GÊNERO, PODER E FAMÍLIA NA GRÉCA CLÁSSICA: o caso Antígona.
NETO, João Luiz Mendonça. UFG/Jataí.
Introdução
Nossa intenção neste artigo é discutir a situação política e social da mulher na Idade Clássica, através da obra de Sófocles, Antígona. Na obra Antígona é colocado em cheque o embate entre Direito Positivo e Direito Natural e dentro desse embate a figura ou representação da mulher é caracterizado pela protagonista da obra, Antígona.
Informações da obra e autor
Antígona é uma figura da mitologia grega, a versão clássica sobre essa personagem da mitologia grega é mostrada na obra Antígona do dramaturgo grego Sófocles, um dos mais celebres escritores da famosa tragédia grega. A obra Antígona é a terceira da trilogia tebana, escrita por Sófocles. Fazem da trilogia: Édipo rei e Édipo em Colono.
A estrutura e a divisão da obra se da pelo prólogo onde Antígona e Ismênia discutem a respeito da morte de seus dois irmãos e nos passam informações importantes sobre outros acontecimentos e por mais cinco episódios.
Filha de Édipo e Jocasta, Antígona tinha mais três irmãos, Eteocles, Polinice e Ismênia,quando Édipo foi expulso do reino de Tebas pelos seus filhos, Antígona foi a única a acompanhar o e cuidar dele até a morte. Quando Antigo retorna a Tebas seus irmãos disputavam o trono. Polinice se casa com a filha de Andrasros, rei de Argos e juntos armam um ataque conta Tebas, Eteócles que ficou fiel a Tebas luta contra o irmão invasor, nesse duelo ambos morem.
Creonte tio deles herda o trono, e decide fazer sepultura com todas as honras fúnebres para Eteóclese decide deixar Polinice onde este havia morrido e ainda proíbe qualquer um de enterrar seu sobrinho Polínice, e se alguém desobedecesse tal ordem teria como pena a morte.
a vagar cem anos as margens do rio que levava ao mundo dos mortos, sem poder ir para o mundo dos mortos.
Antígona não conformada decide enterrar seu irmão Polínice, e assim ela faz com as próprias mãos, ao término do enterro é pressa por funcionários do rei. Creonte decreta que ela seja enterrada viva, sua irmã Ismênia oferece para morrer em seu lugar, mas Antígona não aceita. Surge à figura de Hêmon, noivo de Antígona e filho de Creonte, Hêmon não consegue salvar Antígona, discute com seu pai e comete suicídio. Ao saber que seu filho Hêmon suicidou, Eurídice mulher de Creonte, também comete suicídio.
História da peça
A história Antígona tem início com a morte de dois filhos de Édipo, prováveis herdeiros do trono de Tebas. Com a morte dos dois irmãos, Eteócles e Polínice, sobe ao trono Creonte, tio dos mortos e irmão de Jocasta. Quando Creonte assume o trono o primeiro ato de sue governo diz respeito ao sepultamento dos corpos de Eteócles e Polínice.
Creonte decide fazer todas as honras fúnebres no sepultamento de Eteócles, já quanto à possibilidade de sepultamento de Polínice decide que o corpo fique jogado aos animais. Nega o Direito de sepulto ao corpo de Polínice, isso serviria de exemplo para todos que tentassem tramar contra o governo de Tebas.
Antígona, ao saber do decreto de Creonte imposto ao corpo de seu irmão Polínice, se revela e mostra-se totalmente contra tal decisão, pelo fato dessa lei de Creonte divergir completamente das leis divinas.
Creonte no primeiro episodia é informado de que o corpo de Polínice havia recebido uma camada de pó, logo o ritual fúnebre havia sido feito por alguém, e, portanto o seu decreto havia sido desrespeitando, desafiando sua autoridade de rei daquela cidade.
levada até Creonte. Diante dessa situação é travado um duelo de ideologia e concepções sobre a ordem vigente naquela cidade.
Encadeamento de fatos históricos para compreender a relevância do sepulto na Idade Clássica.
Diante de todo o enredo da peça Antígona de Sófocles, fica clara o embate entre Direito Natural e Direito Positivo. O Direito Natural é representado e defendido por um dos protagonistas da peça, no caso Antígona, já o Direito Positivo ou normativo é defendido e representado por Creonte rei de Tebas.
