MELHORIA DO PODER DE CONSERVAÇÃO DOS FRUTOS DE ACTÍNIDEA ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DE CÁLCIO
Antunes MDC1, Neves N2, Oliveira M3, Franco J4,Curado F2, Rodrigues S5, Veloso F6, Panagopoulos T1
1 Universidade do Algarve, F.E.R.N., Campus de Gambelas, 8000-117 Faro, Portugal.
Email: mantunes@ualg.pt
2 Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral, Av. Fernão de Magalhães, 465,
3001-955 Coimbra, Portugal.
3 DRAEDM-Divisão de Vitivinicultura e Fruticultura, Quinta de Sergude, Sendim,
4610-764 Felgueiras, Portugal.
4 Escola Superior Agrária de Coimbra, Bencanta 3040-316 Coimbra, Portugal.
5 KIWICOOP - Cooperativa Frutícola da Bairrada, C.R.L., Malhapão, Oiã, 3770
Oliveira do Bairro, Portugal.
6 Frutas Douro ao Minho S.A., Lugar da Gandra, Guimarães, Portugal.
Resumo
O cálcio tem sido aplicado em várias fruteiras para aumentar a capacidade de armazenamento dos frutos. No âmbito dos projectos AGRO 231 e 688 foram feitas na cultura da actinídea, aplicações de cálcio com o objectivo de demonstrar o efeito da sua aplicação foliar (CaCl2 e CaO) e em pós-colheita na melhoria da capacidade de conservação dos frutos de actinídea.
Os tratamentos com cálcio não afectaram a produção e o teor de sólidos solúveis (ºBrix) durante o armazenamento. Verificou-se que os tratamentos pós-colheita com 2%
cloreto de cálcio foram benéficos na manutenção da dureza dos kiwis em todos os
calibres principalmente nos maiores.
Palavras-chave: Kiwi, armazenamento, calcio, firmeza, ºBrix. Abstract
Calcium has been used in many fruit trees to increase the storage capacity of fruits. In the projects AGRO 231 e 688 were tested, in actinidia crop, calcium applications with the objective to demonstrate the effect of its foliar application and in postharvest on the increase storage life of kiwifruit.
Treatments with calcium did not affect production or soluble solids content (ºBrix) through storage. It was verified that postharvest treatments with 2% calcium chloride were beneficial for the preservation of kiwifruit firmness through storage mainly in the higher fruit sizes.
Key words: Kiwifruit, storage, calcium, firmness, ºBrix. 1. Introdução
Os kiwis podem ser armazenados em boas condições por períodos até 4-6 meses a
0ºC se estiverem sãos e qualquer fonte de etileno for removida das câmaras frigorificas
(Antunes e Sfakiotakis, 2002). No entanto, os frutos amadurecem durante este período variando a taxa de redução da firmeza em função das cultivares, regiões ou práticas culturais, com alguns frutos a reduzirem a sua firmeza mais cedo que outros (Xie e Jiang,
1994). O controlo do amadurecimento em pós-colheita é muito importante
comercialmente para que se possa satisfazer continuamente as necessidades do mercado. Os benefícios da aplicação de cálcio na melhoria do poder de conservação dos frutos têm sido mencionados na bibliografia, principalmente por reduzirem a taxa de amolecimento dos frutos e o amadurecimento em geral (Souty et al., 1995).
Gerasopoulos et al. (1996) e Xie et al. (2003) referem o benefício da aplicação de cálcio em pré e pós-colheita na retenção da firmeza de kiwis durante o armazenamento. Aplicações de cálcio em pós-colheita foram também referidas como benéficas para os kiwis por Hopkirk, et al. (1990) e Antunes et al. (2005).
Pretendeu-se com este trabalho verificar o efeito da aplicação de cálcio pré e pós-colheita na melhoria do poder de conservação dos kiwis da cultivar ‘Hayward’.
2. Material e métodos
O ensaio foi constituído por três blocos casualizados com 4 plantas por repetição.
Os tratamentos foram os seguintes: T1 – testemunha; T2 – pulverização da planta com
anti-stipp, com uma concentração de CaCl2 de 0,03%; T3 – pulverização da planta com chelal, com uma concentração de CaO de 0,03%; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução contendo 2% de CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com anti-stipp numa solução contendo 2% de CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com chelal numa solução contendo 2% de CaCl2.
O cálcio foi aplicado directamente sobre as plantas, com um pulverizador de dorso, ao vingamento dos frutos, um mês após o vingamento e cerca de 1,5 meses antes da colheita. Após a calibragem dos frutos procedeu-se à imersão em CaCl2, nas modalidades correspondentes, durante 2 minutos. Os frutos permaneceram a secar durante 2-4 horas antes de entrar na câmara frigorífica a 0ºC.
