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O bioterismo: evolução e importância

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O bioterismo:

evolução e importância

Antenor Andrade

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

ANDRADE, A., PINTO, SC., and OLIVEIRA, RS., orgs.Animais de Laboratório: criação e experimentação [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. 388 p. ISBN: 85-7541-015-6. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

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O

Bioterismo:

evolução e importância

Antenor Andrade

I

NTRODUÇÃO

A contínua evolução do conhecimento humano, especialmente o da biologia, bem como das medicinas humana e veterinária, repercute no desenvolvimento de ações envolvendo a criação e experimentação animal, desencadeando a constante e necessária atualização de suas técnicas e procedimentos.

Por mais de um século, os animais de laboratório vêm sendo utilizados na pesquisa biomédica. Estudos de anatomia, fisiologia, imunologia e virologia, dentre outros, realizados em animais de laboratório, permitiram um avanço considerável no desenvolvimento da ciência e tecnologia.

Anteriormente, os animais de laboratório eram utilizados como simples ‘instrumentos de trabalho’ que ajudavam na investigação de diagnóstico e diferentes pesquisas sem se levar em conta sua qualidade genética e sanitária.

Em geral, os institutos de investigação eram responsáveis pela criação dos animais de laboratório, porém não possuíam estruturas adequadas e o pessoal não era habilitado para desenvolver essas atividades. Além disso, a inexistência de ração apropriada e a ausência de condições higiênicas nos criadouros não permitiam que fossem produzidos animais geneticamente definidos e com garantia sanitária. Dessa forma, para alguns, os animais de laboratório eram considerados como ‘um mal necessário’ e nessas circunstâncias, quando eram utilizados nas investigações e pesquisas, os resultados obtidos não eram confiáveis.

Atualmente, porém, os pesquisadores exigem que esses animais reúnam condições ideais, isto é, que atendam aos parâmetros de qualidade genética e sanitária, uma vez que nada mais são que ‘reagentes biológicos’ e os resultados dos experimentos são afetados em razão da qualidade de cada espécie utilizada. Assim, para garantir a confiabilidade do experimento, animais ‘definidos’ devem ser usados.

Animais de laboratório definidos são aqueles criados e produzidos sob condições ideais e mantidos em um ambiente controlado, com conhecimento e acompanhamento microbiológico e genético seguros, obtidos por monitoração regular. Os chamados animais de laboratório convencionais podem satisfazer as exigências da experimentação biológica, ao passo que animais obtidos na natureza não as satisfazem, pois não são submetidos a nenhum tipo de controle.

Tais exigências levaram nossos antecessores à busca de solução para essa problemática e, assim, criou-se uma autêntica especialidade – ‘A Ciência em Animais de Laboratório’. Esta tem tido grande desenvolvimento nos últimos anos, alcançando níveis muito elevados em vários países como: Estados Unidos da América, Alemanha, Inglaterra, Japão, Holanda e França.

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H

ISTÓRICO

A utilização de animais de laboratório em investigação biológica teve, inicialmente, estreita relação com a ‘patologia comparada’. Na época, como as autópsias em cadáveres humanos estavam proibidas, os cientistas procuravam nos animais a origem e as características dos processos patológicos que afetavam a espécie humana, fazendo necropsias nesses animais para deduzir semelhanças.

Cientistas como Aristóteles, Galeno, Hipócrates, entre outros, estudaram as semelhanças e diferenças entre os órgãos dos animais e do homem, interpretaram fenômenos biológicos, descobriram o funcionamento de órgãos, estudaram a circulação sangüínea, a respiração, a nutrição e os processos de digestão, utilizando várias espécies de animais. Isso ocorreu alguns anos antes de Cristo e foi o começo do uso de animais de laboratório, que contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento da ciência.

Mais tarde, com os estudos da bacteriologia, a utilização de animais de laboratório tornou-se mais necessária ainda. Assim, desde os primeiros trabalhos de Pasteur e Koch, já no século XVIII, coelhos, cobaias, ratos, camundongos e hamsters passaram a ser ‘ferramenta de trabalho’ dos pesquisadores, imprescindível para identificar os germes causadores das enfermidades contagiosas. Sem a experimentação nesses animais, não teriam sido produzidas as primeiras vacinas contra o carbúnculo e contra a raiva.

