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Ortopedista e Traumatologista; Preceptor da Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia do Pronto-socorro de Fraturas - CEOP. 4

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Luxações da coluna cervical uni e bifacetárias:

avaliação epidemiológica e tratamento

Uni and biarticular cervical spine dislocations:

epidemiological assessment and treatment

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

Trabalho realizado no Pronto-socorro de Fraturas/ CEOP

1Chefe da Residência em Ortopedia e Traumatologia do Pronto-socorro de Fraturas CEOP; Professor Adjunto da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia da

Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo.

2Professor Titular da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo; Preceptor da Residência Médica de

Ortopedia e Traumatologia do Pronto-socorro de Fraturas - CEOP.

3Ortopedista e Traumatologista; Preceptor da Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia do Pronto-socorro de Fraturas - CEOP. 4Mestre em Ortopedia e Traumatologia; Preceptor da Residência Médica de Ortopedia e Traumatologia do Pronto-socorro de Fraturas - CEOP. 5Ortopedista e Traumatologista; Estagiário do Grupo de Coluna do Pronto-socorro de Fraturas - CEOP.

Recebido: 01/05/2005 - Aprovado: 12/03/2006

RESUMO

Objetivo: averiguar a epidemiologia do trauma e os resultados

obtidos com diversas técnicas cirúrgicas utilizadas para o tra-tamento das luxações cervicais baixas (C3-C7). Métodos: foi realizado um estudo retrospectivo de 45 pacientes que apre-sentavam luxação da coluna cervical uni e bifacetárias tratadas pelo Serviço de Coluna do Pronto-socorro de Fraturas de Pas-so Fundo/CEOP. Estes caPas-sos foram internados no Hospital São Vicente de Paulo, no período de junho de 1998 a junho de 2003. A idade dos pacientes variou de 16 a 64 anos. Dos 45 pacientes, apenas nove eram do sexo feminino. Resultados: a etiologia da lesão foi: queda de altura (42%), acidente automo-bilístico (42%), mergulho em água rasa (9%) e trauma direto (7%). O nível mais freqüente das lesões foi C5-C6 seguido, respectivamente, dos níveis C6-C7 e C4-C5, C3-C4 e C7-T1. Verificou-se alteração da função neurológica, no exame físico inicial, em 27 pacientes. Em 19 destes casos, a cervicobraquialgia era o único achado. Em oito pacientes, foi constatada lesão medular. O método de tração em halo-craniano foi realizado em 29 pacientes, sendo obtida redução da luxação em 18 casos, com uma média de três dias. Todos os pacientes foram subme-tidos ao tratamento cirúrgico. Em 22 (48,9%) casos foi realizada a via posterior, em 16 (35,5%) a via anterior e, em sete (15,6%), a via anterior e posterior associadas. Conclusão: foram obti-dos bons resultaobti-dos empregando-se diferentes técnicas e abor-dagens cirúrgicas.

DESCRITORES: Traumatismos da coluna vertebral/

epidemiologia; Coluna vertebral/ cirurgia; Vértebras cervicais/ lesões

ABSTRACT

Objective: to assess the epidemiologic data and the results

obtained with the different operative techniques in the treatment of the lower cervical spine dislocations (C3-C7).

Methods: a retrospective study carried out of 45 patients

with cervical spine dislocations uni-and biarticular treated by the Spine Services at the PSF/CEOP in Passo Fundo was performed. These patients were admitted at Hospital São Vicente de Paulo from June, 1998 to June, 2003. The of the patients ranged from 16 to 64 years old. From 45 patients only nine were female. Results: the etiology of the lesion was falls (42%), motor vehicle accidents (42%), diving (9%), and direct trauma (7%). The most frequent level of injuries was C5-C6, followed respectively by the level C6-C7, C4-C5, C3-C4 and C7-T1. The alteration of neurological function was observed in the initial examination in 27 patients. In 19 of the patients, the nerve root pain was the only finding. In eight patients cord injury was detected. Halo cranial traction method was performed in 29 patients and the dislocation reduction was obtained in 18 cases, with the average time of three days. All patients were submitted to surgical treatment. Twenty-two (48%) posterior approach, 16 (35,5%) anterior approach and seven (15,6%) the anterior and posterior approach associated was performed. Conclusion: good results were found using different technics and surgical approaches.

