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RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 853.071 BAHIA

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA

RECTE.(S) :UNIÃO

PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

RECDO.(A/S) :LELIVALDO ANTONIO DE BRITO

ADV.(A/S) :IRAN FURTADO FILHO

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM

AGRAVO. CONSTITUCIONAL.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: NEXO DE CAUSALIDADE. SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra inadmissão de recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, al. a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da Primeira Região:

“CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA

DO ESTADO. ATO JUDICIÁRIO. ATO DE OFICIAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO. 1. Os atos judiciários praticados por serventuários da justiça, não incluídos entre os atos típicos jurisdicionais, são passíveis de responsabilização do Estado com base no art. 37, parágrafo 6º da CF. 2. No caso em análise, estão configurados todos os elementos da responsabilidade objetiva da UNIÃO, uma vez que restou demonstrada a existência de lesão ao patrimônio do autor, decorrente de ato de agente de Estado, que extrapolando o cumprimento de dever legal, adjudicou bem diverso e

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2. No recurso extraordinário, a Agravante alega ter o Tribunal de origem contrariado o art. 37, § 6º, da Constituição da República.

Sustenta “a pretensão indenizatória do Autor basea[r]-se em um suposto erro judicial, na medida em que o oficial de justiça constitui-se longa manus do juiz, e atua somente executando suas ordens. A tese do autor consiste em afirmar que o ato do oficial de justiça lhe causou prejuízo indenizável. Ocorre que o ordenamento jurídico brasileiro tem como taxativa as hipóteses de indenização de atos judiciais. Segundo a jurisprudência e a doutrina pátrias não é possível impor a União a condenação pleiteada pelo Autor” (fl. 393).

Assevera que “o pleito de indenização baseado em suposto erro in judicando e/ou error in procedendo na seara civil mostra-se como pedido juridicamente impossível, incidindo assim no art. 267, inciso VI, do CPC” (fl. 394).

3. O recurso extraordinário foi inadmitido ao fundamento de incidência da Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal (fls. 398-399).

No agravo, assevera-se não “incidir a Súmula 279 deste Colendo Supremo Tribunal Federal, eis que a análise da pretensão da União envolve, apenas e tão somente, a efetiva violação de dispositivo constitucional, matéria de direito, passível de apreciação pela Corte Superior, eis que compridos os requisitos e pressupostos recursais definidos na Constituição” (fl. 404).

Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.

4. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n. 12.322/2010, estabeleceu que o agravo contra decisão pela qual não se admite recurso extraordinário processa-se nos autos do recurso, ou seja, sem a necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso.

Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja

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decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário.

5. Razão jurídica não assiste à Agravante. 6. O Tribunal Regional assentou que

“A sentença combatida resolveu a controvérsia dos autos com os seguintes fundamentos:

‘(...)

A prova pericial requerida na inicial não pôde ser realizada, diante das dificuldades para a localização das cabeças de gado retirada da fazenda do autor.

No entanto, a prova oral foi, em geral, favorável à parte autora, tendo sido confirmadas as alegações contidas na inicial.

Cabe ressaltar que o litisdenunciado, em sua contestação (fls. 96), admitiu que havia outras cabeças de gado no curral, mas ele não poderia adivinhar quais eram as que foram penhoradas, já que elas haviam sido indicadas pelo administrador da fazenda e não havia marcas distintas entre elas que permitissem a diferenciação.

Se, no momento da apreensão e entrega do gado, o autor e o administrador não estavam na fazenda e não era possível a identificação das cabeças de gado penhoradas, caberia ao Oficial de Justiça marcar outra data para a entrega e não retirar indiscriminadamente as reses que se encontravam no curral, algumas recém-paridas, conforme comprovado através dos depoimentos de fls. 190/191 e 306/307.

De acordo com a testemunha Jeová Amorim de Almeida, as 33 vacas penhoradas ficaram separadas durante uma semana, mas o Oficial de Justiça não apareceu para pegá-las, voltando, apenas quinze dias depois, quando levou as 33 cabeças de gado.