Analisando-se historicamente, observa-se que o Brasil apresentava, até a década de 70 do século passado, uma situação precária em matéria de instalações e cuidados na produção de animais em condições de utilização em trabalhos experimentais. Todavia, o esforço exercido por algumas instituições oficiais, no sentido de construir biotérios em condições adequadas, dotados de barreiras físicas contra a propagação de infecções, com sistema de climatização apropriado, tem mudado esse quadro, constituindo grande avanço. Algumas delas, inclusive, já produzem animais SPF (livres de germes patogênicos específicos), gnotobióticos (flora conhecida) e germfree (livres de germes).

O considerável progresso alcançado nos últimos 30 anos, nessa área, exige o treinamento de profissionais de nível superior na especialidade ‘Animais de Laboratório’, bem como a capacitação de técnicos que desenvolvem suas atividades em biotérios de criação e de experimentação.

Na maioria dos países, a produção e padronização dos animais de laboratório mais utilizados em pesquisa encontram-se em pleno aperfeiçoamento. Tudo converge para a aquisição de modelos genéticos – ecológica e sanitariamente definidos – solicitados para a realização dos trabalhos dos pesquisadores.

As técnicas atuais de engenharia genética e de biologia molecular abriram muitos caminhos para a criação e produção desses animais. A área dos transplantes de órgãos e tecidos é cada dia mais impulsionada, bem como a de produção de derivados biológicos para uso em humanos com base na obtenção de animais transgênicos. O controle das doenças hereditárias também se desenvolve à proporção que os dias passam.

A evolução vertiginosa da Ciência & Tecnologia alerta para a necessidade urgente da implantação de um sistema moderno e ágil – por que não dizer, de vanguarda –, em biotérios, que permita a troca eficiente entre os avanços das pesquisas, incluindo a tendência atual da criação de métodos alternativos que venham a minorar a aplicação e o uso tradicional dos animais de laboratório.

I

MPORTÂNCIA

É incalculável o valor da contribuição dos animais de laboratório às novas descobertas para a prevenção de doenças e para a sua cura, bem como para o desenvolvimento de novas técnicas de tratamento cirúrgico. Esse reagente biológico é fundamental como modelo no estudo de doenças ainda incuráveis – como muitos cânceres, a AIDS e a esclerose múltipla. Contribui ainda para o controle de mais de dez mil produtos

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farmacêuticos em uso corrente no mundo e que, testados quanto à eficácia, esterilidade, toxicidade e potência resultam na sobrevida de muitos pacientes.

Atualmente o animal de laboratório é prioritário no campo da experimentação, e os centros de produção desses animais têm uma grande preocupação com sua produção e manejo.

Para assegurar a produção de animais de laboratório, na qualidade que satisfaça os requisitos para o uso nas pesquisas médicas, são necessárias instalações apropriadas, equipamentos especializados e pessoal habilitado, sem o que não conseguiremos obter adequadamente este ‘reagente’.

Esses animais representam modelos adequados e, portanto, necessários ao estudo de diferentes modalidades da biologia e medicina experimentais. Assim, o desenvolvimento da biotecnologia depende da utilização desses animais que necessariamente terão de ser ‘limpos’ para que não haja interferência nos resultados das pesquisas. A produção e o desenvolvimento de vacinas e de anticorpos monoclonais, a avaliação e o controle de produtos biológicos, os estudos de farmacologia e toxicologia, estudos de bacteriologia, virologia e parasitologia, estudos de imunologia básica, de imunopatologia, de transplantes e de drogas imunossupressoras etc., exigem o emprego de animais definidos genética e sanitariamente.

Pelas razões descritas anteriormente e pela necessidade das experimentações serem realizadas em animais antes que qualquer produto seja aplicado ao homem – uma vez que este não pode ser transformado em cobaia e considerando, ainda, que a essência de nosso trabalho é salvar vidas humanas mediante a produção desses animais e sua posterior utilização –, o bioterismo assume um papel de suma importância e deve ser encarado com total responsabilidade tanto por parte daqueles que desenvolvem tais atividades quanto por parte de nossos dirigentes.