KEYWORDS: Spinal injuries/epidemiology; Spine/

surgery; Cervical vertebrae/injuries

Renato Tadeu dos Santos1

Orley Fauth Tisot2

Luiz Fernando Medeiros de Oliveira3

Rodrigo Arnold Tisot4

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INTRODUÇÃO

As fraturas e fratura-luxações da coluna cervical são co-muns e acarretam graves conseqüências para a saúde pú-blica. Sua incidência é difícil de ser estabelecida, sendo es-timada, nos EUA, em cerca de 50.000/ano1. Lesões

neuroló-gicas podem ocorrem em até 20% dos casos e, levando-se em consideração que a lesão medular é geralmente irreversível, altos custos são despendidos anualmente para que estes pacientes possam receber um atendimento multidisciplinar adequado2.

O padrão das lesões cervicais baixas (C3-C7) difere con-forme a idade do paciente, alterações degenerativas prévias e patologias diversas3-4. Critérios de estabilidade e

instabi-lidade foram introduzidos por Holdsworth5 e White et al.,

em 19766, identificaram medidas radiográficas para uma

me-lhor definição da instabilidade. Das classificações sugeridas para as fraturas da coluna cervical, a que ofereceu maiores elementos para agrupar as lesões de forma mais criteriosa foi a proposta por Allen et al., em 19827. Porém, a rotação

não foi abordada como um mecanismo principal. Magerl et al8. descreveram uma classificação para as fraturas da

colu-na toracolombar baseada nos conceitos das forças de com-pressão, distração e rotação. Em conseqüência de sua utili-zação crescente, foi adaptada por Nazarian9 para uso nas

lesões da coluna cervical.

As luxações isoladas da coluna cervical não são muito freqüentes. Talvez, por isso, passam muitas vezes desper-cebidas no atendimento hospitalar inicial, podendo ocorrer atraso de dias até meses para o correto diagnóstico3.

O método de redução das luxações cervicais varia de acordo com diversos autores10-12. Pode ser realizado com

tração axial, através do halo craniano, manobras específicas de tração manual ou, ainda, redução cirúrgica usando vias de acesso posterior ou anterior.

Quando a redução da lesão é obtida, artrodese do seg-mento previamente luxado é realizada, tendo em vista a ins-tabilidade acarretada pelas lesões discal e ligamentares.

Considerando-se o pequeno número de trabalhos que avaliam este tipo específico de lesão na coluna cervical, este estudo visa averiguar a epidemiologia do trauma e os resulta-dos obtiresulta-dos com diversas técnicas cirúrgicas utilizadas para o tratamento das luxações cervicais baixas (C3-C7).

MÉTODOS

No período compreendido entre junho de 1998 e junho de 2003, foram internados no Hospital São Vicente de Paulo, aos cuidados do Serviço de Coluna do Pronto Socorro de Fraturas de Passo Fundo, 45 pacientes portadores de luxação da coluna cervical, na região que abrange C3 a C7. Todos estes casos foram revisados nos prontuários, nas radiogra-fias e nos filmes de tomografia computadorizada dos arqui-vos do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (Same) do referido hospital. Além disso, para todos os pacientes, no seguimento pós-operatório mínimo de 12 meses, foi realiza-do entrevista individual. Desta forma, objetivanrealiza-do catalo-gar todas as informações necessárias, foi utilizado um

pro-tocolo de pesquisa, sendo analisado através do programa de informática Epi-Info 2000. Todos os casos estavam do-cumentados com radiografias da coluna cervical nas inci-dências ântero-posterior e perfil, além de filmes de tomografia computadorizada axial e sagital interessando tecido ósseo e partes moles. Além disso, radiografias da coluna cervical foram realizadas após o seguimento mínimo de 12 meses.

Os pacientes foram agrupados seguindo a classificação pro-posta por Frankel et al.13, com base nas alterações neurológicas.

Luxação da coluna cervical em osso patológico e lesão neurológica prévia ou provocada por fratura vertebral localiza-da acima de C3 não foram selecionalocaliza-das para o presente estudo. As técnicas estatísticas empregadas incluíram estatísti-ca descritiva, teste de proporção, teste de associação do Qui-quadrado e o teste exato de Fisher. Para todos os tes-tes, o nível de significado estatístico adotado foi igual a 5%.

