19º Curso NEDO Pós – Graduado de
Endocrinologia
As Disfunções Sexuais Femininas na prática clínica
francisco allen gomes
Lisboa, 16,17 e 18 de Fevereiro 2012
A Resposta Sexual Humana A Resposta Sexual Humana
As 4 f ases de Mast ers & Johnson correspondem, no f undo, a um padrão bifásico: excit ação e orgasmo.
Coment ário de Leonor Tief er: uma máquina sem mot or.
Helen Kaplan (1974) acrescent ou o mot or : Uma fase cerebral
prévia: o desejo. A Respost a Sexual Humana t ransf ormou-se
A Resposta Sexual Humana:
A Resposta Sexual Humana: Diferenças Diferenças Homem/ Mulher
Homem/ Mulher
Na mulher o desejo apresenta características mistas:
biológico/ espontâneo (menos consistente do que no homem) e receptivo.
Homem: a capacidade para obter e manter uma erecção é suficiente para se sentir um parceiro sexual eficiente.
Mulher: A excitação sexual resulta mais de processos cognitivos
sobre o significado dos estímulos que dum feed-back da vasocongestão periférica.
Na fase de orgasmo há diferenças aparatosas entre homem e
mulher, sobretudo durante o coito.
Perturbações do desejo
P. do desejo sexual hipoactivo P. da aversão sexual
Perturbação da excitação sexual
P. da excitação sexual feminina
Perturbação do
orgasmo P. do orgasmo feminino
Perturbações sexuais dolorosas
Dispareunia Vaginismo
Dor sexual não coital
Disfunções Sexuais Femininas:
Disfunções Sexuais Femininas: Classificação Classificação
Disfunções Sexuais Femininas (DSM
Disfunções Sexuais Femininas (DSM--IV IV--R R e
e Consensus Consensus 98): 98): Classificação Classificação
Primária ou Secundária Generalizada ou Situacional
Devida a factores Orgânicos, Psicológicos, Mistos ou Desconhecidos e que causem perturbação pessoal
Desejo Sexual Hipoactivo D. do Desejo Sexual
Aversão Sexual
D. da Excitação Sexual Disf da Excitação Sexual Feminina D. Do Orgasmo Disf do Orgasmo Feminino
Dispareunia D. Dolorosas Vaginismo
Dor Sexual Não Coital
A Resposta Sexual Humana A Resposta Sexual Humana
As várias f ases da Respost a Sexual Feminina, não são clarament e separadas. Pelo cont rário, sobrepõem-se.
Realment e é mais operacional concept ualizá-la como circular.
Gomes FA (2000). In Androl ogia Cl ínica.Edt Alexandre Moreira (pgs 717-732). Sociedade Port uguesa de Andrologia, Port o
Uma questão pertinente: e não será que no
homem haverá, igualmente, uma sobreposição
das fases de desejo e excitação?
Psicológico Biológico Excitação e
desejo sexual Satisfação física e
emocional
Excitação sexual
Impulso sexual
espontâneo Estímulo sexual Intimidade emocional
Modelo da resposta sexual feminina baseado na Modelo da resposta sexual feminina baseado na
intimidade
intimidade
Alterações propostas para a DSM
Alterações propostas para a DSM --V V
Para remoção
Aversão Sexual
Para subordinação a outros diagnósticos
• Desej o sexual hipoact ivo a Disf unção do interesse sexual/ excitação no homem e na mulher;
• Disf unção da excit ação sexual f eminina a Disfunção do interesse sexual/ excitação na mulher;
• Dispareunia (não orgânica) a Disfunção de dor genito- pélvica/penetração
• Vaginismo (não orgânico) a Disfunção de dor genito- pélvica/penetração
Categorias diagnósticas não contempladas na DSM-IV
• Disfunção do interesse sexual/ excitação no homem
• Disfunção do interesse sexual/ excitação na mulher
DS:
DS: Critérios Diagnósticos Critérios Diagnósticos
Critérios indispensáveis para que uma alteração da resposta sexual, seja considerada uma disfunção
Ser Persistente ou Recorrente
Causar Sofrimento Interpessoal
(DSM-I V)Causar Sofrimento Pessoal
(Consensus 98)DS:
DS: Critérios Diagnósticos Critérios Diagnósticos
Disf unção sexual é uma forma apropriada e, heuristicamente útil, de descrever um problema sexual que resulta, quer de um padrão mal adaptativo de resposta psicofisiológica, quer das consequências de um processo patológico, hormonal ou provocado por drogas que interferem com o sistema de
resposta sexual.
