Procedimentos técnicos de tradução _ Uma proposta de reformulação
Rafael Lanzetti, Danielle Bessa, FabianaGuedes, Rosana de Freitas e Vinicius Cruz de Moura
Resumo: Este artigo apresenta uma nova tabela de procedimentos técnicos
de tradução, recategorizada e ampliada, a partir das propostas de Barbosa (1990) e de Lanzetti (2006). Nesta tabela, os procedimentos foram categorizados de acordo com os paradigmas
schleiermacherianos de tradução estrangeirizadora e domesticadora (2001ª e b). Com base nessa recategorização, redefinimos os
procedimentos técnicos de tradução e incluimos outros a partir da análise de traduções selecionadas, feitas por alunos e profissionais de tradução ao longo de dois anos, de 2006 a 2008.
Palavras-chave: tradução, procedimentos técnicos, Schleiermacher
Este artigo tem por objetivo apresentar uma proposta de reformulação, recategorização e ampliação da tabela de procedimentos técnicos de
tradução compilada por Heloisa Barbosa em seu livro Procedimentos técnicos
de tradução: uma nova proposta de 1990.
Procedimentos técnicos de tradução são, segundo Barbosa (1990: 17), “ações de cunho lingüístico e técnico praticadas por tradutores a fim de
realizar pragmaticamente o processo de tradução”. Em seu livro, Barbosa faz um levantamento dos modelos de procedimentos tradutórios de
Vinay-Darbelnet (1977), Nida (1964 e 1966), Catford (1965), Vázquez-Ayora (1977) e Newmark (1981). A partir desses modelos, Barbosa compila sua própria proposta de como traduzir a partir de um quadro de categorização dos procedimentos técnicos, pois, segundo a autora, “devido às
discrepâncias entre os modelos descritivos de procedimentos técnicos da tradução e à divergência terminológica entre eles, é necessário propor-se uma nova caracterização de tais procedimentos” (BARBOSA, 1990: 63). Esse quadro é reproduzido a seguir:
Tabela 1: Proposta de categorização dos procedimentos técnicos da tradução Convergência do sistema lingüístico, do Estilo e da Realidade Extralingüística Divergência do sistema lingüístico Divergência do Estilo Divergência da realidade extralingüística Tradução palavra-por-palavra Tradução literal Transposição Modulação Equivalência Omissão VS Explicitação Compensação Reconstrução Melhorias Transferência Transferência com explicação Decalque Explicação Adaptação (BARBOSA, 1990: 93)
No entanto, pode ser difícil estabelecer fronteiras entre os
procedimentos técnicos da tradução, uma vez que um procedimento pode requerer outro, ser mesclado com um terceiro, ou mesmo ser conseqüência de um quarto. Talvez, na atividade tradutória, alguns dos procedimentos e estratégias que os sujeitos utilizam não façam parte dessas categorizações. Algumas vezes, os procedimentos e estratégias podem aparecer acoplados uns aos outros, e seria difícil dizer onde termina um e começa outro, ou qual deles está numa posição superior na hierarquia de uma determinada ação.
A fim de ampliar o leque de procedimentos, recategorizá-los e defini-los com mais especificidade, Lanzetti (2006) propõe uma nova tabela, apresentada a seguir.
1.
1. Nova Tabela de Procedimentos Técnicos de Tradução Lanzetti decidiu, a partir dos paradigmas tradutórios schleiermacherianos (SCHLEIERMACHER, 2001b), dividir os procedimentos em duas categorias principais – procedimentos estrangeirizadores e procedimentos
domesticadores. Os procedimentos estrangeirizadores aproximam o texto de chegada do texto original através do recurso de manutenção de itens
lexicais, estruturas e estilo. Os procedimentos domesticadores afastam o texto de chegada do texto original, aproximando a tradução das estruturas linguísticas e da realidade extratextual da língua e da sociedade-alvo.
A seguir, apresentamos a tabela e descrevemos cada um dos procedimentos categorizados:
Tabela 2: Procedimentos técnicos de tradução – Reformulação proposta por Rafael Lanzetti (2006)
1. 1. Estrangeirizadores 2. Domesticadores 1. 1. Procedimentos estrangeirizadores 1. Tradução palavra-por-palavra 2. Manutenção
1. de itens lexicais do texto-fonte (empréstimo) 1. sem aclimatação (empréstimo direto) 2. com aclimatação (aportuguesamento) 3. decalque
4. hibridismo
2. de estruturas sintáticas do texto-fonte 1. manutenção da ordem dos elementos
sintáticos
3. do estilo do texto-fonte 1.
1. manutenção do uso de sinais de pontuação
2. manutenção do registro 3. manutenção do layout
4. manutenção do uso de voz passiva/voz ativa
5. manutenção do uso de coordenação/subordinação
6. manutenção do uso de marcadores do discurso
7. manutenção do uso de referências (endóforas/exóforas)
9. manutenção da complexidade/fluidez estilística
4. de itens culturais da cultura-fonte 2. Prodedimentos domesticadores
1. Domesticação do sistema linguístico 1. Transposição
2. Modulação 3. Equivalência
1. de expressões idiomáticas, ditados, provérbios etc. 2. funcional 4. Sinonímia 5. Paráfrase 2. Domesticação do estilo 1. Omissão 2. Explicitação
3. Generalização (uso de hiperônimo) 4. Especificação (uso de hipônimo) 5. Compensação 1. Ibidem 2. Alibi 6. Reconstrução 1. sintática 2. semântica
7. Equivalência estilística (melhoria) 8. Mudança de registro
9. Mudança de complexidade/fluidez estilística 10. Adaptação
1. Transferência 2. Explicação
1. intratextual (entre parênteses, entre vírgulas etc.)
2. pára-textual (notas do tradutor, prefácio etc.) 3. Ilustração
1.2 Descrição dos procedimentos estrangeirizadores
Os procedimentos estrangeirizadores são dois, a saber: tradução palavra-por-palavra e manutenção.
A tradução palavra-por-palavra pressupõe que o texto de chegada terá o mesmo número de palavras do texto original, obrigatoriamente na mesma ordem sintática.
Ex.: She went to the supermarket yesterday. Ela foi ao supermercado ontem.
Neste exemplo, embora o número de palavras não seja o mesmo na tradução, por conta da contração da preposição e do artigo definido, o procedimento empregado foi a tradução palavra-por-palavra. Esse procedimento é utilizado todas as vezes em que o texto original não
apresenta nenhuma dificuldade tradutória lexical, estrutural ou cultural e sua tradução pode ser feita sem nenhuma alteração lexical, sintática ou
extratextual. Embora a tradução palavra-por-palavra tenha ganhado conotações pejorativas ao longo da evolução da teoria da tradução, esse procedimento é utilizado em larga escala, principalmente em textos técnicos por conta de sua simplicidade sintática e consequente universalização
A manutenção, denominada anteriormente por outros autores tradução literal, é subdividida em quatro subcategorias: manutenção de itens lexicais do texto-fonte, manutenção de estruturas sintáticas do texto-fonte,
manutenção do estilo do texto-fonte e manutenção de itens culturas da cultura-fonte.
A manutenção de itens lexicais do texto-fonte, também conhecida como empréstimo, ocorre quando o tradutor decide manter, no texto de chegada, um item lexical da língua-fonte. O empréstimo pode ser feito sem aclimatação ortográfica quando, por exemplo, o tradutor decide manter a palavra feedback no texto de chegada em português; ou com aclimatação, quando palavras estrangeiras adquirem nova forma ortográfica condizente com o sistema fonético-ortográfico da língua de chegada. Ex.: New York > Nova Iorque, whisky > uísque, football > futebol. O empréstimo pode ainda ser feito por decalque, em que os morfemas formadores da palavra na língua-fonte são traduzidos para a língua de chegada (ex.: skyscraper > arranha-céus, hi-fi > alta fidelidade, science-fiction > ficção científica), e por hibridismo, em que um neologismo é formado a partir de morfemas lexicais de duas ou mais línguas diferentes (ex.: iceberg, do ing. ice, gelo + alem.
