• Nenhum resultado encontrado

EVALUATION OF BRAZILIAN JOURNALS: A REVIEW OF THE QUALIS- PERIODICALS CRITERIA ACCORDING TO MERTON AND BOURDIEU'S CONCEPTS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "EVALUATION OF BRAZILIAN JOURNALS: A REVIEW OF THE QUALIS- PERIODICALS CRITERIA ACCORDING TO MERTON AND BOURDIEU'S CONCEPTS"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

XVI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB) ISSN 2177-3688

GT 07 - Produção e Comunicação da Informação em Ciência, Tecnologia & Inovação

Comunicação Oral

AVALIAÇÃO DOS PERIÓDICOS BRASILEIROS: OS CRITÉRIOS DO

QUALIS-PERIÓDICO À LUZ DE MERTON E BOURDIEU

1

EVALUATION OF BRAZILIAN JOURNALS: A REVIEW OF THE

QUALIS- PERIODICALS CRITERIA ACCORDING TO MERTON AND

BOURDIEU'S CONCEPTS

Claudio Nei Nascimento da Silva, IFB2

claudiosinas@yahoo.com.br

Suzana Pinheiro Machado Mueller, UNB

suzanapmm@gmail.com

Resumo: Analisa as diferenças e semelhanças nos critérios estabelecidos para qualificação de

periódicos científicos brasileiros pela Agência Capes/MEC e busca nas contribuições de Merton e Bourdieu, elementos para a compreensão desse fenômeno. Os dados foram levantados por meio dos 48 Documentos de Área disponíveis no sistema Qualis/Capes. A análise permitiu levantar 21 critérios e agrupá-los em quatro categorias: formato e aspectos de editoração e distribuição; visibilidade e impacto dos conteúdos; qualidade e relevância segundo percepção da área; e outros. As diferenças e semelhanças nos critérios e as particularidades das áreas estudadas quanto à avaliação de periódicos colocaram em relevo a relevância e atualidade do pensamento de Merton e Bourdieu acerca das nuances que perpassam estratégias de legitimação especialmente caras na ciência. Conclui-se ressaltando a proeminência de indicadores quantitativos nas áreas mais tradicionais da ciência e mais subjetivos nas humanidades, como também, a natureza política do processo de avaliação da produção científica brasileira, no qual, as agências de fomento têm grande influência.

1 O conteúdo textual deste artigo, os nomes e e-mails foram extraídos dos metadados informados e são

de total responsabilidade dos autores do trabalho.

2 Este trabalho é a ampliação de um estudo sobre a avaliação da produção científica brasileira de

(2)

Palavras-chave: Comunicação científica. Produtividade científica. Publicações científicas: periódicos. Avaliação de publicações científicas.

Abstract: Analyzes differences and similarities in the criteria used by the Brazilian funding federal

agency CAPES to rank scientific journals and searches in Merton and Bourdieu writings elements for

understanding this phenomenon. Data were collected from the 48 Document of the Area available in

the Qualis / Capes system. The analysis recognized 21 criteria, which were then grouped into four categories: format and aspects of publishing and distribution; visibility and impact of content; quality and relevance according to perception of each area; and others. The differences and similarities in the criteria and characteristics established for the evaluation of journals of each area studied showed the relevance and timeliness of the concepts of Merton and Bourdieu to understand the nuances that permeate the legitimization strategies in science. Conclusions highlight the prominence of quantitative indicators adopted by the more traditional areas of science, and the subjective indicators adopted by the humanities, as well as the funding agencies’ influence over the process evaluation showing its political nature.

Keywords: Scientific communication. Scientific productivity. Scientific publications: journals.

Evaluation of scientific publications.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho é analisar as diferenças e semelhanças nos critérios estabelecidos para qualificação dos periódicos das Humanidades, Ciências da Vida e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar pela agência Capes/Ministério de Educação e perceber evidências do ethos científico mertoniano e do pensamento de Bourdieu acerca do campo científico. O tópico se insere no tema comunicação científica, especialmente referente à avaliação da produção científica, na qual a responsabilidade do pesquisador é, ao mesmo tempo, avaliar o trabalho de seus pares e buscar aceitação para seu trabalho.

