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ARTIGO ORIGINAL ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA)

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ARTIGO ORIGINAL

ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA

CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA) CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA) CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA) CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA) CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ (BA)

Tâmara Oliveira de Souza1 Tânia Christiane Bispo2 Resumo

Resumo Resumo Resumo Resumo

A presente pesquisa, de caráter qualitativo, teve como objetivo principal verificar as variáveis que interferem na prática da amamentação das puérperas e nutrizes que tenham crianças de 0 a 12 meses atendidas no Programa Saúde da Família (PSF) da Chapada, município de Aporá (BA). Para a viabilização desta pesquisa, utilizou-se como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, realizada durante as consultas de enfermagem e em visitas domiciliares. Buscou- se definir o diagnóstico da situação do aleitamento materno nesta população, a fim de estabelecer metas e elaborar estratégias de intervenção para o incentivo à prática do aleitamento materno. O trabalho de campo foi realizado na área de abrangência do PSF da Chapada, município de Aporá (BA). A análise dos dados foi realizada mediante o método de Análise de Conteúdo. Os resultados evidenciaram que a maioria das puérperas e nutrizes deixou de amamentar exclusivamente seus filhos antes dos seis meses de vida, devido aos mitos e tabus ainda existentes.

Como sugestões para o incentivo à prática do aleitamento materno exclusivo foram citadas reuniões, orientações, conversas e palestras.

Palavras-chave: Aleitamento materno. Programa Saúde da Família. Nutrizes e puérperas.

EXCLUSIVE MATERNAL BREASTFEEDING AND THE FAMILY HEALTH PROGRAM OF THE CHAPADA REGION, DISTRICT OF APORÁ, BA

Abstract Abstract Abstract Abstract Abstract

The main objective of this qualitative study, was to verify the variables that interfere in the practice of breastfeeding puerperal women with children from 0 to 12 months, treated in the Family Health Program (PSF) in the Chapada region, district of Aporá, Bahia. For the feasibility

a Estudante do Curso de Especialização em Neonatologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência:

Endereço para correspondência: Rua Piracicaba, Cond. Parque Lagoa Grande, Qd. C, Bloco 28, apto 01, Bairro Caseb – Feira de Santana – CEP: 44040130. E-mail: tamara_enfermagem@hotmail.com.

b Orientadora e Coordenadora do Curso de Especialização em Neonatologia da UNEB.

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Revista Baiana

de Saúde Pública of this research, the semi-structured interview was utilized as data-gathering technique, performed during nursing consultations and home visits. The aim was to define the diagnosis of the breastfeeding situation in this population in order to establish goals and elaborate intervention strategies to encourage the practice of maternal breastfeeding. The fieldwork was performed in the area of coverage of the PSF of the Chapada region, district of Aporá, Bahia. The data analysis was realized using Content Analysis methodology. The results illustrated that the majority of the puerperal women stopped breastfeeding their children exclusively before they reached sixth months of age due to the myths and taboos still existent. The recommendations to encourage the practice of exclusive maternal breastfeeding included meetings, orientations, chats, and seminars.

Key words: Maternal breastfeeding. Family Health Program. Puerperal women.

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO

O leite humano é o alimento ideal para o lactente, em particular nos seis primeiros meses de vida. Seus benefícios para o organismo, em termos nutricionais e imunobiológicos associados ao efeito psicossocial positivo da amamentação sobre o binômio mãe-filho, torna-o superior aos demais leites.

