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A Imagem da Mulher no Cenário Jornalístico Contemporâneo na Plataforma Instagram 1

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020

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A Imagem da Mulher no Cenário Jornalístico Contemporâneo na Plataforma Instagram 1

Rhanna Viana SAROT2 Maria Zaclis Veiga FERREIRA3 Universidade Positivo, Curitiba, PR RESUMO

A presente pesquisa analisou a representação da mulher na plataforma Instagram dos jornais Folha de S. Paulo, El País Brasil, BBC Brasil e HuffPost Brasil com o intuito de

identificar os principais temas relacionados às ações de empoderamento e de violência contra a mulher, quantificamos os discursos visuais nos quais as mulheres são protagonistas e apontamos estratégias de pesquisa que poderão auxiliar a identificação do uso de discursos visuais. A partir de leituras relacionadas ao jornalismo, representação feminina e a relação verbo visual, foram definidas as categorias de análise. Os resultados apontaram que há tratamento e quantificação diferenciados, relacionados ao tema, entre os jornais pesquisados.

PALAVRAS-CHAVE: webjornalismo; Instagram; fotografia; representação feminina. INTRODUÇÃO

A internet é uma rede expressiva de comunicação que permite a troca de informações de maneira dialógica e multilateral. Todos podem conversar com todos. Essa característica a transforma em uma ferramenta de grande impacto político e social que pode exercer papel importante no estabelecimento da democracia e nas relações comunitárias. As plataformas digitais de conteúdo jornalístico se fazem presentes cada vez mais no cotidiano dos brasileiros. A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2017, feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), indica um crescimento de 17% no consumo de notícias on-line por crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos. Mais da metade dos jovens, 51%, leem e/ou assistem a notícias pela Internet.

1 Trabalho apresentado no IJ01 – Jornalismo, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em

Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Estudante de Graduação do 4º período do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. E-mail:

rhannasarot@gmail.com Voluntária do Programa de Iniciação Científica (IC) da UP.

³ Orientadora da pesquisa. Professora do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Doutora em Ciências da Informação. E-mail: jornalismo@up.edu.br

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Outra pesquisa aponta que a internet é a segunda plataforma principal de consumo de notícias (BRASIL, 2015). A pesquisa “Consumo de Notícias do Brasileiro” realizada em parceria entre o Governo do Brasil, a Advice Comunicação Corporativa e a BonusQuest indica que a internet é a principal fonte de informação para 68% dos brasileiros.

O aumento do acesso às redes amplia os espaços de discussão, repetição e disseminação de costumes, ideias e práticas sociais, herança do processo de comunicação que se consolidou a partir do início dos anos 70 com a televisão, que se mostrou como um “sofisticado dispositivo de moldagem e deformação do cotidiano e dos gostos populares e uma das mediações históricas mais expressivas de matrizes narrativas, gestuais e cenográficas do mundo cultural popular” (MARTÍN-BARBERO; REY, 2001, p. 26). Os dispositivos móveis acentuam a produção de sentido.

Deixa evidente no novo contexto em que vivemos tanto a lógica do jornalismo base de dados, quanto a ideia de que a voz da imagem aparece como o próprio fato se enunciando, à revelia de um olhar, de uma captura, de uma escolha e de uma composição (CAETANO; VEIGA, 2015).

A escolha da plataforma Instagram para essa pesquisa justifica-se pelo incremento de seu uso pelos veículos de comunicação e pelo fato de ter usar principalmente imagens, recorte de nossa pesquisa.

O Instagram foi criado em 2010, com o propósito de tornar-se uma rede de compartilhamento de fotos. Fundada por Kevin Systrom e Mike Krieger, a plataforma foi disponível apenas para o sistema IOS, desenvolvido pela Apple, e em abril de 2012 foi lançado no Google Play, onde disponibilizou o download para aparelhos com sistema Android. No mesmo ano, o aplicativo foi vendido para o Facebook, onde foi avaliado por US$1 bilhão.

Atualmente, o aplicativo possui mais de 1 bilhão de downloads segundo a Google Play, e de acordo com a pesquisa realizada pela empresa Statista, o Instagram é a sexta rede social mais baixada no mundo.

