• Nenhum resultado encontrado

Revisitando o método fenomenológico: o intervalo entre as reduções

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Revisitando o método fenomenológico: o intervalo entre as reduções"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

R EV ISITA N D O

o

M ÉTO D O FEN O M EN O LÓ G IC O :

O intervalo entre as reduções

L e o n i F . d e M e I o '

RESUMO

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s t e a r t i g o p r e t e n d e r e v i s i t a r a a p l i c a b i l i d a d e d o m é t o d o f e n o m e n o l ó g i c o , m a i s e s p e c i f i c a m e n t e a o f a z e r t e r a p ê u t i c o e s u a s i m p l i c a ç õ e s , c o n s i d e r a n d o a s r e d u ç õ e s c o m o a l g o c o m p l e t a m e n t e i n d i s p e n s á v e l a t o d a a h o r a t e r a p ê u t i c a .

P a l a v r a s c h a v e : F e n o m e n o l o g i a , G e s t e l t - I e r s p i e . E p o c b é , R e l a ç ã o T e r a p ê u t i c a .

V 1SIT IN GT U E PH E N O M E N O L O G lC A LM E T U O D A G A IN :the interval betw een the reductions

ABSTRACT

T h i s e r t i c l e i n t e n d s t o v i s i t a g a i n t h e f e n o m e n o l o g i c a l m e t h o d 's a p l i c a b i l i t y , m o r e s p e c i f i c a l / y e t t h e t h e r a p e u t i c d o i n g a n d i t s i m p l i c a t i o n s , c o n s i d e r i n g t h e r e d u c t i o n s l i k e s o m e t h i n g r e a l / y i n d i s p e n s a b l e i n e v e r y t h e r a p e u t i c m o m e n t o

K e y w o r d s : P h e n o m e n o l o g y , G e s t e l t - T h e r a p y , e p o c h é , t h e r a p e u t i c r e l a t i o n s h i p .

*

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Psicóloga. Atualmente coordena a Secretaria do CEGEST (Centro de Estudos de GestaitTerapia) - Brasflia.

Revisla de Psicologia, Icrlelezc. V.15(lf2) V.l6(]!2) p.117 - p.123 jan/dez 1997/98 Ana de Publicação 2000

(2)

o

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

q u e e s p e r a m o s q u a n d o e s t a m o s d e s e s p e r e -d o s e , m e s m o s s s i m , p r o c u r a m o s u m o u t r o b o -m e -m ? C e r t a m e n t e u m a p r e s e n ç a , p o r m e i o d a q u a l s o m o s i n f o r m a d o s d e q u e , a p e s a r d e t u d o , h á s i g n i f i c a d o . Martin Buber

NMLKJIHGFEDCBA

I n t r o d u ç ã o

Desde Platão e Aristóteles. a palavra fenômeno

já era usada na linguagem filosófica. Mas

fenornenolo-gia é um termo que parece ter sido empregado pela

primeira vez em 1764 pelo filósofo, físico e

maternáti-co Johann Heinrich Lambert (1 728~ 1777). que tratou

da fenomenologia ou doutrina da aparência para

de-signar o estudo puramente descritivo do fenômeno, tal

qual este se apresenta à experiência humana.

Conhecer a si mesmo e ao mundo, dar

significa-do à vida, enfim, conhecer a realidade são questões

muito complexas que ocupam as intenções e os

dese-jo s humanos. O dualismo cartesiano e o positivismo se

mostraram insuficientes, principalmente no campo da

Psicologia, para atender a essas questões.

Edmund Husserl. filósofo alemão que inaugurou

a Fenomenologia, inovou na teoria do conhecimento

ao superar a dicotomia entre sujeito que conhece v e r s u s

objeto que é conhecido, entre observador e o fato

ob-servado. Para Husserl. a fenomenologia é também, e

principalmente, uma atitude e um método filosóficos.

A fenomenologia husserliana pretende pôr o agente em

contato com o fenômeno enquanto imediatamente

consciente elevá-lo à evidência primordial. como

con-dição essencial na ciência.

