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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.503.554 - SP (2014/0340171-8)

RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO RECORRIDO : WALDEMIR DEMEZ

ADVOGADO : JOSE RICARDO CAETANO RODRIGUES E OUTRO(S) DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, com fundamento nas alíneas a e c do art. 105, III, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que proveu o reclamo defensivo para absolver WALDEMIR DEMEZ da imputação dos crimes dos artigos 12 e 14 da Lei 10.826/03.

O Ministério Público Estadual sustenta que o acórdão recorrido contrariou e divergiu da interpretação conferida por outros tribunais ao artigo 14 do Estatuto do Desarmamento.

Alega que a quantidade de munição apreendida em poder do acusado é irrelevante para a caracterização do referido tipo penal, não havendo cogitar-se de aplicação do princípio da insignificância.

Aponta, por outro lado, vulneração e dissídio pretoriano em relação ao artigo 12 daquele diploma legal, uma vez que o fato da arma de fogo estar desmuniciada não torna a conduta descrita naquele preceito legal atípica.

Requer o provimento do recurso para restabelecer a sentença de piso.

Foram apresentadas contrarrazões. Admitido o recurso, ascenderam os autos ao STJ.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do recurso.

É o relatório.

Satisfeitos os requisitos de admissibilidade, passo à análise do recurso especial ministerial.

Segundo consta dos autos, WALDEMIR DEMEZ foi denunciado porque, em 14-5-2011, foi surpreendido transportando seis cartuchos de munição calibre "38".

Além disso, na mesma data, foram encontrados em sua residência uma espingarda calibre "28" e um revólver calibre "22", todos de uso permitido.

Após a instrução sobreveio sentença julgando procedente a denúncia e condenando o réu pela prática dos delitos dos artigos 12 e 14 da Lei 10.826/03.

Reconhecido o concurso material, as penas restaram estabelecidas em 6 meses de detenção para o crime do artigo 12, e 2 anos de reclusão para aquela do artigo 14 do Estatuto do Desarmamento.

O Tribunal de origem acolheu a apelação defensiva e absolveu o réu de ambas as imputações.

Quanto à posse de arma de fogo, consta do acórdão absolutório:

Em conclusão apressada, poder-se-ia decretar a condenação do réu, pelo simples fato dele possuir em sua residência duas armas de fogo sem a devida autorização.

Todavia, no que concerne ao crime de posse ilegal de arma

de fogo, é de se observar que o legislador, ao descrever o

tipo penal previsto no artigo 12, "caput", da Lei nº 10.826/03,

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estabeleceu como objeto material do delito "arma de fogo".

(...)

A segurança pública é, pois, o bem jurídico que o legislador pretendeu proteger quando da criação do tipo penal em tela.

Ora, se há prova contundente nos autos de que o acusado possuía duas armas de fogo, entretanto, ambas desmuniciadas, não tendo consigo, também, nenhuma munição do calibre de tais armas, forçoso concluir que o bem jurídico tutelado pelo tipo penal em momento algum chegou a sofrer lesão ou ameaça de lesão.

Assim, encontrando-se as armas desmuniciadas e afastada a possibilidade de fácil municiamento das mesmas, conclui-se que também a conduta de posse ilegal de armas de fogo é atípica, impondo-se a sua absolvição.

Visa o recorrente afastar o entendimento de que a conduta consistente em possuir arma de uso permitido desmuniciada, sem a possibilidade de fácil municiamento, é atípica por falta de potencialidade lesiva.

Inicialmente, para análise da quaestio , convém transcrever o tipo penal em destaque:

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.

Examinando o apontado dispositivo, esta Corte já firmou compreensão de que o delito em exame busca tutelar a segurança pública, colocada em risco com a posse de arma, acessório ou munição à revelia do controle estatal, não impondo à sua configuração, pois, resultado naturalístico ou efetivo perigo de lesão.

Dessarte, basta a simples posse de arma de fogo, munição ou acessório, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar para a incidência do tipo penal.

Na mesma direção, confira-se:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL.

ARTS. 12 E 14 DA LEI N. 10.826/2003. POSSE DE ARMA DE FOGO. AUSÊNCIA DE MUNIÇÃO. TIPICIDADE. CRIME DE PERIGO ABSTRATO.

1. A controvérsia cinge-se ao reconhecimento da possibilidade de subsunção típica ao crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido na hipótese de se encontrar o artefato bélico sem munição (arts. 12 e 14 da Lei n. 10.826/2003).

2. A arma de fogo representa um instrumento eficiente para alcançar objetivos espúrios, uma vez que intimida, constrange, violenta, transformando-se, assim, em um risco objetivo à paz social.

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3. É irrelevante aferir a eficácia da arma para a configuração do tipo penal, que é misto-alternativo, em que se consubstanciam, justamente, as condutas que o legislador entendeu por bem prevenir, seja ela o simples porte de munição ou mesmo o porte de arma desmuniciada.

4. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as razões reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento assentado na decisão agravada.

5. Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 1326383/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe 05/09/2012) PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO E MUNIÇÕES DE USO PERMITIDO. INEXIGIBILIDADE DE EXAME PERICIAL.

CRIME DE MERA CONDUTA. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA.

NÃO OCORRÊNCIA. ACÓRDÃO A QUO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL. SÚMULA 83/STJ.

1. Em conformidade com o estabelecido no acórdão impugnado, a jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que a caracterização dos crimes previstos nos arts. 12 e 16 da Lei n. 10.826/2003 prescinde de perícia acerca do potencial lesivo das armas e munições apreendidas, pois trata-se de crimes de mera conduta, de perigo abstrato, que se perfazem com a simples posse ou guarda de arma ou munição, sem a devida autorização pela autoridade administrativa competente.

2. De outra parte, segundo a jurisprudência das Turmas integrantes da Terceira Seção deste Tribunal, a abolitio criminis temporária em relação ao crime de posse ilegal de arma de fogo e munições de uso permitido só persistiu até 31/12/2009. Incidência da Súmula 83/STJ.

3. Agravo regimental improvido.

(AgRg no AREsp 235.213/DF, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe 19/3/2013)

Já no que se refere ao delito de porte de munição de uso permitido, a absolvição do acusado fundou-se na pequena quantidade de cartuchos apreendidos em seu poder, verbis :

No caso sub examine, a ínfima quantidade de munições apreendidas (seis cartuchos de calibre 38), frise-se, estando intactos apenas três cartuchos, desacompanhados de qualquer armamento do mesmo calibre, quando da apreensão no interior do veículo do denunciado, não espelha o mínimo potencial de lesividade à objetividade jurídica vislumbrada pelo legislador.

Porém, como já ressaltado anteriormente, a impossibilidade de uso

imediato da munição não descaracteriza a natureza criminosa da conduta, haja vista

tratar-se de infração que se consuma com o mero transporte do artefato proibido. Além

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disso, o fato de terem sido poucos cartuchos apreendidos em poder do agente é insuficiente para tornar materialmente atípico o comportamento.

A propósito:

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 14, CAPUT, DA LEI N.º 10.826/2003. PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO (DOIS CARTUCHOS ÍNTEGROS, DA MARCA CBC, CALIBRE 7,65). PLEITO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE. ESPECIAL

REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO AGENTE.

HABITUALIDADE DELITIVA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTA CORTE.

RÉU REINCIDENTE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS.

REGIME INICIAL FECHADO. IMPROPRIEDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 269 DESTA CORTE. ORDEM DE HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONCEDIDA.

1. A aplicabilidade do princípio da insignificância é cabível quando se evidencia que o bem jurídico tutelado sofreu mínima lesão e a conduta do agente expressa pequena reprovabilidade e irrelevante periculosidade social.

2. Conforme decidido pela Suprema Corte, "O princípio da insignificância não foi estruturado para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de condutas ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, mesmo que insignificantes, quando constantes, devido a sua reprovabilidade, perdem a característica de bagatela e devem se submeter ao direito penal." (STF, HC 102.088/RS, 1.ª Turma, Rel.

Min. CÁRMEN LÚCIA, DJe de 21/05/2010.)

3. Na hipótese dos autos, não se verifica o desinteresse estatal à repressão do delito praticado pelo ora Paciente, o qual, além de já ter sido condenado definitivamente pelo crime de roubo circunstanciado, também apresenta condenação pelo delito de furto qualificado.

4. Ademais, este Tribunal já firmou entendimento segundo o qual o porte ilegal de arma de fogo desmuniciada e o de munições configuram hipóteses de perigo abstrato, bastando apenas, para a consumação do crime, a prática do ato de levar consigo. Portanto, não se mostra viável a aplicação do princípio da insignificância, tendo em vista que, embora não seja expressiva a quantidade da munição apreendida (02 cartuchos de calibre 7,65), ela apresenta potencialidade lesiva, mormente em poder de réu já condenado pelos crimes de roubo e furto.

Precedentes.

5. Estabelecida a pena-base no mínimo legal, porque favoráveis as circunstâncias judiciais, a condição de reincidente não impede a fixação de regime prisional intermediário, nos termos da Súmula n.º 269 do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.

6. Ordem de habeas corpus parcialmente concedida para, reformando o acórdão impugnado e a sentença condenatória, estabelecer o regime semiaberto para o inicial cumprimento da

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pena reclusiva imposta ao Paciente.

(HC 168.656/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 05/09/2012)

Por todo o exposto, com base no art. 557, § 1º-A, do CPC c/c art. 3º do CPP, dá-se provimento parcial ao reclamo especial para, afastado o entendimento pela atipicidade das condutas em referência, determinar a devolução dos autos ao Tribunal a fim de que prossiga no julgamento da apelação defensiva.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília (DF), 06 de fevereiro de 2015.

MINISTRO JORGE MUSSI

Relator

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