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Tuberculose vertebral Experiência de 23 casos com follow-up de 6 anos

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Academic year: 2021

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Tuberculose vertebral – Experiência de 23 casos com follow-up de 6 anos

Pott`s Disease. Experience with 23 cases with 6 years of follow-up.

Dierk F.B. Kirchhoff1

Daniel de Carvalho Kirchhoff1

David Monducci1

Luiz Paulo Alves1

Lorenza Pereira1

Renato Ângelo Ribeiro de Souza1

1. Assistência Neurológica de São Bernardo RESUMO

Objetivos: A tuberculose vertebral ou Mal de Pott é uma forma da tuberculose extrapulmonar, onde ocorre o com-prometimento da coluna vertebral em até 50% dos casos de comprometimento ósseo. Temos como objetivo demonstrar a importância desta afecção em nosso meio e compartilhar a experiência de nosso serviço no tratamento da enfermidade. Métodos: Foram coletadas informações sobre os casos de tu-berculose vertebral diagnosticados e tratados em nosso ser-viço, totalizando 23 pacientes em 30 anos, durante os quais foram acompanhados evolutivamente neste período, com follow up de até 6 anos. Observamos queixas iniciais, pre-sença de déficit motor e de dor radicular; submetemos todos os pacientes a tratamento cirúrgico individualizado, sendo introduzido esquema tríplice, com avaliação da evolução dos pacientes. Resultados: Obtivemos melhora em 8 dos 9 pacientes com déficit neurológico, sendo que 6 (75%) pacien-tes obtiveram recuperação de 1 ou mais pontos na escala de força e 2 (25%) retornaram para força grau V. Conclusão: A tuberculose vertebral é uma afecção deformante com grande potencial de déficit neurológico, cujo diagnóstico é realizado com base em dados clínicos, reforçados pelos resultados de exames de imagem, e confirmados pelo resultado de anáto-mo-patológico e cultura. Normalmente, ocorre uma ótima resposta a descompressão do canal medular e ao uso de anti-bióticos do esquema tríplice.

Palavras-chave: tuberculose vertebral, mal de Pott, espondilite

ABSTRACT

Objective: Spinal tuberculosis or Pott´s disease is a form of extrapulmonary tuberculosis, that commits the spine by up to 50% of cases of bone involvement. We aim to demonstrate its importance in our community and to share the experience of our service in the treatment of this disease. Methods: We col-lected information on cases of spinal tuberculosis diagnosed and treated at our institution, totaling 23 patients followed up during 30 years, with a mean follow up of 6 years. The ini-tial complaints were of motor deficit and of radicular pain; all patients were submitted to individualized surgical treat-ment. Medical treatment included the triple scheme with strict outcome evaluation. Results: Eight of 9 patients improved the neurological deficit: 6 (75%) patients recovered one or more points in a scale of force and 2 (25%) returned to force level V. Conclusion: Spinal tuberculosis is a deforming disease with great potential for neurological deficit, whose diagnosis is made with clinical information, reinforced by the imaging studies, and confirmed by the results of biopsy and culture. There is a good response to the spinal cord decompression and the use of antibiotics in the triple drug scheme.

Keywords: spinal tuberculosis, Pott´s disease, spondylitis.

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I

ntrodução

A tuberculose é um grande desafio de saúde pública nos paí-ses em desenvolvimento, onde as dificuldades da saúde públi-ca e sanitárias são importantes. Segundo dados da OMS, até 2020 mais de um bilhão de pessoas estarão contaminadas pelo Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch), ocasionando cerca de 3 milhões de mortes e 8 milhões de novos casos anu-ais, sendo considerada portanto a causa infecciosa mais impor-tante no mundo. A incidência da tuberculose também tem sido sustentada pelas doenças de imunossupressão, como o HIV, e pela seleção de organismos multirresistentes, o que faz a infec-ção ainda persistir nos países mais desenvolvidos.