Compreender o que somos é tarefa que

aproxi-ma Fenomenologia e Existencialismo. Estas correntes

de pensamento, mesmo quando vistas

separadamen-te, têm uma igual exigência: a fidelidade ao real. A

quem diz respeito o real? Ao homem, ao ser-af (o

d a s e i n ) . de Heidegger que, no seu propósito de

dis-cutir o Ser, traz a fenomenologia para a ontologia, de

onde influenciou a psicologia.

Na atuação clínica da Gestalt-Terapia,

fenome-nologia e existencialismo coexistem. Segundo Merleau~

Ponty, ...q u e r f à . ç a m o s f e n o m e n o l o g i a , q u e r f à . ç a m o s p s i c o l o g i a . . . t r a t e - s e s e m p r e d o m e s m o s u j e i t o , t r e t e - s e s e m p r e d o m e s m o h o m e m . . . o p o r t a d o r d a r e f l e x ã o

(1973:50).

O respeito à liberdade do outro e o

reconheci-mento de que o homem possui a capacidade de

autopreservar-se, desenvolver-se. desvelar-se (na

liber-dade) e ser radicalmente individual e relacional estão

inspirados no Existencialismo. A Fenomenologia

parti-cipa como método a orientar o terapeuta para a

neces-sidade do e p o c h é e de trabalhar na primeira e segunda

reduções fenomenológicas (quando tratarmos

especi-ficamente do método, abordaremos com detalhe estes

conceitos). Atualmente, se fala muito de uma

fenorne-nologia existencial ou existencialismo fenomenológico,

também como a indicar que consciência e fenômeno

não se separam dentro desse enfoque.

Este artigo pretende revisitar a aplicabilidade do

método fenomenológico, inaugurado por Husserl, mais

especificamente ao fazer terapêutico e suas

implica-ções, considerando as reduções como algo completa~.

mente indispensável a toda a hora terapêutica, na

ten-tativa de conhecer o significado da realidade expresso

pelo cliente.

o

M é t o d o

O método fenomenológico é um instrumento pelo

qual se pretende conhecer e construir a realidade, a

essência das coisas. Onde está a essência das coisas?

Nas próprias coisas, no seu aparecimento e no seu

re-velar-se à consciência. Em que consiste o método?

Como urilizá-lo para conhecer a realidade? Antes de

descrevê-lo. é necessário mencionar um conceito

cen-tral da Fenomenologia: a intencional idade.

Segundo a Fenomenologia, a consciência

inten-cional é a consciência enquanto voltada para o objeto,

e o objeto intencional é o objeto enquanto visado pela'

consciência.

Intencionalidade é a característica definidora da

consciência, pois é através dela que aquilo que um

objeto é se constitui espontaneamente na consciência.

Isto significa reconhecer que a consciência não é

pas-siva, mas ativa, podendo, por isso mesmo, dar sentido

às coisas. Se toda consciência é consciência de alguma

coisa (Husserl). ela se encontra voltada para os

obje-tos, visando-os: isto é intencionalidade. Ela não é uma

espécie de depósito onde são guardados todos os

ob-jetos que afetam os sentidos, pois que a cada ato da

consciência corresponde um conteúdo da

consciên-cia. A partir daí. nova relação se estabelece entre

sujei-to e objesujei-to, entre observador e o objeto observado,

entre pensamento e ser (Penha, 1982).

E p o c h é é uma palavra de origem grega que quer.

dizer suspensão do juizo. Ela aparecerá mais adiante,

no detalhamento do método. Por agora, ela nos é

inte-ressante para clarear mais o conceito de

intencionalida-de na Fenomenologia. Intencionalidade é aquilo que

torna possível a e p o c h é , pois perceber o livro na mesa,

(3)

por exemplo, não significa ter uma miniatura desse livro

no espírito e, sim, visar ao próprio objeto (Giles, 1989).

Mais um conceito necessário para posterior

apre-sentação do método fenomenológico é o termo

fenô-meno. Esta palavra, em sentido geral. significa tudo o

que é percebido, tudo o que aparece aos sentidos e à

consciência, de qualquer modo que seja. Portanto, para

Husserl. fenômeno não são só os objetos da

consciên-cia mas também os próprios atos enquanto

conscien-tes, sejam eles intelectivos. volitivos ou afetivos.