RESULTADOS

Nesta série de 45 pacientes avaliados com o diagnóstico de luxação da coluna cervical, apenas dois casos procederam da cidade de Passo Fundo. Os outros 43 pacientes foram enca-minhados de outros municípios da região. Trinta e seis paci-entes eram do sexo masculino (80%) e nove do sexo feminino (20%). O teste de comparação entre as proporções foi consi-derado estatisticamente significativo (p < 0,001). A idade des-tes paciendes-tes variou de 16 a 65 anos, com uma média de 38,8 anos. O desvio padrão foi de 14,3 anos. Quanto à etiologia do trauma, as causas mais freqüentes foram o acidente automo-bilístico e a queda de altura. O mergulho em água rasa e o trauma direto sobre a região cervicocranial também ocorre-ram, porém, em menor proporção. Assim, das 45 lesões, 19 (42,2%) foram provocadas pelo acidente automobilístico, 19 (42,2%) por queda de altura, quatro (8,9%) por mergulho em água rasa e três (6,7%) por trauma direto. Até os 35 anos de idade, o fator causal mais freqüente de lesão foi o acidente automobilístico. Após os 35 anos de idade, o fator causal mais freqüente de lesão foi queda de altura. (Tabela 1).

Verificou-se que, dos nove pacientes do sexo feminino com luxação da coluna cervical, oito lesões foram causadas por acidente automobilístico (88,9%). Este valor é conside-rado estatisticamente significativo (p < 0,002). Já, no sexo masculino, a queda de altura foi a lesão predominante, com 18 casos (50%), mas considerada estatisticamente signifi-cativa apenas quando comparada com o mergulho em água rasa e o trauma direto (p < 0,001) (Tabela 2).

A luxação cervical unifacetária foi diagnosticada em 24 pacientes (53,3%) e a luxação cervical bifacetária em 21 pacientes (46,6%). Não houve diferença estatisticamente significativa entre os tipos de luxação (p = 0,570). A luxação cervical ocorreu, com maior freqüência, no nível C5-C6 (40%), sendo seguida do nível C6-C7 (26,7%) (Tabela 3). O número de lesões, que ocorreram no nível C5-C6, foi con-siderado estatisticamente significativo, quando compara-do com as lesões diagnosticadas respectivamente nos ní-veis C3-C4, C4-C5 e C7-T1 (p < 0,023).

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Idade Queda de Mergulho Acidente de Trauma direto Total altura em água rasa trânsito

Até 25 4 2 5 1 12

26 a 35 2 - 6 1 9

36 a 50 6 2 3 1 12

Acima de 51 7 - 5 - 12

TOTAL 19(42,2%) 4(8,9%) 19(42,2%) 3(6,7%) 45(100%)

TABELA 1-

Número de pacientes conforme a faixa etária e etiologia do trauma

Fonte: Same

Etiologia Masculino Feminino

Casos % Casos % Queda de altura 18 50 1 11,1 Mergulho em água rasa 4 11,1 -Acidente de trânsito 11 30,6 8 88,9 Trauma direto 3 8,3 -Total 36 100 9 100

Fonte: Same

TABELA 2 –

Distribuição dos pacientes conforme o sexo e etiologia da lesão

Diagnóstico tardio foi realizado em apenas dois tes (4,4%). A lesão neurológica ocorreu em 27 (60%) pacien-tes. Não houve diferença estatisticamente significativa quan-do comparada aos pacientes sem lesão neurológica (p = 0,061). O diagnóstico da lesão variou de cervicobraquialgia, encontrada em 19 (42,2%) casos, até lesão medular, encon-trada em oito (17,8%) pacientes. A compressão radicular no forame de conjugação da faceta luxada não ocorreu em uma proporção estatisticamente superior à lesão medular (p = 0,059). A recuperação completa da braquialgia ocorreu em 18 pacientes, após o procedimento cirúrgico. Em apenas um caso, houve persistência da sintomatologia. O procedimen-to cirúrgico adotado havia sido por via posterior. Neste pa-ciente, foi realizada nova intervenção cirúrgica via anterior. Obteve-se, então, remissão completa dos sintomas. A lesão medular ocorreu apenas no sexo masculino. Em dois destes casos, houve lesão incompleta (Frankel B) e, em seis paci-entes, a lesão era completa (Frankel A). A melhora na gradu-ação do escore neurológico foi observada, no seguimento, em apenas dois pacientes. Um dos casos que apresentava lesão incompleta evoluiu após 18 meses do procedimento cirúrgico para Frankel C. Um outro paciente, com lesão com-pleta, passou a apresentar síndrome medular anterior no seguimento de seis meses após o procedimento cirúrgico. O mecanismo etiológico que ocasionou a lesão medular foi queda de altura (3), acidente automobilístico (3), mergulho em água rasa (1) e trauma direto (1). A luxação cervical unifacetária ocasionou cervicobraquialgia em sete (15,5%) pacientes e a lesão medular foi constatada em três (6,7%) casos. Na luxação cervical bifacetária, a cervicobraquialgia esteva presente em 12 (26,7%) pacientes e a lesão medular em cinco (11,1%) casos (Tabela 4).