Com o jornalismo pós-industrial e a viralização das redes sociais, os jornais tiveram que se adaptar ao compartilhamento descontrolado, por mais protegidos que estejam do ponto de vista do direito autoral (COSTA, 2014, p.83). A partir da expansão

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tecnológica que aconteceu a partir de 2010, a comunicação passou a incrementar a participação do público no processo de produção, que se aproxima ao jornalismo participativo (ARAGÃO, 2012, p.14).

Sobre o jornalismo no Instagram, Aragão percebe uma construção diferente da fotografia, onde “neste cenário, o Instagram estabelece uma reconfiguração importante no entrelaçamento de mobilidade e sociabilidade e na constituição própria da fotografia a partir do desprendimento e da transparência” (ARAGÃO, 2012, p.13).

A imagem das mulheres dentro do contexto das redes sociais aparenta surgir principalmente em duas linhas: quando ela é protagonista de sua própria história, ou é vítima de violência, seja ela física ou social. Dados da pesquisa A Voz das redes: o que

elas podem fazer pelo enfrentamento das violências contra as mulheres realizada pela

Folks Netnográfica e Avon entre 2015 e 2017 indicam que em 2017, o assédio foi o 26º assunto mais comentado na internet.

Somente nos últimos 3 anos, as menções cresceram 324%, com destaque para um novo tipo de assédio, o virtual, que cresceu mais de 26 mil%”. Outro dado importante apontado é que 61% dos homens que se inserem no debate fazem declarações desqualificadoras e agressivas. De todo o universo daqueles que discutem a violência contra a mulher e o assédio somente 3% são as vítimas. Gayatri Chakravorty Spivak em seu livro Pode o Subalterno Falar? diz que aquele sujeito cuja voz não pode ser ouvida é considerado subalterno e que “se, no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade (SPIVAK, 2010, p. 67).

Ao pesquisar sobre a representação da mulher na mídia, Lopes verifica que há formação de estereótipos e associações de códigos limitantes e negativos em um processo que se retroalimenta, uma vez que os meios de comunicação são influenciados pelo meio social, mas também geram impacto sobre ele. (LOPES, 2017, p. 20).

Os discursos da representatividade feminina podem ser, portanto, legitimados, naturalizados, emergentes ou marginalizados, como Freire Filho (2005) diz sobre representatividade. “O termo designa, também, o uso dos variados sistemas significantes disponíveis (textos, imagens, sons) para ‘falar por’ ou ‘falar sobre’ categorias ou grupos

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sociais, no campo de batalha simbólico das artes e das indústrias da cultura” (FREIRE FILHO, 2005: 18).

A propagação de representações deturpadas pode consolidar relações de poder e estruturas de dominação de gênero, ao contrário, iniciativas que ampliam o discurso podem abrir espaço para discussões de valores e igualdade.

A VICE, fundada em Montreal, no Canadá, iniciou em março de 2020 uma parceria com o perfil do Instagram Fotógrafas Latam. Dez fotógrafas latino-americanas puderam publicar seus trabalhos com histórias relacionadas ao corpo, promovendo discussões sobre a liberdade de gênero.

Entender como a imagem das mulheres é retratada nos veículos de comunicação na plataforma Instagram que tem como base, essencialmente, a imagem, permitirá entender os números da expressão feminina e o que o jornalismo praticado nessa rede reforça e autentica nas informações veiculadas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A proposta é resultado de pesquisa de iniciação científica e foi um desdobramento de pesquisa em execução pela proponente para o projeto de pesquisa do consórcio internacional JADN (Journalisme à l’heure du nemérique)4 que aborda o jornalismo na era do digital.