Afirmou o autor, em seu depoimento pessoal (fls. 211), que o Oficial de Justiça apreendeu ‘trinta e três reses de alta linhagem, leiteiras, valendo cada qual algo em torno de R$800,00 (oitocentos reais), enquanto que as relacionadas na autorização judicial valiam aproximadamente R$300,00

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(trezentos reais).’ Diante da diferença de preço acima apontada, pode-se constatar o enorme prejuízo que teve o acionante, em decorrência da conduta do Oficial de Justiça, que não agiu, no ato, com o cuidado necessário ao fiel cumprimento de suas atribuições, contribuindo, assim, para a entrega ao adjudicante de cabeças de gado que não haviam sido penhoras.

Houve, portanto, um fato lesivo causador de danos patrimoniais à parte autora, suficiente para justificar o pagamento da indenização pleiteada.

O Estado pode e deve ser responsabilizado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros e tal responsabilidade é objetiva e está amparada pelo art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a seguir transcrito:

‘Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.’

De acordo com a transcrição supra, a União Federal deve responder pelos danos que os seus agentes causarem a terceiros e tal responsabilidade é objetiva, sem culpa, decorrente do risco da prestação do serviço, sendo assegurado, apenas, o direito de regresso contra o funcionário responsável pelo dano nos casos de dolo ou culpa.

Ao contrário do que sustenta a União às fls. 52, não se trata de responsabilidade por ato do Poder Judiciário ou por erro judiciário e sim em decorrência de ato praticado por funcionário público no exercício de suas funções, que se enquadra perfeitamente na hipótese prevista pelo art. 37, § 6º, da Carta Magna.

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Isto posto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, condenando a União Federal a pagar à parte autora indenização correspondente à diferença entre os valores das reses mestiças que deixaram de ser levadas e as reses retiradas da Fazenda na madrugada do dia 16 de março de 1994, bem como indenização em virtude da perda das novilhas que pereceram ao serem apreendidas e levadas as vacas recém-paridas, acrescidas de lucros cessantes, devendo o montante ser apurado em liquidação de sentença, devidamente corrigido e acrescidos de juros de mora de 0,5% ao mês a partir da citação.’

No caso em análise, a pretensão da parte-autora cinge-se à reparação por danos materiais decorrente de ato de Oficial de Justiça

ad hoc da Justiça Trabalhista que no cumprimento de mandado de

adjudicação teria agido com excesso ou erro.

Ao contrário do alegado pela União, não se cabe falar em irresponsabilidade do Estado por ato derivados do exercício da função jurisdicional, tendo em vista que, nos termos dos ensinamentos de José dos Santos Carvalho Filho para o exame do ‘tema da responsabilidade civil do Estado, é preciso distinguir a natureza dos atos oriundos do Poder Judiciário. Como todo Poder de Estado, o Judiciário produz inúmeros atos de administração além daqueles que correspondem efetivamente à sua função típica. São, portanto, atos administrativos, diversos dos atos jurisdicionais, estes peculiares ao exercício de sua função’.

Acrescenta o renomado autor que ‘No que concerne aos atos administrativos (ou atos judiciários), incide normalmente sobre eles a responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que, é lógico, presentes os pressupostos de sua configuração.’ Arremata, ainda, que os atos jurisdicionais típicos que, em princípio, seriam insuscetíveis de redundar na responsabilidade objetiva do Estado ‘são aqueles praticados pelos magistrados no exercício da respectiva função. São, afinal, os atos processuais caracterizadores da função jurisdicional, como os despachos, as decisões interlocutórias e as sentenças’.

Assim, concluiu-se que a responsabilidade civil do Estado, no presente caso, é objetiva, a teor do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. Dessa forma, para caracterizar o dever de indenizar do

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Estado, basta a prova do dano material ou moral sofrido, uma ação ou omissão imputada a um agente estatal e o nexo de causalidade entre o dano e a conduta, não tendo a vítima, pois, que provar culpa ou dolo do agente público. A desconfiguração de qualquer desses elementos importa na exclusão da responsabilidade civil do Estado – assim como a culpa concorrente ou exclusiva da vítima.

No caso em análise, estão configurados todos os elementos da responsabilidade objetiva da UNIÃO, uma vez que restou demonstrada a existência de lesão ao patrimônio do autor, decorrente de ato de agente de Estado.

O auto de penhora e avaliação juntado aos autos às fls. 29 é claro ao descrever os bens penhorados como sendo: trinta e três vacas mestiças, pesando aproximadamente doze arrobas cada. Ao passo que, as testemunhas ouvidas confirmaram que as reses apreendidas consistiam em gado leiteiro de raça e de valor muito superior ao gado penhorado (fls. 245/247 e 306/307).