A tuberculose é uma doença infecciosa crônica e endêmica, cau-sada pelo Mycobacterium tuberculosis, uma micobactéria álco-ol-ácido resistente, descrita originalmente por Robert Koch em 1882. A infecção também pode ser causada por outros represen-tantes das micobactérias: M. bovis, M. kansasin, M. fortuitum, M. martinum, M. intracellulase. Já foram encontradas múmias datadas de 3.000 anos a.C. com comprometimento vertebral pela tuberculose, sendo o primeiro relato desta forma da doença atribuído a Hipócrates em 450 a.C. Em 1779, Sir Percival Pott realizou as primeiras descrições da doença , incluindo achados de autópsias.

Ocorre comprometimento ósseo em aproximadamente 10% dos casos clínicos de tuberculose diagnosticados. Destes pa-cientes com comprometimento ósseo, até 50% têm acometi-mento da coluna vertebral, sendo os segacometi-mentos dorsal, lombar e transicional tóraco-lombar os mais freqüentemente acometi-dos, geralmente em associação com a infecção pulmonar pri-mária. O comprometimento vertebral representa entre 1 a 5% de todos os casos da infecção.

Histologicamente, a doença é caracterizada por formação de granulomas com necrose caseosa central e a disseminação da infecção comumente ocorre via hematogênica arterial, de um foco primário visceral ativo, geralmente respiratório. Habitu-almente, a resposta imune celular é capaz de conter a progres-são de focos extrapulmonares da doença; entretanto, condições adversas como desnutrição, idade avançada, imunossupressão (co-infecção pelo HIV) e insuficiência renal podem favorecer o surgimento de doença ósteo-articular evidente.

A espondilite tuberculosa geralmente inicia-se na parte sub-condral ântero-inferior do corpo da vertebral e dissemina-se in-feriormente através do disco para uma vértebra adjacente, pro-duzindo destruição óssea, podendo ocorrer colapsos vertebrais múltiplos, com formação local de deformidades em cifose, podendo gerar graves complicações posturais e neurológicas.

Clinicamente observa-se que ocorrem queixas de dor local insi-diosa e progressiva, exacerbada pela palpação e pelo movimento, associada a sinais e sintomas de compressão medular/radicular, podendo ainda ocorrer febre baixa, calafrios e perda ponderal. Este trabalho foi realizado com intuito de demonstrar e discutir a experiência deste serviço com nossa comunidade neurocirúrgica.

M

aterIale Métodos

Foram coletadas informações sobre os casos de tuberculose vertebral diagnosticados e tratados em nosso serviço, totali-zando 23 pacientes em 30 anos, durante os quais foram acom-panhamos evolutivamente durante este período, com follow up de até 6 anos. A idade variou entre 27 e 63 anos, havendo uma maior freqüência na quinta década de vida. Ocorreu predomi-nância no sexo masculino (53,8%) – gráfico 1. Não tivemos casos associados à co-infecção diagnosticada com HIV. O seg-mento mais acometido foi o dorso-lombar (T6 a S1).

Gráfico 1

As principais queixas dos pacientes no atendimento inicial foram divididas em dois grupos: lombalgia e dorsalgia com dor radicular, e sinais de compressão medular com déficit, com uma proporção de 60,9% (14 pacientes) e 39,1% (9 pacientes) respectivamente (Gráfico 2). Os pacientes com déficit neuro-lógico apresentavam força grau III ou menos. Tivemos um pa-ciente com déficit motor que foi submetido a descompressão cirúrgica, no entanto, acabou evoluindo com infecção de ferida operatória e posterior sepse com êxito letal.

(3)

Submetemos todos os pacientes a biópsia das lesões vertebrais, tentando dessa maneira fazer o diagnóstico diferencial (infec-ções tais como Candida sp., Torulopsis sp., Aspergillus sp., Coccidiodes sp., Blastomyces sp., Actinomyces sp., Nocardia sp., Mycobactérias atípicas, Brucella, Treponema não venéreo e Echinococcus sp), além é claro da intenção de descomprimir aqueles casos em que estava ocorrendo déficit neurológico, sendo realizada laminectomia descompresiva, assim como na-queles pacientes que tinham dor radicular refratária (30,4% - 4 de 14 pacientes) – Gráfico 3.

Dois dos pacientes laminectomizados foram submetidos à ar-trodese tardia por evoluirem com dor por instabilidade do seg-mento comprometido.