Berg, montanha; e agricultura, do gre. ager, campo + lat. cultura).
A manutenção de estruturas sintáticas do texto-fonte é utilizada
quando tais estruturas ou ordens sintáticas da língua-fonte coincidem com a estrutura ou a ordem sintática da língua-alvo.
Ex.: Long time no see you!
Há quanto tempo não vejo você!
Neste exemplo, o número de palavras do texto-alvo não é o mesmo do texto-fonte, portanto o procedimento não pode ser caracterizado como
mesma. No texto-fonte temos [adj. adv. de tempo] + [adj. adv. de negação] + [verbo na 1ª pess. do sing.] + [obj. direto], exatamente a mesma
estrutura do texto de chegada.
No procedimento de manutenção do estilo do texto-fonte, podem ser mantidos os sinais de pontuação do texto-fonte, o registro (formal, neutro, informal), o layout (disposição gráfica dos elementos do texto na página), a frequência de uso da voz passiva e/ou da voz ativa, o uso de coordenações e/ou subordinações, o uso de marcadores do discurso (certo, agora, veja
bem, entende, quero dizer, dentre outros), o uso de referências dêiticas
(intratextuais, ou endóforas) através de pronomes dêiticos, sinonímia e substituição lexical, e referências exóforas (cujos referentes não estejam presentes no texto); o uso de adjetivação e a complexidade ou fluidez estilística com que o texto-original tenha sido escrito.
Na manutenção de itens culturais da cultura-fonte, o tradutor decide reproduzir o item cultural do texto-fonte no texto de chegada sem nenhuma explicação ou explicitação. Isso ocorre principalmente quando o tradutor julga que o item cultural presente no texto-fonte é compreensível ao público-leitor do texto de chegada.
1.3 Descrição dos procedimentos domesticadores 1.3.1 Domesticação do sistema lingüístico
Os procedimentos de domesticação do sistema linguístico pressupõem mudanças na estrutura do texto-fonte ao traduzi-lo à língua-alvo para que se adeque à estrutura sintática e lexical da língua de chegada.
Transposição é a mudança da ordem sintática de um ou dois
elementos sintáticos do texto-fonte. Ocorre por razões de obrigatoriedade sintática ou pragmática da língua de chegada.
Ex. 1: Rick is a very tall man. Rick é um homem muito alto.
Neste exemplo, o sintagma nominal [very tall] foi transposto da posição anterior ao núcleo do sujeito no texto original para a posição posterior ao núcleo do sujeito no texto de chegada. Aqui, a transposição é pragmaticamente obrigatória, já que a sentença [Rick é um muito alto homem] seria apragmática.
Ex. 2: German scientists discovered a new type of stem-cell on Friday. Na sexta-feira, cientistas alemães descobriram um novo tipo de célula-tronco.
Neste exemplo, a transposição do adjunto adverbial de tempo do fim da sentença no texto-fonte para o início da sentença no texto-alvo não era obrigatória. No entanto, a partir de observações de textos jornalísticos, parece que, em português do Brasil, prefere-se colocar os adjuntos
adverbiais de tempo e lugar no início das sentenças, ao contrário do inglês americano, em que os adjuntos adverbiais aparecem com mais frequência no final das sentenças.
1.3.1.2 Modulação
A modulação ocorre quando a palavra do texto-fonte muda de classe gramatical ao ser traduzida para a língua-alvo.
Ex. 1: Introducing the concept of gene. Introdução ao conceito de gene.
Neste exemplo, a palavra [introducing], um verbo no gerúndio, é modulada para um substantivo na língua de chegada.
A modulação também ocorre quando um verbo no gerúndio é traduzido para o infinitivo ou vice-versa.
Ex. 2: Connecting the cables. Como conectar os cabos.
1.3.1.3 Equivalência
O procedimento de equivalência é dividido em duas subcategorias –
equivalência de expressões idiomáticas, ditados e provérbios; e equivalência funcional.
A equivalência de expressões idiomáticas, ditados e provérbios ocorre quando há, na língua de chegada, uma expressão idiomática, ditado ou provérbio com o mesmo valor semântico e que use os mesmos símbolos ou alusões da expressão idiomática da língua-fonte.
Ex. 1: Not all that glitters is gold. Nem tudo que reluz é ouro.
Ex. 2: Better late than never. Antes tarde que nunca.
Ex. 3: Can you give me a hand? Você pode me dar uma mão?
Nos dois primeiros exemplos, provérbios populares ingleses foram traduzidos pelos correspondentes na língua portuguesa, que utilizam os mesmos símbolos e possuem o mesmo valor semântico dos provérbios da língua-fonte. No exemplo 3, a expressão idiomática [to give a hand] foi
traduzida pela sua correspondente em português, que utiliza igualmente o mesmo referente [mão] e possui o mesmo valor semântico.
A equivalência funcional ocorre quando a expressão idiomática, provérbio ou ditado da língua-fonte não possui correspondente na língua-alvo com os mesmos símbolos e referentes, mas utiliza outros para chegar ao mesmo valor semântico. Possuem, portanto, a mesma função semântica.
Ex. 4: The one who sleeps with dogs wakes up with fleas. Quem se junta aos porcos, farelo come.
Ex. 5: The squeeky wheel gets the grease. Quem não chora não mama.
No exemplo 4, o ditado popular foi traduzido por outro com a mesma estrutura lógico-sintática, porém com outros referentes. No exemplo 5, o ditado traduzido por equivalência funcional não possui a mesma estrutura sintática, mas expressa o mesmo valor semântico-funcional.
1.3.1.4 Sinonímia
A sinonímia é utilizada quando o tradutor traduz um elemento lexical do texto-fonte por um sinônimo na língua-alvo.
Ex. 1: My uncle used to play the accordion we he was young. Meu tio tocava sanfona quando era jovem.
Neste exemplo, o tradutor decidiu utilizar um sinônimo para [accordion],
sanfona, no lugar de acordeon.
Ex. 2: Chelsea won the championship on the last round. O Chelsea venceu o certame na última rodada.
Neste exemplo, o tradutor decidiu utilizar o sinônimo certame no lugar da tradução imediata para championship, campeonato.
1.3.1.5 Paráfrase
A tradução por paráfrase ocorre quando o tradutor decide utilizar estruturas mais longas e menos diretas para expressar, no texto-alvo, elementos do texto-fonte. O eufemismo geralmente é construído a partir de paráfrases.
Ex. 1: In my opinion, the President lied about the corruption scandal. Na minha opinião, o presidente faltou com a verdade em relação ao escândalo de corrupção.
Neste exemplo, o tradutor decidiu usar uma estrutura parafrástica eufemística para expressar o verbo [to lie] do texto-fonte.
A paráfrase também ocorre quando uma estrutura sintática da língua-fonte precisa ser traduzida por uma estrutura mais longa na língua-alvo.
Ex. 2: How proficient are you in Chinese?
Como você avalia seu grau de proficiência em chinês?
Aqui o tradutor utilizou uma estrutura parafrástica, portanto mais longa, para expressar o mesmo valor semântico da estrutura sintética da língua-fonte.
1.3.2 Domesticação do estilo
Os procedimentos de domesticação do estilo pressupõem mudanças na estrutura estilística do texto-fonte para que se adeque à estrutura estilístico-pragmática da língua-alvo.