O próprio oficial de justiça ad hoc , Antônio Paraíso Moraes, confirmou em seu depoimento pessoal, que realizou, no momento do cumprimento do mandado, a substituição de algumas reses penhoras por outras, supostamente mais adequadas (fls. 191).

Incabível in casu a alegação de que o dano teria se dado por culpa da vítima. Pelo contrário, ficou demonstrado nos autos que a parte autora não concorreu para dano, bem como empreendeu todos os esforços, ao seu alcance, para tentar evitá-lo.

Portanto, não há dúvida de que a ação do servidor foi causadora de dano patrimonial ao autor, sendo passível de reparação” (fls.

383-385, grifos nossos).

O Tribunal de origem concluiu estar configurada a responsabilidade extracontratual da Agravante com base no conjunto fático-probatório constantes dos autos. A apreciação do pleito recursal demandaria o reexame de provas, as quais não podem ser reapreciadas em recurso extraordinário. Incide na espécie a Súmula n. 279 deste Supremo Tribunal:

“RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO -

PRESSUPOSTOS PRIMÁRIOS QUE DETERMINAM A

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RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO - O NEXO DE CAUSALIDADE MATERIAL COMO REQUISITO INDISPENSÁVEL À CONFIGURAÇÃO DO DEVER ESTATAL DE REPARAR O DANO - NÃO-COMPROVAÇÃO, PELA PARTE RECORRENTE, DO VÍNCULO CAUSAL - RECONHECIMENTO DE SUA INEXISTÊNCIA, NA ESPÉCIE, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS - SOBERANIA DESSE PRONUNCIAMENTO JURISDICIONAL EM MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA - INVIABILIDADE DA DISCUSSÃO, EM SEDE RECURSAL EXTRAORDINÁRIA, DA EXISTÊNCIA DO NEXO CAUSAL - IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA (SÚMULA 279/STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o ‘eventus damni’ e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. Precedentes. - O dever de indenizar, mesmo nas hipóteses de responsabilidade civil objetiva do Poder Público, supõe, dentre outros elementos (RTJ 163/1107-1109, v.g.), a comprovada existência do nexo de causalidade material entre o comportamento do agente e o ‘eventus damni’, sem o que se torna inviável, no plano jurídico, o reconhecimento da obrigação de recompor o prejuízo sofrido pelo ofendido. - A comprovação da relação de causalidade - qualquer que seja a teoria que lhe dê suporte doutrinário (teoria da equivalência das condições, teoria da causalidade necessária ou teoria da causalidade adequada) - revela-se essencial ao reconhecimento do dever de indenizar, pois, sem tal demonstração, não há como imputar, ao causador do dano, a responsabilidade civil pelos prejuízos sofridos pelo ofendido. Doutrina. Precedentes. - Não se revela processualmente lícito reexaminar matéria fático-probatória em sede de recurso extraordinário (RTJ 161/992 - RTJ 186/703 - Súmula 279/STF),

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prevalecendo, nesse domínio, o caráter soberano do pronunciamento jurisdicional dos Tribunais ordinários sobre matéria de fato e de prova. Precedentes. - Ausência, na espécie, de demonstração inequívoca, mediante prova idônea, da efetiva ocorrência dos prejuízos alegadamente sofridos pela parte recorrente. Não-comprovação do vínculo causal registrada pelas instâncias ordinárias” (RE

481.110-AgR, Relator o Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJ 9.3.2007).

“AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE CIVIL

DO ESTADO. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. REEXAME DE MATÉRIA PROBATÓRIA. SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A via extraordinária não é adequada para se questionarem as circunstâncias fáticas que ensejaram o afastamento da condenação em danos morais e se fazer processar, como se pretende no presente agravo regimental, reexame de matéria probatória reservada às instâncias ordinárias de mérito. 2. Incidência da Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal. 3. Agravo ao qual se nega provimento” (AI 565.159-AgR/SP, de minha relatoria, Primeira

Turma, DJ 16.2.2007).

Nada há, pois, a prover quanto às alegações da Agravante.

7. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. II, al. a, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 1º de dezembro de 2014.

Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

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