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GT V: Direitos Humanos e a questão da Violência Contra Crianças e Adolescentes na América Latina.

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Academic year: 2021

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GT V: Direitos Humanos e a questão da Violência Contra Crianças e Adolescentes na América Latina.

Título de Trabalho: Pornografia infantil virtual e a violação dos direitos da criança no Brasil.

Nome: Beatriz Penedo de Freitas Radiche Leite

Titulação: Graduada em Direito pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – IBMEC, pós-graduanda em Criminologia, Direito e Processo Penal.

Instituição: Centro de Pós-Graduação em Direito da Universidade Cândido Mendes (CPGD-UCAM).

Resumo

O presente trabalho se propõe a uma análise do crime de pornografia infantil virtual, previsto no artigo 241-A, do Estatuto da Criança e do Adolescente e de seus principais questionamentos e consequências, como a violação dos direitos fundamentais da criança, previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e na legislação infraconstitucional.

Palavras Chave: criança, internet, pornografia infantil,

violência.

Abstract

This essay proposes the analysis of the crime of child pornography in the internet, as established in article 241-A, the Statute of Children and Adolescents, and its main questionings and consequences, like the violations of child fundamental rights, provided in the Constitution of Brazil 1988 and the infra-constitutional legislation.

Keywords: child, internet, child pornography, violence.

O avanço tecnológico e as descobertas da ciência transformaram significativamente a sociedade em que vivemos. A internet é considerada uma das

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maiores invenções de todos os tempos, pois proporciona o encontro de culturas, de informações e a possibilidade de comunicar-se com locais antes afastados pela barreira física e geográfica. No ciberespaço, há uma liberdade antes nunca vivenciada, na medida em que sua utilização contribui para um processo irreversível de integração econômica, social, cultural e política entre os países.

Não obstante os benefícios que a internet proporciona, a rede mundial de computadores tornou-se um ambiente propício para a prática de crimes e inseridas neste contexto, as crianças tornaram-se alvos vulneráveis, pois não possuem discernimento para identificar as situações de perigo.

Entre os crimes virtuais cometidos contra a criança, merece especial atenção a pornografia infantil, que é a representação de comportamentos sexuais, reais ou simulados, que envolvam crianças ou adolescentes, de forma direta ou metafórica.

Valter Kenji Ishida afirma que a pornografia infantil:

É a representação, por quaisquer meios, de cenas ou objetos obscenos destinados a serem apresentados a um público e também expor práticas sexuais diversas, com fim de instigar a libido do observador.

Esse crime devastador é comumente praticado por meio de sites ou

homepages disponíveis ao público ou inseridas na Deep Web, o que dificulta a

prevenção ou responsabilização pelo material divulgado. Redes como Facebook,

Youtube e Whatsapp são utilizadas como ferramentas para grupos que desejam

conectar-se, a fim de conseguir visualizar e fazer download de vídeos, imagens ou desenhos que envolvam crianças em cenas de sexo.

Através da internet, a pornografia infantil atingiu proporções anteriormente nunca vistas. Fatores como o anonimato, a dificuldade de obter provas e a deficiência na legislação contribuem para a difusão do conteúdo

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publicado de forma rápida e eficiente, visto que alcança milhares de pessoas ao redor do mundo.

Com isso, pessoas que enxergam a rede mundial de computadores como um meio eficaz para a prática de pornografia infantil se sentem seguras ao ponto de compartilharem, publicarem e até mesmo divulgarem vídeos com abuso de crianças aos quais participaram ativamente, imbuídas de uma sensação de impunidade característica do ambiente virtual.

Desde 2006, o Brasil vem subindo de colocação no ranking de páginas de pornografia infantil, estando atualmente em 4º lugar. Tal posição gera inquietação, se considerado que o crime de pornografia infantil virtual encontra-se em primeiro lugar nas denúncias feitas pelos brasileiros. O Disque 100, serviço da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) recebeu mais de 100mil denúncias entre os anos de 2011 e 2014 relativas ao abuso e exploração sexual de crianças, sendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia líderes de denúncias.