De acordo com as recomendações da União Internacional das Ciências Nutricionais para o Ano Internacional da Criança, publicado pela UNICEF:

Nada mais do que o leite humano é necessário para manter o crescimento e a boa nutrição durante os primeiros seis meses de vida e, deve-se salientar que a alimentação infantil não pode ser considerada somente em relação ao fornecimento dietético de nutrientes, mas também num contexto social mais amplo.1

A amamentação, quando praticada exclusivamente até os seis meses e complementada até os dois anos ou mais, proporciona um adequado crescimento e desenvolvimento e previne doenças prevalentes na infância, como a desnutrição infantil, e na fase adulta. O leite materno é reconhecido como o alimento adequado para a criança nos primeiros meses de vida não só por sua disponibilidade em energia, macro e micronutrientes, mas também pela proteção que confere contra as doenças.2 Mesmo sendo conhecidas, apontadas e valorizadas as inúmeras vantagens do leite humano, especialmente quando este é reconhecido e indicado como o alimento ideal para os lactentes, o desmame, ou seja, sua substituição por outros leites ou fórmulas infantis artificiais, é uma prática comum em nosso meio.

São várias as conseqüências negativas do desmame precoce sobre a saúde infantil, especialmente nos países do terceiro mundo. A ausência ou a curta duração do aleitamento

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materno contribui para o declínio dos níveis de hemoglobina no primeiro ano de vida e, portanto, para a anemia, o que pode levar a patologias mais sérias.3

As concepções e valores assimilados no processo de socialização interferem na prática da amamentação; cada sociedade cria percepções e construções culturais sobre o aleitamento materno, traduzindo-se em saberes próprios.4

A ação básica — Aleitamento Materno e Orientação Alimentar para o desmame — tem como finalidade principal a redução da morbimortalidade infantil, principalmente numa realidade como a brasileira, em que a desnutrição se constitui em importante causa básica ou associada de óbitos.5

A abordagem sobre o tema Aleitamento Materno pode ser realizada por meio do Programa Saúde da Família (PSF) nas ações de pré-natal, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento (ACD), teste do pezinho, imunização e também no planejamento familiar.

Durante as visitas domiciliares também são proporcionadas às famílias, principalmente às mães, orientações sobre o aleitamento materno, o que pode ser verificado como uma das responsabilidades da Equipe de Saúde da Família.

O Programa de Saúde da Família tem como objetivo reorganizar a prática de atenção à saúde em novas bases, substituindo o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família, priorizando as ações de proteção, promoção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família de forma integral e humanizada.6

É importante considerar que os serviços de saúde, ainda que involuntariamente, contribuem para a redução da prevalência e duração da amamentação. Tal realidade pode ser observada quando são introduzidos procedimentos e rotinas que interferem no processo do aleitamento materno sem, contudo, definir-se uma política interna de incentivo à prática do amamentar.4 Embora as campanhas, ultimamente, tenham caráter informativo, os serviços de saúde, em sua maioria, não estão oferecendo apoio às mulheres, especialmente no que diz respeito à discussão e resolução das dificuldades que possam enfrentar na amamentação.7, 8

A prática do aleitamento materno pode ser amplamente favorecida, quando a população encontra-se próxima ou de alguma forma assistida por serviços de saúde que ofereçam, de maneira efetiva, os processos de incentivo ao aleitamento, podendo estar vinculados a projetos acadêmicos ou motivados pelo interesse e esforço pessoal dos profissionais envolvidos.9-11

A prática do Aleitamento Materno, principalmente exclusivo até os seis meses de idade, ainda é uma realidade distante entre as famílias atendidas no PSF da Chapada. Diante de tal situação, percebeu-se a necessidade de se desenvolver uma pesquisa nessa comunidade, onde poderão ser desenvolvidas atividades de incentivo ao aleitamento materno, visando à redução do desmame precoce e melhora dos indicadores de saúde local.

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de Saúde Pública A pesquisa teve como objetivo geral verificar a interferência de variáveis na prática de Aleitamento Materno Exclusivo às crianças até seis meses atendidas no Programa Saúde da Família (PSF) da Chapada município de Aporá (BA). Teve como objetivos específicos identificar as variáveis que interferem no processo de Aleitamento Materno Exclusivo e elaborar estratégias de intervenção para o incentivo à prática do Aleitamento Materno Exclusivo.

MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOSMATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS Tipo de estudo

Tipo de estudoTipo de estudo Tipo de estudo Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa do tipo qualitativa exploratória, visto que trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis e tem como objetivo proporcionar visão geral, do tipo aproximativo, acerca de determinado fato.12

Campo de estudo Campo de estudoCampo de estudo Campo de estudo Campo de estudo

O trabalho de campo foi realizado na área de abrangência do Programa Saúde da Família (PSF) da Chapada, no município de Aporá (BA), que possui um total de 13.500 habitantes. O PSF referido contempla 539 famílias. A Equipe Saúde da Família é composta por uma enfermeira, um médico generalista, uma auxiliar de enfermagem e cinco Agentes Comunitárias de Saúde.

A área de abrangência da Unidade Básica de Saúde Chapada compreende algumas localidades: Chapada, Papagaio, Vaca Velha, Laginha, Crioulo, Boca do Mato, Suriano, Candeal, Olhos D’água e Ribeiro dos Tapuios.

Sujeitos da pesquisa Sujeitos da pesquisaSujeitos da pesquisa Sujeitos da pesquisa Sujeitos da pesquisa

Os atores sociais escolhidos como sujeitos desta pesquisa foram puérperas e nutrizes que tinham crianças na faixa etária de 0 a 12 meses e foram acompanhadas pela equipe de saúde da família durante as consultas puerperais, de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, do planejamento familiar e também freqüentavam os serviços de imunização e teste do pezinho. O número de participantes na pesquisa não foi estabelecido, pois a amostragem apresentou-se por sensibilidade ou por conveniência, visto que “[...] é destituída de qualquer rigor estatístico, na qual o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo”.13

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Coleta de dados Coleta de dados Coleta de dados Coleta de dados Coleta de dados

Para a coleta de dados, a técnica adotada foi a entrevista semi-estruturada, que “[...]

valoriza a presença do investigador e oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo assim a investigação”.14

A entrevista foi elaborada pelas investigadoras com base em uma ordem pré- estabelecida de questionamentos subjetivos, nos quais o entrevistado possuía certa liberdade de responder em seus próprios termos ou fazer questionamentos.

Como instrumento das entrevistas foi utilizado um roteiro norteador com questões relacionadas ao objeto de investigação. As entrevistas foram registradas em um gravador, mediante permissão do investigado; em seguida, foram transcritas em sua integralidade. Sua finalização ocorreu no momento em que as respostas dos sujeitos tornaram-se semelhantes.

Precedendo a coleta de dados propriamente dita foi realizado um pré-teste do roteiro da entrevista no Programa Saúde da Família de Itamira, no município em questão, com a finalidade de avaliar o instrumento quanto a sua clareza e respostas aos objetivos do estudo.

Análise de dados Análise de dados Análise de dados Análise de dados Análise de dados

Foram utilizados os seguintes passos metodológicos da Análise de Conteúdo: I – ordenação dos dados, privilegiando a transcrição das entrevistas gravadas; II – classificação dos dados, visando detectar os temas convergentes e divergentes do material empírico; III – análise final dos dados, articulando o referencial teórico com a síntese das entrevistas e dos posicionamentos das pesquisadoras.12

Aspectos éticos Aspectos éticos Aspectos éticos Aspectos éticos Aspectos éticos

Esta pesquisa teve início após o parecer do comitê de ética da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a assinatura do termo de consentimento pelos sujeitos.

Para a realização das entrevistas foi obedecida a Resolução 196/96 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos.15

RESULTADOS E DISCUSSÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO Importância do aleitamento materno Importância do aleitamento materno Importância do aleitamento materno Importância do aleitamento materno Importância do aleitamento materno

A importância do aleitamento materno para a preservação da saúde da criança não é uma descoberta nova. O leite materno, além de ser ideal por seu valor nutricional e imunobiológico para o recém-nascido, traz benefícios psicológicos para o binômio mãe-filho.

