APMT - 1919
Mensagem do Presidente do Estado de Mato Grosso D. Francisco de Aquino Correa, Bispo de Prusíade, dirigida à Assembléia Legislativa em 7 de setembro de 1919.
Instrução Pública
“A instrução Pública ministrada pelo Estado é somente primária e secundária; aquela, regulada pelo Decreto nº 265 de 22 de outubro de 1910 e esta pelo Decreto nº 417 de 11 de janeiro de 1916, que reorganizou o Liceu Cuiabano, e pelos Decretos nº 266 de 3 de dezembro de 1910 e 353 de 13 janeiro de 19114 aprovado pela Lei nº679 de 22 de julho do mesmo ano, referentes à Escola Normal.
Essa legislação, porém, inçada de disposições, contraditórias, umas inconvenientes, outras, carece de ser quanto antes, reformada de modo a facilitar a ação do Governo contra os não poucos abusos. Amparados por disposições legais que não se coadunam com o meio, e visam proteger antes o cargo, que os interesses do ensino, os professores, sobretudo os mais afastados, sentem-se facilmente proclives a decairem da sua nobre a árdua missão.
E atualmente Diretor Geral o Dr. Estevão Alves Correa, que, nomeado por ato nº 434 de 12 de julho de 1916, tem exercido o cargo com dedicação e critério.
A atual administração não tem descurado este importante serviço público, seja aumentando o número das escolas, seja melhorando, e fiscalizando o professorado. Notável melhoramento já se conseguiu no ano decorrido.
O ensino primário continua a ser ministrado pelos Grupos Escolares e escolas isoladas.
Os primeiros, em números de 5 vão dando bons resultados, sobretudo o anexo à Escola Normal sob a denominação de Escola Modelo o qual está sendo cada vez mais acreditado.
As escolas isoladas na capital e nas sedes dos municípios, correspondem em geral, ao que delas se deve esperar, não acontecendo, infelizmente, o mesmo com as do interior.
As pequenas localidades do interior, espalhadas a grandes distâncias uma das outras, pelo imenso território do Estado, sem comunicação fácil onde a vida ainda rudimentar é sem conforto, sem higiene e cada vez mais
dispendiosa, não podem gerir suas escolas, nem permitem uma eficaz fiscalização.
No interior de Mato Grosso, o problema de ensino, como, em geral, todos os outros, prendem-se intimamente ao problema da viação.
Nesta Capital, o ensino primário e secundário pode-se considerar resolvido.
Com efeito, para uma população de 14 a 15 mil almas achavam-se matriculados, em 10 de julho último, 1575 alunos, no curso primário, e 277 no secundário, como se vê do seguinte quadro:
Alunos matriculados Curso secundário
Seção Masculina
Liceu Cuiabano ...83
Liceu Salesiano “São Gonçalo”...75
Escola Normal ... 7
Colégio Mato Grosso... 13
Seção Feminina Escola Normal...98
Colégio “Mato Grosso” ... 1
Ensino Primário Seção Masculina Escola Modelo anexa à Normal...184
Grupo Escolar “Senador Azeredo”... 64
Primeira escola isolada... 40
Segunda escola isolada... 29
Terceira escola isolada... 48
Quarta escola isolada... 62
Liceu Salesiano “São Gonçalo” ... 134
Colégio “São Pedro”... 92
Colégio “São Francisco”... 74
Colégio “Mato Grosso”... 16
Escola Americana... 6
Seção Feminina
Escola Modelo anexa à Normal...282
Grupo Escolar “Senador Azeredo”... 78
Primeira escola isolada... 60
Segunda escola isolada... 64
Terceira escola isolada... 30
Quarta escola isolada... 25
Colégio “São Pedro”... 15
Colégio “São Francisco”... 23
Colégio “Mato Grosso”... 2
Escola Americana... 19
Colégio “Santa Catharina”... 42
Asilo “Santa Rita”... 40
Escola Profissional Municipal... 70
Ensino Profissional Escola de Aprendizes Artífices... 76
Liceu Salesiano “São Gonçalo” ... 22
Escola Profissional Municipal ... 70
Curso Noturno Escola de Aprendizes Artífices ...25
Colégio “Mato Grosso”...11
Nota: Na Escola de Aprendizes Artífices, os alunos estão distribuídos pelas oficinas, da seguinte forma: Marcenaria... 18
Sapataria... 19
Alfaiataria ... 27
Selaria ... 5
Na escola profissional municipal, o curso de costuras e prendas domésticas é frequentado pelas alunas do curso primário.