1.3.2.1 Omissão
A omissão é utilizada quando o tradutor decide não traduzir para o texto-alvo algum item lexical ou estrutura do texto-fonte.
Ex.: Capoeira, an interesting blend of dance and martial arts, is facing
gradual revival in Brazil.
A capoeira está passando por uma gradual revitalização no Brasil.
Aqui o tradutor decidiu omitir o aposto relacionado à capoeira no texto-alvo, talvez por considerar que o público-leitor do texto traduzido não necessitava da explicação dada no texto-fonte.
1.3.2.2 Explicitação
O procedimento de explicitação é utilizando quando o tradutor decide acrescer ao texto-alvo alguma informação não expressa no texto-fonte.
Ex.: The IRS may collect over 2 billion dollars in taxes this year.
Este ano, a Receita americana deve arrecadar mais de 2 bilhões de dólares em impostos.
Neste exemplo, o tradutor decidiu explicitar a informação de que se tratava da Receita dos Estados Unidos, já que tal informação, subentendida no texto original, daria a impressão, no texto-alvo, de que se tratava da Receita Federal brasileira.
Ex. 2: Elite Squad was the Golden Bear Award-Winner in 2008.
O filme Tropa de Elite foi o vencedor do Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim em 2008.
Neste exemplo, o tradutor explicitou o item lexical filme e a informação de que o prêmio foi concedido no Festival de Cinema de Berlim.
1.3.2.3 Generalização e especificação
Os procedimentos de generalização e especificação ocorrem quando o tradutor utiliza, para traduzir um determinado item lexical do texto-fonte, hiperônimos e hipônimos, respectivamente.
Ex. 1: When I opened the door, my palmtop was not there anymore. Quando abri a porta, meu computador não estava mais lá.
Neste exemplbo, o tradutor utilizou generalização do termo palmtop, pois usou o hiperônimo computador.
Ex. 2: The famous Brazilian “farofa” is made with fried flour and
sausages.
A famosa farofa brasileira é feita com farinha de mandioca e linguiça.
Aqui o tradutor decidiu especificar o tipo de farinha utilizada através de um hipônimo, farinha de mandioca. O uso desse recurso pode ter ocorrido porque o tradutor, de posse da informação que faltava no texto-fonte, considerou que era seu dever incluí-la no texto-alvo.
1.3.2.4 Compensação
Compensação é a tentativa, por parte do tradutor, de utilizar o mesmo
recurso estilístico usado no texto-original, porém com referentes ou símbolos diferentes. A compensação é ibidem quando ocorre no mesmo lugar
(parágrafo ou período) onde o recurso estilístico reproduzido do texto-original se encontra; e alibi quando o tradutor, vendo-se impossibilitado de reproduzir o mesmo recurso estilístico do texto-original no mesmo lugar em que aparece, decide fazê-lo em outro parágrafo ou outro período do texto-alvo. A compensação é utilizada geralmente quando há, no texto-fonte, incidências de jogos de palavras, rimas e anedotas.
Ex.: “You sit here and car.”
“OK, what kind of car am I?” “A 280-Zit.”
“Você fica aqui e finge que é um carro” “Tá certo, e que tipo de carro eu sou?” “Um Mercedes Classe A-cne.”
No diálogo acima, retirado de um filme de comédia americano, dois irmãos estavam conversando sobre a promissora carreira de modelo de Kate, a irmã. A menina queria treinar para o próximo trabalho que iria realizar, o de modelo numa exposição de automóveis. Para tanto, ela pede que o irmão finja ser um carro (…you sit here and car.), a fim de que possa fazer as poses de modelo. O irmão adolescente pergunta a Kate que tipo de carro ele seria, ao que ela responde 280-Zit, uma alusão ao Datsun 280Z, um carro luxuoso conhecido do público norte-americano, acrescido do jogo de palavra [Z zit], uma alusão ao fato de o irmão ser um adolescente cheio de acnes. Ao traduzir, o tradutor, vendo-se impossibilitado de usar o mesmo referente para produzir o jogo de palavras, decidiu usar o Mercedes Classe-A, um carro igualmente luxuoso e conhecido do público-leitor brasileiro, com o qual poderia construir a polissemia utilizando a palavra acne, mantendo assim a comicidade do texto original.
1.3.2.5 Reconstrução
O procedimento de reconstrução pressupõe mudanças na ordem
sintática e na estrutura estilística de toda a sentença (reconstrução sintática) ou na estrutura lógico-semântica da sentença (reconstrução semântica) a fim de manter o valor semântico do texto-fonte.
Ex. 1: We examined the patients after taking the prescribed medicine
and came to the conclusion that the substances utilized are harmless.
Os pacientes foram examinados após tomarem a medicação prescrita e chegou-se à conclusão de que as substâncias utilizadas são inofensivas.
Neste exemplo, a voz ativa do texto-fonte foi reconstruída para a voz passiva no texto-alvo.
Ex. 2: Specialists are convinced that the WTC Twins were demolished
rather than crashed down by the airplanes.
Os especialistas estão convencidos de que a causa da queda das torres gêmeas foi implosão, e não a colisão com os aviões como antes se pensava.
Neste exemplo, o tradutor reconstruiu sintaticamente todo a oração
subordinada objetiva indireta, substantivando os verbos demolish e crash, acrescentando o substantivo causa, o verbo-cópula ser e o predicativo do sujeito, além de uma oração adverbial no final do período. Esse tipo de construção mais nominalizada que verbalizada é muito comum em textos jornalísticos no Brasil. No inglês, a tendência parece ser inversa – os jornais em língua inglesa, de acordo com nossa observação, parecem preferir a verbalização.
Ex. 4: The father arrived, hugged his daughter and kissed her in the
mouth.
Ao chegar, o pai deu um abraço em sua filha e a beijou na testa.
No exemplo 4, o tradutor decidiu reconstruir semanticamente o período e substituiu o referente boca por testa. Ao ser indagado sobre o porquê da escolha, o tradutor em questão afirmou que, no Brasil, é muito incomum um pai dar um beijo na boca de sua filha de 15 anos e preferiu usar uma
estrutura semântica que não chamasse a atenção dos leitores, mais “neutra”.
Ex. 5: Oh, your test was not bad at all, Alex. Alex, sua prova está muito boa.
No exemplo 5, o tradutor decidiu reconstruir o vetor de sentido negativo do texto-fonte e transformá-lo num texto-alvo com vetor de sentido positivo, utilizando para tanto o procedimento de reconstrução semântica.
1.3.2.6 Equivalência estilística
A equivalência estilística, também conhecida como melhoria, é usada quando o tradutor inclui no texto padrões retóricos relacionados com a tipologia textual a qual o texto pertence. Esse recurso é utilizado geralmente para explicitar características estilísticas da tipologia textual não presentes no texto-fonte.
Ex.: The little girl said she was carrying a basket of food to her
grandmother.
A menininha disse que estava levando uma cesta de doces para a vovozinha.
Neste exemplo, o tradutor utiliza o procedimento de equivalência estilística para traduzir basket of food por cesta de doces e grandmother por
vovozinha. Após identificar que o texto-fonte pertence à tipologia textual conto infantil, o tradutor decidiu explicitar, no texto-alvo, padrões retóricos
pertencentes a essa tipologia que não estavam explícitos no texto-fonte.
A mudança de registro ocorre quando o tradutor decide traduzir um texto com registro informal para linguagem formal (ou neutra) ou vice-versa.
Ex.: Hey, asshole, I’m going to bust your head all over this fucking
parking lot!
Ei, seu babaca, eu vou estourar seus miolos por toda essa droga de estacionamento!