Redução, "em sentido genérico, é uma tentativa

de explicar uma realidade mais complexa em termos

de uma mais simples, que lhe serve de modelo". " ... Na

Fenomenologia de Husserl, significa que se deve

con-centrar a atenção nas coisas mesmas e não nas

teorias"(Jupiassu

&-

Marcondes, 1990).

Husserl apresenta o método fenomenológico em

três reduções sucessivas e sugere que elas sejam

prati-cadas consecutivamente até que apareça o que"

pare-ce", até que a realidade possa ser descrita tal como se

apresenta à observação pura.

De algum modo e em alguma medida, o ser

hu-mano está consciente da existência deste mundo que

se estende no espaço e no tempo e que lhe é acessível

pela experiência e pela intuição. As coisas materiais

estão aí. quer o homem se ocupe delas, quer não

(Popper, 1994). O mundo natural é um mundo

exis-tente, uma realidade: eis a tese da atitude natural. diz

Husserl. Mas isto não esgota o mundo para o agente

que está lá, de modo consciente, a cada instante em

que ele, o agente, está vigilante. Por isso, o primeiro

momento do método fenomenológico sugere que seja

colocado em suspenso, entre parênteses da

experiên-cia fenomenológica. todo o juízo existente a respeito

deste mundo. sem nada pressupor. A este procedimento

denomina-se

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e p o c b é , palavra grega que quer dizer

suspensão, cessação. Qualquer juízo sobre o mundo

natural é suspenso, rejeita-se recorrer a pressupostos

ou preconceitos. O termo e p o c h é , na filosofia

rnedie-val, designa o estado de repouso mental através do qual

nada se afirma nem se nega. Não se nega os

condicio-namentos nem as certezas, mas se os ignora no

mo-mento da redução. A famosa exortação de Husserl para

que voltemos às coisas mesmas tem por objetivo

ultra-passar a oposição entre essência e aparência (Penha,

op. cit.). A e p o c h é t e m por função preparar o campo

da experiência na busca da realidade, retirando ou

ten-tando retirar desse campo todos os obstrutores ao

apa-recimento do fenômeno, daquilo que é.

Feita a e p o c h é , ensina Husserl. passa-se para a

segunda redução, denominada de redução eidética, e

toma-se em consideração, reflexivamente, tudo aquilo

que foi retido dentro do parênteses, isto é, as vivências

do mundo, as quais portam consigo as essências que

lhe são inerentes. Porém, não são vistas de uma

pers-pectiva objetiva, mas sim através de uma ótica

subjeti-va. "Tal redução nos leva do indivíduo (por exemplo,

este livro) para a essência ainda empírica (livro

verme-lho) e daí até a essência pura, que é essência em seu

caráter absolutamente necessário (o livro como tal) ...

Surge, portanto, um fenômeno novo que prescinde do

fato ou singularidade, podemos dizer do caráter puro

ou metaernpírico" (Giles, 1989: 74). A consciência

eidética se ocupa da contemplação da essência. do

universalmente válido.

Na redução transcendental ou terceira redução.

o sujeito está envolvido no processo de e p o c h é .

lntui-se nesta redução que todas as essências captadas

fa-zem referência a uma consciência, a um "eu" como

sujeito da e p o c h é . O objeto passa a servir de

referên-cia para a existênreferên-cia da consciência. Neste momento,

o sujeito atinge o conhecimento apodítico,

entenden-do-se por apodítico o juízo que apresenta caracteres

de universalidade e de necessidade. Mas, para tanto, a

prática desta redução deve ser executada num grau'

que iniba todo interesse existencial. toda a

rnundanei-dade, transformando assim a subjetividade psicológica

em subjetividade transcendental. Neste estágio, diz

Giles, é preciso pôr entre parênteses até a própria

exis-tência do eu psicofísico, do eu que reflete, depurando

esse "eu" para que se torne concebível apenas em sua

relação com o objeto, objeto esse que já não se

encon-tra no mundo, sendo objeto apenas como idealidade

pura, desprovido de qualquer caráter psicológico. De

acordo com Giles,

a e x p e r i ê n c i a t r a n s c e n d e n t a l é d i R c i l d e r e a l i z a r p o r q u e é s u p r e m a e i n t e i r a m e n t e a m u n d a n a . M a s é s ó p o r e s s e c a m i n h o q u e p a r e c i a p o s s í v e l a H u s s e r / c o m e ç a r a d a r u m f u n d a m e n t o i n t e i -r a m e n t e -r e d i c e l . e m o -r d e m àc o n s t r u ç ã o d e u m a F I l o s o f i a d e a b s o l u t o r i g o r c i e n t í f i c o " ( e d e s ,

1989:80).