Gráfico 3

O diagnóstico foi baseado nos resultados de exames de ima-gem e em resultados de biópsia com pesquisa de BAAR e cul-tura do material. Segundo Rezai6, a biópsia pode ser positiva

em até 75% dos casos. Devido a sua alta sensibilidade e es-pecificidade, a RM é o método de escolha para o diagnóstico precoce e seguimento evolutivo da infecção vertebral. Algumas características de imagem sugerem o diagnóstico de tuberculo-se vertebral, porém não devem tuberculo-ser consideradas como patog-nomônicas (Figuras 1 a 4):

• a disseminação subligamentar e abscessos paraverte-brais e epidurais pronunciados, com tendência para ex-tensão caudal distante são frequentes e o envolvimento de vários segmentos contíguos ou separados é comum. • perda do fino contorno cortical e rarefação dos corpos

vertebrais afetados

• fusão óssea dos corpos vertebrais afetados

• esclerose das superfícies contíguas dos corpos vertebrais afetados com redução ou desaparecimento secundário do espaço discal

• a aparência da esclerose marginal onde houve tanta des-truição dos corpos vertebrais que não há aposição verte-bral nem acima nem abaixo do foco da doença

• preservação relativa dos espaços discais, erosões ante-riores dos corpos vertebrais, envolvimento eventual dos elementos posteriores e pronunciadas calcificações pa-ravertebrais tardias

• ausência de osteoesclerose e realce em anel periférico com limites regulares em imagens T1 pós-contraste são sinais potencialmente típicos de tuberculose

• cavitação do corpo vertebral ou formação de seqüestro

Figura 1. Fratura de corpo vertebral em transição tóraco-lombar com dissemina-ção subligamentar do abscesso.

Figura 2. Comprometimento de transição lombo-sacra com abscesso paravertebral.

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Figura 4. Esclerose do platô inferior de T11 com espaço discal relativamente preservado.

Logo após a cirurgia, todos os pacientes foram submetidos ao tratamento quimioterápico com uso do esquema tríplice, sob orientação do serviço de infectologia, contendo isoniazida, ri-fampicina e pirazinamida, pelo período mínimo de 6 meses.

r

esultados

Obtivemos melhora em 8 dos 9 pacientes com déficit neuroló-gico, sendo que 6 (75%) pacientes obtiveram recuperação de 1 ou mais pontos na escala de força e 2 (25%) retornaram para força grau V (Gráfico 4).

Ao contrário de Falcetta e col1, gostaríamos de salientar que os

pacientes com recuperação total da força motora não eram os com menor perda inicial, ambos tinham força motora grau II, nos mostrando que a recuperação não depende totalmente do déficit de entrada destes pacientes.

Gráfico 4

d

Iscussão

Não podemos negar que a tuberculose, apesar de doença mile-nar, ainda hoje não foi erradicada de nosso meio. Em virtude disso, observamos as conseqüências da doença, dentre as quais a espondilite tuberculosa é o foco deste estudo.

Segundo Falcetta e col1, Jevtic2, Puertas e col3, Souza e col4,

existe uma grande relação da manutenção da tuberculose em associação com a infecção pelo HIV. De acordo com Pietrobon e col7, 29,5% dos pacientes infectados pelo HIV desenvolvem

tuberculose, com predomínio da forma pulmonar, sendo que Falcetta e col1 referem ainda que nos países desenvolvidos,

60% destes pacientes desenvolvem a doença óssea. Nosso estu-do não obteve casos de pacientes que fossem comprovadamen-te portadores da co-infecção pelo HIV, comprovadamen-tendo todos sorologia negativa.

Em acordo com a literatura a respeito, a predominância de nos-sos canos-sos foi dorso-lombar, variando entre os segmentos T6 e S1. Segundo série de 17 pacientes avaliados na Escola Paulista de Medicina3 houve variação entre os segmentos T6 e L5, com

presença de 2 pacientes com comprometimento cervical. Para realizarmos diagnóstico, nos baseamos em resultados em exames de imagem e na pesquisa de BAAR e cultura de mate-rial. Segundo Jevtic, nas espondilites infecciosas, deve-se dar preferência a métodos de imagem com alta sensibilidade e es-pecificidade, e dentre os métodos que podem ser usados para o diagnóstico, a RM é a única modalidade que combina a alta sensibilidade com especificidade satisfatórias2. Com relação à

biópsia, de acordo com Rezai, esta pode ser positiva em até 75% dos casos6.