(3)

pesquisa sobre a avaliação Qualis Capes na área de Psicologia em 2004, defendem que essa avaliação Qualis não é capaz de apreciar a “qualidade concreta” dos produtos avaliados. Para estes autores, para que a avaliação de periódicos pela Capes possa ser vista como um elemento de contribuição para o progresso científico, “cumpre construir alternativas para a elaboração de um modelo sólido, consistente e completo, capaz de fornecer respostas adequadas às demandas das comunidades científicas e acadêmicas”.

Por outro lado, sabe-se que no Brasil a produção científica é financiada com recursos públicos e ocorre principalmente nas universidades federais (portanto públicas), dado que justifica a criação de mecanismos de avaliação e monitoramento dessa produtividade e as agências de fomento têm uma participação importante nesse financiamento. Para Oliveira Filho et al. (2005), é fundamental que um programa de pós-graduação tenha apoio financeiro para o desenvolvimento de pesquisas.

Por outro lado, a construção de critérios para aferir a qualidade da produtividade científica brasileira, ao levar em conta regras para todas as áreas (como a definição do periódico como o principal objeto da avaliação) e princípios que são construídos a posteriori pelas comissões de avaliação, exige cuidado no entendimento do processo e ressalvas quanto a qualquer tentativa de generalização que não respeite as particularidades das áreas e as dinâmicas de cada campo científico. Por isso este estudo parte dos seguintes questionamentos: a) quais são as diferenças e semelhanças nos critérios para avaliação dos periódicos entre os três colégios que compõem as 48 áreas temáticas estabelecidas pela Capes? b) Quais as contribuições de Merton e Bourdieu para a explicação das particularidades das áreas observadas nesses critérios?

2 MÉTODO

(4)

área de conhecimento em busca de evidências que explicam suas particularidades. Na terceira etapa busca-se, nos conceitos dos dois autores, compreender os determinantes que explicam a avaliação da produção científica brasileira por meio da Agência Capes. O trabalho termina com considerações sobre os resultados obtidos.

3 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados em duas seções. A primeira se ocupa de descrever os dados no contexto das áreas de conhecimento. Nesta seção também são analisados estes critérios na perspectiva de melhor caracterizá-los, respeitando as semelhanças e diferenças percebidas nos documentos de área fonte dos dados. A segunda sessão apresenta os resultados da análise sociológica mediante as contribuições de Merton e Bourdieu buscando nesses autores razões que explicam o fenômeno do processo de avaliação da produção científica brasileira.

3.1 CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO QUALIS PERIÓDICOS (CAPES)

A Capes, agência do Ministério de Educação, é responsável pelo reconhecimento oficial dos cursos de Pós-Graduação no Brasil, e é também a maior fonte de financiamento de cursos em instituições públicas federais. Para desempenhar suas funções, mantém uma estrutura de coleta contínua de dados que são avaliados periodicamente por Comissões formadas por professores representantes dos cursos avaliados. Essas Comissões, uma por área temática, produzem um Documento de Área3 que determina os aspectos que serão avaliados, e os critérios para avalia-los.

Os Documentos de Área 2013, fonte dos dados examinados, seguem formato estabelecido pela Capes para todas as áreas, composto de cinco seções. Os dados relevantes para este trabalho foram coletados na seção IV, dedicada ao Qualis-Periódico, instrumento criado para classificar periódicos em listas hierárquicas organizadas em oito estratos (A1 a C). Uma característica confere ao Qualis–Periódicos um caráter sui-generis entre listas desse tipo: as comissões avaliadoras baseiam seu julgamento no interesse e afinidade que a área que representam tem pelo periódico e não apenas na sua qualidade intrínseca. Portanto, a pergunta principal que os avaliadores respondem não é “qual a qualidade desse periódico?” mas “qual o interesse de nossa área nesse periódico?” As listas temáticas são independentes uma das outras, e dado o interesse de cada área, um mesmo periódico pode receber avaliações diferentes em diferentes listas.

(5)

Nesse trabalho são analisados os documentos das 48 áreas temáticas conforme definição da Capes, agrupadas em grandes áreas e colégios, organizadas na Figura 1 abaixo.

Figura 1 – Distribuição dos colégios, grandes áreas e áreas do conhecimento pela Capes

(MEC/CAPES/2015)

Os critérios estabelecidos nos Documentos de Área das áreas estudadas seguem a orientação geral contida na ficha de avaliação proposta pelos coordenadores das áreas que integram os colégios da Capes, mas cada área tem a liberdade de fazer as adaptações que julgam pertinentes (CAPES, 2013b, p.25). O exame dos Documentos permitiu a consolidação dos vários critérios estabelecidos por todas as áreas em 21 critérios, e ainda organizá-los em grupos segundo natureza ou objetivo, notando-se a possibilidade de um critério estar relacionado a mais de um grupo:

Critérios relacionados ao formato e aspectos de editoração e distribuição:

1. Requisitos mínimos: itens relacionados ao formato, tais como legendas bibliográficas, normas de publicação, sumários, normas de referências bibliográficas, descritores ou palavras-chave. E mais, ISSN, política editorial, regularidade na publicação e distribuição.

(6)

3. Número mínimo de artigos por ano: varia por área e, na área, por estrato. 4. Disponibilidade na Internet.

5. Caráter científico.

6. Existência de Corpo Editorial

7. Exigência de percentagem mínima de estrangeiros entre autores e membros do conselho editorial. Duas áreas que não mencionam esse critério de maneira específica - Economia e Psicologia. Economia, até a avaliação 2009, tinha como norma não incluir periódicos nacionais nos estratos mais altos até B2, prática que foi alterada na última avaliação, mas que aponta para uma internacionalização pronunciada. A área de Química não estabelece um percentual mínimo.

8. Idiomas: devem incluir inglês ou bilíngue.

Critérios relacionados à visibilidade e impacto dos conteúdos:

9. Indexação em bases estrangeiras e/ou nacionais, que incluem, conforme a área, bases internacionais gerais e especializadas e específicas e bases nacionais. Entre essas últimas, a mais citada é Scielo. Bases regionais tais como Latindex, Redalyc também são mencionadas.

10.Fator de impacto: trata-se de um critério utilizado principalmente pelas Ciências da Vida e Ciências Naturais. No caso das Humanidades, as quatro áreas que incluíram esse critério não utilizam necessariamente o fator de impacto produzido pelo Institute for Scientific Information (ISI), mas adotam (ou pretendem adotar) diferentes versões. 11.Penetração internacional (sem especificações de como isso seria medido).

Critérios relacionados à qualidade e relevância segundo percepção da área:

12.Reconhecimento consolidado ou relevância na área. Critérios parecem ser subjetivos, pressupõem consenso.

13.Avaliação pelos pares.

14.Consulta aos docentes – apenas a área de Geografia adota este critério de maneira formal, com formulário submetido aos docentes.

15.Editora ou Periódico especificamente nomeados. Duas áreas mencionam títulos ou editoras: Economia e Administração, Ciências Contábeis e Turismo.

(7)

18.Pluralidade e multidisplinaridade do corpo editorial e das linhas editoriais. Esse critério apareceu na Área Ciências Ambientais e na área Interdisciplinar.

Outros:

19.Financiamento por órgão externo, como CNPq ou Capes. Esse critério geralmente é uma alternativa ou complemento de outros.

20.Citação. A área de Química recalcula o Fator de Impacto e reclassifica para baixo o estrato qualis do periódico quando percebe um número elevado de autocitação (>45%) (CAPES, 2013g).

21.Classificação na área principal e na área secundária, de acordo com o escopo da revista. A área Interdisciplinar pratica uma média ponderada entre as avaliações que o periódico recebe em outras áreas. Esse procedimento leva o nome de “indicador Q”

Uma observação importante sobre os critérios diz repeito à forma como aparecem nos documentos de área. Cada documento estabelece um conjunto de argumentos mediante o qual os critérios são estabelecidos. Mesmo em áreas supostamente relacionadas como acontece com as Engenharias I, II, III e IV, por exemplo, onde o fator de impacto é o critério principal, cada área tem uma apropriação diferenciada desse item para defini-lo como critério, o que também justifica a diferença no resultado da avaliação de um periódico quando o mesmo é avaliado por mais de uma área.

(8)

R eq u is it o s m ín im o s d e fo rm at o Te m p o d e ex is tê n ci a N ú m er o m ín im o d e ar ti go s p o r an o D is p o n ib ili d ad e n a in te rn et C ar at er c ie n tí fi co Ex is tê n ci a d e co rp o ed it o ri al Es tr an ge ir o s: a u to re s e co n se lh ei ro s Id io m a in gl es /b ili n gu e In d ex aç ão b as es in te rn ac io n ai s e n ac io n ai s Fa to r d e Im p ac to P en et ra çã o in te rn ac io n al R ec o n h ec im en to co n so lid ad o / re le vâ n ci a p ar a a ár ea av al ia ca o p el o s p ar es C o n su lt a ao s d o ce n te s e d it o ra s o u t ít u lo s es p ec íf ic o s N at u re za d a en ti d ad e re sp o n sá ve l ( co m er ci al , as so ci aç äo , u n iv er si d ad e) O ri ge m d a p u b lic aç ão /a rt ig o s (s e n ac io n al o u e st ra n ge ir a) P lu ra lid ad e/ m u lt id is ci p li n ar id ad e d o c o rp o ed it o ri al /l in h as ed it o ri ai s Fi n an ci am en to p o r o rg ão e xt er n o , C n p q o u C ap es C it aç ão C la ss if ic aç ão n a ár ea p ri n ci p al e n a ár ea se cu n d ár ia HUMANIDADES Antropologia/Arqueologi

a 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Ciência Política e

Relações Internacionais 1 1 1 1 1 1 1

Educação 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Filosofia / Teologia 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Geografia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Historia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Psicologia 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Sociologia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Administração Ciências

Contábeis e Turismo 1 1 1 1 1

Arquitetura e Urbanismo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Ciencias Sociais Aplicadas

I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Direito 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Economia 1 1 1 1 1 1 1

Planejamento Urbano e

Regional/Demografia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Serviço Social 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Artes e Música 1 1 1 1 1 1 1 1

Letras, Linguística 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

TOTAIS 17 6 11 12 6 15 14 1 16 5 1 14 15 1 2 11 1 2 9 0 0

CIÊNCIAS DA VIDA

Ciência de Alimentos 1 1 1

Ciências Agrárias I 1 1

Medicina Veterinária 1 1 1 1 1 1

Zootecnia / Recursos

Pesqueiros 1 1

Biodiversidade 1

Ciências Biológicas I 1

Ciências Biológicas II 1

Ciências Biológicas III 1 1 1 1 1 1

Educação Física 1 1

Enfermagem 1 1 1 1

Farmácia 1 1 1 1 1

Medicina I 1 1 1

Medicina II 1 1

Medicina III 1 1

Nutrição 1 1 1 1

Odontologia 1 1 1 1

Saúde Coletiva 1 1 1 1

TOTAIS 6 0 0 0 4 5 1 0 14 17 0 0 4 0 0 1 0 0 0 0 0

CIÊNCIAS EXATAS, TECNOLÓGICAS E MULTIDISCIPLINAR

Astronomia / Física 1 1 1 1 1

Ciência da Computação 1 1 1 1

Geociências 1 1

Matemática / Probabilidade e Estatística

1 1 1 1

Química 1 1 1 1 1 1 1

Engenharias I 1 1 1 1

Engenharias II 1 1 1

Engenharias III 1 1 1 1 1

Engenharias IV 1 1 1 1 1 1

Biotecnologia 1 1

Ciências Ambientais 1 1 1 1 1

Ensino 1 1 1 1 1

Interdisciplinar 1 1 1 1 1 1 1

Materiais 1 1

TOTAIS 7 1 1 1 2 8 1 0 11 14 1 2 3 0 0 3 2 2 0 1 1

TABELA 1 - Incidência dos critérios para avaliação dos periódicos encontrados nos documentos de área Capes, triênio, 2009-2012

C iê n ci a s E x a ta s e d a T e rr a E n g e n h a ri a s M u lt id is ci p li n a r C iê n ci a s H u m a n a s Li n g ü ís t ic a , A rt e s e Le tr a s C iê n ci a s S o ci a is A p li ca d a s C iê n ci a s A g rá ri a s C iê n ci a s B io ló g ic a s C iê n ci a s d a S a ú d e

Fonte: dados consolidados a partir dos documentos de àrea Qualis/Capes 2013

(9)

consolidado na área” (14/17) “estrangeiros: autores e conselheiros” (13/17), “disponibilidade na Internet (12/17) e número de artigos por ano (11/17). Em Ciências da Vida destacaram-se: “fator de impacto” (17/17), seguido de “indexação em bases internacionais” (14/17). Em Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar predominaram: “fator de impacto” (14/14), “indexação em bases estrangeiras e nacionais” (11/14) e “existência de corpo editorial (8/14).

Como se percebe, nas Ciências da Vida e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar o fator de impacto e indexação em bases estrangeiras e nacionais são critérios predominantes, embora também apareçam em Humanidades, mas com uma incidência baixa. O Colégio de Humanidades também chama a atenção pela variedade de aspectos considerados pelas várias áreas temáticas como critério de avaliação.

Em que pesem as particularidades dos três grupos de áreas do conhecimento analisados, percebe-se que o critério que apresenta maior transversalidade é a “indexação em bases estrangeiras e nacionais”, ou seja, trata-se do critério mais comum entre os três colégios que compõem a organização e distribuição das áreas temáticas estabelecidas pela Capes para avaliação de periódicos.

(10)

favorável ao periódico”; a área de Economia usa rankings publicados em artigos especializados na área. A área de Direito anuncia a decisão de adotar o fator de impacto na próxima avaliação, usando fórmula que leva em consideração citações em teses, dissertações e artigos. Outros critérios que partem do fator de impacto também foram percebidos, como “Normalização do fator de impacto” e o “Indicador J” (CAPES, 2013e, p. 38); e o “Indicar J*”, que écalculado a partir do JCR e o índice Scopus, incluindo também Conferências, que é um importante canal de publicação na área (CAPES, 2013f).

Alguns critérios podem ser vistos como reflexo das particularidades de cada área, uma vez que não aparecem em mais de um documento. Um bom exemplo é “classificação na área principal e na área secundária, de acordo com o escopo da revista” presente apenas no documento da área Interdisciplinar. No documento da área de Química a autocitação é também um critério importante para a (des)qualificação do periódico, num claro esforço para evitar práticas endógenas no âmbito de cada periódico da área.

O critério da existência de financiamento para as revistas, especialmente pelas agências de fomento Capes ou CNPq, se refere a um programa que essas agências mantêm para sustentar a publicação de periódicos considerados de qualidade em suas áreas. Esse critério, portanto, já traz consigo uma avaliação preliminar. As oito áreas que o incluíram geralmente o fizeram como critério complementar aos critérios de origem.

3.2 O QUALIS-PERIÓDICO E A SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA: COMPREENDENDO OS CRITÉRIOS À LUZ DE MERTON E BOURDIEU

(11)

A ênfase percebida em vários documentos de área de Humanidades em torno da impropriedade do fator de impacto como critério de avaliação pode evidenciar o que Bourdieu chamou de “justificação, cientificamente mascarada, do estado particular da ciência” (BOURDIEU, 2003, p. 9), num esforço não só para entrar no jogo como também para definir suas próprias regras, já que elas também estão postas em jogo, defende Bourdieu. Nesse sentido, a aproximação ou o distanciamento das humanidades com as ciências naturais revelariam mais que as particularidades objetivas, revelariam conflitos e interesses em torno da definição de ciência que os dominantes de cada campo buscam impor. Ocorre que essas tensões extrapolam os limites de cada campo e se manifestam também como lutas políticas em torno das vantagens que cada área pretende alcançar perante as relações de força em curso permanente no âmbito social, como por exemplo, a distribuição de recursos públicos entre as áreas para o financiamento da ciência em geral.

Além disso, o próprio objeto da avaliação Qualis, o periódico científico, cuja finalidade é não apenas a preservação e divulgação das descobertas científicas (cumpre a norma do comunismo de Merton), mas a operacionalização das normas mertonianas de universalismo e ceticismo organizado (MERTON, 1973), exercidas no momento de submissão do artigo para publicação (pela avaliação em revistas referendadas), e permanentemente, dada a possibilidade de acesso e crítica a qualquer momento. Por outro lado, lembrando Bourdieu (2003), a exigência de avaliação dos artigos por membros da elite e de origem internacional poderia ser interpretada como contribuindo para reforçar a definição vigente da ciência.

(12)

ainda acessibilidade física e intelectual, divulgação ampla e legitimação pela comunidade de pares.

Os critérios 9 - indexação em bases estrangeiras e/ou nacionais; 10 - fator de impacto; 12 - reconhecimento consolidado e relevância para a área; 14 - consulta aos docentes; 15 - editoras ou periódicos específicos; e 16 – natureza da entidade responsável (comercial, associação ou universidade) podem ser considerados como complementares, sugerindo esforço pela visibilidade ampla e aprovação dos pares. A indexação de periódicos em bases internacionais de elite aumenta a visibilidade e confiabilidade do artigo, contribuindo para o constante escrutínio de seus conteúdos (ceticismo organizado e verificação da prática do desinteresse). A inclusão em bases de dados nacionais e regionais desempenha o mesmo papel mas em níveis diferentes.

As listas Qualis induzem autores a enviarem artigos aos periódicos que estão nos estratos mais altos, contribuindo para o efeito Mateus, de Merton (MERTON, 1968). A definição do que é do interesse em determinada ciência, base da estratificação Qualis, e do que é “publicável” (BOURDIEU, 2003, p.127), representada por esses periódicos, torna ainda mais difícil a atração de bons artigos pelos periódicos situados nos estratos mais baixos. Todos os critérios estabelecidos nos documentos de área contribuem, em maior ou menor grau para a acumulação de vantagens pelos mais bem situados e seus produtores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os critérios examinados e os próprios documentos de área se mostraram fontes ricas para a busca do objetivo pretendido neste artigo, analisar as semelhanças e diferenças entre os critérios para avaliação de periódicos científicos brasileiros de diferentes áreas do conhecimento e reconhecer instâncias que remetessem ao pensamento de Merton e Bourdieu. Talvez porque a investigação tenha se limitado ao exame de documentos, os conceitos de Bourdieu ficaram mais evidentes nos critérios examinados.

(13)

reconhecidos e autorizados, um cenário propício para atuação de capital político e para o estabelecimento de um sistema de recompensas capaz de influenciar a estrutura de classes da ciência. Os padrões desejáveis para os periódicos parecem ser estabelecidos não pelos Programas propriamente, embora seus representantes sejam os responsáveis pelas decisões que constam nos Documentos de Área, mas pelo consenso universal do que é ciência aceitável, segundo padrão estabelecido por grupos e instituições de elite, remetendo ao princípio de campo de Bourdieu.

As diferenças no estabelecimento do que é legítimo como critério de qualidade da produção científica em cada área do conhecimento reforça o entendimento de que a ciência é um terreno marcado por lutas e conflitos e, enquanto campo social, o campo científico tende a reproduzir as relações de produção vigentes na sociedade, como os mecanismos de apropriação e, sobretudo acumulação de vantagens e a perpetuação da desigualdade na correlação de forcas entre os atores envolvidos. A afirmação dessas diferenças no âmbito de cada área, além de revelar que a ciência não é uma unidade monolítica, revela também as hierarquias entre as áreas, percebidas nas formas de distribuição de prestígio social, financiamento para pesquisa e posições na alta hierarquia das instituições científicas.

A implementação de políticas de avaliação para as áreas apresenta dificuldades não encontradas nas Ciências da Vida e Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar, para as quais parece mais fácil construir indicadores quantitativos. Podem ser percebidos nos critérios adotados pelas áreas das Ciências Humanas no Qualis-Periódicos vários critérios de natureza qualitativa ou subjetiva. O estabelecimento de processos de avaliação da produção científica por agências de fomento se origina em boa parte em decisões políticas, que visam não apenas o aprimoramento da pesquisa e do sistema como um todo, mas também insumos para alocação de fundos e gestão da ciência, no sentido de pressões na direção que a atividade científica deve seguir (na visão dos agentes de fomento). Esse cenário no qual as avaliações ocorrem influencia a comunicação científica e deve ser percebido por estudiosos da Ciência da Informação que se ocupam do estudo do tema. Merton e Bourdieu, apesar de suas diferenças, têm muito a contribuir para esses estudos.

REFERÊNCIAS

(14)

CAPES. Diretoria de Avaliação – DAV. Documento de área-Artes e Música 2010 – 2012. Brasília, 2013a. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#> Acesso em: 19 de jun. de 2014.

________. DAV. Documento de área-Geografia 2010 – 2012. Brasília, 2013b. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#> Acesso em: 19 jun. 2014.

________. DAV. Documento de área-História 2010 – 2012. Brasília, 2013c. Disponível em:

<http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#> Acesso em: 19 jun. 2015.

________. DAV. Documento de área-Sociologia 2010 – 2012. Brasília, 2013d. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#> Acesso em: 19 jun. 2015.

________. DAV. Documento de área-Interdisciplinar 2010 – 2012. Brasília, 2013e. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#>

Acesso em: 12 jul. 2015.

________.DAV. Documento de área-Ciência da Computação 2010 – 2012. Brasília, 2013f. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam# >Acesso em: 15 jul. 2015.

________.DAV. Documento de área-Ciência de Química 2010 – 2012. Brasília, 2013g. Disponível em: <http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam#>

Acesso em: 15 jul. 2015.

COSTA, A. L. F.; Yamamoto, Oswaldo Hajime. Publicação e avaliação de periódicos científicos: paradoxos da avaliação qualis de psicologia. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n1/v13n1a02.pdf> Acesso em 17 jul. 2015.

MERTON, R K. The Matthew effect in Science. Science, v.159, n. 3810, p. 56-63, 1968. Disponível em:

<http://www.unc.edu/~fbaum/teaching/PLSC541_Fall06/Merton_Science_1968.pdf> Acesso

em: 2 Set. 2014.

________. The Normative Structure of Science. In: MERTON, R K. The Sociology of

Science: Theoretical and Empirical Investigation. Chicago: The University of Chicago Press,

1973. p. 265-277.

OLIVEIRA FILHO, R. S. de et al. Fomento à publicação científica e proteção do conhecimento científico. Acta Cir. Bras., São Paulo, v. 20, supl. 2, p.

35-39, 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-86502005000800009> Acesso em 25 jul. 2015. DUTIVIDADE CIENTÍFICA: IMPACTOS NA NORMALIZAÇÃO E NA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA 1

RIBEIRO C. M.; SANTOS, R. N. M. do. ETD – Educação Temática Digital, Campinas SP, v.8, n.1, p.106-123, jun. 2006. Disponível em:

<https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/etd/article/view/2137> Acesso em 17 de julho de

Imagem

Figura 1 – Distribuição dos colégios, grandes áreas e áreas do conhecimento pela Capes  (MEC/CAPES/2015)
TABELA 1 - Incidência dos critérios para avaliação dos periódicos encontrados nos documentos de área Capes, triênio, 2009-2012

Referências

Documentos relacionados

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

Se o aluno não cursar a disciplina: METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA, só poderá entregar o Trabalho de Conclusão de Curso, após ter reaberto e cursado a

Face aos resultados obtidos neste estudo, o treino dos músculos inspiratórios parece influenciar significativamente a função pulmonar de atletas de natação de

Os antidepressivos de segunda geração, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como por exemplo a fluoxetina (Figura 4A) e a paroxetina (Figura 4B) e

Benlanson (2008) avaliou diferentes bioestimulantes, (produtos à base de hormônios, micronutrientes, aminoácidos e vitaminas), confirmando possuir capacidade

Em relação aos processos de interação nas cinco páginas, aspecto fundamental para a caracterização de uma comunidade de marca, observamos diferenças que

Este artigo discute o filme Voar é com os pássaros (1971) do diretor norte-americano Robert Altman fazendo uma reflexão sobre as confluências entre as inovações da geração de

[r]