Resumo da matrícula
Curso Secundário ... 277
Curso Primário...1.575 Total 1.852 No interior do Estado, além dos Grupos do Rosário, Poconé e Cáceres, existiam em 31 de março último, 142 escolas públicas distribuídas do seguinte modo pelos municípios: Capital ... 30 Corumbá ... 11 Mato Grosso... 4 Cáceres ... 1 Rosário ... 12 Diamantino ... 5 Poconé ... 5 Três Lagoas ... 3 Livramento ... 5
Santo Antônio de Rio Abaixo ... 14
Coxim ... 7 Miranda... 4 Nioaque... 3 Campo Grande ... 6 Aquidauana ... 5 Bela Vista ... 7 Porto Murtinho ... 2 Rio Madeira ... 3 Ponta Porã ... 5 Sant’Anna do Paranaíba... 2 Araguaia ... 8 Total 142
Além dessas existiam, naquela data, mais as seguintes municipais e particulares, também sujeitas à fiscalização do Estado:
Corumbá: A sociedade Instrução Corumbaense mantém o estabelecimento de ensino “Ginásio Corumbaense”, cujo número de matriculados é ainda pequeno, mas que, por certo, corresponderá, de futuro, ao patriótico esforço dos seus diretores.
Além dessa escola, possui Corumbá o importante Colégio Santa Thereza de instrução primária e secundária, instalado em magnífico prédio, com uma matrícula de 185 alunos, e o colégio Imaculada Conceição com 95; aquele, para o sexo masculino, sob a direção dos Padres Salesianos, que o fundaram em 1899, e este para o sexo feminino, sob a direção das religiosas Filhas de Maria Auxiliadora.
Mantém, outrossim, a municipalidade 5 escolas primárias, sendo 3 na cidade de Corumbá e 2 na povoação do Ladário.
Campo Grande: Nesta cidade, de povoação já numerosa, diversas casas de ensino tem sido fundadas. Salienta-se, dentre estas, o Instituto Pestalozzi, criado e dirigido pelo esforço do Dr. Arlindo de Andrade Lima, que soube dar-lhe um corpo docente uniforme, todo ele composto de profissionais do ensino paulista.
Ministra a instrução primária e secundária, tendo um curso normal especializado, junto ao qual funciona uma seção infantil, muito freqüentada. A matrícula foi de 210 alunos.
De caráter particular, também existe “A Escola Republicana”, que funciona há, mais ou menos, três anos, tendo uma seção de música e outra de trabalhos manuais e desenho.
Mantida pela Intendência, possui igualmente Campo Grande uma escola mista, de ensino primário, cuja frequência total de 300 crianças, aproximadamente, que ali recebem a necessária instrução.
Miranda: A 1º de julho de 1917 fundou-se nesta cidade, o Instituto Mirandense de ensino primário e secundário. A matrícula naquela época foi de 40 alunos de ambos os sexos.
Nioaque: A Associação escolar deste município, mantém na sede da Vila, umaa escola primária dirigida pelo cidadão José F Sampaio. Fundada em 16 de julho de 1917, e inaugurada a 15 de fevereiro de 1918, matriculou, neste último ano, 34 alunos, que não apresentou a exames, devido à aproximação da gripe espanhola.
Mantém, igualmente, a “Associação Mixta Protetora do A B C”, na povoação do Bom Jardim, que é a sua sede, uma escola fundada em 26 de Agosto de 1917.
No lugar denominado Mata,neste município, existe, outrossim, uma escola mixta denominada “Alves Ferreira”.
