Registro: 2017.0000885553
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1006458-56.2014.8.26.0606, da Comarca de Suzano, em que é apelante SABRINA DE SOUZA OLIVEIRA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada CARMELITA AMARA DA SILVA.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E EGIDIO GIACOIA.
São Paulo, 17 de novembro de 2017.
Donegá Morandini Relator
3ª Câmara de Direito Privado
Apelação Cível nº 1006458-56.2014.8.26.0606 Comarca: Suzano
Apelante: Sabrina de Souza Oliveira Apelada: Carmelita Amara da Silva
Voto n. 39.543
RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
I. Benefício da justiça gratuita. Concessão. Impugnação da ré. Hipossuficiência da ré não contrastada pelos elementos existentes nos autos. Prevalência da presunção positivada no artigo 99, §3° do Código de Processo Civil. Manutenção da benesse.
II. Autora que afirma ter sido vítima de ofensas proferidas pela ré, sua avó paterna, em redes sociais. Falta de elementos mínimos para a comprovação do alegado ato ilícito. Autora que não se desincumbiu do seu ônus probatório, nos termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil. Ré, ademais, que é pessoa idosa e tem pouco conhecimento de informática. Terceiros que poderiam ter acesso à rede social da demandada. Conduta da ré, em seu meio social, ainda, que é incompatível com as alegadas ofensas e palavras de baixo calão. Falta de caracterização de lícito que torna impossível a condenação à reparação de danos extrapatrimoniais.
III. Litigância de má-fé da recorrente. Simples manejo de recurso previsto em lei, sem desabrido intuito protelatório. Circunstância que não admite o reconhecimento de qualquer das hipóteses do artigo 80 do Código de Processo Civil.
SENTENÇA PRESERVADA. APELO DESPROVIDO.
1. Trata-se de ação de indenização por danos morais julgada IMPROCEDENTE pela r. sentença de fls. 135/139, prolatada pela MMª Juíza de Direito Luciene Pontirolli Branco e de relatório adotado, condenando-se a autora ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), ressalvada a gratuidade.
Opostos embargos de declaração fls. 141/142, foram acolhidos para suprir a omissão e analisar o pleito de aplicação das penas de litigância de má-fé, afastando-o.
Recorre a autora.
Pretende, consoante as razões de fls. 143/145, o provimento recursal para a condenação da ré à compensação por danos morais em virtude de ter proferido ofensas contra a autora em rede social.
O recurso foi processado e respondido (fls. 153/157), com pedido de revogação da gratuidade processual e imposição das penas por litigância de má-fé à ré.
A Douta Procuradoria deixou de se manifestar em razão da maioridade da apelante (fls. 162/163).
É O RELATÓRIO.
2. De saída, à míngua de evidência concreta de quadro que rechace a hipossuficiência alegada pela interessada nada havendo de consistente sobre os rendimentos auferidos pela recorrente deve prevalecer a presunção de necessidade prevista no artigo 99, §3º do Código de Processo Civil.
Somente o alcance da maioridade pela apelante e alegação de que possui vínculo empregatício, desprovida de qualquer respaldo probatório, é insuficiente para a pretendida revogação das benesses da justiça gratuita.
Superada a questão prefacial, no mérito, o apelo deve ser desprovido.
Consoante consta dos autos, a apelante afirma que sofreu ofensas e xingamentos, em rede social, juntando cópias das telas das mensagens postadas em agosto de 2014, e imputando à apelada a sua publicação. Alega que, em razão das referidas postagens, sentiu-se humilhada, motivo pelo qual
pleiteia a condenação da recorrida, sua avó paterna, à reparação de danos morais.
Contudo, razão não lhe assiste.
Não houve demonstração de elementos materiais mínimos a corroborar o alegado na inicial, não tendo a apelante se desincumbido do seu ônus probatório, previsto no artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil.
Verifica-se que houve realização de audiência de instrução, com o depoimento pessoal da apelante e da oitiva de testemunhas da apelada. De tais provas, resultou inconteste que a apelada não possui histórico de brigas em seu meio social ou de comportamento inadequado, não sendo do feitio da apelada a utilização de palavras de baixo calão.
A propósito, a própria apelante afirmou que “nunca teve
qualquer problema anteriormente com a avó. A depoente atualmente foi bloqueada na rede social pela avó e por toda a família paterna, mas afirma que anteriormente nunca havia presenciado nenhuma palavra ofensiva e de linguajar vulgar que tivesse partido do perfil da requerida ainda que em relação a outras pessoas. Também no trato pessoal, seja com a depoente, seja com outras pessoas nunca percebeu comportamento semelhante da requerida” (fl. 118). As testemunhas da recorrida também esclareceram: “O comportamento pessoal da requerida é muito bom e a depoente nunca ouviu de sua boca palavras de baixo calão. Também nunca presenciou a requerida envolvida em confusões” (fl. 120).
De outra parte, a testemunha Cremilda afirmou que a recorrida, pessoa idosa, tem pouco conhecimento de informática e que mal sabe acessar as redes sociais: “Não foi mencionado se era do conhecimento da requerida
nenhuma briga ou discussão entre as partes. Também nunca viu a requerida envolvida em qualquer briga ou discussão com outras pessoas. Não é do perfil da requerida o uso de palavras de baixo calão e ofensivas (...) a requerida não tem conhecimento nenhum de informática. Também não sabe utilizar as redes sociais. Quem fez o perfil no Facebook para a requerida foi sua vizinha” (fl. 122).
Em sendo assim, restou controvertida nos autos a questão de acesso da rede social da apelada por terceiros, tendo afirmado que a própria apelante poderia ter acesso ao seu perfil de rede social. Note-se que, em depoimento pessoal, a apelante afirma que uma prima sua teria a senha da apelada, o que corrobora que a postagem pode ter sido feito por terceira pessoa estranha à lide.
Corrobora essa assertiva que o comportamento da apelada em seu meio social, que não era considerado inadequado e tampouco era vista em brigas ou confusões, como já destacado, afirmando a própria recorrente que nunca teve antes qualquer entrevero com a sua avó paterna.
Desta feita, à míngua de prova de ilícito imputável à recorrida, torna-se insustentável a pretensão ao recebimento de indenização por danos morais. Frise-se, a propósito, na lição de ANTONIO JEOVÁ SANTOS,
“para que exista dano moral é necessário que a ofensa tenha alguma grandeza e esteja revestida de certa importância e gravidade” (Dano
Moral Indenizável. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 111).
Preservado o provimento de origem, por fim, não é o caso da condenação da recorrente às penas de litigância de má-fé (fl. 157). Entende-se que o simples manejo de recurso previsto em lei, sem o desabrido intuito protelatório, não abre campo para a penalidade pretendida, nos termos do artigo 80 do Código de Processo Civil, restando incabível a aplicação de
multa na forma pretendida.
3. Diante de todo o exposto, de rigor a preservação da r. sentença impugnada por seus próprios e jurídicos fundamentos.
No mais, tendo em vista o disposto no artigo 85, §11, do Código de Processo Civil, majoram-se os honorários devidos pela apelante ao patrono da apelada para o equivalente a R$ 3.000,00 (três mil reais), ressalvada a gratuidade concedida na origem.
NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO.
Donegá Morandini Relator