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Autor: António Alves de Matos. 1. Apresentação do problema

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Academic year: 2021

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Projeto:  Análise  dos  diversos  sistemas  de  avaliação  da  incapacidade  para  o  trabalho  quanto  à  sua  natureza, estrutura e desempenho, para apresentação aos decisores de uma proposta de atuação.    Autor: António Alves de Matos    1. Apresentação do problema    A avaliação da incapacidade para o trabalho provocada por motivos de saúde insere‐se na área social  da verificação da elegibilidade para benefícios sociais.   

Nesta vasta área encontram‐se os  processos de avaliação dos indivíduos candidatos a  subsídios ou  prestações especiais de serviço por parte das instituições da área da proteção social. A avaliação da  incapacidade  para  o  trabalho  (a  avaliação  da  perda  de  capacidade  de  ganho)  é  também  o  fundamento  para  atribuição  de  indemnizações no  campo  dos  acidentes  de  trabalho  e  das  doenças  profissionais. A avaliação global da incapacidade, que inclui para além da capacidade para o trabalho,  a apreciação do nível de capacidade de desempenho das tarefas do dia a dia, aplica‐se no direito civil  para  avaliação  do  dano  de  vítimas  de  acidentes  ou  agressões  e  no  âmbito  da  reabilitação  com  a  consequente  avaliação  das  necessidades  do  indivíduo  em  provisão  de  serviços  especiais  de  acompanhamento  ou  auxílio.  Como  se  depreende  deste  intróito  a  avaliação  da  incapacidade  tem  diversas dimensões e âmbitos sendo difícil congregar todas elas num só conceito ou construção.    Sendo a avaliação da incapacidade, no nosso País, a base para a atribuição de diversos benefícios e  serviços sociais, é uma peça fulcral na aplicação da politica de apoio social que, por sua vez, se quer  justa, equitativa e transparente.     Neste sentido, o instrumento que avalie a capacidade para o trabalho ou outro qualquer benefício  que nele se apoie, deverá ser universal na sua aplicabilidade, tanto para os indivíduos como para as  patologias,  abrangente  quanto  às  várias  dimensões  do  indivíduo,  válido  quanto  ao  que  se  propõe  medir e reproduzir. Estes atributos ganham especial importância quando o sistema de atribuição de  benefícios está, como em Portugal, muito centrado na conclusão do médico avaliador, ao contrário  de outros Países em que a decisão final é baseada na análise da situação global do solicitante, onde  se inclui a visão médica e efetuada por via administrativa (modelo escandinavo).    Poderá estar no âmbito deste projeto a discussão dos diversos modelos de atribuição de benefícios  existentes internacionalmente, mas o que nos chama a atenção é o facto de, no nosso País, a decisão  final ser centrada no resultado do estudo da situação de doença efetuada pelos médicos chamados à  avaliação, devendo este estudo e as suas conclusões, por consequência, estarem bem estribados em  dados  concretos,  objetivos,  válidos  e  reprodutíveis.  De  contrário,  a  arbitrariedade  e  dissonância  facilmente se instalarão. 

 

Em Portugal o método de avaliação da incapacidade para o trabalho provocada por doença estranha  ao ambiente de trabalho ou condicionada por acidente ou agressão, baseia‐se na deteção de lesões e  danos  físicos  e  mentais  e  na  sua  mensuração  em  relação  com  uma  tabela  referida  como  de  “incapacidades” (Decreto‐Lei n.º 352/2007, ‘Tabelas Nacionais de Incapacidades’), baseada no ‘AMA  (American Medical Association) Guides to the evaluation of permanent impairment’ e que mais não é  que uma listagem de graus de lesão (‘impairment’), confundindo esta com incapacidade, que é uma 

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interação  entre  o  indivíduo  e  o  ambiente,  neste  caso  o  do  local  de  trabalho  (ver  Definições  mais  adiante). 