Iniciou com um levantamento bibliográfico sobre o uso de dispositivos móveis para consumo de notícias e o discurso verbo-visual. A pesquisa bibliográfica é um “conjunto de procedimentos para identificar, selecionar, localizar e obter documentos de interesse para a realização de trabalhos acadêmicos e de pesquisa” (DURTE; NOVELLI, 2006, p. 54). Essa ação foi realizada a partir de levantamento bibliográfico em exemplares analógicos e plataformas digitais como a Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (BOCC) e anais de congressos promovidos pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

4 Projeto formado pela Université Lumière Lyon 2, Universidade Federal do Paraná, Universidade Positivo,

Universidade Tuiuti do Paraná, Université Antoine, le centre Max Weber e Grupo de Pesquisa Click, abarcando pesquisas do Brasil, França, Líbano e Canadá. Pode ser visualizado no endereço: jadn.univ-lyon2.fr. Alguns resultados dessa pesquisa fazem parte do artigo A mídia informativa em sua plataforma Instagram confrontada à questão feminina no cenário jornalístico contemporâneo: Folha de S. Paulo, El País Brasil, BBC Brasil, HuffPost Brasil apresentado no VII Congresso Internacional AE- IC 2020 de autoria de Zaclis Veiga e Kati Caetano.

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O levantamento quantitativo, que tem suas raízes na lógica matemática, reforça com dados mensuráveis as hipóteses levantadas de que há tratamento diferenciado dado pelos jornais ao tema feminino (POLIT; BECKER; HUNGLER, 2004, p. 201). A pesquisa foi documental uma vez que recorreu a fontes mais diversificadas e dispersas, que conforme Fonseca são aquelas “sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc” (FONSECA, 2002, p. 32).

Para a análise, o recorte tomou como base a técnica de amostragem semana

construída (constructed week) proposta por Riffe et al. (1993). Nessa técnica as edições

que compõem a amostra são escolhidas ao longo do ano entre dias e semanas diferentes. Para o autor, essa distribuição resolve a questão das variações de algumas edições resultantes dos dias de maior tiragem ou de assuntos de maior interesse, que interferem no ciclo das notícias (RIFFE et al., 1993, p. 137). O trabalho de Riffe et al. demonstra, também, que usando-se esta técnica de amostragem, duas semanas construídas a partir de um ano de publicações representam, com margem de erro estatisticamente aceitável, a totalidade de publicações de um ano. A extração da mostra baseada em semana construída apresenta-se como a técnica mais eficiente para a pesquisa que fizemos, na qual são observados dias e semanas alternados dos meses de novembro de 2018 e novembro de 2019.

A escolha do recorte se justifica por ser o mês de novembro aquele no qual se comemora o “Dia internacional de combate à violência contra a mulher". Com essa escolha, a metodologia de abordagem quantitativa consegue cobrir intervalos de tempo em que o tema pode ser abordado por ser agenda obrigatória — como no caso de datas pré-definidas, ou temas recorrentes — ou facultativa a partir de pautas factuais e spot

news. Sendo assim, os dados foram recolhidos no primeiro dia de novembro de 2018

(quinta-feira), na sexta-feira da segunda semana, sábado da terceira semana e assim consecutivamente até o final de novembro de 2019, perfazendo 56 dias de coleta de dados de cada um dos veículos analisados. Foram incluídos os dias anteriores e posteriores ao dia 8 de março Dia Internacional de Mulher e dia 25 de novembro Dia Internacional para Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

Para realizar a análise das imagens, consideramos que elas não podem ser observadas como um elemento isolado que sustenta a informação por si só. A análise

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recorre ao do discurso verbo visual uma vez que busca identificar nos elementos textuais o reforço das estratégias discursivas dos jornais.

Como o tema se refere ao protagonismo da mulher veiculado nesses jornais achamos conveniente identificar aqueles que fazem os registros fotográficos e escrevem sobre as mulheres. São mulheres falando sobre mulheres? O “lugar de fala” de Ribeiro (2017) que se apresenta neste material se torna essencial, portanto, uma vez que para a autora “[...] quando falamos de pontos de partida, não estamos falando de experiências de indivíduos necessariamente, mas das condições sociais que permitem ou não que esses grupos acessem lugares de cidadania.” (RIBEIRO, 2017, p. 16).

Ao traçar as categorias tomou-se como base o texto Ferramenta para Análise de

Multimidialidade em Cibermeios de Pepe Masip, Josep Lluis Micó e Tattiana Teixeira,

publicado no livro organizado por Marcos Palacios, intitulado Ferramentas para análise

de qualidade no Ciberjornalismo.

