Programação do Minicurso
Como Documentar Línguas e Culturas Indígenas através de Gravações Digitais de Áudio e
Vídeo: os Equipamentos, Métodos e Técnicas mais Recentes
Denny Moore, Museu Goeldi ‐ MCT Parte I: Áudio 1. Captura‐ Microfones: 1.1 Mecanismo Condensador (electret condenser) – aumenta o sinal eletronicamente, precisa de energia, geralmente de pilha ou energia fantasma Dinâmico – o diafragma movimenta um imã dentro de um rolo de fio, para gerar a energia do sinal; funciona sem pilha ou energia fantasma 1.2 Direcionalidade: Omnidirecional ‐ aceita sons de todas as direções, registrando todo ambiente igualmente Unidirecional – aceita sons principalmente de uma única direção, diminuindo a intensidade dos sons vindo de outras direções; tem a vantagem de poder excluir ruídos não desejados Cardioide ‐ =unidirecional (Supercardioide =super unidirecional, Canhão‐ Shotgun =comprido, super unidericional) 1.3 Número de canais: Monofônico – microfone ou gravação que usa um sinal só Estéreo – microfone ou gravação que usa dois sinais (como nossos ouvidos usam), para proporcionar som natural, com sensação de direção e distância 1.4 Captura: Faixa de freqüência – uma das características de aparelhos e gravações. Um ser humano jovem pode escutar sons de 30 Hz (baixos) até 20.000 Hz (altos). Alguns microfones excelentes capturam sons na faixa 20 a 20.000 Hz. Outros têm uma faixa mais restrita. As fitas cassetes análogas comuns capturam até 15.000 Hz. O telefone tem uma faixa de frequência reduzida, por isso é difícil distinguir entre f e s ao telefone. Sinal / Ruido (signal to noise) – medida de ruído Faixa Dinâmica (dynamic range) 1.5 Impedância e tipo de conexão e transmissão: Balanceado (= ‘balanced’, baixa impedância, profissional – um sistema que transmite sinais por fio por distâncias maiores sem interferência magnética; a conexão é XLR, tríplice: um fio transmite o sinal (monofônico) e os outros dois fios formam uma rede em volta do primeiro, neutralizando impulsos magnéticos. Para converter um sinal balanceado em não balanceado (‘unbalanced’, alta impedância, consumidor) se usa um adaptador de impedância. E vice‐versa. Não Balanceado – alta impedância, consumidor, um fio por trilha. Aparelhos comuns de nível consumidor usam conexões não balanceadas de 1/8” ou ¼”.Energia fantasma – microfones profissionais frequentemente precisam de 10 a 50 volts de energia fornecida pelo aparelho. O sinal volta para o aparelho. Plug‐in Power – aprox 5 volts fornecido de alguns gravadores para alimentar microfones consumidores. 1.6 Tipo/Posição de microfone: Microfone de cabeça ‐ usa‐se na cabeça; tem a vantagem de excluir sons do ambiente e seguir os movimentos da cabeça do falante; por exemplo, o Shure WH20XLR (dinâmico, 50‐15.000Hz), Shure WH30XLR (condensador, usa energia fantasma, 40‐20.000Hz). Microfone de mão ‐ o comum – aponta‐se na direção do falante, por exemplo, Electro Voice N/D767a (25/50‐22.000 Hz, supercardioide, XLR). Vende‐se muitos modelos para cantores, com preços acessíveis, sendo necessário checar a faixa de freqüência. Microfone de lapela – pode ser preso à roupa do falante, por exemplo, o Audio Technica AT831b (40‐ 20.000Hz, XLR). Microfone de câmera de vídeo‐ especial para acoplar na filmadora, por exemplo, Sennheiser MKE 400 (50‐20.000Hz, consumidor) Microfone estéreo de mão—por exemplo Sony ECM‐MS957 (50‐18.000Hz, consumidor) Microfone sem fio – aparelho de duas partes: transmissor e receptor. Um microfone liga no transmissor e o receptor liga na tomada de um gravador de áudio ou de vídeo, por exemplo, Azden WR‐PRO (consumidor, 9V) 2. Captura‐ Gravadores de áudio: 2.1 Gravadores analógicos – agora principalmente gravadores de fitas cassete, que usa fitas magnéticas analógicas. A fita de ferro grava até 15.000Hz, fitas de cromo até 16.000. Tem um certo grau de ruído que não é possível eliminar. O sistema Dolby reduz o ruído. Cada cópia perde qualidade e têm uma tendência de ‘sangrar’ magnetismo entre as camadas durante armazenamento. 