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de Saúde Pública Durante o desenvolvimento da pesquisa foi possível observar que todas as puérperas e nutrizes entrevistadas reconheciam a importância do aleitamento materno exclusivo, entretanto não sabiam explicitar as razões dessa importância.

Algumas consideraram o aleitamento materno importante na prevenção de doenças, como ilustram as falas transcritas a seguir:

“Eu acho que é importante porque evita doenças [...]” (Entrev. 1).

“Eu acho que é importante por que evita a criança de muitas doenças, né...” (Entrev. 4).

“Sim, é importante porque protege de várias doenças [...]” (Entrev. 6).

Outras relataram o desenvolvimento como uma das vantagens da amamentação, porém consideraram a gordura como sinal de saúde.

“Acho que é uma alimentação muito boa e a criança cresce mais rápido e engorda um pouquinho mais. É só isso.” (Entrev. 3).

“É importante, porque me ensinaram que é um método que ajuda a criança a desenvolver mais rápido [...]” (Entrev. 5).

“Sim, é importante para o desenvolvimento da criança, ele é muito rico.” (Entrev. 8).

Complementando as falas, duas entrevistadas referiram que o aleitamento materno é importante na formação dos dentes:

“[...] e ajuda na formação de dentes e etc. e muitas coisas.” (Entrev. 1).

“[...] é bom pros dentes.” (Entrev. 6).

As condições socioeconômicas precárias e a falta de infra-estrutura continuam sendo fatores decisivos para a sensibilização da importância da prática do aleitamento materno nas populações carentes. Apesar de muitas evidências científicas da superioridade do leite materno sobre outros tipos de leite, ainda é baixo o número de mulheres que amamentam seus filhos de acordo com as recomendações.

Tempo de amamentação Tempo de amamentaçãoTempo de amamentação Tempo de amamentação Tempo de amamentação

A recomendação atual é de que os neonatos e crianças sejam amamentados exclusivamente até os seis primeiros meses de vida, continuando com o aleitamento até dois anos ou mais. De acordo com as entrevistas, somente duas mães amamentaram seus filhos até os seis meses completos e outras duas encontram-se ainda nesta fase.

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Quatro das entrevistadas afirmaram ter oferecido somente o leite materno até antes de a criança completar um mês de idade; outras relataram ter amamentado até um mês pós- parto. A maioria deixou de amamentar exclusivamente antes das crianças completarem seis meses de vida.

Apesar das ações de incentivo à amamentação, tal prática se desenvolve de forma lenta. Muitas mulheres continuam não amamentando ou amamentando por pouco tempo, desconsiderando as orientações técnicas do aleitamento materno.5

Mitos e tabus que influenciam o desmame precoce Mitos e tabus que influenciam o desmame precoce Mitos e tabus que influenciam o desmame precoce Mitos e tabus que influenciam o desmame precoce Mitos e tabus que influenciam o desmame precoce

Os dados coletados permitiram detectar alguns mitos e tabus que levavam as puérperas ou nutrizes entrevistadas a deixarem de oferecer somente o leite materno até os seis meses de vida das crianças. Muitas mulheres ainda enfrentam a falta de informações sobre o aleitamento materno.

Em algumas entrevistas foi relatado que só o leite materno não era suficiente para o bebê, pois não o sustentava da maneira adequada, como pode ser observado nas seguintes falas:

“O leite materno não tava sustentando ele, ele tava chorando muito [...]” (Entrev. 3).

“Eu achava que o leite não tava sustentando, porque ele mamava e depois ele não se conformava e começava a chorar. Eu dava mingau e ele dormia.” (Entrev. 4).

“[...] acho meu leite pouco e fraco.” (Entrev. 6).

“Eu achava que o leite não tava sustentando a criança.” (Entrev. 10).

É evidente a crença de que o leite humano não sustenta a criança, que é preciso “um mingau” para fortalecer. Assim, torna-se necessário criar meios estratégicos para sensibilizar as mães sobre a importância do aleitamento materno exclusivo, pois as orientações oferecidas nas consultas muitas vezes não são atendidas.