A tabela possui os itens iniciais de identificação como data da publicação; tema e link para a matéria. Na sequência foram coletados elementos que nos conduziram na identificação visual a partir de 5 itens: a) número total de postagens no dia e quantas delas traziam a imagem da mulher como protagonista; b) característica física da postagem das fotografias que a definiam como básica (quando não havia nenhum recurso de incrustação), montagem (quando aparecem outros elementos gráficos sobre a imagem) e texto sobre a imagem – essa observação considerou as três primeiras imagens do post – no caso de haver mais de uma; d) autoria (dividida em agência/ assinada por fotógrafo/sem identificação); e) utilidade da fotografia (divididas aqui em informativa/complementar/ilustrativa/ independente).

As notícias, por sua vez, foram identificadas a partir do seu gênero: Informativo ou Opinativo. As fotografias foram divididas em quatro classificações baseada em uma pequena tipologia proposta por Caetano e Veiga no artigo Eleições norte-americanas: as

informações veiculadas pelo HuffPost Brasil e suas implicações : a) flagrantes b)

fotografias oficiais c) pose d) imagens performáticas. Os flagrantes fotográficos podem gerar ou enfatizar sentidos conotativos, geralmente ligados a aspectos de ironia ou aqueles considerados ridículos socialmente como boca aberta, olhos tortos, etc.

Se contrapondo, as fotografias oficiais são aquelas que vem de fontes oficiais ou são ofertadas ao veículo pela própria fonte. São também metamorfoses (BARTHES,1984, p.22) que acontecem quando o fotografado percebe a presença do fotógrafo e se antecipa

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para a pose. As imagens performáticas, por sua vez são aquelas que apresentam o momento de performance do fotografado que pode ser, por exemplo, durante um espetáculo, ou uma partida esportiva.

Outros elementos verificados foram a presença de vídeos, links para outros posts e # utilizadas, além de quantidade de comentários e curtidas que a notícia gerou.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro dado levantado é sobre o número total de postagens feitas pelos veículos, em comparação com as protagonizadas por mulheres. A Folha de S. Paulo lidera com 706 postagens, que representa 70% do total de postagens publicadas pelos quatro veículos. Em segundo lugar está a BBC Brasil, seguida pelo HuffPost Brasil e o El País Brasil.

Apesar da liderança tanto no total de postagens quanto na média diária, apenas aproximadamente 12% do conteúdo publicado na Folha de S. Paulo é protagonizado por mulheres. Nesse mesmo quesito, o HuffPost Brasil se destaca com 53% das publicações dedicadas às mulheres, logo após o El País com 32%, a Folha de S. Paulo e a BBC Brasil (6%).

Figura 1 – gráfico do total de postagens, média por dia e número de postagens com mulheres protagonistas

Em relação a classificação das fotografias, um padrão foi percebido em todos os jornais analisados. Na maioria das fotografias, as mulheres são retratadas por pose, com destaque para a BBC Brasil que utilizou desse método nas seis fotografias publicadas durante todo o período de análise. Os temas das fotografias em pose são variados.

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8 Figura 2 – gráfico de classificação das fotografias analisadas

É importante ressaltar que o número de fotografias publicadas é diferente do de postagens, pois algumas possuem mais de uma fotografia na mesma publicação ou publicaram vídeos e outros conteúdos visuais.

Figura 3 – gráfico do número de conteúdos com mulheres protagonistas

As fotografias performáticas têm algumas temáticas semelhantes entre si. A principal é dos protestos, sejam em prol dos direitos das mulheres, raciais, de sexualidade e outros. Aparece em comum entre a Folha de S. Paulo e o HuffPost. Flagrante e oficiais não apresentaram temáticas em comum.