Nível da Lesão Número de pacientes % C3-C4 4 8,9 C4-C5 8 17,8 C5-C6 18 40 C6-C7 12 26,7 C7-T1 3 6,7 Total 45 100 Fonte: Same

Braquialgia Lesão Medular Total Unifacetária 7 3 10 Bifacetária 12 5 17 Total 19 (42,2%) 8 (17,8%) 27 (60%)

Fonte: Same

O tratamento inicial, através do halo craniano, foi reali-zado em 29 (65,9%) paciente. O halo foi colocado no centro cirúrgico logo após o diagnóstico da lesão. A redução das luxações facetárias foi obtida em 18 pacientes, com uma média de três dias de tração. Os 16 (34,1%) casos nos quais o halo craniano não foi colocado aguardaram o procedi-mento cirúrgico em um colar cervical. O trataprocedi-mento cirúrgi-co foi realizado em um período médio de 2,7 dias após a internação, sendo que variou das primeiras 24hs a oito dias

TABELA 3-

Distribuição dos pacientes conforme o nível da lesão

TABELA 4 –

Número de pacientes com lesão neurológica conforme a luxação diagnosticada

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de internação. Nos pacientes nos quais o halo craniano não foi instalado o procedimento cirúrgico foi realizado preco-cemente, com uma média de 1,8 dias após a internação.

Diferentes vias de acesso cirúrgicas foram utilizadas pelos cirurgiões deste serviço. Foram realizados 22 (48,8%) procedimentos cirúrgicos através da via posteri-or e 16 (35,6%) pposteri-or via anteriposteri-or. Em sete (15,5%) pacien-tes optou-se pela associação das vias de acesso cirúrgi-cas anterior e posterior.

No procedimento cirúrgico via posterior a amarria com fios de Luque por meio da técnica interprocessos, espinhosos, foi realizada em nove pacientes (Figura 1). A amarria sublaminar com fios de Luque em “8”, foi realizada em 11 pacientes (Figura 2) e, a placa cervical posterior, no maciço lateral, pela técnica de Roy-Camille, foi realizada em três pacientes (Figura 3). No pro-cedimento cirúrgico via anterior, foi realizada ressecção discal, com utilização de enxerto ósseo tricortical de ilíaco, além de estabilização com placa e parafusos (Figura 4).

Figura 1

Luxação C4-C5 unifacetária direita. Realizada artrodese via posterior com amarria interespinhosa

Figura 2

Luxação C4-C5 unifacetária esquerda. Realizada artrodese via posterior com amarria sublaminar

Figura 3 – Luxação C6-C7 unifacetária direita. Realizada artrodese via posterior com placa e parafusos nos maciços laterais

Figura 4

Luxação C5-C6 unifacetária esquerda. Realizado artrodese via anterior com placa e parafusos

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Nos pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico via anterior e posterior, associados a abordagem posterior com amarria sublaminar ou interespinhosa, foi realizada, primeira-mente, em cinco pacientes. A seguir, foi efetuada abordagem anterior, seguida de descompressão medular, quando neces-sária, além de artrodese com enxerto tricortical do osso ilíaco. Em dois destes casos, foi utilizada placa anterior e parafusos para melhor estabilização. A via anterior foi realizada, primeira-mente, em dois casos, sendo efetivada descompressão medu-lar e artrodese com placa e parafusos. A seguir, via posterior foi efetuada com amarria interprocessos espinhosos em um dos pacientes (Figura 5). No outro caso, foi efetuada a artrodese com placa posterior e parafusos. O enxerto ósseo homólogo