A importância de se cumprir o Direito Natural defendido por Antígona é entendido ao analisar dados históricos, culturais e tradicionais daquela sociedade. A tão forte necessidade de sepultar Polínice por Antígona deve-se ao fato de que na Idade Clássica acreditava-se em uma vida pós morte e ainda na possibilidade dos mortos tornarem-se deuses e para que esse fato se concretizasse fazia-se necessário o enterro do morto e ainda que os ritos fúnebres fossem cumpridos. Vejamos o trecho do livro A cidade Antiga
Ate onde nos é dado remontar a historia da raça indo européia, de onde se originaram as populações gregas e italianas, observamos que essa raça jamais acreditou que, depois desta curta existência, tudo terminasse com a morte do homem. As gerações mais antigas, bem antes q existissem os filósofos, já acreditavam existência para alem da nossa vida terrena. “Encarava a morte não como uma aniquilação do ser, mas como simples mudança de vida. (COULANGES, 2003, p.13).
Acreditou-se, durante muito tempo ainda, que nessa segunda existência a alma continuaria associada ao corpo. Nascida com o corpo não seria dele separada pela morte, alma e corpo seriam encerrados juntos no mesmo túmulo. (COULANGES, 2003, p.14).
Com essas informações percebe-se ou entende-se Antígona em sua necessidade de enterrar seu irmão Polínice. Essa vida pós morte era tão importante que eram oferecidas oferendas com percebe-se.
Antigamente, porem tão firme era essa crença em que ali vivesse um homem, que nunca se deixava de enterrar, juntamente com o defunto, os objetos que se julgava viessem a ser-lhe necessários: vestes, vasos, armas. Derramava-lhe vinho sobre o seu túmulo para lhe mitigar a sede, deixavam-se alimentos para saciar-lhe a fome. Degolavam-se cavalos e escravos, pensando que estes seres, sepultado com o morto, o serviriam no tumulo como o haviam feito em vida. (COULANGES, 2003, p.15).
Com essa crença na visa pós-morte, veio necessário na civilização clássica o principal ponto de discussão da peça Antígona, ou seja, a necessidade do sepultamento do morto.
para que a alma se fixasse a morada subterrânea destinada a essa segunda vida, fazia-se necessário que o corpo, ao qual a alma estava ligada, fosse coberto de terra. A alma que não tivesse sua sepultura, não teria morada. Seria errante. Em vão aspiraria ao almejado repouso depois das agitações e dos trabalhos desta vida, seria condenado a errar sempre, sob a forma de larva ou fantasma, sem jamais parar, sem nunca receber as oferendas e os alimentos de que necessitava. Desgraçada, logo essa alma se tornaria perversa. Atormentaria então os vivos, provocando-lhe doenças, devastando-lhe os campos, atormentando-os com aparições lúgubres, para aterrá-los de que tanto o seu corpo como ela própria queriam sepultura. E disso se originou a crença nas almas do outro mundo. Toda a antiguidade estava convencida de que sem sepultura a alma viveria miseravelmente e que só pelo seu sepultamento desfrutaria da felicidade eterna. Não era, pois para a ostentação da dor que se realizava a cerimônia fúnebre, mas para o repouso e felicidade do morto. (COULANGES, 2003, p.16).
Antígona para fazer cumprir o que era de costume desafia Creonte, ou seja, desafia o Direito Positivo, pois para ela a vida antes morte era apenas uma passagem para uma vida eterna, daí o fato de não ligar para a sua própria morte, a fim de seu irmão tivesse garantido o direito de vida pós morte.
Alem disso Antígona representou a ideologia presente naquela sociedade de que se temia menos a morte do que a privação da sepultura, pois com a sepultura viria a vida eterna.
Creonte no seu decreto que proibiu que seu sobrinho Polínice fosse sepultado, o fez racionalmente. Creonte visou punir Polínice com o maior castigo possível, ou seja, o da privação de sua sepultura. Assim, ele punia a própria alma de seu sobrinho, condenado a vagar quase eternamente.
Depois de todos esses dados históricos analisaremos no que se embasa Antígona e Creonte na fundamentação de suas idéias.
