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ASSÉDIO MORAL: PERCEPÇÕES NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

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Academic year: 2021

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priprazeres@yahoo.com.br Priscilla Vieira Santos Faculdade Dom Bosco pri_v_s@hotmail.com M. Sc. Neuzi Barbarini1

Faculdade Dom Bosco neuzib@gmail.com

RESUMO

A proposta deste estudo busca compreender como ocorre o assédio moral nos espaços de trabalho.

A Organização Internacional do Trabalho apresenta que a violência moral constitui um fenômeno internacional, que aponta para distúrbios da saúde mental relacionados com as condições de trabalho. A metodologia escolhida para essa pesquisa buscou na abordagem qualitativa a sua estruturação. A coleta de dados foi realizada com a aplicação de questionários para um grupo de acadêmicos de um curso de administração. Os dados buscaram entender como o assédio moral, representado por situações que envolvem o menosprezo, desagrado em relação a apelidos e/ou piadas no interior das empresas, aconteciam. Essa situação foi confirmada. Em relação a receber ordens confusas e contraditórias, 63% dos participantes afirmam essa questão. Quanto ao desempenho em relação às atividades desvinculadas às funções cotidianas, situações essas que caracterizam assédio, visto que talvez sejam desenvolvidas sob alguma forma de pressão, 70%

confirmam que as executam. Essa situação caracterizou assédio, no entanto o contexto da área de gestão considera essa prática normal e os funcionários das empresas sequer percebem que isso se refere a um tipo de assédio. Essa reflexão levou as pesquisadoras a concluírem que tanto homens quanto mulheres sofrem assédio moral no ambiente de trabalho, tendo índices altos em ambos os gêneros, porém não permitindo diferença significativa.

Palavras-chave: assédio moral; trabalho; empresa.

Para a Organização Internacional do Trabalho, a violência moral constitui um fenômeno internacional, que aponta para distúrbios da saúde mental relacionados com as condições de trabalho. Também existe grande expectativa sobre um mal no planeta para os próximos 20 anos, seguidos de depressões e angústias entre outras conseqüências psíquicas. A psicologia foca o aumento da qualidade de vida psíquica dos seres humanos e busca, com a identificação dos gêneros e suas reações, a promoção de saúde. Intervir nos problemas que já estão instalados e também promover a prevenção desse assédio moral que compromete a identidade, a

1 Professora orientadora da pesquisa.

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dignidade e as relações afetivas e sociais do trabalhador que é vítima do assédio moral. A proposta deste estudo busca compreender como ocorre o assédio moral nos espaços de trabalho e quem está sujeito a sofrer mais assédio, se o homem ou a mulher. A metodologia escolhida para esta pesquisa buscou na abordagem qualitativa a sua estruturação. A coleta de dados foi realizada com a aplicação de questionários, com perguntas abertas e fechadas, para um grupo de acadêmicos de um curso de administração. Os dados buscaram entender como o assédio moral, representado por situações que envolvem o menosprezo, desagrado em relação a apelidos e/ou piadas no interior das empresas, aconteciam.

Assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante o horário de trabalho e no exercício de suas funções, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e de longa duração, que desestabilizam a relação de quem sofre o assédio com o ambiente de trabalho e a organização, fazendo com que ele seja forçado a desistir do emprego.

(BARRETO, 2000, s/p.)

Na pesquisa realizada, em relação ao menosprezo do trabalho em público, apareceram respostas afirmando o constrangimento dos trabalhadores nas empresas. Em um caso, um participante afirmou que para a empresa que ele trabalhava nenhum funcionário era competente e que todos não passavam de simples funcionários. Esse mesmo participante afirmou ter recebido ordens que não fazem parte da sua função, que não têm banco de horas nem hora extra, e que toda vez que a empresa julga necessário é obrigado a trabalhar fora do horário de expediente. Já foi sobrecarregado com atividades com prazo mínimo para entrega.

Também mencionou que, às vezes, é ignorado ao cumprimentar colegas de trabalho.