Figura 5

Luxação C4-C5 bifacetária. Realizada artrodese via anterior e posterior associadas

de crista ilíaca foi utilizado em 39 pacientes (88,6%). Em quatro casos (8,9%), foi utilizado enxerto homólogo de processos es-pinhosos e, em apenas um paciente (2,5%), foi utilizado osso liofilizado. Após o procedimento cirúrgico, todos os pacientes foram imobilizados em colar tipo Philadelphia por 12 semanas. O tempo médio total de internação foi de 12,8 dias, sendo que variou de quatro a 32 dias. O seguimento médio dos pacientes foi de três anos, sendo que variou de 12 a 60 meses. As queixas clínicas mais comuns, no seguimento, foram cervicalgia even-tual, relatada por sete pacientes, e braquialgia persistente em um paciente. Durante o seguimento ambulatorial, a incorpora-ção do enxerto ósseo e conseqüente eficácia da artrodese foi constatada em todos os pacientes.

DISCUSSÃO

A lesão da coluna cervical baixa (C3-C7) ocorre, com maior freqüência, no sexo masculino e o acidente automobilístico é, geralmente, o fator causal mais freqüente12,14-19. Puertas &

Gomes20, em 1998, constataram que a queda de altura,

se-guida do mergulho em água rasa, era o fator etiológico mais freqüente das lesões cervicais traumáticas que diagnosti-cavam. No presente estudo, o acidente automobilístico e a queda de altura foram os principais fatores causais das luxações cervicais facetarias. Chamou nossa atenção, o fato de que a queda de altura esteve presente principalmente nos indivíduos masculinos acima dos 35 anos de idade. Abaixo desta idade, o acidente automobilístico prevaleceu. Em nossa região, talvez em conseqüência das condições climáticas, o mergulho em água rasa não está entre as cau-sas mais freqüentes da luxação cervical.

O nível da lesão mais acometido foi C5-C6 (40%), o mes-mo relatado por diversos autores12,17-18,20. Vital et al.12, em 1998,

constataram que as luxações bifacetárias eram mais freqüen-tes que as luxações unifacetárias. No presente estudo, entre-tanto, as luxações cervicais unifacetárias foram prevalentes, embora a diferença não tenha sido significativa.

A lesão neurológica ocorreu em 60% dos pacientes, estan-do de acorestan-do com a incidência verificada por outros autores 11-12,21. Levando-se em consideração que a braquialgia

ocasiona-da pelo trauma radicular ocorreu em 19 (42,2%) pacientes e a lesão medular em apenas oito (17,8%) casos, verifica-se que, na realidade, as lesões graves, que costumam deixar seqüelas incapacitantes, não ocorrem com freqüência acentuada.

No presente estudo, das oito lesões medulares, cin-co foram ocasionadas secundariamente à luxação bifacetária.

A cervicobraquialgia também foi evidenciada com maior fre-qüência nestas lesões. Este achado pode ser explicado pela constatação de que, na luxação cervical unifacetária, há uma redução pequena do diâmetro do canal vertebral. Isto expli-ca a baixa incidência de compliexpli-cações neurológiexpli-cas signifi-cativas. Ao contrário, os pacientes com luxação cervical bifacetária, apresentam um comprometimento maior do ca-nal vertebral e, portanto, maior é o risco da lesão medular. Não podemos deixar de salientar ainda que a quantidade de energia despendida para a ocorrência de lesão facetaria bi-lateral deve ser um fator agravante significativo.

Diagnóstico tardio de luxação cervical facetaria é freqüentemente relatado por diversos autores5,22. Por isso,

todo paciente politraumatizado ou com história de trauma de alto impacto, deve ser considerado portador de uma le-são cervical instável. Portanto, adequada investigação, por meio de exame físico e radiográfico, deve ser realizado23-24.

Em nosso estudo, diagnóstico tardio foi evidenciado em apenas dois pacientes. Ambos os casos foram encaminha-dos tardiamente de outros municípios da região, pois a le-são não havia sido diagnosticada.

As fraturas-luxação da coluna cervical baixa são consi-deradas potencialmente instáveis no plano rotacional7,25. É

consenso que a mensuração do grau de translação sagital maior que 3,5mm ou uma angulação vertebral maior que 11 graus é indicativa de lesão instável da coluna cervical6,26.