2.2 Gravadores digitais – registros são de forma digital, como arquivo de computador, e podem ser duplicados sem perder qualidade; não tem ruído intrínseco. 2.2.1 DAT ‘Digital Audio Tape’ – fitas finas que gravam som em forma digital, 20 a 20.000 Hz; sendo meio frágil para uso no campo e muito suscetível a umidade 2.2.2 Minidisco (MD) – grava som com compressão 2.2.3 Hi‐MD (só Sony) – grava som sem compressão, até 1,4GB, 20 a 20.000 Hz; tem que usar o programa Sonic Stage da Sony para transferir a gravação, que pode ser removida somente uma vez do disco, como proteção de direitos autorais (inconveniente). 2.2.4 Memória flash (‘solid state’) – grava em forma digital em cartões de memória flash removíveis. Vêm ganhando popularidade entre linguistas pela qualidade (20 a 20.000 Hz, sem ruído), a durabilidade (sem partes que se movem, sem mecanismo de transporte) e a facilidade de transferir os arquivos para um micro computador para edição e duplicação. Os cartões de memória são de 4 tipos: SD (pequeno, até 2GB) SDHC (pequeno, até 32GB), flash memory (maior, mais grosso, até 16GB) e memory stick
energia fantasma). Um modelo mais simples é o Tascam DR‐07, com menos recursos, mas barato e adequado. 3. Edição de áudio 3.1 Tipos de arquivo de som comuns: .wav – sem compressão padrão para documentação .mp3 – pode ser feito com vários graus de compressão, reduzindo o tamanho do arquivo, qualidade útil para downloads da Internet .cda – Compact Disk of Audio (CD de Áudio) – arquivo consumidor que toca em tocadores de CD como também microcomputadores. Nos CDs de música que você compra, os arquivos são .cda. 3.2 Edição de áudio no microcomputador 3.2.1 Softwares comuns: Audacity (simples, em português) É necessário um outro programa, LAME, junto para exportar mp3. Sound Forge (mais profissional); 3.2.2 Passos 3.2.2.1Transferência (upload) dos arquivos de som, esp de leitor de chip ou cabo USB. (NB: É problemático usar trechos/arquivos grandes, uma vez que o seu processamento pode demorar muito. Trechos grandes podem não caber no software.) Trechos de 5‐15 minutos são mais fáceis de manipular. Gravar e guardar uma cópia espelho dos arquivos e editar uma outra cópia. 3.2.2.2 Seleção do trecho a ser modificado 3.2.2.3 Operações no trecho Normalizar—o programa automaticamente nivela o trecho para ter um volume uniforme e normal Amplificar ou diminuir amplitude—você escolhe o nível da parte selecionada Deletar Copiar Colar Alterar frequências Exportar como tipo de arquivo (.wav, mp3, etc) Salvar como arquivo com nome 3.2.2.4 Gravar como CD Gravar como CD de dados Gravar como CD de áudio, criando arquivos .cda, que tocam em tocadores de CD. Normalizar áudio‐‐vários programas de queimar CD, por exemplo Nero, oferecem a opção de “normalizar” áudio—nivelando e ajustando o volume do disco inteiro automaticamente. 3.3 Anotação de áudio: Software: Transcriber
4. Procedimentos de campo – gravação, etnografia e anotação de áudio ‐ dicas Explicar o que está fazendo e o retorno para a comunidade, usar termo de compromisso se for desejável, para garantir direitos intelectuais. Um termo de compromisso pode conter condições de, por exemplo, autorização de utilizar as gravações para estudo e divulgação científica, proibição de uso para fins comerciais, obrigação de devolver cópias à comunidade em número suficiente e em forma apropriada, obrigação de depositar cópias em uma instituição científica com a finalidade de torná‐las disponíveis para as gerações futuras. Conhecimentos tradicionaais são de propriedade do grupo inteiro. Sendo assim um indivíduo ou subgrupo não pode comercializar a cultura tradicional sozinho. Faça uma introdução gravada a cada sessão, falando seu nome, o lugar, a data, os equipamentos, os