Assédio moral no trabalho não é um fenômeno novo. Pode-se até dizer que é tão antigo quanto o trabalho. Observou-se, ao longo dos anos, que trabalhadores vivem situações de discriminações e constrangimentos pelos seus superiores hierárquicos, e que, a partir da Revolução Industrial, o homem experimentava assédio moral devido à grande competitividade, individualismos, insegurança em perder o emprego para colegas mais experientes, mais capazes ou mais novos.

(PEREIRA, s/p.)

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Atualmente o assédio tem intensificado sua prática, o que pode ser considerado uma epidemia. Caracterizados por atitudes impróprias de chefias aos seus subordinados, o ambiente de trabalho transformou-se num lugar de tortura e sofrimento psíquico. Desde as formas mais sutis, como apelidos, piadas, ironias e insinuações maldosas, até as mais explícitas, como ameaças de demissões, ofensas e constrangimentos em público, essa violência está cada vez mais ligada à rotina de inúmeros trabalhadores. O objetivo dessa violência é desestabilizar emocionalmente a vítima fazendo com que tenha a iniciativa de se demitir. (Ciência e Profissão, 2007, p. 12).

Outro participante quando perguntado sobre ter seu trabalho menosprezado em público afirmou: “O gerente, na frente do cliente, sugeriu que toda a equipe vendesse pipoca ao invés de trabalhar na empresa”. Além de menosprezar o trabalho de um pipoqueiro, esse gerente está desvalorizando toda a equipe e, conseqüentemente, desmotivando-os.

No Brasil, a primeira Lei contra o Assédio Moral foi editada em Iracemápolis (SP), sendo regularizada em 2001. João Renato Alves Pereira elaborou a lei após ter trabalhado em uma organização privada e ser vítima de assédio moral. Ele é também autor da lei que instituiu o Dia de Reação ao Assédio Moral (2/5), sendo a primeira lei a consagrar um dia como reflexão e combate ao assédio moral nas relações de trabalho. (PEREIRA, s/p.)

Essa violência, entretanto, não é exclusividade do Brasil. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que o assédio moral no trabalho em países em desenvolvimento acaba sendo uma “regra” e não uma exceção. Trata- se de uma prática normal no ambiente de trabalho. Para a OIT e a Organização Mundial da Saúde (OMS), as perspectivas para as décadas seguintes não são boas.

Elas afirmam que depressões, angústias e outros danos psíquicos irão predominar, sendo um mal causado pela globalização. Alguns especialistas acham que esse quadro econômico que visa a muitos lucros de forma desenfreada, estimulando a produtividade e a competição de forma desleal, provoca a destruição permanente nas relações de trabalho. A psiquiatra Hirigoyen diz que esse é um modelo de gestão perverso e que acaba tratando as pessoas como objetos. (Ciência e Profissão, 2007, p. 14). Hirigoyen é uma das pioneiras a caracterizar a violência no trabalho como

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assédio moral. Barreto afirma que, no Brasil, as pessoas achavam que estava dentro da normalidade ter um chefe que humilhasse o funcionário, não compreendendo que isso caracterizava uma violência aos direitos fundamentais enquanto ser humano.

(Ibid)

Em relação a receber ordens confusas e contraditórias, 63% dos participantes afirmam essa questão e 45% disseram ter por um momento uma sobrecarga de atividades determinada pelo superior com prazo mínimo de entrega.

Atualmente os trabalhadores submetem-se a uma carga horária mais longa, tendo que trabalhar além do horário estabelecido em contrato. Com o tempo, esses funcionários acostumam-se com a idéia em função do medo de perder o emprego.

Nessa mesma pesquisa, 39% dos participantes afirmaram que não têm banco de horas ou hora extra, sendo obrigados a trabalhar fora do horário de expediente.

Alguns exemplos foram descritos como: “eventos de voluntariado obrigatório”,

“participar de reuniões aos sábados, quando os assuntos não eram sobre o meu trabalho, atender ao público ou telefone no horário de descanso”, “expediente era até 18h, porém, quando chegavam mercadorias para distribuir para as lojas você devia colaborar, sendo praticamente obrigado a correr o risco de ser despedido se não ficasse”.