D

EFINIÇÃO

Um biotério nada mais é que uma instalação dotada de características próprias, que atende às exigências dos animais onde são criados ou mantidos, proporcionando-lhes bem-estar e saúde para que possam se desenvolver e reproduzir, bem como para responder satisfatoriamente aos testes neles realizados.

N

ECESSIDADES

B

ÁSICAS

DE

UM

B

IOTÉRIO

INSTALAÇÕES – devem ser específicas para esse fim, porque somente assim conseguiremos condições ideais

para a produção e manutenção desses animais.

EQUIPAMENTOS – dada a especificidade do trabalho, necessário se faz que tenhamos máquinas especiais

para a obtenção dos resultados desejados (máquinas de lavar gaiolas, autoclaves etc.).

MODELOANIMAL – criar o animal desejado, de acordo com as pesquisas e os testes a serem realizados.

O pesquisador biomédico trabalha com modelos animais que, necessariamente, diferem do homem. Entretanto, tais modelos podem ser comparados com o homem, baseados, principalmente, no que consiste em uma semelhança geral sob o aspecto de caracteres anatômicos e fisiológicos.

Necessário se faz, portanto, que sejam produzidos animais que, quando inoculados com uma determinada substância, apresentem reações semelhantes às do homem.

Dessa forma, os animais criados para esse fim deverão possuir as seguintes características:

• fácil manejo; • prolificidade;

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• pequeno porte;

• baixo consumo alimentar; • fisiologia conhecida; • ciclo reprodutivo curto.

ROTINASEPROCEDIMENTOS – devem ser adotadas rotinas diárias para que se possa cumprir um programa

de produção, de controle ou de pesquisa. Os procedimentos operacionais dos equipamentos devem ser rigorosamente observados para sua melhor utilização e para a segurança do operador.

PESSOAL – as atividades desenvolvidas em um biotério exigem pessoal qualificado para que se possa

obter bons resultados. Além de pessoal capacitado, bem treinado e que goste de animais, o bioterista deve possuir alguns requisitos, como:

• SAÚDE – deve ser controlada, periodicamente, para evitar a transmissão de doenças aos animais. A

periodi-cidade desse controle depende do tipo de biotério e das condições particulares de cada instituição;

• DISCIPLINA – para que possa cumprir com acerto todas as tarefas e determinações, o bioterista deve

possuir autocontrole e disciplina;

• TEMPERAMENTOCALMO – o bioterista, ao executar suas atividades, deve ser tranqüilo nas ações, a fim de

evitar o estresse dos animais;

• RESPONSABILIDADE – para que possa desenvolver seu trabalho sem causar nenhum prejuízo aos animais,

o bioterista deve ter responsabilidade suficiente para não deixar, sob hipótese nenhuma, de executar suas tarefas, principalmente quando se trata de alimentação dos animais;

• RESPEITOPARACOMOANIMAL – o animal deve ser respeitado como um ser vivo, que sente dor, fome, sede

e medo, para que possa ter assegurada a sua sobrevivência;

• CUIDADO COM OMATERIAL – o material é caro e de difícil aquisição, além de ser indispensável para a

execução do trabalho. Assim, deve-se ter o máximo de cuidado com ele, a fim de se preservá-lo e tê-lo sempre à disposição;

• GOSTARDOQUEFAZ – é outro importante requisito que o bioterista deve possuir, porque fazemos sempre

melhor tudo aquilo que prazerosamente executamos.

B

IBLIOGRAFIA

CANADIAN COUNCIL ON ANIMAL CARE (CCAC). Guide to the Care and Use of Experimental Animals. Ottawa:

Canadian Council on Animal Care, 1984.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Guide for the Care and Use of Laboratory Animals. Washington, D.C.: National

Academy Press, 1996.

SAIZ MORENO, L.; GARCIA DE OSMA, J. L. & COMPAIRE FERNANDEZ, C. Animales de Laboratório: producción,

manejo y control sanitario. Madrid: Instituto National de Investigações Agrarias/Ministério de Agricultura,

Pesca y Alimentación, 1983.

STEPHENS, U. K. & PATTON, N. M. (Eds.). Manual for Laboratory Animal Technicians. USA: Ed. The American

Association for Laboratory Animal Science, 1984.

UNIVERSITIES FEDERATION FOR ANIMAL WELFORE (UFAW) The Ufaw Handbook on The Care and Management of

Referências

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