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Tendências e Mercado:
Conceitos Introdutórios
Tarcisio D’Almeida
A existência do mundo da moda é justificada por inúmeros fatores de ordens e campos que interagem no esforço conjunto para compreender a sua importância e conseqüente impacto nas sociedades. Moderna por excelência, a moda responde por uma gama de possibilidades que articulam estilos na esfera do individual, em um primeiro estágio, e na esfera do coletivo, em busca da inserção nas tribos sociais. O vale-tudo pela satisfação a partir da roupa é seguido, historicamente, como uma das ferramentas que justifica a existência consubstanciada de um mercado voltado para a complexidade que é a moda.
Livro: Observatório de Sinais - Teoria e Prática da Pesquisa de Tendências
Autor: CALDAS, Dario
Neste livro, você encontrará uma análise abrangente e inovadora do tema tendências, um olhar crítico e desafiador sobre verdades tidas como absolutas e há muito sedimentadas nesse universo. O autor produziu uma obra que se destaca pelo questionamento do que existe de anacrônico, imediatista e superficial na construção das tendências. Partindo da desmistificação do conceito de tendência, desde sua origem à forma como é utilizado nas mais diferentes indústrias e setores, abre-se um proveitoso e necessário espaço para a reflexão, para o pensamento crítico - atitude imprescindível a todos os que se interessam em fazer avançar a prática profissional aliada à produção do conhecimento.
Como entender todo o esquema que compõe modernamente a moda? Profissionais, como jornalistas, produtores-stylists, fotógrafos, estudiosos, empresários e consultores, entre outros que se debruçam sobre o tema, mapeiam uma estratégia de reflexão e, simultaneamente, atuação no mercado de moda. Esse esforço gera uma experiência que endossa a especialização.
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Para compreender o que justifica a complexidade da existência da moda nas sociedades atuais, que são extremamente demarcadas pela era da globalização e da produção de bens ampliada, é necessário produzir uma reflexão acerca de dois tópicos que servem como essenciais para o debate:
a) o que é tendência e o que ela gera nas pessoas? b) o que é mercado e qual seu papel na moda?
Nesta aula, vamos voltar a atenção para o entendimento de tendência.
Conceituando Tendência
É importante entender como se fabrica uma tendência. Espécie de sinalizador para a condução do consumo, a tendência de/para moda é uma “filha dileta do capitalismo”, reverberou o prestigiado autor alemão Walter Benjamin (1892-1940). O vocábulo “sinalizador” é ideal para explicar a importância de, primeiramente, compreender o que é uma tendência e suas conseqüentes implicações de consumo nas sociedades.
O olhar detido de outro filósofo, dessa vez proveniente da França, dos movimentos político-estudantis dos anos 1960, fornece-nos uma contribuição relevante para mapear tendência. Conforme Gilles Lipovetsky nos explica no seu livro O Império do Efêmero: a
moda e seu destino nas sociedades modernas (1989, p.98), “o que se chama de ‘tendência’
da moda, em outras palavras, a similitude existente entre os modelos das diferentes coleções de um mesmo ano (lugar da cintura, comprimento do vestido, profundidade do decote, largura dos ombros) e que muitas vezes faz crer, erroneamente, que a moda é decretada por combinação deliberada entre os costureiros, não faz senão confirmar a lógica ‘aberta’ do poder da Alta Costura”.
Walter Benjamin (1892-1940)
Filósofo e crítico alemão, nasceu em Berlin e faleceu em Port Bou. Depois de estudar na capital alemã e Turingia, em 1918, graduou-se em Berna, com a tese intitulada Der Begriff der
Kunstkritik in der Deutschen Romantik (O Conceito de Crítica de Arte no Romanticismo
Alemão). Sua produção intelectual também alcançou a moda. A célebre citação “A moda é filha dileta do capitalismo” integra os ensaios do autor sobre o tema, produzidos na primeira metade do século XX. A força de seu pensamento crítico gerou impacto representativo para quem começa a se dedicar à moda.
Gilles Lipovetsky (1944)
O pensamento desse autor, nascido em Millau, na França, dividiu a comunidade intelectual francesa em dois blocos, entre os 1980 e 1990. Por um lado, criou uma fúria e, por outro, uma legião de admirados de sua produção intelectual. Publicou livros que são registros exatos da questão da individualidade na era moderna. Crédulos e incrédulos comentaram suas obras. O seu livro L’Empire de l’Éphémère: la mode et son destin dans les sociétés
modernes (O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas) influencia,
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Tendência para Alta Costura e para Prêt-à-Porter
Mas tendência gera, obrigatoriamente, consumo? Não necessariamente. Às vezes, uma tendência pode recorrer e gerar apenas os dispositivos de tendênciaconceitual. A própria coexistência de dois grandes blocos,
na indústria da moda, aponta para o entendimento das distinções entre tendência (no sentido geral) e tendência
conceitual (no sentido delimitado, destinado e com um único
objetivo).
Se virmos a moda como dois blocos, o da Alta Costura e o do Prêt-à-Porter, temos pistas para compreender como as tendências acontecem tanto para um como para o outro. Para Gilles Lipovetsky (1989, p. 99), “por um lado, a ‘tendência’ não é separável da Alta Costura enquanto fenômeno burocrático fechado e centralizado em Paris”.
Esse processo de produção de tendência nas ambiências da Alta Costura tem, na imagem dos costureiros, uma ferramenta essencial. “Os costureiros, ao zelarem por afirmar sua singularidade, não podem elaborar suas coleções sem levar em consideração o que aparece de original em seus concorrentes, tendo a moda por vocação surpreender e inventar continuamente novidades”, complementa Lipovetsky.
A reflexão de Lipovetsky faz-nos pensar sobre as interlocuções entre tendência,
surpreender (com algo inusitado) e inventar (algo novo e visionário). Mas ser original gera
tendência de moda? O conceito e processo de criação para o mundo da moda tem inúmeras fontes e bases originárias, que subdividem os autores e estudiosos do assunto. De um lado, autores entendem o processo criativo como dotado da originalidade; de outro, autores vislumbram um olhar mais crítico e defendem o processo criativo a partir da releitura.
Portanto, a construção de uma tendência tem um universo de palavras que a explicam em si próprias. São elas: criar, ineditismo, inventar e surpreender, entre outras. Ainda, a partir da contribuição de Gilles Lipovetsky (1989, p. 99), “a idéia inédita de um costureiro, muitas vezes tímida e pouco explorada no início, é então muito rapidamente reconhecida como tal, captada, transposta, desenvolvida pelos outros, nas coleções seguintes”.
Mas Lipovetsky (1989, p. 99) explica-nos o outro lado de uma tendência. Segundo ele, “mas por outro lado, a ‘tendência’ escapa à lógica burocrática pelo fato de que resulta também das escolhas da clientela e, depois da Segunda Guerra Mundial, das escolhas da imprensa, que se voltam num dado momento para tais ou tais tipos de modelo; a ‘tendência’ revela tanto o poder das paixonites do público ou da imprensa quanto o dos costureiros, que são obrigados, sob pena de fracasso comercial, a acompanhar o movimento, a adaptar-se aos gostos da época”.
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LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas
sociedades modernas. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
CALDAS, Dario. Observatório de Sinais: teoria e prática da pesquisa de
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