Geralmente, as puérperas e nutrizes associam o choro da criança à fome. Se mesmo após a mamada a criança continuar chorando, certamente a mãe encontrará uma outra maneira, ou seja, um outro alimento para solucionar o problema. Tal realidade pode ser constatada nas falas:

“Ela chorava muito, não dormia a noite nem eu, nem ela. Depois que eu comecei a dar outro leite ela dormia bem.” (Entrev. 11).

“Eu achava que ele chorava porque queria outro alimento.” (Entrev. 13).

“[...] ele mamava e depois ele não se conformava e começava a chorar [...]” (Entrev.4).

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de Saúde Pública Importante considerar também a vaidade, um outro mito evidente em populações carentes. Algumas entrevistadas referiram que um dos motivos que podem levar à interrupção do aleitamento materno é a preocupação com o corpo, mais especificamente a estrutura do seio:

“[...] às vezes vaidade, para o seio não ficar caído [...]” (Entrev. 1).

“[...] às vezes não quer dar mama para a mama não cair [...]” (Entrev. 2).

Assim, é preciso reconhecer que a amamentação adquiriu um perfil social próprio, refletido na criação de mitos e tabus que ainda persistem, principalmente nas populações mais carentes. Logo, para uma mudança de hábitos sociais tornam-se necessários tempo e persistência.

Orientação sobre aleitamento materno Orientação sobre aleitamento maternoOrientação sobre aleitamento materno Orientação sobre aleitamento materno Orientação sobre aleitamento materno

Quando foi questionada a orientação sobre o aleitamento materno de todas as puérperas e nutrizes entrevistadas somente duas relataram que não foram orientadas.

Diante de tal fato, vale considerar que as instruções não estão sendo passadas de forma adequada, pois ainda existem falhas no processo de amamentação. Certamente, as medidas tomadas precisariam ser reavaliadas, para se obter o resultado esperado. Torna-se preciso atentar para o processo de comunicação acerca dos benefícios e requisitos da amamentação bem sucedida.

Para a realização dessa tarefa são necessários conhecimentos e habilidades no manejo das diversas fases de lactação. Aconselhamento no pré-natal, orientação e ajuda no período de estabelecimento da amamentação e avaliação criteriosa da técnica adequada, quando surgem os problemas relacionados com o aleitamento, são algumas tarefas que a equipe de saúde da família deve dominar.

Fatores que levam ao desmame precoce Fatores que levam ao desmame precoceFatores que levam ao desmame precoce Fatores que levam ao desmame precoce Fatores que levam ao desmame precoce

Muitos são os motivos que podem levar à interrupção do aleitamento materno.

Dentre estes, foram referidos: problemas de saúde, necessidade de trabalhar, preguiça, falta de paciência.

Foi possível perceber nos relatos que, mesmo com as facilidades concedidas às mulheres que se encontram em fase de amamentação e necessitam trabalhar, nem sempre esse direito foi desfrutado por todas. Estudos apontam o trabalho como causa determinante ou associada à decisão da mãe em oferecer outro alimento ao filho. Tal fato pode ser verificado nos depoimentos:

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“[...] às vezes não pode por causa do trabalho, tem que voltar logo para o serviço.”

(Entrev. 2).

“[...] muitas têm que trabalhar [...]” (Entrev. 4).

“Quando a mãe tá trabalhando não pode ficar com a criança 24h como precisa.”

(Entrev. 5).

“[...] a gente da roça tem que trabalhar e só pra ficar dando leite, tem que dar toda hora.” (Entrev 6).

O aleitamento materno é uma das ações mais valorizadas para promover a saúde da criança, porém o trabalho das mulheres fora de casa tem sido apontado como uma das razões para a não amamentação ou o desmame precoce. No entanto alguns estudos mostram que não é o trabalho que determina a diminuição da amamentação, mas sim as condições concretas em que ocorre.