Foram retirados para análise frutos após 15 dias, 2, 4 e 6 meses de armazenamento, apresentando-se neste trabalho os dados de 15 dias e 6 meses.
3. Resultados
Nos gráficos da figura 1 podemos verificar que os calibres >105g e 85-105g
foram os que obtiveram maior produção seguidos por 75-85g e 65-75g. Não se verificou uma influência estatisticamente significativa na produção com a aplicação de cálcio.
Na figura 2 podemos observar que o teor de sólidos solúveis dos kiwis não apresenta diferenças significativas entre tratamentos ou calibres após 15 dias de armazenamento. O teor de sólidos solúveis após 6 meses de armazenamento aumentou significativamente, mas sem apresentar diferenças significativas entre tratamentos ou calibres (Fig. 3).
Não se verificaram diferenças significativas no grau de dureza entre tratamentos após 15 dias de armazenamento (Fig. 4). O grau de dureza diminuiu significativamente
após 6 meses de armazenamento (Fig. 5). Verificou-se que os tratamentos com cálcio,
principalmente a imersão pós-colheita, foram benéficos na manutenção do grau de dureza dos kiwis. O efeito foi ligeiramente superior nos frutos de maior calibre.
4. Discussão
Os resultados obtidos com o ensaio de aplicação de cálcio, permitiram-nos constatar que não existiu um efeito estatisticamente significativo dos tratamentos com
cálcio na produção em nenhum dos calibres dos kiwis. Os calibre >105g e 85-105g
Os tratamentos com cálcio também não afectaram o teor de sólidos solúveis (ºBrix) durante o armazenamento. De acordo com a bibliografia (Gerasopoulos et al., 1996 e Antunes et al., 2005), os tratamentos com cálcio não afectam o ºBrix dos frutos, têm sim um efeito positivo na manutenção do grau de dureza dos mesmos durante o armazenamento.
Os tratamentos com cálcio, principalmente a imersão pós-colheita, foram benéficos na manutenção do grau de dureza dos kiwis principalmente nos calibres maiores e, portanto, mais importantes comercialmente. O aumento das concentrações de cálcio de 1% Antunes et al. (2005) para 2% em imersão foi importante para a melhoria do poder de conservação dos kiwis. Hopkirk et al. (1990) testaram concentrações de 2 a 5% CaCl2 com benefício para a dureza da polpa, mas verificaram que concentrações de 5% causaram “pitting” nos kiwis. No nosso estudo a qualidade dos frutos não foi afectada. O principal benefício foi na preservação da dureza dos kiwis no final do período de armazenamento, o que é importante para a comercialização dos frutos.
De acordo com Antunes e Sfakiotakis (1997), os kiwis em armazenamento diminuem o grau de dureza para cerca de 2kgf principalmente nos 2 primeiros meses e depois mais lentamente até 0,5-1kgf nos 2 a 4 meses seguintes. As aplicações complementares de cálcio têm um efeito positivo no retardamento da diminuição do grau de dureza.
Este trabalho sugere que a imersão de kiwis em 2% CaCl2 pode prolongar a sua
capacidade de armazenamento. As concentrações de 0,03% CaCl2 (Antistip) ou 0,03%
CaO (Chelal) usadas em pulverização parecem ser muito baixas estando a ser testadas no âmbito do projecto concentrações superiores.
É importante referir a alta sensibilidade do kiwi ao etileno, pelo que se deve garantir a sua eliminação das câmaras de conservação. Caso contrário, o efeito benéfico da aplicação de cálcio poderá ser significativamente reduzido.
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelos projectos ‘Regularidade produtiva, qualidade e conservação dos frutos de actinídea nas regiões de Entre-Douro e Minho e Beira Litoral’, Programa Agro/medida 8.1/ nº 231 e "Demonstração e promoção de práticas agrícolas que assegurem a qualidade e segurança alimentar e que minimizem o impacto ambiental da cultura da Actinídea.” Programa AGRO / Medida 8 /nº 688.
Referências
Antunes, M.D.C.; Neves, N.; Curado, F.; Rodrigues, S. and Panagopoulos, T. 2005. The effect of pre and postharvest calcium applications on ‘Hayward’ kiwifruit storage ability. Acta Hort. 682:909-916.
Antunes, M.D.C. and Sfakiotakis, E.M., 1997. The effect of controlled atmosphere and ultra low oxygen on storage ability and quality of ‘Hayward’ kiwifruit. Acta Hort. 444:613-618.
Antunes, M.D C. and E.M Sfakiotakis. 2002. Ethylene biosynthesis and ripening behaviour of 'Hayward' kiwifruit subjected to some controlled atmospheres. Postharvest Biol. Technol. 26:167-179.