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9 Figura 4 – postagem do HuffPost Brasil sobre o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as

Mulheres, com imagem performática

Quanto ao uso de edição das fotografias, a Folha de S. Paulo utilizou do recurso para produzir montagens, algumas com teor cômico, crítico e outras para juntar fotos na mesma imagem. Já o HuffPost e a BBC optam por colocar texto sobre as imagens para resumir o conteúdo das reportagens, explicadas com mais detalhes na legenda. No caso do HuffPost, o texto também foi opção para separar o conteúdo do projeto #TodoDiaDelas das produções comuns do jornal. O El País não utilizou de edição.

Sobre os assuntos das reportagens, a grande maioria em todos os veículos foi abordada de forma informativa. Os elementos opinativos apareceram como charges, gifs e colunas.

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Entre as notícias, o HuffPost se destacou com postagens voltadas ao empoderamento. Por conta do projeto #TodoDiaDelas, o veículo publicou mais da metade de seus conteúdos voltados para o tópico. Nos outros veículos, pautas sem relação com os assuntos de empoderamento e violência contra a mulher foram as mais exploradas.

Figura 6 – gráfico dos temas das informações das postagens

Nesse contexto, foi avaliado também a utilidade da imagem das mulheres protagonistas. Apenas a BBC Brasil não apresentou a característica de ilustração em primeiro lugar. Nos outros veículos, as imagens complementares acrescentam conteúdo à legenda e enriquecem o entendimento rápido da pauta. Imagens informativas não foram identificadas.

Figura 7 – gráfico de utilidade das imagens de mulheres em protagonismo

A autoria das imagens foi divulgada em mais da metade dos conteúdos analisados, com exceção da BBC Brasil. Das dez postagens, seis não apresentaram nenhum tipo de

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identificação de autoria. Fotografias identificadas com o nome da agência ou por reprodução e divulgação foram as menos utilizadas pelos veículos.

Figura 8 – gráfico das mulheres autoras das imagens com identificação

Dentre as autorias identificadas nas postagens de imagens com mulheres no lugar de protagonismo, o mesmo gênero aparece em desvantagem na Folha de S. Paulo e no El País Brasil. Dos 54 conteúdos identificados na Folha apenas 22% são de mulheres, e no El País 47%. Nas postagens que abordam temas de igualdade de gênero e assuntos relacionados às lutas voltadas para a mulher, fotógrafas aparecem como autoras do conteúdo.

Ao todo, a Folha de S. Paulo recebeu mais curtidas e comentários, seguido pela BBC Brasil, El País Brasil e HuffPost Brasil. A publicação mais curtida e comentada na Folha foi sobre o discurso de Greta Thunberg em prol da natureza, realizado na Organização das Nações Unidas (ONU). Os comentários são negativos, envolvem posicionamentos políticos e expressões agressivas, como “Fantoche da ONU” e “manipulada por superiores”.

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No HuffPost Brasil, a publicação mais curtida e comentada foi sobre Cecile Eledge, estadunidense de 61 anos que prestou “barriga solidária” para dar à luz a sua neta, filha de seu filho e o marido dele. Os comentários são de elogio e solidariedade para com a personagem, e vários deles possuem os temas de amor e perseverança.

A postagem mais curtida do El País Brasil foi a charge da ilustradora Flavita Banana, que aborda a visão da mulher dona de casa e mãe. Já na BBC Brasil, um vídeo sobre os cognatos nas línguas espanhola e portuguesa foi o mais curtido.

A publicação mais comentada do El País foi sobre um projeto de avanço educacional realizado na cidade de Oeiras, e obteve reações positivas do público. No El País, a postagem mais comentada foi sobre como utilizar corretamente o termo doutor. Os comentários são conversas paralelas ao tópico apresentado, onde são opiniões sobre como usar o termo ou situações vividas com a temática.

As hashtags utilizadas com frequência foram: #folha; #folhadespaulo; #fsp; #TodoDiaElas; #BBCBrasil. Outras hashtags foram utilizadas para relacionar a postagem à

pauta, sendo específicas a ela. Todos os jornais apresentaram links para levar o leitor para

a reportagem original, onde a Folha de S. Paulo e El País Brasil usaram do recurso em mais da metade de suas publicações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro ponto a se destacar é a quantidade de conteúdo publicada por cada veículo. A Folha de S. Paulo dispara nos números por ser o único perfil de imprensa brasileira, enquanto as outros são sucursais do veículo principal. Nota-se que o conteúdo é voltado para as principais notícias do dia, e que o jornal segue um padrão de publicações: a primeira postagem do dia é a capa da edição impressa, seguido pelos destaques diários.