“ Alguns não acredit am que a DSF exist a como
diagnóst ico, mas como um espect ro de pert urbações que se sobrepõem...
... Também sent imos que o diagnóst ico de DSF deve ser f eit o de f orma cuidadosa devido à cont roversa sugest ão da indúst ria f armacêut ica t er criado uma nova “ doença” - DSF.
DSF:
DSF: Critérios Diagnósticos Critérios Diagnósticos
Balon R, Segraves RT & Clayton A (2007). Am J Psychiatry 164(2):198-200
DSF - Desejo Sexual Hipoactivo
Definição e formas de apresentação
Definição: Uma persist ent e ou recorrent e def iciência (ou ausência) de f ant asias sexuais e/ ou do desej o para a
act ividade sexual ou para a sua recept ividade.
Começo nos 30 anos, bom nível socio-económico e um problema ant igo de dif iculdade de excit ação sexual.
Significativos níveis de stress, problemas psicopatológicos (mas sem at ingir um diagnóst ico psiquiát rico) e insatisfação conjugal.
Sem desej o a excit ação subj ect iva é baixa e sem excit ação
subj ect iva, o desej o de sexo é minimizado. Temos, mais uma
vez, a circularidade entre desejo e excitação.
DSF – Disfunção da Excitação Sexual Feminina Definição e formas de apresentação
Definição : incapacidade persist ent e ou recorrent e para at ingir ou mant er uma excit ação sexual suf icient e. Pode ser expressa por uma ausência subjectiva de excitação ou por uma f alt a de lubrif icação genit al, ou out ras respost as somát icas.
É raro que a lubrif icação vaginal est ej a ausent e (except o em muheres pós-menopáusicas). É a nível subj ect ivo que
encont ramos as queixas: “não sinto nada”, “não me excito”,
“não sinto prazer nenhum quando me tocam”... Todas est as
queixas podem coexist ir com uma lubrif icação vaginal “ normal” .
DSF – Disfunção da Excitação Sexual Feminina Definição e formas de apresentação
É frequent e a mulher referir a sua falt a de concent ração:
“ Penso em t udo menos no que est ou a fazer” . Est a é a chave que permit e compreender uma grande part e dos problemas sexuais femininos.
A distracção cognitiva como defesa contra um prazer
considerado ilegítimo ou ameaçador.
DSF – Disfunção do Orgasmo Feminino Definição e formas de apresentação
Definição: At raso ou ausência de orgasmo persist ent e ou recorrent e, após uma est imulação e excit ação sexual
suf icient es.
A apresent ação clínica de uma mulher com DO, oferece alguma diversidade e reflect e,de cert a maneira, as polémicas cient íficas:
(i) mulheres sós ou com parceiro, absolut ament e anorgást icas; (ii) mulheres com parceiros e sem orgasmos no coit o (pseudo-
disfunções orgást icas); (iii) mulheres com pouca consist ência orgást ica).
Para a sua compreensão é preciso ter sempre presente, no nosso espírito, a falsa dicotomia clitóris vs vagina.
Também na DO a legitimidade do prazer poderá estar presente:
travar o orgasmo para aliviar a culpa...
DSF – Dispareunia
Definição e formas de apresentação
Obrigat ório avaliar a saúde genit al da mulher.
Averiguar o est ado peri e pós-menopáusico.
De f act o, a dispareunia pode ser secundária, quer a um
problema orgânico, quer a um normal est ado pós-menopáusico.
Também se pode sobrepor - a uma disf unção de excit ação com ausência de lubrif icação vaginal.
Definição: dor genital persistente ou recorrente associada à
actividade sexual.
DSF – Vaginismo
Definição e formas de apresentação
Definição: espasmo involunt ário persist ent e e recorrent e da musculat ura do t erço ext erno da vagina que int erf ere com a penet ração vaginal.
• Factor dor: t odas ref erem a dor e o medo da dor como o f act or impedit ivo da penet ração
• Factor muscular: algumas com espasmo nít ido; rarament e sem qualquer component e muscular impedit iva. A maioria apresent a aquilo a que chamo “ t ensão muscular basal” .
• Factor evitamento: t odas
• Factor prazer: uma clara maioria orgást ica e f acilment e
excit ável.
Disfunção Sexual Feminina: prevalência
Um qualquer dif iculdade sexual só é disf unção se f or
persist ent e ou recorrent e e
causar problemas pessoais ou
int erpessoais.