NMLKJIHGFEDCBA

A s R e d u ç õ e s c o m o I n s t r u m e n t o

Descrito o método concebido por Husserl, há que

torná-lo. agora, como instrumento de trabalho da

Gesralt-Terapia (GT). O interesse mais imediato da GT pelo

método fenomenológico está atrelado às duas primeiras

reduções. A aplicabilidade destas duas reduções na

prá-tica terapêuprá-tica será o nosso alvo, deste ponto em diante.

119

(4)

A Gestalt-Terapia é fenomenologia aplicada

(Fromm e Miller, apud Perls, 1997). Utilizando-se das

reduções, ela caminha em direção ao conhecimento

revelado. Sobre qual conhecimento recai seu

interes-se? No ambiente de psicoterapia interessa ao

psicoterapeuta buscar conhecer o significado da

vivência de situações experimentadas pelo cliente. A

essência do percebido, do experenciado pelo cliente,

o significado que ele empresta a um dado fenômeno,

isto é o seu objeto de trabalho. Então, de acordo com

o método, transpondo-o agora para o "locus" da

psicoterapia, o terapeuta, no primeiro momento da

re-dução, tenta colocar entre parênteses a sua própria

experiência, as suas vivências, os seus preconceitos e

conceitos acerca do tema que está sendo abordado pelo

cliente. Trata-se de uma atitude do terapeuta de voltar

às coisas mesmas, visando abrir-se ao contato com o

outro, de modo a poder se impactar com o que está

sendo relatado e vivido pelo cliente, com o que

apare-ce do que é mostrado.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E m o u t r a s p a l avras, o p e s q u i s a d o r p r e c i s a i n i c i -a r s e u t r -a b -a l h o p r o c u r -a n d o s a i r d e u m a a t i t u d e i n t e l e c t u a l i z a d a p a r a s e s o l t a r a o f l u i r d e s u a p r ó -p r i a v i v ê n c i a . . -p a r a d e i x a r s u r g i r a i n t u i ç ã o , p e r -c e p ç ã o , s e n t i m e n t o s e s e n s a ç õ e s q u e b r o t a m d e u m a t o t e l i d e d e , p r o p o r c i o n a n d o - l h e u m a c o m -p r e e n s ã o g l o b a l , i n t u i t i v a e p r e - r e t l e x i v e d e s s a

v i v ê n c i a (Forghieri, 1993:60).

Após esse momento, o terapeuta toma um certo

recuo dessa vivência. volta às suas referências

científi-cas, na tentativa de refletir sobre o significado dessa

vivência para o cliente (Forghieri. op. cit.). buscando

conhecer a realidade. E assim se sucedem as reduções

como p o s s i b i l i d a d e d e o p e n s a m e n t o , q u e p e r i o d i c a -m e n t e s e t r a n s f o r m a e s o m e n t e a s s i m p e r m a n e c e , c o r r e s p o n d e r a o a p e l o d o q u e d e v e s e r p e n s a d o

(Heidegger, apud Giles, op. cit.).

O maior ensinamento da redução é a

impossibili-dade de uma redução completa (Merleau-Ponty, apud

Forghieri. op. cit.). Esta lição é interessante e mesmo

fundamental para a prática terapêutica de base

fenomenológica, tendo em vista que ela informa o

terapeuta também acerca do limite existente à

conse-cução do pleno conhecimento como algo de que

po-deria se apropriar. Isto o isenta do poder de tudo

co-nhecer, sem, todavia, ficar dispensado da imperiosa

necessidade de tentar conhecer o que lhe é mostrado .:

Na prática psicoterápica, o emprego do método

fenomenológico se dá num processo, que dizer, num

fluxo contínuo e sucessivo entre a primeira e a

segun-da reduções.