Estas tabelas oficiais, segundo o seu articulado, foram concebidas para serem aplicadas a situações  de  avaliação  de  dano  no  âmbito  dos  acidentes  de  trabalho,  das  doenças  profissionais  e  do  direito  civil, não mostrando intenções de serem aplicadas no domínio da incapacidade gerada por doenças  espontâneas. O facto é que, após a sua publicação e na falta de outra opção, todas as decisões sobre  a incapacidade para o trabalho são nelas fundamentadas. 

 

O  próprio  documento  base,  o  ‘AMA  Guides  to  the  evaluation  of  permanent  impairment’,  tem  sido  sujeito a diversas revisões ao longo da sua existência, estando atualmente na sua 6ª edição, e tem  sido alvo de críticas quanto à sua construção e ao modo como é utilizado. Estes factos atestam a sua  fraqueza  interna,  apesar  de  todos  os  esforços  que  os  Autores  nela  têm  vindo  a  investir  e  de  ser  a  base de muitos sistemas de verificação e aferição de incapacidades a nível internacional. 

 

É,  neste  contexto,  claro  que  o  ‘AMA  Guides  to  the  evaluation  of  permanent  impairment’  não  é  o  instrumento  perfeito  para  a  verificação  correta  e  justa  da  incapacidade  para  o  trabalho,  sendo  origem de múltiplos conflitos que acabam nos tribunais e geram aumento de despesa. É, no entanto,  considerado  como  uma  referência  no  campo,  no  sentido  em  que  provém  de  uma  instituição  prestigiada e assente em trabalho honesto e digno de muitos profissionais experientes, mas, o facto  é que têm sido desenvolvidos outros sistemas de avaliação no próprio País de origem que diferem na  filosofia e na metodologia e que pretendem aproximarem‐se mais do que realmente se quer medir e  que é a incapacidade para o trabalho em termos factuais.  

 

Neste  sentido,  têm  aparecido  as  especialidades  médicas  em  avaliação  da  incapacidade  e  uma  indústria de instrumentos dedicados à objetivação do desempenho em ambiente esteriotipado, bem  como os testes de avaliação funcional que têm sido escrutinados relativamente à sua validade. 

 

Não temos conhecimento de qualquer estudo sobre a adequação do modo de aferição à avaliação da  incapacidade para o trabalho usado em Portugal. Que seja também do nosso conhecimento, não é  costume  em  Portugal,  os  beneficiários  entrarem  em  litígio  judicial  com  a  Segurança  Social, mas  no  caso dos acidentes de trabalho já tal não se passa, conhecendo‐se a discrepância entre as decisões  médicas iniciais e as judiciais finais, descredibilizando o sistema e mostrando a sua fragilidade.     Neste contexto importa salientar que também os Tribunais devem fundamentar as suas decisões em  testes igualmente fiáveis, válidos e reprodutíveis. É óbvio que se todos utilizarmos a mesma balança  e se esta for fiável e assertiva, chegaremos sempre à mesma conclusão. Se na ponderação da decisão  final se incluírem fatores que ‘ab initio’ não eram de considerar, claro se torna que as conclusões não  irão ser as mesmas.     Todos sabemos que é grande a complexidade do problema da avaliação da incapacidade, mas o atual  sistema  apresenta,  por  diversos  motivos,  um  número  significativo  de  fatores  subjetivos  intervenientes na decisão final e uma grande variabilidade intra e interobservador. 

 

Assim,  e  como  conclusão,  podemos  afirmar  que  se  torna  necessário  introduzir  um  ou  vários  instrumentos  validados  na  aferição  dos  portugueses  incapacitados.  O  presente  projeto  pretende  estudar  esta  problemática  e,  no  final,  apresentar  às  autoridades  uma  proposta  devidamente  fundamentada para posterior decisão política. 