Disfunção Sexual Feminina: Prevalência
Laumann
Laumann EO; EO; PaikPaik A; A; RosenRosen RC (1999).RC (1999)..JAMAJAMA, 281(6):5, 281(6):53737--4444
Desej o sexual hipoact ivo: 33.3 %
D. da excit ação sexual: 18.8 %
D. do orgasmo f eminino: 24.1 %
Dispareunia e vaginismo: 14.4 %
Prevalência Global: 43.0 %
Disfunção Sexual Feminina: Prevalência
43%
22 – 43%
Goldst ein I (2000) Int J Impot Res, Suppl 4:S152-7.
Berman JR, Berman LA, Lin H, Flahert y E, Lahey N, Goldst ein I & Cant ey-Kiser J (2001) J Sex Marit al Ther, 27(5):411-20.
24% - ut ilizando o conceit o de pert urbação
Bancroft J, Loft us J &Long JS (2003) Arch Sex Behav, 32(3):193-208.
30 - 50%
22% - ut ilizando o conceit o de pert urbação
Laumann EO, Paik A & Rosen RC (1999) JAMA, 281(6):537-544
DS:
DS: Prevalência Prevalência
DS:
DS: Prevalência Prevalência
82%
88%
DS:
DS: Prevalência Prevalência
91% 87%
Prazer físico e estado de saúde
Prazer físico e estado de saúde
Satisfação emocional e estado de saúde
Satisfação emocional e estado de saúde
Disfunções Sexuais Femininas:
Disfunções Sexuais Femininas: Prevalência Prevalência
Um Estudo Português
1250 mulheres maiores entre os 18 e 75 anos (idade média de 44); 27.2 % solteiras; 33 % com filhos; 60 % < 1000 €
Dificuldades sexuais: ligeiras, moderadas e graves/completas.
(%) Problemas Disfunções
DSH 23.0 12.0
D Exitação 22.2 9.4
D Orgasmo 20.5 11.1
D Dolorosa 30.8 3.3
Prevalência global: 56 % das quais 19 % moderadas e
graves/completas. A insatisfação nunca ultrapassou os 8.5 %
Disfunção Sexual Feminina
Orgânicos
•• Neurol Neurológicos ógicos
•• Cardiovasculares Cardiovasculares
•• Cancro Cancro
•• Urogenitais Urogenitais
•• Medicaç Medicações ões
•• Fadiga Fadiga
•• Hormonais Hormonais
Psicológicos
•
•
Depress
Depressão/ Ansiedade ão/ Ansiedade
•
• Hist História de ória de abuso abuso sexual ou f
sexual ou físico ísico
•
• Stress Stress
•• Á Álcool/ Drogas lcool/ Drogas
Socioculturais
•
• Educaç Educação ão inadequada inadequada
•• Conflitos de valores Conflitos de valores ( religiosos, familiares ( religiosos, familiares e pessoais)
e pessoais)
•
• Tabus sociais Tabus sociais
Disfunç
Disfunções Sexuais Femininas: ões Sexuais Femininas: causalidade causalidade
Relacionais
•
• T Técnica e écnica e perfomance
perfomance do do parceiro
parceiro
•• Falta de parceiro Falta de parceiro
•• Problemas da relaç Problemas da relação ão
•• Falta de privacidade Falta de privacidade
Disfunç ã o Sex ua l Fe m inina
Orgâ nic os
•• N e urol N e urológic os ógic os
•• Ca rdiova sc ula re s Ca rdiova sc ula re s
•• Ca nc ro Ca nc ro
•• U roge nit a is U roge nit a is
•• M e dic a ç M e dic a ç õe s õe s
•• Fa diga Fa diga
•• H or m ona is H or m ona is
Psic ológic os
•
•
De pre ss
De pre ssã o/Ansie da ã o/Ansie da de
de
•
• H ist H ist ória de ória de a buso a buso sex ua l ou f
sex ua l ou físic o ísic o
•
• St re ss St re ss
•• Á Álc ool/Droga lc ool/Droga s s
Soc ioc ult ura is
•
• Educ a ç Educ a ç ã o ã o ina de qua da ina de qua da
•• Conflit os de va lore s Conflit os de va lore s (re ligiosos,
(re ligiosos, fa m ilia re s e fa m ilia re s e
Disfunç
Disfunções Sexuais Femininas: ões Sexuais Femininas: causalidade causalidade
Re la c iona is
•
• T T é c nic a e é c nic a e pe rfom a nc e
pe rfom a nc e do do pa rc e iro
pa rc e iro
•• Fa lt a de pa rc e iro Fa lt a de pa rc e iro
•• Proble m a s da Proble m a s da re la ç
re la ç ã o ã o
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Classificação Comparada Classificação Comparada
Disfunções do desejo ( desire disorders)
Desejo Sexual Hipoactivo
Aversão Sexual Desejo Sexual Hipoactivo Aversão Sexual
Homem Mulher
Disfunções da Excitação Sexual ( Arousal Disorders)
Disfunção Eréctil Disfunção da Excitação Sexual Feminina