Na BBC Brasil, El País Brasil e HuffPost Brasil há uma curadoria de informações publicadas ou não por suas matrizes. No geral, os conteúdos são de âmbito global, com exceções aos projetos e parcerias feitas entre empresas com os jornais (como foi o caso da #TodoDiaDelas, do HuffPost Brasil).

A hashtag #TodoDiaDelas tem por conceito, segundo o HuffPost Brasil:

365 dias, 365 mulheres. Vamos celebrar mulheres do Brasil, de Norte a Sul, de 8 de março de 2018 a 7 de março de 2019. Uma mulher por dia, com sua história de protagonismo. Precursoras, empreendedoras, guerreiras. Todo dia é Dia da

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Mulher no HuffPost Brasil. Vamos contar estas 365 histórias com entrevistas e ensaios fotográficos. Os 365 conteúdos serão distribuídos pela Elemidia, em milhares de monitores espalhados por 6 capitais brasileiras, e em todas as redes sociais do HuffPost Brasil e da C&A, patrocinadora oficial de Todo Dia Delas (HUFFPOST, 2020).

Não foram realizadas postagens diárias, e em alguns dias chegaram a publicar duas ou mais personagens do projeto.

Por causa da hashtag, o HuffPost foi o jornal com maior porcentagem de postagens que têm mulheres como protagonistas das fotografias. Neste caso, o empoderamento foi a base para as reportagens com mulheres protagonistas. Os outros jornais tiveram poucas postagens referentes aos debates de violência contra a mulher e empoderamento. Somente nas datas destacadas que houve um conteúdo específico sobre.

A imagem foi utilizada principalmente de forma ilustrativa, para chamar a atenção do público e fazê-lo consumir os conteúdos através dos sites dos veículos. Em vários casos, é possível observar que as mulheres aparecem de forma aleatória, sem um propósito específico para elas. Foi comum a presença delas em pose de selfie, eventos culturais (como shows e premiações de cinema e literatura) e fotografias de retrato. Somente charges e gifs trouxeram o debate opinativo sobre as mulheres, sendo todas as outras reportagens informativas, com a ideia do texto tradicional jornalístico e “imparcial”.

A partir dos dados analisados sobre a autoria das imagens, podemos afirmar que não são mulheres que falam sobre mulheres. Como exemplo, a Folha de S. Paulo possui menos da metade das imagens com mulheres protagonistas produzidas por mulheres, assim como os conteúdos do HuffPost Brasil, fora do projeto #TodoDiaDelas, não foram feitos por mulheres. É clara a desigualdade de gênero nesse aspecto (ressalvando a BBC Brasil que as únicas quatro postagens foram creditadas às fotógrafas).

Sobre o público, é possível afirmar que comentam e curtem assuntos que causam controvérsias. A postagem sobre Greta Thunberg, na Folha de S. Paulo, recebeu grande audiência pela dualidade de opiniões e o grande debate mundial que surgiu com seu discurso. Exceto a charge de Flavita Banana no El País (que reuniu um público nacional e internacional), a popularidade não se dá em notícias que prestigiam as mulheres. A maternidade e educação foram os temas mais curtidos e comentados positivamente.

A busca pela igualdade de gêneros passa pelo desafio da desconstrução de elementos distorcidos relacionados à imagem das mulheres. Os jornais analisados apresentam

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avanços uma vez que propõe, em alguns momentos, uma revisão do discurso quando abrem espaço para a divulgação do trabalho feminino e para as notícias de empoderamento. Mas, percebemos que a representação da mulher no jornalismo veiculado na plataforma Instagram ainda tem um longo caminho a percorrer no sentido da conquista de espaço e condições mais justas, uma vez que as notícias relacionadas as mulheres apresentam potencial de manutenção de significações opressoras ou distorcidas. REFERÊNCIAS

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Referências

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