Gerasopoulos, D., Chouliaras, V. and Lionakis, S. 1996. Effects of preharvest calcium chloride sprays on maturity and storability of Hayward kiwifruit. Postharvest Biol. Technol. 7: 65-72.
Hopkirk, G.; Harker, F.R. and Harman, J.E. 1990. Calcium and the firmness of kiwifruit. NZ. J. Crop. Hort. Sci. 18:215-219.
Souty, M., Reich, M., Breuils, L., Chambroy, Y., Jacquemin, G and, Audergon, J. M. 1995. Effects of postharvest calcium treatments on shelf-life and quality of apricot fruit. Acta Hort.. 384:619-623.
Xie, M., and Jiang, G.H. 1994. Relationship of the physiological changes during postharvest ripening to the storage quality of kiwifruit. Acta Agric. Zhej. 64(3): 124-127.
Xie, M.; Jiang, G.H.; Zhang, H.Q. and Kawada, K. 2003. Effect of preharvest Ca-chelate
treatment on the storage quality of kiwifruit. Acta Hort. 610:317-324.
Figuras 0 5 10 15 20 25 30 35 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamenτos P ro d u ç ã o c a li b re /á rv o re ( K g ) Calibre 65 -75 g. 0 5 10 15 20 25 30 35 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos P ro d u ç ã o c a li b re /á rv o re ( K g ) Calibre 75-85 g. 0 5 10 15 20 25 30 35 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos P ro d u ç ã o c a li b re /á rv o re ( K g ) Calibre 85-105 g. 0 5 10 15 20 25 30 35 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos P ro d u ç ã o c a li b re /á rv o re (K g ) Calibre >105 g.
Figura 1 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre a produção por calibre. T1 –
testemunha; T2 – pulverização da planta com 0,03% CaCl2; T3 – pulverização da planta com 0,03% CaO; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução de 2% CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com CaCl2 numa solução de 2% CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com CaO numa solução de 2% CaCl2.
0 2 4 6 8 10 12 14 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 65-75 g. 0 2 4 6 8 10 12 14 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 75-85 g. 0 2 4 6 8 10 12 14 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 85-105 g. 0 2 4 6 8 10 12 14 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre >105 g.
Figura 2 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre do teor de sólidos solúveis (TSS) por
calibre após 15 dias de armazenamento a 0ºC. T1 – testemunha; T2 – pulverização da planta com 0,03% CaCl2; T3 – pulverização da planta com 0,03% CaO; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução de 2% CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com CaCl2 numa solução de 2% CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com CaO numa solução de 2% CaCl2.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Ttratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 65-75 g 0 2 4 6 8 10 12 14 16 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 75-85 g 0 2 4 6 8 10 12 14 16 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre 85-105 g 0 2 4 6 8 10 12 14 16 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos T S S ( ºB ri x ) Calibre >105 g
Figura 3 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre do teor de sólidos solúveis (TSS) por
calibre após 6 meses de armazenamento a 0ºC. T1 – testemunha; T2 – pulverização da planta com 0,03% CaCl2; T3 – pulverização da planta com 0,03% CaO; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução de 2% CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com CaCl2 numa solução de 2% CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com CaO numa solução de 2% CaCl2.
0 1 2 3 4 5 6 7 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( k g f. c m -2 ) Calibre 65-75 g . 0 1 2 3 4 5 6 7 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre 75-85 g . 0 1 2 3 4 5 6 7 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre 85-105 g. 0 1 2 3 4 5 6 7 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre >105 g.
Figura 4 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre o grau de dureza da polpa por calibre
após 15 dias de armazenamento a 0ºC. T1 – testemunha; T2 – pulverização da planta com 0,03% CaCl2; T3 – pulverização da planta com 0,03% CaO; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução de 2% CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com CaCl2 numa solução de 2% CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com CaO numa solução de 2% CaCl2.
0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre 65-75 g 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre 75-85 g 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre 85-105 g 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 T1 T2 T3 T4 T5 T6 Tratamentos D u re z a ( K g f. c m -2 ) Calibre >105 g
Figura 5 - Efeito dos diferentes tratamentos sobre o grau de dureza da polpa por calibre
após 6 meses de armazenamento a 0ºC. T1 – testemunha; T2 – pulverização da planta com 0,03% CaCl2; T3 – pulverização da planta com 0,03% CaO; T4 – imersão dos frutos testemunha numa solução de 2% CaCl2; T5 – imersão dos frutos pulverizados com CaCl2 numa solução de 2% CaCl2 e T6 – imersão dos frutos pulverizados com CaO numa solução de 2% CaCl2.