Em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados em 2006, o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) afirmou que “Cerca de mil novos sites de pedofilia são criados todos os meses no Brasil. Destes, 52% tratam de crimes contra crianças de 9 a 13 anos” .

Dados da ONG SAFERNET BRASIL demonstram que em 2015:

A SAFERNET Brasil recebeu e processou 43.182 denúncias anônimas de pornografia infantil, envolvendo 17.433 páginas (URLs) distintas (das quais 5.142 foram removidas), hospedadas em 4.956 hosts diferentes conectados a internet através de 3.956 números de IPs distintos, atribuídos para 54 países em 5 continentes. As denúncias foram registadas pela população através dos 7 hotlines brasileiros que integram a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.

Apesar disto, menos de 1% das vítimas em todo o mundo são identificadas e recebem apoio jurídico e psicológico, restando muitas vezes

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abandonadas ou escravizadas por seus abusadores. A gravidade do tema e o aumento de crianças vítimas de tamanha violência no Brasil desperta a necessidade de proteção por parte do Estado e da sociedade.

O ordenamento jurídico brasileiro criminaliza a pornografia infantil e as condutas relacionadas, através dos artigos 240 a 241-E, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Inicialmente, só era mencionado como crime, nos artigos 240 e 241, a representação sexual envolvendo crianças no teatro, na televisão e no cinema. Com as mudanças na sociedade e o avanço da tecnologia, em 2008 os referidos artigos foram profundamente alterados, sendo adicionadas condutas mais específicas por intermédio dos novos artigos 241-A ao 241-E.

No que tange a pornografia infantil difundida através da rede mundial de computadores, o artigo 241-A, do Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu que:

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou

telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo

explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

A previsão da pornografia infantil por meio da internet no Estatuto da Criança e do Adolescente está intimamente ligada à evolução mundial na proteção as garantias e direitos das crianças, definidos em Tratados Internacionais de Direitos Humanos. O combate a esta prática horrenda prestigia a Doutrina da Proteção Integral, consagrada no cenário brasileiro a partir da promulgação do rol de garantias fundamentais, estabelecido no artigo 227, da Constituição Federal de 1988.

Dentre os direitos fundamentais previstos constitucionalmente, o direito ao respeito e a dignidade são brutalmente violados quando da exposição de cenas ou imagens com cunho sexual envolvendo crianças.

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O respeito para com a criança deve estar ligado à inviolabilidade de sua integridade física, psíquica e moral, que devem ser preservadas no intuito de que cresça sem interferências prejudiciais O art. 17, do Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de regulamentar o disposto na Carta Magna prevê que a criança deve ter sua imagem preservada, assim como sua autonomia, ideias e crenças.

Quanto à dignidade, a criança deve ser protegida de qualquer violência, constrangimento ou tratamento desumano e degradante, ao passo que humilhações ferem frontalmente a dignidade da pessoa humana, preconizada no artigo 1º, III, da CRFB, como também no artigo 18, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Nesse sentido, é dever do Estado, da família e da sociedade respeitar e tratar dignamente a criança, protegendo-a de qualquer forma de abuso e auxiliando-a quando da ocorrência de crimes que maculam o desenvolvimento saudável.

Quanto à proteção, o meio mais eficaz de exercê-la é através da prevenção. A família, por ser o contato mais próximo da criança, deve estabelecer regras e limites para o uso da internet, assim como orientá-la para que não forneça dados pessoais, não coloque imagens e vídeos na rede ou marque encontros com pessoas que somente se comunicam virtualmente.

Aliada à família, a escola, os órgãos estatais e as associações também exercem um papel importante na prevenção da pornografia infantil virtual, a partir da divulgação de informações sobre o tema e orientações de como agir em caso de perigo.