Disfunções do Orgasmo ( Orgasmic Disorders)
Ejaculação Prematura Disf do Orgasmo Masculino
Disf do Orgasmo Feminino
Disfunções Sexuais Dolorosas ( Sexual Pain Disorders)
Dispareunia
Dispareunia
Vaginismo
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Prevalência Global Prevalência Global
Disfunção Sexual Masculina
EEUU: 31% 1
Portugal: 24% 2
Moderada e Grave: 6%
I nsatisfeitos: 8,5%
Disfunção Sexual Feminina
EEUU: 43% 1
Portugal: 56% 2
Moderada e Grave: 19%
I nsatisfeitas: 8,5%
1Laumann EO; Paik A; Rosen RC (1999). Sexual dysfunction in the United States: prevalence and predictors.JAMA, 281(6):537-44
2Pereira, NM, Vendeira P et alç. (2005). Episex
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Comparações Comparações
Disfunções do desejo ( desire disorders)
Desejo Sexual Hipoactivo
Aversão Sexual Desejo Sexual Hipoactivo Aversão Sexual
Homem Mulher
Definição: Diminuição ou ausência persistente e
recorrente de fantasias sexuais e desejo de
actividade sexual.
EEUU: 33,3%
Portugal: 35%
Definição: Uma persistente ou recorrente deficiência (ou
ausência) de fantasias sexuais e/ ou do desejo para a
actividade sexual ou para a sua receptividade.
EEUU: 15,8%
Portugal: 15,5%
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Comparações Comparações
Homem Mulher
Disfunções da Excitação Sexual ( Arousal Disorders)
Disfunção Eréctil Disfunção da Excitação Sexual Feminina
Definição: incapacidade persistente e recorrente em atingir ou manter uma
erecção adequada até completar a actividade sexual.
Definição: incapacidade
persistente ou recorrente para atingir ou manter uma excitação sexual suficiente. Pode ser
expressa por uma ausência
subjectiva de excitação ou por uma falta de lubrificação genital, ou outras respostas somáticas.
EEUU: 10,4%
Portugal: 12,9%
Moderada e Grave: 4,7%
EEUU: 18,8%
Portugal: 31,6%
Moderada e Grave: 9,4%
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Comparações Comparações
Homem Mulher
Disfunções do Orgasmo ( Orgasmic Disorders)
Ejaculação Prematura
Disf do Orgasmo Masculino Disf do Orgasmo Feminino
Definição: atraso ou ausência de orgasmo
persistente e recorrente a seguir a uma fase de
excitação considerada suficiente.
Definição: Atraso ou ausência de orgasmo
persistente ou recorrente, após uma estimulação e
excitação sexual suficientes.
EEUU: 8,3% EEUU: 24,1%
Portugal: 31,6%
Disfunções Sexuais:
Disfunções Sexuais: Comparações Comparações
Homem Mulher
Disfunções do Orgasmo ( Orgasmic Disorders)
Ejaculação Prematura Disf do Orgasmo Masculino
Ejaculação Prematura: quando o orgasmo e ejaculação acontecem, de forma persistente e recorrente, na sequência de um pequeno período de excitação, durante ou
imediatamente após a penetração e sem que o homem o deseje.
EEUU: 28,5%
Portugal: 8,7%
Sem equivalente
DS:
DS: Prevalência Prevalência
DS:
DS: Prevalência Prevalência
82%
88%
DS:
DS: Prevalência Prevalência
91% 87%
Prazer físico e estado de saúde
Prazer físico e estado de saúde
Satisfação emocional e estado de saúde
Satisfação emocional e estado de saúde
Disfunções Sexuais :
Disfunções Sexuais : Preditores Preditores
•• Marcadores de bem estar emocional e geral
• Relação emocional com o parceiro durante a actividade sexual
Bancroft J; Loftus J. & Long JS (2003). Arch Sex Behav, 32(3):193-208
“Factores físicos, sociais/ emocionais e relacionais têm um
impacto significativo na prevalência de um ou mais problemas sexuais. Para além disso observamos uma importante
diferença de género: o aumento da idade está mais
associado com os problemas sexuais nos homens. (…) os factores físicos têm um papel mais importante nos homens.”
Laumann EO; Nicolosi A; Glasser DB; Paik A; Gingell C; Moreira E; Wang T for the GSSAB I nvestigator’s Group (2004). I nt J I mpot Res:1-19