É

mesmo esse movimento alternado que

possibilita a revelação do fenômeno, sem os

interva-los que, às vezes, o modo didático de abordá-tos

dei-xa transparecer.

É

interessante sublinhar que entre a

primeira e a segunda reduções fenomenológicas,

quando o terapeuta retorna às suas referências mais

íntimas, num trabalho de reflexão e de busca de

sig-nificado acerca do que acabara de vivenciar com o

cliente, poderá ocorrer um certo abandono do

clien-te pelo clien-terapeuta.

Dentre os muitos aspectos que apontam para a

incompletude das reduções de que fala

Merleau-Ponry, o hiato entre a primeira e a segunda redução.

pode ser um deles. Dependendo da intensidade da

dor ou da alegria que o cliente esteja experimentando

diante de uma dada situação, ao praticar a segunda

redução o terapeuta pode estar abandonando o

cli-ente de forma muito definitiva naquele momento. As

conseqüências desse provável abandono poderão

sig-nificar muito dano não apenas ao cliente, na sua

alteridade. como também à relação cliente/terapeuta.

Por exemplo, experiências emocionais vividas pelo

cliente, sejam de dor, sejam de alegria, "convidam" o

terapeuta a partilhar com sua presença, com o outro,

nessa relação tão delicada que é a terapêutica.

Nes-ses momentos, então, qualquer elaboração teórica fica

afastada. A escolha terapêutica será sempre a de ficar

com o cliente, abandonando a segunda redução ou a

tentativa de fazê-Ia'. Isto é preferível a deixar o

clien-te, mesmo que seja por um instante, só com a sua dor

ou com o seu desespero.

É

oportuno destacar uma sutileza: o terapeuta,

imbuído da intenção mesma de não abandonar o

clien-te, está sempre tentando compreender-lhe os

significa-dos, e isto o leva irremediavelmente à segunda

redu-ção. Estas questões são factuais e ocorrem efetivamente

no processo terapêutico. Se o terapeuta está atento a

isto, ser-lhe-à possível abandonar menos o cliente e

di-rigir mais sua presença à relação terapêutica.

Parafraseando Buber, h á m u i t o o q u e a p r e n d e r c o m e l e (o método), m a s n ã o a ú l t i m a l i ç ã o

(Buber, 1982:97).

I Esta idéia não é minha, é de Walter Ferreira da Rosa Ribeiro, Gestalt-Terapeuta, que a expressou a um grupo de estudos de Gestalt-Terapia (CEGEST - Brasília). Por estar inteiramente de acordo com tal postura terapêutica, animei-me a organizá-Ia mais sisternaticarnen- . te.

(5)

A R e la ç ã o T e r a p ê u t ic a

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A base filosófica da Gestalt-Terapia possibilita ao terapeuta, numa dinâmica consciente, levantar ques-tões sobre ser, conhecer, estar e agir junto ao cliente.

O homem é um ser-com, é o Ser-aí (Heidegger, apud Giles, op. cit.) no mundo das coisas e dos outros homens, dos entes e dos seres. Neste sentido, até tal-vez para corroborar com a pertinência da atitude tera-pêutica que valida a relação como variável de cura, enfatiza-se a importância do uso do método também para oficializar o "fazer" psicoterápico, o qual se con-trapõe a uma prática diletante.

Nessa medida, o cliente não deve ser visto como um meio para a aplicabilidade da ciência - a ciência até utiliza a experiência, a prática, para desenvolver e aplicar suas teorias -, mas considerado como um fim em si, segundo o princípio ético kantiano. No campo da psicoterapia, o profissional com atribuição para

atender o cliente é outro ser humano. Por isso mes-mo, o diálogo na relação terapêutica e a presença qualificada do terapeuta junto ao cliente são variáveis também indispensáveis ao processo psicoterápico, que só apresentará algum resultado favorável se puder preencher-se da intersubjetividade. Vale dizer, se o sentido da experiência do cliente for compartilhado pelo terapeuta

C o n s id e r a ç õ e s F in a is

É

imprescindível considerar todo o "edifício" da. Gestalt-Terapia como indispensável ao "fazer" terapêutico. O edifício da Gestalt-Terapia é uma cons-trução feita por Walter Ribeiro (1988), que pretende demonstrar didaticamente as partes interdependentes (princípios, conceitos e procedimentos) que compõem o todo que é a Gestalt. Este edifício também pode ser assim representado:

F O diálogo e outros procedimentos que Técnicas facilitem o processo do outro.

