutório justificativo da impossibilidade de efectuar o depósito nos dois dias seguintes – devem ser submetidos (i.e., deve proceder-se ao upload do ficheiro informático resultante da digitalização

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destes documentos) conjuntamente (i.e., no mesmo procedimento informático) com a submissão do documento particular autenticado e dos documentos que o instruíram e devam ficar arquivados.

Quid iuris, porém, se o depósito electrónico efectuado não incluir aqueles

documentos justificativos?

No já citado parecer emitido no Pº R.P. 67/2009 SJC-CT concluímos (parte da conclusão 4ª) que «o depósito electrónico de documento particular autenticado só será válido se for efectuado no prazo e com observância dos requisitos fixados no art. 7º da Portaria nº 1535/2008 (…)».

Mas não pretendemos aí sustentar que a elaboração do documento justificativo da impossibilidade da realização do depósito electrónico na data legalmente exigida e a sua submissão no mesmo procedimento informático em que foi submetido o documento particular autenticado são verdadeiros requisitos de validade do depósito electrónico.

Embora a hipótese não conste da letra da norma do nº 2 do art. 11º da Portaria nº 1535/2008, cremos que a segurança jurídica não sofrerá a mínima beliscadura se a entidade autenticadora, constatando a destempo que não foi observado o disposto no nº 2 do art. 7º da citada Portaria, proceder à elaboração do documento justificativo e à sua «agregação ao depósito prévio» (cfr. deliberação tomada no Pº R.P. 259/2009 SJC-CT) através da utilização de respectivo código de identificação do documento.

Indo ainda mais longe, defendemos que, perante a constatação de que o depósito electrónico do documento particular autenticado não foi efectuado no dia da realização da autenticação, o conservador/oficial de registo do serviço de registo a quem foi solicitado o registo do facto titulado naquele documento deve abrir sub-procedimento de suprimento de deficiências que permita à entidade autenticadora justificar a impossibilidade de efectuar o depósito electrónico no tempo legalmente devido.

O ponto – afinal, requisito de validade do depósito electrónico efectuado – é que tenham ocorrido dificuldades de carácter técnico no funcionamento da plataforma electrónica na hora (momento) em que a entidade autenticadora diligenciou pela feitura do depósito. Ora, se é bem compreensível a exigência legal de que aquela impossibilidade conste de documento instrutório a submeter, já não fará a nosso ver sentido não admitir a elaboração e submissão do documento instrutório a posteriori. A entidade autenticadora justifica a impossibilidade do depósito electrónico em determinada hora, mas tal justificação terá que ser confirmada nos termos sobreditos, sob pena de o facto ser havido por não titulado.

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Conclusões

1- O instrumento de autenticação de documento particular que titule (ainda não completamente) qualquer dos actos previstos no art. 22º do D.L. nº 116/2008, de 4 de Julho, não contém a hora em que se realizou – a não ser que as partes tenham solicitado à entidade autenticadora essa menção -, pelo que, em princípio, não será possível comprovar documentalmente esse facto.

2- O depósito electrónico dos documentos particulares autenticados referidos na conclusão anterior deve ser efectuado na data, ou seja, no dia da realização da autenticação do documento particular (cfr. art. 7º, nº 1, da Portaria nº 1535/2008, de 30 de Dezembro).

3- Se na hora (momento ou instante) em que intentou a feitura do depósito electrónico a entidade autenticadora do documento particular (autenticado) deparar com «dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica» referida no art. 5º da Portaria nº 1535/2008, deverá a mesma elaborar documento justificativo do facto que deverá ser submetido no (futuro) procedimento informático de realização do depósito electrónico.

4- O prazo fixado no nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008 para a feitura do depósito electrónico pela entidade autenticadora é de dois dias a contar do dia da realização da autenticação do documento particular a depositar, e, terminando o prazo em sábado, domingo ou dia feriado, transfere-se para o primeiro dia útil.

5- Se, na hora (momento ou instante) em que intentar novamente a feitura do depósito electrónico do documento particular autenticado, novas (ou as mesmas) «dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica» referida no art. 5º da Portaria nº 1535/2008 impedirem a realização do depósito, a entidade autenticadora deverá elaborar novo documento justificativo da

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impossibilidade de realização do depósito, dispondo a partir deste dia de um novo prazo de dois dias para a feitura do depósito electrónico.

6- A não submissão, no momento da realização do depósito electrónico do documento particular autenticado, do documento instrutório previsto no nº 2 do art. 7º da Portaria nº 1535/2008 pode ser suprida com recurso ao mecanismo previsto no art. 11º, nº 2, da citada Portaria, devendo a entidade autenticadora associar, durante o processo de carregamento, os documentos a submeter aos já depositados através do respectivo código de identificação do documento.

7- Seja qual for a modalidade de pedido de registo adoptada, na qualificação deste pedido deve o conservador/oficial de registo, ao constatar que o depósito electrónico do documento particular autenticado não foi efectuado no dia da realização da autenticação e que não se encontra depositado electronicamente documento justificativo da impossibilidade de depósito nesse dia, abrir sub-procedimento de suprimento de deficiências, convidando o «apresentante» a comprovar o depósito electrónico daquele documento.

8- Encontrando-se depositado electronicamente o documento instrutório previsto na conclusão anterior, o conservador/oficial de registo do serviço de registo onde foi formulado o pedido de registo do facto titulado no documento particular autenticado deve diligenciar junto do IRN, I.P. pela confirmação das «dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica» invocadas pela entidade autenticadora como causa justificativa da impossibilidade de realização do depósito electrónico na data legalmente definida.

9- Não se comprovando o depósito electrónico do documento instrutório justificativo da impossibilidade de realização do depósito electrónico do documento particular autenticado no tempo legalmente devido ou, encontrando-se embora tal depósito efectuado, não ocorrendo confirmação das «dificuldades de carácter técnico respeitantes ao funcionamento da plataforma electrónica» pelo IRN, I.P, o registo do facto pretensamente titulado pelo documento particular autenticado depositado electronicamente deverá ser recusado nos termos do disposto no art. 69º, nº 1, b), do

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C.R.P., dado que, sendo o depósito electrónico inválido, é manifesto que o facto não está titulado nos documentos apresentados.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 27 de Maio de 2010.

João Guimarães Gomes Bastos, relator, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, José Ascenso Nunes da Maia.

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em 16.06.2010.

Referências

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