Alguns estudiosos afirmam que abusos cometidos no ambiente profissional nem sempre são observados pela pessoa que está sofrendo essa violência. Ao que parece, no começo, a vítima considera as piadas e brincaderias normais, e com o tempo esse comportamento progride para agressões mais explícitas se nada for feito. O assediado é isolado do grupo, tendo o trabalho desqualificado, e ainda é obrigado a realizar tarefas inferiores às que realizava antes, ou recebe uma tarefa muito superior à sua capacidade. Atitudes como essas têm o objetivo de levar a vítima a pedir demissão. Isso faz com que o trabalhador se desestabilize emocionalmente cada vez mais, até desistir. Os efeitos de toda essa pressão vão sendo percebidos por alguns tipos de manifestações, como distúrbios digestivos, sentimento de inutilidade, tonturas, choro e até redução da libido. Entre as mulheres, é comum discutirem as situações que enfrentam com os colegas e com a família, mas os homens guardam para si esse sofrimento. (Ciência e Profissão, 2007, p.

13).

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Quanto ao desempenho em relação às atividades desvinculadas das funções cotidianas, situações essas que caracterizam assédio, visto que talvez sejam desenvolvidas sob alguma forma de pressão, 70% confirmam que as executam.

Essa prática é considerada comum no modelo de gestão atual. Trabalhadores realizam atividades para as quais foram contratados, além de outras que não fazem parte de sua função, e ficam tão habituados a esse método que sequer sabem que se trata de assédio. E aqueles que sabem que de certa forma há algo errado com o processo, ou os que sabem que sofrem assédio moral, sentem-se pressionados a realizar todas as tarefas a eles atribuídas por medo de perder o emprego. Alguns participantes falaram sobre ter que executar toda a limpeza de banheiro, o que não fazia parte das suas funções. Alguns trabalhadores afirmaram situações como:

“Trabalhava como auxiliar administrativo e tinha que limpar toda a parte do escritório, varrendo, limpando banheiro, etc.”, “Fui contratada para determinada função, porém minhas atividades eram totalmente diferentes do combinado”. Alguns afirmaram também que faziam parte de um departamento da empresa, mas que eram obrigados a realizar tarefas de outros setores. Um participante ainda explicou: “No meu primeiro emprego, a secretária e o médico para quem eu trabalhava me solicitavam funções extra-consultório, como levar o cachorro ao pet shop e limpar o jardim da clínica”.

Para Heloani, punir as empresas e os assediadores é importante, porém não é a única forma de acabar com o assédio. Ele também acredita que é necessário criar programas que envolvam a sociedade, os sindicatos e as empresas, para que essas atitudes não sejam mais a regra. O papel do psicólogo é fundamental nesse processo, pois muitos trabalham em corporações. Heloani ainda diz que é preciso agir na fonte do problema, sabendo diferenciar uma queixa comum e uma queixa de ordem psicológica. E o que seria prioridade é dar suporte às vítimas, para que se reestruturem e tenham coragem de buscar seus direitos. (Ciência e Profissão, 2007, p. 15).

Tanto homens quanto mulheres afirmaram sofrer assédio moral no ambiente de trabalho. Os índices foram altos em ambos os gêneros, não havendo diferença significativa entre eles.

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Esta pesquisa terá continuidade com parte da mesma amostra, visando a identificar os diferentes tipos de reações que ocorrem em relação ao assédio moral, e a entender o que as pessoas que sofrem esse assédio sentem sobre essa situação. Nessa nova etapa, é provável que as pesquisadoras tenham novos dados para essa verificação.

REFERÊNCIAS

PEREIRA, J. R. A. Assédio moral no trabalho. Disponível em: <http://www.leiassediomoral.com.br/>

Acesso em: maio 2008.

BARRETO, M. Assédio moral. Disponível em: <http://www.assediomoral.org> Acesso em: maio 2008.

O lado perverso do trabalho. Ciência e Profissão, Brasília, volume 5, p. 12-15, 2007.

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