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Os habituais modelos de avaliação da incapacidade têm sido objeto de contestação, sendo referidos  como  demasiado  ‘medicalisados’  no  sentido  em  que  prestam  atenção  às  lesões/danos  de  um  indivíduo  que  resultam  de  uma  qualquer  situação  patológica.  Em  contrapartida  os  defensores  do  modelo  biopsicossocial  enfatizam  a  avaliação  efetiva  do  desempenho  ou  da  incapacidade  que  depende da interação entre a pessoa e o ambiente.    Os modelos biopsicossociais estão muito em voga nos países escandinavos o que se reflete nos seus  métodos de aferição da capacidade para o trabalho em que os médicos contribuem apenas para uma  pequena parcela da decisão final.    A decisão de se manter ou modificar o modelo de aferição da incapacidade é uma decisão política já  que  não  conhecemos  estudos  que  demonstrem  o  melhor  desempenho  de  um  ou  outro.  De  mencionar é a atual ‘epidemia’ de incapacidade que avassala a Escandinávia. Será que tem relação  com o seu modelo de avaliação? 

 

2. Tentaremos  no  decurso  deste  trabalho  chamar  a  atenção  para  os  diversos  cenários  que  podem ser desenhados como decisão final, fornecendo sempre que possível a informação e parecer  para fundamentação de qualquer decisão.     Definições:    a. Incapacidade. É difícil fornecer uma definição única de incapacidade devido aos diversos  âmbitos em que este conceito é aplicado. Contudo, podemos aceitar a definição da OMS  (Organização Mundial de Saúde) inscrita na Introdução da ICF (International Classification  of  Functioning)  e  adotada  pelo  1º  Plano  de  Ação  para  a  Integração  das  Pessoas  com  Deficiências ou Incapacidades do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, que a  refere como uma limitação da atividade ou uma restrição da participação dos indivíduos,  resultantes da interação entre estes e o meio . É a limitação da atividade e a restrição na  participação que estão no fulcro da definição de incapacidade da OMS/ICF. 

b. Limitação  da  atividade.  Definimo‐la  como  as  dificuldades  que  um  indivíduo  pode  ter  ao  executar atividades (ICF). 

c.   Restrição  da  participação.  Definimo‐la  como  o  conjunto  de  todos  os  problemas  que  um  indivíduo pode ter no seu envolvimento nas situações da vida (ICF). 

d. Funcionamento.  Define‐se,  no  âmbito  deste  trabalho,  como  o  desempenho  que  um  individuo consegue efetivamente alcançar. Será o reverso da incapacidade. No âmbito da  ICF, o funcionamento (functioning) designa todos os aspetos do desempenho que não são  problemáticos para o indivíduo. 

e. Funcionalidade.  Para  nós,  funcionalidade  refere‐se  a  uma  qualidade  ou  potencialidade  que um indivíduo apresenta. Não é um desempenho efetivo mas sim uma virtualidade de  desempenho. Não trabalharemos, para já, com este conceito, porque o que interessa ao  aferidor  da  incapacidade  é  o  desempenho  efetivo  do  indivíduo  e  não  as  suas  potencialidades (apesar do cálculo destas ser muito importante na área da reabilitação e  reconversão,  profissional  ou  não).  Chamamos  a  atenção  para  o  facto  dos  responsáveis  brasileiros  pela  tradução  da  versão  em  língua  inglesa  para  português,  terem  traduzido  ‘functioning’ por funcionalidade e não por funcionamento, o que consideramos um erro;  as  três  versões  latinas  que  consultámos  não  seguiram  o  mesmo  caminho,  utilizando  a 

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versão  francesa  a  palavra  ‘fonctionnement’,  a  italiana  ‘funzionamento’  e  a  castelhana  ‘funcionamiento’. 

f.   Instrumentos.  Definimos  instrumentos  como  qualquer  teste  de  avaliação  devidamente  validado  e  reprodutível.  No  contexto  deste  projeto  teremos  em  conta  instrumentos  aplicáveis à incapacidade/funcionamento e, se houver lugar, à funcionalidade. 

 

3. Planeamento do projeto 

a. Contacto  com  o  Gabinete  da  Secretária  de  Estado  Adjunta  e  da  Reabilitação  para  informação  sobre  projetos  semelhantes  que  aí  estejam  em  curso  e  eventual  coordenação/integração (2 meses) 

b. Colocação  da  problemática  da  avaliação  da  incapacidade  nas  suas  diversas  dimensões  e  nos  diversos  sistemas  existentes  na  União  Europeia,  nos  Estados  Unidos  da  América,  no  Canadá e na Austrália. (6 meses) 

c. Consulta  dos  diversos  organismos  internacionais  que  se  dedicam  à  problemática  da  avaliação,  EUPHA,  MHADIE,  EUMASS,  para  auscultação  sobre  projetos  em  curso  e  possibilidade de integração e colaboração (6 meses) 

d. Revisão  teórica  das  propostas  de  instrumentos  e  métodos  de  avaliação  da  incapacidade  para  o  trabalho  publicadas  na  literatura  internacional  nos  seguintes  componentes  (4  meses)  i.   Efetividade de funcionamento  ii.   Críticas ao seu desempenho publicadas  iii.   Características da sua validade  iv.   Custos de utilização  v.   Nível de dificuldade de execução  - Necessidade de formação dos operadores  - Necessidade de locais especiais  vi.   Nível de satisfação/desempenho  - Dos avaliados  - Nos tribunais  e. Análise dos diversos métodos existentes nos diversos sistemas de segurança social para a  avaliação da incapacidade para o trabalho nos seguintes componentes (6 meses)  i.  Efetividade de funcionamento  ii.  Críticas ao seu desempenho publicadas  iii.  Características da sua validade  iv.   Custos de utilização  v.  Nível de dificuldade de execução  - Necessidade de formação dos operadores  - Necessidade de locais especiais  vi.  Nível de satisfação/desempenho  - Dos avaliados  - Nos tribunais  f. Com os dados adquiridos formular uma proposta de decisão que, se possível, integre a ICF  (18º‐22º meses) 

Em  2001,  a  OMS  aprovou  a  International  Classification  of  Functioning,  Disabilities  and  Health (ICF) que é uma revisão da International Classification of Impairments, Disabilities,  and  Handicaps,  aprovada  em  1980  tida  como  demasiada  linear  e  medicalisada  nas 

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que não só as estruturas e funções corporais são tomadas em consideração, mas também,  as  restrições  nas  atividades  e  na  participação,  tudo  modulado  por  fatores  contextuais  ambientais  e  pessoais.  Migrou,  deste  modo,  de  uma  classificação  de  ‘consequências  de  doenças’  para  uma  classificação  de  ‘componentes  da  saúde’  (ICF.  Introduction  Pag  4.  WHO). A ICF autodesigna‐se como uma classificação de múltiplos propósitos e desenhada  para servir várias disciplinas e diversos setores.  

Se  o  que  o  presente  projeto  pretende  é  desenvolver  um  instrumento  que  avalie  a  capacidade ou incapacidade do indivíduo, necessário é ter em conta que a própria ICF, na  sua Introduction, página 15, refere que para isso é necessário ter um teste em ambiente  padronizado  que  pode  ser  de  diverso  tipo,  mas  que  deverá  existir  de  qualquer  forma.  Deste modo parece desde já necessário ter este pormenor em consideração.    g. Finalmente, refletir sobre a necessidade de investigar eventuais lacunas do conhecimento  que leve a um melhor desempenho dos testes para o fim a que se destinam, ou seja, uma  maneira objetiva e fiável de medir a incapacidade. (23º e 24º meses)    4. Constituição do Grupo de Trabalho  a. O Autor, Reumatologista, Assistente Graduado de Reumatologia do Centro Hospitalar  de Lisboa Ocidental (Hospital de Egas Moniz) 

b. Dr.  Margalho  Carrilho,  Psiquiatra,  Assessor  técnico  de  coordenação  do  Sistema  de  verificação de incapacidades da Segurança Social de Lisboa  c. Dr. Pedro Cantista, Fisiatra, Assistente Graduado de Medicina Física e Reabilitação do  Hospital Geral de Santo António  d. Prof.ª Ana Escoval, Economista, Professora Auxiliar da Escola Nacional de Saúde Pública  e. Especialista em avaliação de dano  f.  Alguém da FMH?  g.  Elemento mais jovem e com disponibilidade (Aluno de mestrado? Doutorando?)  h. Interno da Especialidade (1 ou 2?)    5. Tempo previsto para a execução: 24 meses   

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