Antígona representante do Direito Natural o qual trás a idéia de justiça diverge de Creonte representante do Direito Positivo o qual trás o ideal de lei. Dai surge o embate sobre qual deva prevalecer.
Vale ressaltar que a discussão proposta por Sófocles há milênios ainda é motivo de muita discussão na atualidade.
Fundamentações do Direito Natural
Antígona idearia do Direito Natural o qual defende que este existia antes mesmo do homem e também sendo de origem divina, costumeiro e consuetudinário e por isso seria mais importante que qualquer lei criada por homens.
Quando Antígona é interrogada por Creonte pelo fato de ela ter quebrado uma lei positivada, ela diz:
sentença divina. Sei que vou morrer. Como poderei ignorá-lo? E não foi por advertência tua. Se antes da hora moremos, considero-o ganho. (SÓFOCLES, 1999, p. 35-36).
No discurso acima a ideologia e as fundamentações do Direito Natural, o qual acredita que tal Direito já existia antes mesmo da existência do próprio homem, e por isso ser mais importante que qualquer lei ou Direito Positivo criado pelo homem.
Fundamentações de Direito Positivo
Creonte é defensor do Antígona o qual defende a aplicação da lei pela lei, onde os conceitos lei e Direito são equivalentes, e que o Direito Positivo normativo legislado e executado pelos homens tinha como objetivo o controle social. Como exemplos têm o trecho do livro Antígona: Mesmo assim ousaste transgredir minhas leis? 445
Creonte em determinado momento da peça se mostra perdido em meio ao poder, e passa a governar pó tirania, como se percebe no seguinte trecho: A cidade não pertence a quem governa. Linha 738
A obra ultrapassa a discussão entre Direito Natural e Direito Positivo e propõem a discussão as Democracias
Hêmon filho de Creonte e noivo de Antígona durante discussão com seu pai mostram-se defensor da Democracia, e relata a seu pai o que as pessoas da cidade estão pensando e comentando sobre a atitude do rei. Depreende-se daí que não só o Direito Positivo e o Direito Natural e colocado em discussão, mas ainda a Democracia, Onde Hêmon defende que uma cidade governada por um só homem não é uma cidade.
Da ideologia e defesa da Democracia feita por Hêmon perceberam em Sófocles a evidencia que ele da à Democracia na Grécia Antiga, com a obra ele consegue tirar a democracia da só, então Atenas, e a partir de Antígona propor a outras cidades e ao mundo. E ainda em um de bate mais profundo podemos perceber o debate entre Democracia e Tirania.
As tragédias de Sófocles alem de poder ser vista da ótica da perspectiva de debate entre Direito Natural, Direito Positivo, Democracia e Tirania ainda nos revela uma a questão interpretação importante a qual é o papel da mulher em uma sociedade extremamente machista.
Por essa ótica de Gênero sobre a obra percebemos Antígona com certo feminismo histórico e pela atualidade da obra é possível aproximar a protagonista Antígona Das mulheres do século XXI.
Antígona teve a coragem de questionar um decreto imposto por um governante e daí percebe-se a coragem e luta da figura feminina. Antígona mostra claramente que a injustiça não deve ser calada, assim representa a ousadia e transgressão. Esse comportamento ousado de Antígona representa o rompimento à submissão feminina e a quebra do silenciamento político e social condicionado as mulheres durante anos.
Em resumo a perspectiva de gênero da peça de Sófocles, a protagonista Antígona pode ser interpretada como a primeira reivindicação dos Direitos da mulher.
Conclusão
Com todos esses dados é perceptível que a obra Antígona de Sófocles é um manancial imensurável delegado cultural. A obra ultrapassa o discurso de um único tema e com sua leitura nos abre uma possibilidade imensa de perspectivas.
O que de inicio parecia se limitar entre o debate entre Direito Natural e Direito Positivo, depois se acaba encontrando na obra temas importantes e passiveis de discussão como o modelo político da Democracia, e ainda propõe a importância desse modelo político, em contradição é mostrado o lado tirano do governante e as conseqüências dessa atitude.
Sem duvida vale destacar a ótica do gênero da obra que mostra de forma revolucionária o papel da mulher na sociedade e ainda a quebra ou ruptura a um sistema político machista. Ainda depois de milênios a obra de Sófocles se mostra atual e