participantes, o assunto. É útil elaborar um pequeno texto com esses dados e gravar o texto nos CDs. O texto pode explicar as trilhas no CD. Checar a introdução para verificar a qualidade, nível da gravação, ausência de ruído. Pode monitorar a gravação com fones de ouvido. Para alguns gêneros de textos, por exemplo, mitos, muitos grupos tradicionalmente utilizam 2 pessoas para contar—uma fala e a outra responde Melhores gravações resultam se a comunidade tem tempo para pensar e discutir o assunto que será gravado. Para documentação, a comunidade frequentemente tem as melhores idéias sobre o que gravar e como. Logo depois da gravação de um texto em uma língua indígena, deve‐se gravar o mesmo texto em português. Para estudos linguísticos, uma variedade de textos (alguns no passado, alguns no futuro, alguns diálogos, alguns monólogos, etc) fornece uma amostra de uso natural da língua que é a base de análise. Quando gravando vocabulário é útil pedir para a pessoa repetir a palavra 2‐3 vezes. Nas línguas tonais as palavras podem também ser assoviadas. Documentação não é somente gravação. É necessário também entender o contexto cultural do material gravado. Por exemplo, geralmente há gêneros musicais (como no nosso caso: músicas de Natal são diferentes de músicas de Carnaval). Referências culturais exigem muita discussão com a comunidade para entender. Se for possível, deve treinar pessoas da comunidade na gravação e na tecnologia relevante, além de ajudar a achar financiamento para adquirir os equipamentos básicos. Para documentação, devem ser anotados os nomes dos participantes, se a gravação foi espontânea ou solicitada, etc. É melhor evitar transcrições improvisadas ou amadoras na língua indígena. Para transcrever um texto, é útil tocar o texto sentença por sentença, com falante repetindo cada parte e ajudando na análise e transcrição.
Cópias de CDs podem ser produzidas na aldeia e distribuídas logo em seguida, com mais cópias para a FUNAI e outras entidades relevantes, incluindo um museu ou instituição científica que possa ser um fiel depositório. Capas de CDs podem ter imagens relevantes e informações sobre a documentação. Parte II: Vídeo 1. Gravadores de Vídeo 1.1 Formatos nacionais—a maneira de se codificar o sinal: NTSC (EUA e Japão), PAL (Europa) SECOM (França) e PAL‐M (Brasil). Geralmente, se usa NTSC e converte para PAL‐M se for para usar em máquinas que não aceitam NTSC. 1.2 Formatos de fita – tamanho e configuração de fitas 1.2.1 Fitas analógicas (geralmente obsoletas agora): 1.2.1.1 VHS—antiga fita larga, 230 linhas de resolução 1.2.1.2 8mm – antiga fita estreita, 230 linhas de resolução 1.2.1.3 SVHS (Super VHS) versão melhorada da VHS, 400 linhas de resolução 1.2.1.4 Hi‐8 – versão melhorada da 8mm, 400 linhas de resolução. Problema de ‘fall‐out’ 1.2.2 Fitas digitais: 1.2.2.1 DV digital vídeo – profissional 1.2.2.2 mini‐dv – consumidor e semiprofissional (500 linhas de resolução, mais resolução ainda em HD ‘high definition’= alta resolução) 1.3 Digital sem fita 1.3.1 Memória flash – usam‐se os mesmos cartões explicados acima para áudio: SD, etc. Tem as vantagens dos aparelhos ‘solid state’ de áudio—mais resistente, mais leve. 1.3.2 Disco rígido – grava em disco rígido 1.3.3 Mini‐DVD – grava em DVDs pequenos; limitado e pouco usado por profissionais 2. Assessórios de vídeo (que é bem mais complicado que áudio) 2.1 Microfone externo – uma tomada (input) de áudio no gravador de vídeo permite usar qualquer microfone, melhorando o som. Os modelos mais baratos não têm input de áudio e o áudio é do microfone embutido da câmera, o que pode ser bom ou ruim, possivelmente afetado pelo som do motor que gira a fita, se houver. 2.2 Fones de ouvido – para monitorar o áudio como está sendo gravado. Modelos baratos não têm uma tomada para a saída de áudio. 2.3 Filtro de ultravioleta ‐ protege lente e melhora imagens do céu.