Neste exemplo, o tradutor evitou utilizar palavras ofensivas de baixo calão e decidiu “neutralizar” o registro do texto. No entanto, essa decisão nem
sempre cabe ao tradutor. As agências de tradução que prestam serviços de tradução para dublagem e legendagem de material áudio-visual, por
exemplo, possuem regras estritas de uso de palavras de baixo calão e coloquialismos. Os tradutores que trabalham para tais agências precisam seguir os manuais de estilo fornecidos pelas empresas.
1.3.2.8 Mudança de complexidade/fluidez estilística
O procedimento de mudança de complexidade/fluidez estilística é mais amplo, e sua observação pressupõe a análise de todo o texto traduzido. A mudança na complexidade estilística do texto é alcançada através do uso de outros procedimentos tradutórios domesticadores do sistema linguístico, do estilo e da realidade extralinguística. Esse procedimento é utilizado quando, por alguma razão, o tradutor ou o cliente consideram que o texto original é complexo ou simples demais estilística ou semanticamente e o público-leitor, por essa razão, não o aceitaria naturalmente.
1.3.2.9 Adaptação
O procedimento de adaptação também só pode ser observado a partir de uma análise de todo o texto traduzido e é alcançado através de outros
procedimentos descritos neste trabalho. A adaptação ocorre, por exemplo, quando um texto originalmente escrito para o público adulto é traduzido para ser publicado para o público infantil, ou quando o texto-fonte foi escrito originalmente para o cinema e é traduzido para ser publicado como
romance. A adaptação pressupõe mudanças profundas no estilo do texto, adaptando-o ao novo contexto editorial e/ou ao público ao qual se destinará a tradução.
1.3.3 Domesticação da realidade extralinguística.
Os procedimentos de domesticação da realidade extralinguística implicam mudanças ou substituições dos itens culturais e referências exóforas presentes no texto-fonte.
1.3.3.1 Transferência
Transferência é a substituição de um item cultural do texto-fonte num item cultural de mesma função no texto-alvo.
Ex. 1: Mount McKinley has the height of 135 Statues of Liberty.
O Monte McKinley possui a altura equivalente a 165 estátuas do Cristo Redentor.
Neste exemplo, o tradutor decidiu substituir a referência à Estátua da Liberdade por uma referência mais próxima do público-alvo, já que muito mais brasileiros têm idéia aproximada da altura do monumento ao Cristo Redentor que da Estátua da Liberdade novaiorquina.
Ex. 2: My daughter is going to throw a great party at her Sweet 16. Minha filha vai dar uma grande festa nos seus 15 anos.
No exemplo 2, o tradutor decidiu substituir o referente à festa de debutantes aos 16 anos nos EUA e Inglaterra pela referência à tradição latina de
celebrar o começo da idade adulta aos 15 anos.
Ex. 3: Jesus é o Cordeiro de Deus.
Jesus é a Foca de Deus. (tradução da Bíblia para a língua Ynuit)
No exemplo 3, os tradutores da Bíblia para a língua Ynuit dos esquimós habitantes do Norte do Canadá e Groenlândia expressam sua preferência pela domesticação através de transferência de itens culturais dos judeus palestinos para itens conhecidos de fácil compreensão dos esquimós que possuem as mesmas importância e função nas duas culturas.
1.3.3.2 Explicação
O procedimento de explicação é utilizado quando o tradutor
acrescenta, no texto-alvo, um aposto elucidando a composição ou função de um determinado elemento da cultura a que pertence o texto-fonte. A
explicação pode vir entre parênteses ou entre vírgulas (explicação
intratextual), ou em nota de rodapé, nota do tradutor (NdT), nota de fim de livro ou no prefácio (explicação paratextual). As edições da Bíblia para
estudo contêm muitas explicações paratextuais sobre termos-chave das línguas dos originais para acrescentar elucidações sobre polissemias e implicações não expressas pela tradução.
1.3.2.3 Ilustração
O procedimento de ilustração é utilizado quando o tradutor acrescenta ao texto formas gráficas, ícones ou desenhos/fotos para tornar clara a tradução do texto-fonte. Este procedimento é geralmente utilizado em manuais
técnicos, em que fotos dos aparelhos, botões, substâncias ou materiais referidos no texto-fonte aparecem ao lado de seus referentes.
As descrições dos procedimentos técnicos de tradução independem de qualquer julgamento quanto à legitimidade ou à adequação de uso. O emprego de cada procedimento é altamente dependente do contexto
tradutório e das personagens envolvidas no contrato de tradução. Cabe aos pesquisadores de tradução, principalmente aos que realizam pesquisas cognitivas através de protocolos verbais e textuais, investigar como e por que os procedimentos são utilizados nos mais diversos contextos
tradutórios, tanto em tradução técnica como em tradução literária.
Por fim, é possível dizer que as fronteiras entre os procedimentos não são estáticas e por vezes podem se apresentar congruentes. Procedimentos de transposição e reconstrução podem se confundir em determinadas situações, os limites da adaptação e da mudança de registro podem não se apresentar claros, os procedimentos de paráfrase e explicitação podem, em
determinados contextos, ser considerados congruentes, dentre muitos
outros problemas de análise detectados. Cabe ao pesquisador e ao crítico de tradução estabelecer essas fronteiras onde a tabela aqui apresentada possui hiatos.
Abstract: This article presents a new, recategorized and enlarged table of
translation procedures based on the previous works of Barbosa (1990) and Lanzetti (2006). The procedures were categorized according to the
translation paradigms proposed by Schleiermacher (2001a & b), namely – the foreignizing and domesticing translation paradigms. Based on this recategorization, we redefine existing translation procedures and include others as of the analysis of translations done by translators in training and professional translators collected within the years of 2006 and 2008.
Key words: translation, translation procedures, Schleiermacher REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 1990
CATFORD, J. C. A linguistic theory of translation. Oxford: Oxford University, 1965
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Faculdade de Letras. Dissertação de Mestrado do Programa Interdisciplinar de Lingüística Aplicada, 2006
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MÉTODOS EM TRADUÇÃO
TRADUÇÃO COMUNICATIVA
Tem como objectivo tornar a mensagem mais acessível ao destinatário.
A tradução
,segundo este método
,realiza-se na perspectiva do
destinatário. É, portanto, mais um ofício que uma arte.
Características mais relevantes:
- é melhor que o original
,na medida em que ganha em força e clareza,
embora perca em estilo;
- permite corrigir ou melhorar o enunciado, dando esclarecimentos em
notas de rodapé.
- suprime ambiguidades ou faltas de clareza
- elimina repetições;
- elimina ou clarifica a gíria;
- normaliza o estilo do autor;
TRADUÇÃO SEMÂNTICA
Tem como objectivo recriar o texto respeitando o preciso sentido das
palavras. Este tipo de tradução preserva o estilo do autor.
Características mais marcantes:
- é inferior ao original, pois perde em clareza na transmissão da
mensagem;
- as correcções e aperfeiçoamentos são inadmissíveis;
- não requer adaptações culturais.
TRADUÇÃO INTERPRETATIVA
Tem como objectivo transmitir uma mensagem, após a apreensão
global do sentido. Permite reformulações, criando equivalentes
contextuais inéditos. Defende a tradução livre, desde que se respeitem as
intenções do texto de partida.
O texto é encarado como um todo (não se traduzem palavras, mas
um discurso determinado por uma situação, num contexto preciso).
A tradução é um acto de comunicação e de (re-) criação.
O sentido depende de factores linguísticos
,extra-linguísticos e
situacionais, visto que o processo interpretativo se realiza ao nível da
língua em situação.
1. Interpretação global da mensagem;
2. (Re-)criação do texto na língua de chegada.