Todos os pacientes com déficit motor e aqueles com dor radi-cular refratária foram submetidos a laminectomia descompres-siva. Segundo estudo de Park8, evidenciou-se fatores

associa-dos a melhor prognóstico em tuberculose espinhal, relatando que terapia cirúrgica radical e baixa idade estavam associados a um resultado favorável.

Como já referido anteriormente, adversamente ao estudo de Falcetta e col1, os pacientes com recuperação total da força

mo-tora não eram os com menor perda inicial, pois ambos tinham força motora grau II. Dos 9 pacientes com déficit neurológico, 2 retornaram a força grau V.

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c

onclusão

A tuberculose é uma doença infecciosa milenar que ainda asso-la grande parte da popuasso-lação mundial devido a precárias condi-ções sanitárias e de saúde, e que tem sua perpetuação extendida devido aos pacientes imunodeprimidos e ao surgimento de ce-pas multirresistentes ao esquema terapêutico.

A coluna vertebral é a principal entidade acometida na osteo-mielite tuberculosa, em especial seus segmentos torácico, lom-bar e transicional tóraco-lomlom-bar.

Os exames de imagem colaboram muito para o diagnóstico da tuberculose vertebral, porém o diagnóstico de certeza somente é obtido com pesquisa de BAAR e da cultura do material ob-tido na biópsia.

Ocorre uma ótima resposta ao uso dedicado do esquema terapêu-tico, podendo gerar recuperação total do déficit neurológico do paciente, sendo que em nosso estudo, o grau de comprometimento motor não estava correlacionado com o grau de recuperação.

r

eferêncIas

1. Falcetta FS, Dal Pizzol A, Assmann JB, Giustina AD, Franzói M, Georg AE, et al. Mal de Pott: Uma doença milenar em um novo século. Rev. HCPA 2009; 29(2): 170 – 3.

2. Jevtic V. Infecção Vertebral. Eur Radiol (2004) 14: 43 – 52. 3. Puertas EB, Chagas JCM, Wajchenberg M, D’Orto CC.

Avalia-ção clínica, radiológica e tratamento de 17 pacientes com tuber-culose óssea na coluna vertebral. Rev. Bras. Ortop. [periódico eletrônico em 1999 Fev]. Disponível em http://www.rbo.org.br/ materia.asp?mt=524&idIdioma=1

4. Souza PS, Puertas EB, Wajchenberg M, Oliveira VM, Sousa Oliveira CEA, D’Orto CC. Tuberculose óssea na coluna verte-bral: aspectos clínicos e cirúrgicos. Coluna/Columna 2005; 4(2): 75 – 80.

5. Vilar FC, Neves FF, Colares JKB, Lopes da Fonseca BA. Tuber-culose vertebral (doença de Pott) associada a abcesso de psoas: relato de dois casos e revisão da literatura. Rev Soc Bras Med Tropical 2006; 39(3): 278–82.

6. Rezai AR, Lee M, Cooper PR, Errico TJ, Koslow M. Modern management os spinal tuberculosis. Neurosurgery 1995; 36(1): 87 – 98.

7. Pietrobon RS, Pinha MA, Bracarense Costa PA, Silva RF. Epide-miologia da tuberculose óssea: análise de 149 casos no Paraná. Rev. Bras. Ortop. [periódico eletrônico em 1994 Jun]. Disponív-el em http://www.rbo.org.br/materia.asp?idIdioma=1&mt=1369

8. Park DW, Sohn JW, Kim EH, Cho DI, Lee JH, Kim KT, Ha KY, Jeon CH, Shim DM, Lee JS, Lee JB, Chun BC, Kim MJ. Out-come and management of spinal tuberculosis according to the severity of disease: a retrospective study of 137 adult patients at Korean teaching hospitals. Spine 2007; 32(4): E130 – 5.

a

utor

c

orrespondente

Luiz Paulo Alves

R.: Atlântica, 566, Jardim do Mar

CEP: 09750-480, São Bernardo do Campo, SP e-mail: lpamed@yahoo.com.br

Referências

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