2.4 Iluminação, na câmera ou ambiental – melhora a imagem e permite gravar de noite e dentro de casas. A luz de vídeo geralmente deve ser de 3.000 Kelvin—cor da luz do dia, mais ou menos; fluorescentes normais são péssimas (4.400 Kelvin—azul/frio demais), mas fluorescentes compactas amarelas (2.700 Kelvin) são boas. Existem lâmpadas infra‐vermelhas para usar com filmadoras que capturam luz infra‐vermelha de noite. 2.5 Tripé – para evitar o ‘efeito terremoto’; deve ser leve e ter ação suave. Filmadoras modernas têm estabilização de imagem, para eliminar pequenos tremores, mas movimentos maiores não são controlados por essa estabilização e devem ser evitados pelo uso de apoio. 3. Dicas e procedimentos de gravar ‘bater branco’ para ajustar a cor Evitar uso demais de recursos da câmera, especialmente zoom. A idéia é não chamar atenção à atividade técnica ou à filmadora. O mesmo princípio se aplica na edição de vídeo: evita transições, formatos de legendas ou efeitos especiais estranhos. O foco deve ser no conteúdo. Eliminar ruído ambiental. Usar tripé com ação suave. Gravar o lado iluminado da cena, com a luz atrás da câmera, não na frente dela. Posicionar os pés antecipando movimento. Imagens mais ‘close’ (perto) tem mais impacto na telinha de vídeo. Não deixar ponto de visto parado – movimente a imagem como você faz com seus olhos. Se tiver 2 filmadoras, uma pode ser ‘close’ e a outra longe. Monitorar o som com fones de ouvido. Pensar no roteiro antes de gravar. “Night Shot” de infravermelho captura, no escuro, imagens na base de calor, objetos quentes sendo brancos e objetos frios escuros. 4. Edição e softwares de vídeo 4.1 Edição –vídeo: Windows Movie Maker (super simples), Studio (intermediário), Adobe Premier (mais profissional). O software permite editar imagens, inserir áudio e inserir legendas. 4.2 Tipos comuns de arquivos de vídeo: .avi – vídeo ‘puro’ como gravado
.mpg—MPEG‐ 1 e MPEG‐2– vídeo com compressão. MPEG‐2 tem melhor qualidade; 1 hora= 2GB. MPEG= Motion Picture Experts Group. .mp4 – MPEG‐4, alta qualidade, alta compressão, bom para a Internet .mts – arquivo usado no formato AVCHD (‘Advanced Video Codec High Definition’), vídeo de alta definição. 4.3 Anotação de vídeo: ELAN 5. Energia de Campo 5.1 Painéis solares fixos, flexíveis e dobráveis 5.2 Baterias para guardar energia 5.3 Inversor – converte tensão direta (DC, por ex de baterias) para tensão alternante (AC, tipo tomada de parede) 5.4 Adaptador de DC‐ modifica voltagem e polaridade (positivo ou negativo) de corrente direta, para usar aparelhos com baterias ou energia solar 5.5 Medidas de energia – watts = volts X amperes; watt‐horas = watts X horas