A sociedade oferece pouco suporte à mulher no seu desempenho de papel como mãe, o que pode ser percebido por ausência de creches e, quando existem são colocados em locais distantes do lar ou do trabalho, bem como, muitas vezes, pela inexistência de um local apropriado para coleta e armazenamento do leite materno.16

A vaidade, a preguiça, a falta de paciência e de tempo foram também considerados como obstáculos à amamentação. Determinadas falas são ilustrativas:

“A falta de paciência; a mãe quer ver logo o filho com a barriga cheia pra calar a boca.

Às vezes não quer dar mama para a mama não cair [...]” (Entrev. 2).

“[...] acho que também é preguiça de tá dando no peito, porque quando dá mingau a criança fica quieta e no peito toda hora chora.” (Entrev. 7).

“A mãe que não agüenta ver seu filho chorando a noite toda [...]” (Entrev. 8).

“Deve ser porque não tem paciência de dar só o peito; a falta de tempo.” (Entrev. 1).

“Eu acho que é preguiça da mãe [...]” (Entrev. 15).

Rachaduras ou ausência de protusão mamilar favorecem o desmame precoce. A presença de rachaduras na pele, desconforto que continua durante a amamentação, que não melhora ao final da primeira semana de lactação, não se configuram como situações de normalidade no processo de amamentação. A rachadura em mamilos está normalmente relacionada à técnica inapropriada de amamentação que não somente causa dor, mas pode ter um impacto negativo na qualidade das mamadas.17

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de Saúde Pública “Meu seio feriu e aí doía muito na hora que eu ia dar o peito. Ele chorava muito e quando dei a mamadeira ele não queria mais pegar o peito.” (Entrev. 14).

“Eu tirava com a bombinha, mas era pouco e aí tive que dar mingau.” (Entrev. 9).

A influência do parceiro e de outras pessoas, principalmente os mais velhos, interferiu na prática da amamentação, contribuindo para o desmame precoce.

“Pra falar a verdade, meu marido não deixou eu amamentar por causa da ignorância...

Quando eu tava dando de mamar, ele me xingava, falava que não era pra dar, por que tinha nojo de mulher que dava de mamar.” (Entrev. 1).

“[...] tem mãe que vai pela cabeça dos outros pra dar mingau que o menino tá com fome.” (Entrev. 8).

Considerando o conjunto de influências que interferem nas decisões relativas à amamentação, evidencia-se que, para se conseguir efetivamente produzir atitudes e práticas positivas, é necessário focalizar a sociedade, não apenas as mulheres, visando estabelecer o aleitamento materno como um valor social.18

Equipe Saúde da Família Equipe Saúde da Família Equipe Saúde da Família Equipe Saúde da Família

Equipe Saúde da Família versusversusversusversusversus incentivo ao aleitamento materno incentivo ao aleitamento materno incentivo ao aleitamento materno incentivo ao aleitamento materno incentivo ao aleitamento materno

A visão de saúde da família firma-se como aspecto fundamental no estabelecimento de vínculos que possibilitam a criação de laços de compromisso e co-responsabilidade entre os serviços de saúde e os cidadãos. Dentre as ações desenvolvidas pelas equipes de saúde da família destaca-se a assistência materno-infantil, que envolve a promoção e o manejo do aleitamento materno.

Diante as dificuldades encontradas, algumas sugestões foram oferecidas pelos sujeitos da pesquisa, para que a Equipe de Saúde da Família possa estimular o aleitamento materno, principalmente o aleitamento materno exclusivo. A maioria referiu que orientação/

explicação, aconselhamento e conversa são meios de estímulo para a amamentação:

“Dar explicação pra as mães que elas podem dar mama, que é muito bom o leite [...]

conversando com elas [...]” (Entrev. 3).

“Aconselhar. Ir na casa das mães, conversando com elas, orientando, porque muitas vezes não alimenta seu filho direito por falta de uma orientação, com certeza [...]”

(Entrev. 5).

“Orientar; juntar a equipe e fazer as orientações com as mães.” (Entrev. 9).