Além da prevenção, é necessário o efetivo combate por parte do Estado e de toda a sociedade, com o objetivo de descobrir como funciona a indústria da pornografia infantil pela internet e de punir eventuais criminosos.

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O compartilhamento, armazenamento ou venda de imagens e vídeos pornográficos envolvendo crianças contribui para um mercado altamente rentável, liderado por organizações criminosas especializadas em sequestro de crianças, exploração sexual e produção e distribuição de imagens e vídeos com cenas de sexo infantil. Estas organizações são complexas e bem estruturadas, havendo uma hierarquia nas funções desempenhadas por seus participantes, assim como gírias próprias, formas de negociação às escusas e sistemas de segurança eficientes que dificultam o rastreamento.

Destarte, observa-se que a prevenção e o combate à pornografia infantil por meio da internet devem ocorrer de forma séria, visto a gravidade e a vulnerabilidade inerente às crianças. Por ser uma rede em escala mundial, as medidas a serem tomadas devem originar-se da cooperação internacional, como também no plano nacional.

No âmbito interno, a pornografia infantil virtual ainda vem sendo amplamente divulgada, gerando, como consequência, a violação dos direitos fundamentais da criança. Por conta disto, a sociedade e o Estado aliaram-se para prevenir e combater a ocorrência desse crime, através da elaboração de leis, do uso de softwares que auxiliam no reconhecimento do computador utilizado para prática do crime e da criação de meios pelos quais a população possa efetuar denúncias.

Todavia, percebe-se que ainda há muito que ser feito para diminuir a ocorrência desse crime. A despeito das operações e prisões efetuadas pelos órgãos policiais e das condenações perpetradas pelos entes competentes, o Brasil não conhece a fundo o cenário complexo que envolve a pornografia infantil na internet.

Apesar de ser um problema conhecido desde a concepção da internet, não há dados estatísticos organizados que demonstrem quem são as maiores vítimas e quais medidas estão sendo eficazes, como também não há uma estrutura adequada para que os órgãos policiais possam combater o crime na mesma rapidez

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com que são cometidos. Faltam equipamentos especializados, funcionários capacitados e ações coordenadas entre diferentes órgãos brasileiros, assim como uma maior cooperação internacional.

Depreende-se que os esforços até agora despendidos demonstram que se está caminhando, a passos lentos, para a diminuição da pornografia infantil virtual e dos crimes relacionados, como a exploração sexual. Diante da dificuldade de responsabilização, haja vista a questão do anonimato e o problema referente à obtenção de provas no mundo virtual, algumas medidas já foram tomadas, restando agora que, o Estado, a sociedade e todos aqueles engajados em proteger as crianças frente quaisquer violências unam esforços para conscientizar e prevenir a ocorrência deste ilícito.

Bibliografia

Livros e periódicos

AMIN, Andréa Rodrigues. Evolução Histórica do Direito da Criança e do

Adolescente. In Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010.

BAUMAN. Zygmunt. Globalização: As consequências humanas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

DALLARI. Dalmo de Abreu. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado –

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ISHIDA. Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e

Jurisprudência. 16ªed. São Paulo: Atlas. 2015.

KORCZAK, Janusz. DALLARI. Dalmo de Abreu. O direito da criança ao respeito. 3ª ed. [S.l]: Summus. 1986.

MOREIRA. José Carlos Barbosa. Pedofilia na internet e o Estatuto da Criança e do

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jul. 2001.

Arquivos digitais

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Relatório

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http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/c dhm/documentos/relatorios-de-atividades/Relatorio%20de%20Atividade%202006.pd f/view.

CHILDHOOD BRASIL. Números da Causa. Disponível em:

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FERREIRA. Luiz Antônio Miguel. O Estatuto da Criança e do Adolescente e os

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internet: a intervenção do Estado e o poder econômico. Disponível em:

<http://www.upf.br/seer/index.php/rjd/article/view/2166/1398>.

SAFERNET, Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Disponível em: http://indicadores.safernet.org.br. .

Referências

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