Método fenomenológico aplicado à

E psicoterapia, objetivando facilitar a Metodologia

"e w e r e n e s s '

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e o contato.

Teoria fundamentada no

D

restabelecimento do contato Teoria Terapêutica e do fluxo de "e w e r e n e s s '

C Teoria de Base relaciona!. Formação do Teoria da Personalidade Self (verdadeiro e falso) e/ou do desenvolvimento

B

Psicologia da Gestalt

Teoria de Campo Fundamentação Teórica Teoria Organísmica

A

Teoria do Conhecimento:

Fenomenologia Fundamentação Filosófica Ontologia: Existencialismo

121

(6)

Na base do "edifício" estão a Teoria do

conheci-mento, representada pela Fenomenologia husserliana,

e a Ontolcgia/ Existencialismo. O mundo vivido não é

um mundo em si mesmo, mas um mundo para a

cons-ciência e esta é sempre intencional, sempre

"consciên-cia de", voltada para o objeto. Dessa maneira, sujeito e

mundo são coexistentes.

Imediatamente acima, a base científica, formada

pela Psicologia da Gestalt. a Teoria de Campo e a

Te-oria Organísmica. Tal base informa também acerca da

auro-regulação organísmica à luz de conceitos da

Psi-cologia da Gestalt e da Gestalt-Ierapia. como figura e

fundo, aqui-e-agora, experiências individuais

estruturadas em totalidades que se desdobram num

campo. Segundo Isadore Fromm e Michael Vincent

Miller (1997), o local primordial da experiência

psico-lógica, para onde a teoria e a prática psicoterapêuticas

têm de dirigir sua atenção, é o próprio contato, o lugar

onde self e ambiente organizam seu encontro e se

en-volvem mutuamente. Organismo e ambiente são as

peças do contato. Tanto fatores internos (organísrnicos).

quanto estímulos externos organizam/desorganizam

uma situação dada.

Depois, a Teoria da Personalidade e/ou do

De-senvolvimento, com enfoque para o desenvolvimento

da personalidade a partir dos primeiros contatos da

criança com o seu mundo, desde a concepção. São

importantes, portanto, o aspecto relacional na

forma-ção do

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s e l f e as condições de prevalência na expressão

do falso e do verdadeiro s e l f

A Teoria Terapêutica está fundamentada no

es-tabelecimento do contato e do fluxo de " e w e r e n e s s ',

Nela é indispensável a crença de que o homem, se

puder tornar-se "aware" de sua condição e contar com

alguma parcela de ambiente (mundo) favorável, irá

restabelecer o contato consigo mesmo, reconhecer e

aceitar seu verdadeiro s e l f A relação terapêutica

po-derá ajudar neste sentido, munindo-se da aceitação e

do diálogo terapêuticos.

Aparece, então, a metodologia que, utilizando o

método fenomenológico, orienta como trabalhar junto

ao cliente, na busca de ampliar seu contato e atualizar

seu processo de e w e r e n e s s , observando sua

singulari-dade e o significado que empresta às suas experiências.

E, no último patamar do "edifício" estão as

téc-nicas, termo que abriga o diálogo e outros

procedi-mentos que visem "advogar a causa" do cliente,

dar-lhe suporte, aceitar sua condição de pessoa e propiciem

um ambiente terapêutico facilitador da

auto-expres-são do indivíduo a partir do contato possível consigo e

com o mundo.