“Dar conselho, orientar, porque não é toda mãe que é orientada [...]” (Entrev. 15).

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Reuniões e palestras também foram consideradas importantes no incentivo ao aleitamento materno:

“[...] fazer palestras, falar e tentar mostrar o quanto é prejudicial o não aleitamento.”

(Entrev. 1).

“[...] chamar no posto para reunião, palestras.” (Entrev. 4).

“[...] fazer reunião, falar que é saudável, que evita doenças, infecção.” (Entrev, 14).

Apenas duas não souberam opinar sobre o que poderia ser feito para melhorar o incentivo à amamentação.

Delimitando a promoção da saúde integral da criança, em busca de melhores indicadores de saúde, faz-se necessário garantir o primeiro atendimento na unidade básica de saúde, a fim de reduzir a mortalidade infantil. As equipes de atenção básica, portanto, devem estar capacitadas para acolher precocemente a gestante no programa de pré-natal e as puérperas nas consultas pós-parto, garantindo-lhes orientações apropriadas quanto aos benefícios da amamentação para a mãe, a criança, a família e a sociedade, além de organizar reuniões, palestras e rotinas que apóiem e promovam o aleitamento materno.19

CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de aleitamento materno, principalmente aleitamento materno exclusivo, ainda é uma realidade distante de muitas famílias.

Foi possível identificar neste trabalho a forte influência dos mitos e tabus gerados ao longo do tempo no desmame precoce, prejudicando o processo de aleitamento materno. É importante considerar que sua promoção pode reduzir substancialmente a mortalidade infantil.

As equipes de saúde da família têm um importante papel de suporte no incentivo à prática da amamentação, uma vez que acolhem a gestante precocemente na assistência ao pré- natal, podendo desde esse momento iniciar a orientação quanto aos benefícios da amamentação para a criança, a família e a sociedade, além de atuar como uma equipe prestadora de serviços domiciliares, tendo mais oportunidade de divulgar e promover o aleitamento, apoiando as mães que aleitam seus filhos, melhorando a saúde e a qualidade de vida da dupla mãe/filho.20 Antes de promover e incentivar o aleitamento materno, porém, deve-se avaliar a perspectiva da sociedade em relação a ele, pois este fator vai influenciar a ocorrência do aleitamento materno em cada comunidade.

Promover e facilitar o aleitamento materno não é responsabilidade somente dos serviços de saúde nem de nenhum outro programa de saúde ou categoria profissional, mas deve ser

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Revista Baiana

de Saúde Pública uma tarefa considerada prioritária entre outras importantes políticas de saúde e nutrição, merecendo o estímulo de todos os membros da família e da sociedade.

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Recebido em 02.02.2007 e aprovado em 05.03.2007.

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Revista Baiana de Saúde Pública

APÊNDICE A

ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DA CHAPADA, MUNICÍPIO DE APORÁ/BA

Autora: Tâmara Oliveira de Souza Orientadora: Profª Msc. Tânia Christiane Ferreira Bispo

ROTEIRO DE ENTREVISTA

DADOS PESSOAIS:

DADOS PESSOAIS:DADOS PESSOAIS:

DADOS PESSOAIS:

DADOS PESSOAIS:

Nome:

Idade:

Escolaridade:

Número de filhos:

QUESTÕES NORTEADORAS QUESTÕES NORTEADORASQUESTÕES NORTEADORAS QUESTÕES NORTEADORAS QUESTÕES NORTEADORAS:

1. Você acha importante o aleitamento materno? Porque?

2. Amamenta ou amamentou seu filho (s) até quanto tempo?

3. O que fez você deixar de amamentar?

4. Recebeu ou recebe alguma orientação sobre o aleitamento materno?

5. Em sua opinião, quais os motivos que podem levar a interrupção do aleitamento materno?

6. Em sua opinião, o que a equipe de saúde da família pode fazer para estimular o aleitamento materno?

Referências

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