Na consecução desta 2
afase, dever-se-ão ter em conta os seguintes
aspectos:
-
clareza de ideias;
-
correcção ortográfica;
-
pontuação;
-
correcção gramatical;
-
selecção adequada do vocabulário;
-
nível de língua.
Vantagens deste método:
- os alunos associam palavras à intenção comunicativa;
- privilegia a espontaneidade, a capacidade comunicativa, mais do
que a correcção gramatical.
Inconvenientes deste método:
- dificuldades linguísticas grandes, quer na língua de partida, quer na
de chegada.
TRADUÇÃO COM BASE NA ANÁLISE DO DISCURSO
Tem como objectivo atender à globalidade do texto. Traduzir textos e
não palavras ou frases.
Principais conceitos:
- Coesão, isto é, a articulação entre as frases gramatical e lexicalmente;
- coerência, isto é, unidade nocional e lógica do texto.
Propriedades de um texto:
- estilo;
- intenção do texto;
- intenção do tradutor;
- tipo de texto;
- correcção formal e lexical;
- nível de língua;
- função da linguagem;
- pontuação;
- contexto epocal, situacional e referencial;
- sexo e idade do autor;
- situação do leitor;
- grau de formalidade/generalidade;
- características pragmáticas.
Conclusão:
Antes de escolher o método deve proceder-se à seguinte análise:
Tradução - Acto de comunicação
Autor
Destinatário
Contexto
situacional:
- Quem fala?
- A quem fala?
- Qual o objectivo?
- Qual o contexto?
TRADUÇÃO - DEFINIÇÕES
«A tradução boa é a que capta fielmente, a
cem por cento, tudo exactamente como
lá
está, sem a preocupação do resultado
estético em Português, que nesses casos
pode não ser equivalente, nem se
aproximar do resultado estético na língua
original. (... traduzir) é conseguir um texto
equivalente; quando nos restringimos
cegamente ao original, obtém-se um texto
La traduction, c'est une succession
continuelle de prises de décision.
- En traduction écrite, 1'emploi du terme
technique exact est un impératif.
- La traduction de textes techniques ne se
ramène pas exclusivement à la
recherche
de correspondances pré-établies de termes
que diz o mesmo, talvez, mas que não
está
dotado dos mesmos encantos orquestrais
que o original tem, portanto, não
dá o
mesmo prazer na leitura.»
(Expresso, 16-5-87)
Faire que ce qui était énoncé dans une
langue le soit dans une autre, en tendant
à
1'équivalence sémantique et expressive
des deux énoncés.
Fondementdidactique de Ia traduction technique, Christine Durieux
techniques.
- II n'y a pas une traduction idéale; il est
très souvent possible d'exprimer un
même
message de différentes façons.
- On ne traduit pas une succession de
mots, mais un message, des mots
successifs pris isolément qui le composent.
- On ne traduit pas pour comprendre, mais
on comprend pour traduire.
- II y a 1'antériorité de la compréhension
par rapport au passage à la langue
d'arrivée.
Fondement didactique de Ia traduction technique, Christine Durieux
Em nenhum caso, repetimos, será possível
uma tradução sem objectivo bem
definido
e é este que, em todos os casos, determina
a estratégia a adoptar para
que tal
objectivo seja obtido da melhor maneira
possível nas circunstâncias de
chegada.
Não é o texto de partida o factor
determinante, não o é a fidelidade a
este,
mas a "fidelidade" ao objectivo, à intenção
ao destino que se dá ao texto de
chegada.
O factor central de cada tradução é o texto
de chegada.
Esboço de uma Teoria da Tradução, Hans Vermeer
A tradução consiste em reproduzir na
Podemos estabelecer, portanto, como regra
fundamental da tradução a interpretação
que o receptor, dentro da sua situação,
deverá apreender da mensagem. Esta
teoria opõe-se frontalmente à tradicional
tradução à letra.
Esboço de Uma Teoria da Tradução, Hans Vermee
A tradução é pois a passagem de um texto
original, redigido numa língua de chegada.
Tem por fim dar a conhecer ao leitor o que
foi escrito numa língua estrangeira. Para
isso, o tradutor terá obviamente de
língua receptora a mensagem da língua
de
origem, por meio do equivalente mais
próximo e mais natural, primeiramente no
que diz respeito ao sentido, em seguida no
que concerne ao estilo.
La traduçtion; théorie et méthode, C: Taber e E. A. Nida, Londres, Ailiance Biblique
Universelle, 1971
compreender para traduzir.
Programa de Técnicas de Tradução, Ministério da Educação e Cultura, 10-10-79
.
PROPOSTA DE ACTIVIDADE
1- Ler atentamente os conceitos apresentados nos documentos
2- Deduzir as semelhanças e diferenças entre eles.
3- Apresentar as conclusões.
Tradutor e Intérprete
Natureza do Trabalho
Os tradutores e os intérpretes são os profissionais responsáveis pela transposição de textos ou discursos de uma língua para outra, permitindo que pessoas que escrevem e falam em línguas diferentes possam comunicar entre si. Apesar da maioria das pessoas julgar que ambos traduzem, na realidade não é isso que acontece: em regra, enquanto o tradutor traduz textos escritos, o intérprete interpreta discursos orais.
Os tradutores são os profissionais que traduzem textos de revistas, livros e documentos de diferentes géneros, sejam estes de natureza literária, técnica ou científica. Para tal, lêem e estudam o texto original, apreendem o seu sentido geral e, em seguida, procedem à sua tradução, procurando respeitar com a máxima fidelidade possível as ideias e o pensamento nele presentes e aplicando a terminologia mais correcta. Estes profissionais fazem também a tradução de legendas de filmes, de peças de teatro, de desenhos animados e de programas audiovisuais, para que estes possam ser sonorizados, dobrados ou legendados. Os tradutores que se dedicam à legendagem de audiovisuais são também designados de marcadores de legendas.
Os intérpretes transpõem um discurso oral emitido numa língua para outra língua e funcionam como elo de ligação entre pessoas que comunicam verbalmente entre si em idiomas diferentes. As principais modalidades de interpretação existentes são a interpretação de acompanhamento, a
interpretação judicial e a interpretação de conferência. O intérprete de acompanhamento é o profissional que, acompanhando determinada pessoa, interpreta em ambos os sentidos os diálogos que esta estabelece com interlocutores que comunicam numa outra língua. A interpretação judicial, por seu lado, é a interpretação que é realizada no âmbito de um julgamento e a interpretação de conferência é a que tem lugar em reuniões multilíngues formais, designadamente congressos, seminários, conferências, mesas-redondas, encontros ou jornadas.
Os intérpretes de conferência recorrem a dois métodos de trabalho distintos, consoante o tipo de reunião: a interpretação consecutiva e a interpretação simultânea. A interpretação consecutiva é o método mais adequado para as conversações que envolvem um número reduzido de idiomas e de participantes, tais como pequenas reuniões técnicas entre especialistas. Nestes casos, o intérprete de conferência encontra-se junto do orador, ouvindo a sua intervenção e tirando apontamentos; em seguida, interpreta integralmente numa outra língua o discurso ocorrido, como se este fosse seu (isto é, na primeira pessoa do singular). O modo simultâneo, por seu lado, é o método mais adequado para encontros que envolvem um largo número de participantes, garantindo a transposição quase imediata dos discursos orais. No modo simultâneo, a equipa de intérpretes instala-se em cabinas (existem sempre, pelo menos, dois intérpretes por cada cabina), junto de um microfone e com auscultadores, e ouve as intervenções faladas numa determinada língua, transmitindo-as em outras línguas, ao ritmo a que são proferidas, para os ouvintes na sala. A interpretação simultânea permite que os participantes num dado encontro multilíngue possam ouvir e falar a sua própria língua durante toda a reunião.
Quer os tradutores quer os intérpretes necessitam de conhecer profundamente as línguas com as quais trabalham, principalmente a sua própria língua. Conhecer a cultura dos países onde essas línguas são faladas é também indispensável, nomeadamente no que se refere à sua actualidade política, económica e social. É-lhes exigido, ainda, o respeito pelo sentido, estilo e espírito do que traduzem ou interpretam. Os manuais técnicos, por exemplo, exigem ao tradutor o domínio aprofundado de termos e expressões técnicas, sob pena de induzir em erro quem os lê. A tradução de um poema requer um conhecimento profundo do seu autor, das respectivas obras e da sua cultura: a linguagem poética baseia-se muito em imagens e metáforas e o tradutor tem que saber reproduzi-las de forma perceptível e, simultaneamente, manter as suas características literárias.
Os intérpretes, por seu lado, devem ter uma certa espontaneidade de expressão, dado que a linguagem oral é, normalmente, mais informal que a escrita. Assim, é-lhes necessário conhecer expressões quotidianas e de gíria existentes nos idiomas que dominam e que grande parte das pessoas utiliza quando fala. Devem ter, ainda, uma grande capacidade de concentração e de memória, treino auditivo e rápida compreensão dos discursos orais, de forma a não perderem nenhuma informação: nas conferências, por exemplo, a maioria das pessoas não se lembra que as suas intervenções estão a ser interpretadas, falando muito rapidamente (sobretudo se estiverem a ler). Como agravante, os intérpretes nunca têm a hipótese de voltar a ouvir o que foi dito. É essencial, por isso, que também tenham excelentes faculdades de análise e de síntese, de forma a que, preservando a continuidade e o sentido dos discursos orais, consigam manter o ritmo da intervenção, sem perder informação.
Nos últimos anos, a inovação tecnológica tem trazido algumas modificações ao desempenho destes profissionais. Os tradutores, por exemplo, viram as suas tarefas facilitadas com a ajuda do computador: Graças a ele, é-lhes possível trabalhar o texto com mais facilidade e podem instalar software de apoio à sua actividade, como programas informáticos de tradução, dicionários electrónicos e bases de dados terminológicas. Este tipo de software é bastante útil nas traduções de textos que utilizam expressões muito técnicas e cujas terminologias não são muito familiares ao tradutor. O Serviço de Tradução da Comissão Europeia, por exemplo, é um grande utilizador de ferramentas informáticas linguísticas para a tradução assistida por computador. As ferramentas que usa vão desde a tradução automática até aos dicionários terminológicos, passando pelos sistemas de memórias de tradução, os quais gerem uma base de dados de frases traduzidas anteriormente. O desenvolvimento informático levou também ao aparecimento de software específico para a tradução e marcação de legendas, permitindo que estas duas tarefas possam ser realizadas simultaneamente.
Tradutor e Intérprete
ONDE PODEM TRABALHAR?
De uma forma geral, os tradutores podem trabalhar para editoras livreiras, centros de documentação, gabinetes de tradução, empresas ligadas à actividade turística e ao comércio internacional e organismos estatais. Normalmente, a actividade destes profissionais é exercida individualmente e em regime liberal (como trabalhadores independentes). Existem, todavia, tradutores por conta de outrém nas entidades acima referidas e outros que optam por trabalhar em conjunto e montam empresas ou gabinetes, com vista a prestar serviços às organizações que necessitam ocasionalmente de trabalhos de tradução. Nos últimos anos, estes gabinetes têm tido uma procura crescente devido ao aparecimento das televisões privadas que necessitam de especialistas para a legendagem de filmes, programas e espectáculos estrangeiros. Mais recentemente, a televisão por cabo - com programas legendados em português - veio também criar mais hipóteses de trabalho. No mercado de trabalho internacional, os nossos tradutores têm algumas hipóteses de trabalho (ainda que reduzidas) nas grandes organizações internacionais multilíngues que utilizam o português como língua de trabalho, entre as quais se destacam as instituições comunitárias. Estas organizações, além de empregarem tradutores permanentes, recorrem também a tradutores independentes externos.
Tal como os tradutores, os intérpretes são procurados tanto por organismos nacionais e organizações internacionais como por outras entidades que necessitam de recorrer ocasionalmente aos seus serviços. As suas hipóteses de trabalhar como trabalhadores por conta de outrém no mercado nacional são, no entanto, muito mais difíceis, uma vez que praticamente não existem entidades empregadoras nacionais que tenham intérpretes a tempo inteiro ao seu serviço, sendo os intérpretes de conferência particularmente afectados por esta situação. Em Portugal, os serviços dos intérpretes de conferência que trabalham como profissionais liberais são procurados por instituições públicas e entidades privadas que organizam conferências internacionais no país e no estrangeiro (empresas, ministérios, organizações e associações patronais, sindicais e profissionais, etc.).
No mercado internacional, as oportunidades de trabalho dos intérpretes de conferência resumem-se às organizações internacionais com resumem-sede no estrangeiro onde as suas línguas de trabalho são necessárias. As organizações internacionais que têm o português como língua de trabalho não são muitas, mas existem algumas que necessitam de intérpretes com o português como língua passiva (língua a partir da qual interpretam para outros idiomas). De entre as potenciais entidades empregadoras de intérpretes de conferência de língua portuguesa, destacam-se as instituições da União Europeia, o Conselho da Europa e as instituições das Nações Unidas. Tal como acontece com os tradutores, estas organizações recrutam os intérpretes de conferência mediante concurso. Como também precisam de recorrer a serviços externos de interpretação, estas organizações criam, ainda, possibilidades de trabalho aos intérpretes de conferência que trabalham como independentes, regra geral, submetendo-os a um teste.
No nosso país, o acesso às actividades de tradução e de interpretação não está por enquanto regulamentado, pelo que nada impede que pessoas sem a qualificação apropriada exerçam estas actividades. De facto, quem necessita de serviços de tradução e de interpretação opta, por vezes, por contratar pessoas que, apesar de saberem falar ou escrever correctamente na língua materna e em línguas estrangeiras, não são competentes para assegurar o elevado nível de qualidade e rigor destes serviços, pois não detêm as capacidades pessoais nem os conhecimentos técnicos e linguísticos que são exigidos. Apesar do mercado de trabalho dos tradutores e dos intérpretes especializados não estar saturado - existe procura de serviços de qualidade -, esta situação traz-lhes dificuldades, pois têm de enfrentar uma mão-de-obra não qualificada que traz-lhes retira algumas oportunidades de trabalho.
Em Portugal, a localização geográfica destes profissionais centra-se nos grandes centros urbanos (com destaque para Lisboa e Porto), pois é aí que existe maior necessidade dos seus serviços. No plano internacional, a procura de tradutores e intérpretes de língua portuguesa localiza-se
principalmente em Bruxelas, dado que é nesta cidade belga que está situada a maioria das instituições da União Europeia onde o português é uma das línguas oficiais de trabalho.
Tradutor e Intérprete
CURSOS
Os cursos superiores existentes na área da tradução e da interpretação são, nomeadamente, os seguintes:
A- Ensino Público:
1- Bacharelato + Licenciatura - Tradução
. Escola Superior de Educação de Faro da Universidade do Algarve
. Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria 2- Bacharelato
- Tradução e Relações Internacionais
.Escola Superior de Educação de Castelo Branco do Instituto Politécnico de Castelo Branco
B- Ensino Particular e Cooperativo
1- Licenciaturas: - Tradução
. Instituto Superior de Línguas e Administração (Lisboa e Leiria) - Tradutores e Intérpretes
. Univ. Autónoma de Lisboa Luís de Camões
. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa) - Tradução e Interpretação em Línguas Modernas
. Instituto Superior de Línguas e Administração (Santarém) - Ciências da Tradução e Cultura Comparada
. Instituto Superior de Línguas e Administração (Vila Nova de Gaia) 2- Bacharelato + Licenciatura
- Tradução e Interpretação
. Instituto Superior de Assistentes e Intérpretes (Porto)
Fonte: Guia de Acesso ao E
Tradutor e Intérprete
Apesar de incluírem matérias consideradas úteis para o exercício das actividades de tradução e de interpretação, a opinião das associações profissionais que representam os tradutores e os intérpretes de conferência é a de que, de uma forma geral, estes cursos precisam de ser complementados com uma formação prática adequada às necessidades do mercado de trabalho, aos requisitos impostos pelas organizações internacionais e à complexidade das funções inerentes a estas profissões. De acordo com estas associações, quem queira ser um profissional especializado em tradução e/ou interpretação deve complementar o máximo possível a sua formação, nomeadamente através da frequência de intercâmbios universitários em países estrangeiros e da realização de cursos de aperfeiçoamento, no país e no estrangeiro.
Em Portugal, e na área da tradução, além dos cursos acima referidos, existem, ainda, cursos em Línguas e Literaturas Modernas, com opções curriculares em Tradução. Quem pretenda aprofundar os seus conhecimentos técnicos e linguísticos tem ao seu dispor diversas formações em Tradução (cursos de especialização, pós-graduações, mestrados, etc.), destinadas a diplomados na área e/ou a tradutores profissionais. Além da formação académica, os estudantes e os profissionais desta área devem recorrer também à auto-aprendizagem, procurando obter conhecimentos por outras vias. Com esse objectivo, devem-se equipar com todos os meios formativos auxiliares possíveis, designadamente livros e dicionários de consulta e de investigação, bem como software de apoio a trabalhos de tradução.
A necessidade de complementar a formação académica também é comum aos intérpretes, mas é na área da interpretação de conferência que ela é maior. De acordo com as associações profissionais portuguesas que representam os intérpretes de conferência, a preparação académica óptima para o exercício desta profissão consiste numa licenciatura seguida de uma pós-graduação ou uma especialização em interpretação de conferência. Em Portugal, a única oferta formativa que existe a este nível é o Curso de Especialização em Interpretação de Conferência, ministrado pelo Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.
A escolha das línguas de trabalho deve ser muito bem pensada e feita de acordo com as necessidades do mercado de trabalho e com o trajecto profissional que se pretende percorrer. Um primeiro factor a ter em conta é que as oportunidades de trabalho são tanto maiores quanto maior o número de línguas com as quais se trabalha: quem domine mais do que uma língua estrangeira pode, à partida, aceitar mais trabalhos do que aquele que só conhece apenas uma língua estrangeira. Por outro lado, deve-se procurar obter uma combinação linguística menos vulgar. Na área da tradução, o mercado de trabalho está sobretudo saturado de profissionais que dominam somente o inglês e/ou o francês, pelo que é aconselhável saber trabalhar com outras línguas. Na área da interpretação, e apesar de alguma saturação, esta combinação linguística continua a ser a mais procurada. Contudo, é conveniente - embora não seja indispensável - poder trabalhar com duas línguas activas (línguas para as quais se interpreta) e dominar pelo menos mais uma terceira, passiva.
No mercado de trabalho internacional, e sobretudo para quem deseje vir a ser intérprete de conferência, a combinação linguística mais procurada nos intérpretes de língua portuguesa é o inglês, o francês e uma terceira língua estrangeira menos habitual. Atendendo às necessidades das instituições europeias, esta terceira língua pode ser o alemão, o dinamarquês, o neerlandês (que compreende o holandês e o flamengo), o sueco, o grego ou o finlandês. No plano
internacional, em geral, existe também uma procura crescente de intérpretes que trabalhem com as línguas faladas na Europa central e oriental (russo, polaco, checo, húngaro, etc.) e com aquelas que registam uma crescente projecção internacional, tais como o árabe, o chinês ou o japonês. Tendo em conta que são chamados a trabalhar sobre os mais diversos temas, é fundamental que tanto os tradutores como os intérpretes desenvolvam, além das suas competências linguísticas, a sua cultura geral. Os textos que traduzem ou os discursos que interpretam podem ser dedicados a áreas tão diversas como economia, agricultura, direito, engenharia, informática ou medicina e é importante que estes profissionais estejam familiarizados com a terminologia utilizada no âmbito dessas matérias, de forma a compreenderem com facilidade o que é dito ou escrito e a preservarem o seu sentido. É essencial, por isso, que tenham curiosidade intelectual, que investiguem sobre o maior número possível de assuntos e procedam a uma actualização diária de conhecimentos. As expressões e os termos técnico-científicos devem ser alvo de uma pesquisa mais atenta, pois são muito específicos e não são utilizados na linguagem comum. Além disso, à medida que o conhecimento científico vai evoluindo, é habitual surgirem novas palavras. Em Portugal, as áreas de medicina, engenharia, economia e direito são aquelas em que existe uma maior quantidade de trabalhos de tradução e de interpretação, pelo que o conhecimento da linguagem utilizada nestas áreas pode constituir uma importante mais-valia no mercado de trabalho.
nsino Superior - Candidatura/98TRADUTORES E INTÉRPRETES
Condições de Trabalho
Os tradutores desenvolvem habitualmente a sua actividade num gabinete, em casa ou nas instalações da entidade contratante, onde reúnem os seus instrumentos de trabalho, tais como um computador (preferencialmente com correio electrónico e Internet), modem, fax, livros, dicionários e outros utensílios e documentação que considerem necessários à sua actividade profissional. O seu ritmo de trabalho é flexível e a sua carga horária semanal é variável, dado que estes profissionais gerem o seu tempo em função do número de trabalhos e dos prazos de conclusão e entrega dos mesmos. Um dos aspectos que distingue claramente a sua actividade da dos intérpretes é o facto de que, ao contrário destes, os tradutores dispõem de tempo suficiente para proceder às consultas bibliográficas necessárias à obtenção de um texto final técnica e linguisticamente correcto.
A actividade de interpretação, por seu lado, encontra-se associada a uma forte componente de imprevisibilidade, o que obriga o intérprete a preocupar-se sobretudo com a mensagem essencial do discurso transposto e não tanto com a sua transposição integral. Esse factor leva também a que esta profissão seja muito exigente do ponto de vista físico e mental, pois o intérprete necessita de estar altamente concentrado e de acompanhar o ritmo das intervenções, ouvindo e falando ao mesmo tempo. Por esta razão, a resistência física e uma boa saúde constituem requisitos importantes para quem pretenda exercer esta profissão. Ser intérprete significa, ainda, estar disponível para se ausentar de casa, pois é uma profissão com um elevado índice de
mobilidade geográfica. Por outro lado, podem desenvolver a sua actividade nos mais diferentes ambientes de trabalho: quando fazem interpretação consecutiva podem trabalhar ao ar livre, enquanto na interpretação simultânea trabalham em cabinas (as quais devem reunir determinadas condições técnicas e estar preparadas para acolher, pelo menos, duas pessoas).
A flexibilidade de horário dos intérpretes varia muito em função do tipo de serviço que prestam. Uma equipa de intérpretes de conferência, por exemplo, pode ser chamada para trabalhar numa conferência de imprensa com uma duração de apenas 45 minutos, no período da manhã, e ser solicitada para interpretar uma delegação durante uma visita, no período da tarde. Em conferência, os intérpretes possuem horários mais rígidos, acompanhando os ritmos das sessões de trabalho (máximo 2 x 3,5 horas/dia), geralmente intervaladas com pausas para refeições e café.
Tradutor e Intérprete
Remunerações
Os preços cobrados pelos tradutores são determinados em função do idioma (uns são mais bem cotados que outros, consoante se tratem de línguas vivas ou línguas mortas) e do tipo de linguagem que se está a traduzir (corrente, literária ou técnica). O pagamento total do serviço é efectuado com base no número de linhas ou de páginas traduzidas. Os valores normalmente cobrados por estes profissionais são os seguintes:
Tipo de Linguagem: Por página (30 linhas, 60 caracteres cada)
Literária Corrente: Técnica:
de 1.940$00 a 3.000$00 de 5.400$00 a 8.550$00 de 6.000$00 a 9.750$00
Fonte: Associação Portuguesa de Tradutores (APT) Os preços cobrados nas traduções para legendagem variam entre os 2,50 € e os 5 € por cada minuto de audiovisual televisivo. Caso se trate de legendagem para cinema, o valor pago varia entre os 20 € e os 30 € por cada dez minutos. As revisões de textos obedecem à tabela de preços praticada para as traduções. São ainda cobradas importâncias extraordinárias, quando os trabalhos necessitam de ser executados e entregues num período inferior a 48 horas (+50%) e quando se realizam traduções a partir de gravações (+30%). As retribuições dos tradutores com vínculo à função pública (por exemplo, que trabalham em ministérios) são muito variáveis, pois dependem da carreira e do escalão em que estão integrados. No mercado internacional, e embora estes valores variem, os tradutores que prestam serviços externos às instituições comunitárias podem ganhar cerca de 2000/2500 €. Caso sejam funcionários permanentes, o seu vencimento-base em início de carreira ronda, normalmente, os 3500/4000 € mensais.
Tal como os tradutores, os intérpretes que trabalham nas instituições comunitárias são normalmente bem remunerados. Os intérpretes de conferência independentes que são recrutados pelas organizações internacionais para prestação de serviços são pagos segundo uma tabela de honorários constante de acordos negociados pela Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (AIIC). Segundo essa tabela, recebem uma retribuição líquida na ordem dos 250/300 € por cada dia de trabalho, embora este valor varie ligeiramente consoante a experiência profissional e a instituição a que se presta serviços. Além disso, recebem ajudas de custo para fazer face às despesas de alojamento, transporte e alimentação.
No mercado nacional, a quase totalidade dos intérpretes é profissional independente, pelo que os honorários cobrados variam mais. Os profissionais com maior experiência, porém, tendem a ter como referência os honorários praticados pelas organizações internacionais, dependendo as ajudas de custo dos valores negociados com o cliente. Apesar dos serviços prestados pelos intérpretes poderem ser considerados caros, tal não significa que os seus rendimentos mensais sejam elevados, pois as suas oportunidades de trabalho não surgem todos os dias - o mesmo acontece com os tradutores.
Tradutor e Intérprete
Perspectivas
Actualmente, as profissões de tradutor e de intérprete desempenham um papel importante no funcionamento das sociedades modernas, dado que estas necessitam cada vez mais de comunicar entre si, em virtude de fenómenos generalizados como a internacionalização da economia, a rapidez da circulação da informação pelo mundo ou o crescimento da concertação entre países perante questões mundiais (como a defesa do ambiente ou o respeito pelos direitos humanos, por exemplo). Neste contexto, o mercado de trabalho para os tradutores e intérpretes é bastante variado e apresenta boas perspectivas, havendo uma série de possibilidades de trabalho a considerar.
Contudo, as novas exigências do mercado de trabalho, aliadas ao crescente número de pessoas que conhecem e utilizam línguas estrangeiras, têm conduzido a uma crescente especialização destas profissões. Deste modo, quem inicia uma carreira de tradutor e/ou de intérprete deverá contar com um mercado de trabalho exigente e cujo acesso não é garantido pelo mero conhecimento de línguas estrangeiras. Deverá adquirir, por isso, técnicas especializadas em tradução e/ou interpretação e é essencial que invista em conhecimentos técnicos e conhecimentos gerais, através, por exemplo, de estágios curriculares e profissionais no país e no estrangeiro e de um esforço constante na investigação e na auto-formação.
O domínio aprofundado de um maior número possível de línguas estrangeiras é, entre outros, um trunfo importante que pode aumentar as hipóteses de trabalho. Apesar do inglês e do francês continuarem a ser línguas bastante requisitadas, a oferta dos que trabalham com esses idiomas é elevada, pelo que é aconselhável estudar outras línguas, nomeadamente as utilizadas
oficialmente na União Europeia, bem como as que se prevêem vir a sê-lo, com a integração de novos membros comunitários.
BOM TRADUTOR É AQUELE QUE:
A- CONHECIMENTOS PRÉVIOS
1- Possui conhecimentos profundos da língua de partida e da língua de chegada;
2- Possui conhecimentos igualmente profundos da cultura e civilização dos países
considerados (parâmetros extra-linguísticos)
3- Tem uma cultura geral razoavelmente vasta;
4- Sabe documentar-se - (Pesquisa documental ou temática em livros especializados
(direito, política, sociologia…), obras de divulgação, catálogos, artigos de jornais
… ) e (Pesquisa terminológica na língua de origem e de chegada (bancos de dados
terminológicos que podem ser solicitados a outros tradutores))
5- Sabe manusear bem os dicionários: bilingues e
unilingues
B- RECEPÇÃO DO TEXTO:
6 - Analisa o discurso: dados sobre o autor, o/os tema(s) tratado(s), a época da
redacção, as circunstâncias históricas, a intenção do autor, o público alvo, o tipo de
texto…
7- Analisa os aspectos linguísticos: traduz-se uma mensagem e não palavras (o
sentido e não as palavras) daí ser necessário:
- limitar e clarificar a situação descrita pelo autor;
- analisar o estilo e o nível ou níveis de língua;
- delimitar elementos de sentido (unidades de sentido);
- neutralizar as polissemias, pelo contexto ou situação;
C- PRODUÇÃO DO TEXTO
8- Toma decisões (o tradutor é um criador; tem de reformular uma mensagem de
um texto de partida numa linguagem inteligível, precisa, idiomática e inédita na
língua de chegada);
D- VERIFICAÇÃO/AVALIAÇÃO DA TRADUÇÃO:
9- Faz uma leitura em voz alta do texto de chegada a alguém que não conheça o texto
de partida (eliminação de interferências, ambiguidades …);
10- Compara traduções entre si e/ou em relação ao texto de partida (verifica o
funcionamento das duas línguas)
TRADUTORES E INTÉRPRETES
Existem várias entidades que podem fornecer informações adicionais sobre esta profissão, nomeadamente:
Associação Portuguesa de Tradutores (APT), R. de Ceuta, 4-B, Gar. 5, 2795 Linda-a-Velha, Tlf. (01) 4198255.
E-mail:apt@mail.telepac.pt Web site: http://www.apt.pt
Associação Profissional dos Intérpretes de Conferência de Portugal (APROFIC), Apartado 1117, 1053-001 Lisboa.
E-mail: aproficportugal@hotmail.com e aiicportugal@hotmail.com
Associação Portuguesa. de Intérpretes de Conferência (APIC), Apartado 12091, 1057 Lisboa Codex.
Sindicato Nacional da Actividade Turística, Tradutores e Intérpretes (SNATTI), R. do Telhal, 4 - 3.º Esq.º, 1150 Lisboa, Tlf. (01) 3467170/3423298.