Nenhuma peça desse edifício pode ser

dispensa-da, bem como nenhum aspecto do conjunto da GT.

seja filosófico, metodológico, técnico ou científico pode

ser privilegiado em detrimento de outro. A prática da

Gestalt-Terapia reúne, num ritmo dinâmico, todos

es-ses aspectos acima mencionados. O método

fenomenológico como instrumento do trabalho

terapêutico tem sua aplicabilidade e importância na

medida em que "baliza" a consciência do terapeuta a

privilegiar a busca da realidade, conforme é vivida pelo

cliente. Este é um aspecto. Isto deve ser observado com

rigor metodológico.

O outro aspecto é a relação terapêutica, que é

essencial para a Gestalt-Terapia, e é composta do Eu e

do Tu, na linguagem buberiana. Nessa relação, o que

é fenômeno são o objeto e a consciência, que o visam

- consciência do cliente e do terapeuta a visar um

obje-to, seja a dor, a alegria, enfim, as vicissitudes da vida. A

intencionalidade, do ponto de vista da consciência do

terapeuta, nunca deve visar por objeto o cliente.

Obje-to visado pela consciência pode ser até a energia que o

cliente empresta a uma dada realidade, mas não a

pes-soa dele. Nas palavras de Buber: ... o c l i e n t e n ã o é u m ' f e n ô m e n o d o m e u E u , m a s é o m e u T u . . .

(Buber, 1982:92).

Referências Bibliográficas

BUBER, Martin. D o D i á l o g o e d o D i a J ó g i c o .São

Pau-10: Perspectiva, 1982.

FORGHIERL Yolanda. P s i c o l o g i a F e n o m e n o l ó g i c a : f u n d a m e n t o s , m é t o d o e p e s q u i s a s . São Paulo:

Pioneira, 1993.

GILES, T H i s t ó r i a d o E x i s t e n c i a l i s m o e d a F e n o m e -n o l o g i a . São Paulo: EPU, 1989.

HUSSERL Edrnund. I n v e s t i g a ç õ e s l ó g i c a s : e l e m e n -t o s d e u m a e l u c i d a ç ã o F e n o m e n ó l o g i c a d o c o -n h e c i m e -n t o . São Paulo: Nova Cultural, 1988.

JUPIASSU, Hilton &- MARCONDES, Danilo. D i c i o

-n á r i o B á s i c o d e F i l o s o f i a . Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 1990.

MERLEAU-PONTY, Maurice. C i ê n c i a s d o H o m e m

e F e n o m e n o l o g i a . São Paulo: Saraiva, 1973.

MILLER, M. V. &- FROMM, I. "Introdução à edição

do T h e G e s t e l t J o u r n a J ' in PERLS, Frederick,

(7)

HEFFERLlNE, Ralph e GOODMAN, Paul

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

G e s t e l t - T e r e p i e . São Paulo: Sumrnus. 1997. PENHA João. O q u e é E x i s t e n c i a l i s m o . São Paulo:

Brasiliense, 1982.

PERLS, F. HEFFERLlNE, R

i-

GOODMAN, P.

G e s t e l e - T e r e p i e . São Paulo: Summus, 1997.

POPPER, Karl. C o n j e c t u r e s e R e t u t s ç ô e s . Brasília.: EdUnB, 1994.3" edição.

RIBEIRO, Walter Ferreira da Rosa. '''Edifício' da

Gestalt". Resumo da aula "Edifício da Gesralt" de Walter Ribeiro e comentários do Grupo de

Sobradinho. 1988. Mimeo.

Referências

Documentos relacionados

que utilizaram, ou não, irrigação de pastagens (P>0,05), no entanto, observou-se maior valor para as propriedades que não utilizam irrigação, pois naquelas que

e declaradas, como se de cada huma fizesse individual mençao e por verdade pedi a Francisco dos Santos Souza que este por mim fizesse, e como testemunha assignasse eu me assigno com

Foi apresentada, pelo Ademar, a documentação encaminhada pelo APL ao INMETRO, o qual argumentar sobre a PORTARIA Nº 398, DE 31 DE JULHO DE 2012 E SEU REGULAMENTO TÉCNICO

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

Dessa forma, os níveis de pressão sonora equivalente dos gabinetes dos professores, para o período diurno, para a condição de medição – portas e janelas abertas e equipamentos

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam