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Ling. (dis)curso vol.16 número3

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Academic year: 2018

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FURLANETTO, Maria Marta; RAUEN Fábio José; SIEBERT, Silvânia (Eds.). Apresentação. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 16, n. 3, p. 379-380, set./dez. 2016.

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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-1603AP-0000

APRESENTAÇÃO/PRESENTATION

Um clássico da biologia, divulgado em 1976 – The selfish gene –, de autoria de Richard Dawkins1, serve-nos de inspiração para tratar do fundamento de não poucos trabalhos que investigam as práticas sociais humanas, aí incluída relevantemente a linguagem humana em suas características culturais, desdobradas em uma miríade de temáticas: racismo, humor, violência, poder, cognição, interação..., em todos os campos discursivos, pela memória.

Como as espécies surgem e evoluem? Com seu evidente bom humor, Dawkins crê que a pergunta fatal de um alienígena que chegasse à Terra e tentasse avaliar nossa civilização seria: “Eles já descobriram a evolução?” E desde esse início até o final da obra, o autor consegue, com uma linguagem informal (divulgação científica) e explorando as possibilidades da metáfora, explicar a função e o alcance dos genes como replicadores biológicos, indo além, a partir daí, ao que diz respeito, analogamente, às Ciências Sociais: as unidades replicadoras de transmissão social – os memes.

É no capítulo 11 que Dawkins trata disso explicitamente: Memes: os novos

replicadores. “Cultura” é a palavra-chave para sintetizar a outra face da moeda da vida

humana2 – que, biologicamente, corresponde ao que Dawkins chama “máquina de

sobrevivência” (dos seres vivos): transmissão genética/transmissão cultural (DAWKINS,

2007, p. 325). A linguagem verbal e todas as formas culturais demonstram exatamente o que seja a evolução cultural.

E por aí começa-se a perceber o papel da memória.

O replicador cultural, que levaria a outra modalidade de evolução, diz Dawkins,

“está bem diante de nós”, embora ainda esteja na fase de infância. É para essa unidade

que o autor busca um nome. “Mimeme” é a primeira sugestão, a partir do grego (mimese, imitação), que ele abrevia para “meme” (ou mema, se lhe dermos feição portuguesa). A forma guarda proximidade com “memória”, que é do que se trata, afinal – meme, memória, mesmo, repetição, identidade, paráfrase...

Há todo um espectro do que se pode apontar como memético em suas funções no solo da cultura: palavras, expressões, comportamentos, religiões, ideias, tendências (liberdade, igualdade, fraternidade, teorias da conspiração, boatos, ditados, aforismos, slogans, canções). É possível falar aqui, movendo-nos no campo da ética, até mesmo em plágio e autoplágio. E podemos nos mover para uma designação que abraça todos esses campos: ideologia.

Analogamente ao que sucede com os genes, que se propagam passando de corpo para corpo no jogo da herança (reprodução), memes se propagam de cérebro para cérebro, promovendo a repetição (DAWKINS, 2007, p. 330), o que constitui aquilo que, no campo

da linguagem, pode ser designado como “paráfrase”. A memória – cognitiva, coletiva,

1O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, [1976] 2007.

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FURLANETTO, Maria Marta; RAUEN Fábio José; SIEBERT, Silvânia (Eds.). Apresentação. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 16, n. 3, p. 379-380, set./dez. 2016.

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discursiva, imagética, sonora, tátil, gustativa) – guarda essas marcas, na consciência ou na inconsciência. Torna estável, ainda que o esquecimento, o deslocamento ou a renovação se processem de tempos em tempos. Com efeito: como expressa Dawkins, replicadores culturais não têm a mesma estabilidade/fidelidade de cópia dos genes. Em algum grau, aliás, o deslocamento é a regra – movimento de dispersão, deslocamento, atravessamento.

A fecundidade e a durabilidade dos memes dependem de vários fatores. Dawkins explica que a primeira característica é mais importante que a segunda. Ideias científicas, por exemplo, dependem do grau de aceitação junto aos cientistas; o grau de impacto delas pode ser calculado pelo número de referências feitas a elas onde possam aparecer (livros, periódicos, divulgação em geral) (p. 333).

Nos textos que escrevemos – e os que divulgamos nesta edição são exemplos disso

– o trabalho da memória, com todos os ingredientes adiantados sobre o movimento da cultura, com seus temas e desdobramentos, manifestam, em algum sentido e em algum grau, as características e processos do funcionamento da memória, do imaginário, da ideologia, com a imbricação dessas unidades culturais – os memes –, amplas ou partidas em elementos menores, atuando entre a repetição e a diferença, renovando-se em graus variados.

Esperamos que esta exposição sintética possa ser um elemento coadjuvante para a leitura dos textos aqui publicados.

Maria Marta Furlanetto

Fábio José Rauen

Silvânia Siebert

Referências

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