Estas lesões devem ser tratadas através da redução e esta-bilização6-7,27. O objetivo do procedimento cirúrgico é evitar

recidiva do deslocamento, dor tardia e aparecimento ou agravamento de uma lesão neurológica21,28. A redução, por

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meios incruentos, de uma luxação uni ou bifacetária, geral-mente é efetiva, embora algumas vezes ocorra piora da fun-ção neurológica, pois as manobras podem deslocar frag-mentos de disco e/ou ósseos para o canal vertebral10,29. A

redução aberta, tanto por via anterior como posterior, tam-bém pode acarretar piora da função neurológica, uma vez que o edema medular da manipulação pode ocasionar sua deterioração30. A tração com halo craniano objetiva evitar o

deslocamento adicional, reduzir a luxação ou a fratura-luxação da coluna cervical e restabelecer, desta forma, a congruência articular das facetas vertebrais e do corpo ver-tebral. Embora alguns autores preconizem a manutenção da redução com halo-gesso28,31, a conduta atualmente indicada

é a estabilização cirúrgica, tanto por via anterior como pos-terior. Nesta casuística, foi realizada tração com halo craniano em 29 pacientes, dos quais foi obtida redução em 18 casos. O procedimento cirúrgico da luxação cervical era realizado assim que as condições clínicas do paciente e a disposição de sala e equipe cirúrgica eram obtidas, independentemente se ter ou não conseguido a redução da luxação.

A técnica e a via de acesso cirúrgica variaram conforme a preferência do cirurgião, levando-se em consideração a presença ou ausência de hérnia discal traumática, a idade do paciente, a energia do trauma e suas implicações.

As luxações facetárias unilaterais e bilaterais têm sido tratadas, rotineiramente com sucesso, por meio da via de aces-so cirúrgica posterior, com a utilização da técnica da amarria sublaminar, amarria interespinhosa ou placas no maciço late-ral20,25-27,32-33. Em nossa casuística, 22 (48,9%) pacientes foram

abordados cirurgicamente pela via posterior. A utilização mais freqüente desta via de acesso cirúrgica ocorreu em conseqü-ência das facilidades técnicas para efetuar a estabilização das lesões em situações nas quais não havia a associação com hérnia discal traumática ou lesão medular.

A abordagem anterior com redução aberta e fixação com placa, parafusos e enxerto ósseo vem sendo defendida, mais recentemente, por vários autores12,17-18,34. No presente

estudo, constatou-se que a via de acesso cirúrgica anterior foi realizada em 14 (31,1%) pacientes, na maioria em luxações facetarias bilaterais, nas quais a redução das luxações ocor-reu através da tração com halo craniano. Por outro lado, em alguns casos, esta via de acesso foi escolhida em conseqü-ência da constatação ou suspeita de hérnia discal traumáti-ca associada. Nestes pacientes, foi realizada ressecção distraumáti-cal e artrodese com enxerto ósseo homólogo de ilíaco, além de fixação com placa cervical e parafusos. Efetuou-se a revisão do procedimento cirúrgico via anterior em dois casos. Em um deles, havia sido constatada extrusão de parafusos, sen-do o procedimento realizasen-do oito meses após a cirurgia pri-mária. Em outro paciente foi realizada nova abordagem cirurgica após 16 meses do procedimento cirúrgico primá-rio, devido à sintomatologia de dificuldade na deglutição ocasionada pela constatação de extrusão de parafusos, além de sinais de pseudartrose.

Alguns autores têm sugerido que a presença de luxação facetária bilateral teria indicação de vias de acesso cirúrgi-cas combinadas, anterior e posterior, devido ao alto grau de energia despendida na lesão35-36. As vias de acesso

cirúrgi-cas combinadas são defendidas, também, nos cirúrgi-casos de fra-turas-luxações provocadas por alta energia cinética34. Em

nossa série de casos, optou-se pela associação das vias anterior e posterior em apenas sete pacientes. A escolha destes acessos combinados ocorreu pela prévia constatação da gravidade das lesões.

CONCLUSÃO

Verifica-se, portanto, que as luxações da coluna cervical uni e bifacetárias apresentam peculiaridades individuais que são importantes na determinação do correto e precoce diagnós-tico, além do apropriado tratamento. As diferentes técnicas cirúrgicas apresentadas são de uso corrente na literatura, sendo que bons resultados são obtidos tanto com a via de acesso cirúrgica anterior, posterior ou anterior e posterior associadas.

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Correspondência Renato Tadeu dos Santos Rua Paissandú, 928

Passo Fundo - Rio G. do Sul (RS), Brasil CEP 99010-100

(55) 54 3134333 E-mail: psf@psf.med.br Pointillart V. Reduction technique for

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Referências

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