Estatística Escolar
Devido à instabilidade dos professores e à imperfeita fiscalização, não pode a Diretoria Geral conseguir, até hoje, dados certos sobre a matrícula e frequência das escolas do interior; pode-se, porém, calcular a população escolar em 6000, cabendo às escolas particulares e municipais o número de 1200 e aos Grupos Escolares 500, sendo:
Grupo de São Luiz de Cáceres...219 Grupo de Rosário Oeste ...154 Grupo de Poconé... 127
Somando-se a população escolar do interior, assim obtida, com a de 1575, que é a da capital, teremos um total, para o Estado, de 7.575 crianças que frequentam escolas primárias numa população de 250 a 300 mil habitantes, atribuída a Mato Grosso.
Como se vê, este coeficiente escolar é muito baixo, a terça parte do que devera ser. As causas já foram apontadas, mas cumpre acrescentar-lhes ainda os preconceitos, a má compreensão, o desinteresse de muitos pais de família que absorvidos na labuta da vida rural, infelizmente, bem pouco atendem à instrução de seus filhos.
É de esperar que a obrigatoriedade do ensino primário, decretada pela vossa patriótica Resolução nº 779 de 30 de julho do ano passado, venha auxiliar grandemente o desenvolvimento deste importantíssimo ramo da governança dos povos.
Em todo caso, Srs. Deputados, o que deve preocupar seriamente os altos Poderes do Estado, é, sobretudo a eficiência das nossas escolas, que penso não poderão por mais numerosas que sejam, corresponder, deveras a sua nobre missão, mormente em nossas condições mesológicas, sem uma rigorosa fiscalização bem regulamentada e remunerada, para o que peço encarecidamente a preciosa atenção da nobre Assembléia.
Escola Normal
Esta Escola, criada pela Lei nº 533 de 4 de julho de 1910, regulamentada pelo Decreto nº 266, de 3 de dezembro de 1910, e instalada a 1º de fevereiro de 1911, vê aumentar anualmente, como consta do quadro abaixo, o número dos seus alunos, o que muito eloquentemente traduz a confiança, aliás justa, em que é tida. A sua organização foi reformada pelo Decreto nº 353, de 13 de janeiro de 1914, aprovado pela Lei nº 679, de 22 de julho do mesmo ano.
O curso pedagógico era, no começo, de 3 anos; em 1913, porém, foi dividido em 4, de acordo com o programa da Congregação.
Matricularam-se nesta Escola em :
Anos Alunos Alunas Total
1911 2 14 16 1912 7 36 43 1913 8 27 35 1914 12 34 46 1915 12 61 73 1916 6 59 65 1917 5 61 66 1918 3 78 81 1919 10 95 105 Total 65 465 530
Terminaram o curso e foram diplomados 6 alunos e 31 alunas, sendo em:
Anos Alunos Alunas Total
1913 1 5 6 1915 2 7 9 1916 1 5 6 1917 2 8 10 1918 - - - Total 6 31 37
Em virtude da sobredita reforma de 1913, deixou a Escola de dar turma de professores no ano seguinte.
A preferência do sexo feminino é bem notória, parecendo isto provar que, pelo menos, em nosso meio, o magistério não é cobiçado pelos homens, naturalmente por exigir muito sacrifício, com pequeno resultado pecuniário.
Continua a dirigir criteriosamente a Escola Normal e Modelo, o Dr. Cesário Alves Correa.
Liceu Cuiabano
Instalado em moderno e magnífico prédio, conjuntamente com a Escola Normal e a Escola Modelo, data a sua criação da lei nº 536, de 3 de dezembro de 1870, foi organizado pelo Decreto de 4 de março de 1880, e reorganizado pelos de nº 10 de 7 de novembro de 1891, nº 68, de 20 de junho de 1896, nº 139, de 2 de janeiro de 1903, e nº 296, de 13 de janeiro de 1912, todos eles expedidos em virtude de autorização legislativa. Equiparado, pela segunda vez, o seu programa de ensino ao do Colégio Pedro II, da Capital Federal, pelo Decreto nº 417, de 11 de janeiro de 1916, gozou das vantagens da equiparação nas termos do Decreto Federal nº 11.530, de 18 de março de 1915. Cassada em 1916, foi posteriormente restabelecida esta regalia em 12 de fevereiro do corrente ano, por decisão do Conselho Superior do Ensino.
