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TÍTULO: A QUESTÃO INDÍGENA HOJE FRENTE AO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: O CASO DO POVO GUARANI KAIOWÁ NO MATO GROSSO DO SUL

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Academic year: 2021

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TÍTULO: A QUESTÃO INDÍGENA HOJE FRENTE AO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: O CASO DO POVO GUARANI KAIOWÁ NO MATO GROSSO DO SUL

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA INSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): VÂNIA LARISSA LOURENÇO DA SILVA AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): FREDERICO DAIA FIRMIANO ORIENTADOR(ES):

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RESUMO

Este trabalho consistiu em identificar e refletir sobre as questões indígenas atuais frente ao desenvolvimento econômico do país, em especial no estado do Mato Grosso do Sul. Para tanto, tomamos como referência de estudo a experiência indígena recente, particularmente, dos Guarani-Kaiowás. Realizamos um estudo histórico, a partir da pesquisa bibliográfica e em fontes de jornal e revista, utilizando, sobretudo, os relatórios do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) dos últimos 10 anos.

Palavras-chave: Desenvolvimento econômico, questão indígena, Conflitos por terra,

genocídio Guarani Kaiowá.

INTRODUÇÃO

Os povos indígenas no Brasil ao longo dos anos encontraram maneiras de resistir aos massacres e a opressão. Mais recentemente, desde 1980 a população indígena vem se organizando e se articulando para criar novas frentes de mobilizações. (GOHN, 2008, p. 440). Com o fim da ditadura-civil militar, já ao longo da década de 1980, os povos indígenas tiveram muitos direitos assegurados, ao menos formalmente pela Constituição Federal de 1988. (RODRIGUES, 2005, p. 240). Mas os avanços legais estabelecidos após o advento da Carta Magna não foram suficientes para convergir em mudanças nas práticas históricas do capital contra os povos indígenas, nem nas práticas administrativas do Estado, ou da política indigenista praticada pelos governos-civis pós -1988. (BRAND, 2002, p.31). A partir dos anos 2000, este quadro se acirrou ainda mais perante o novo surto de desenvolvimento econômico experimentado pelo País, já sob os governos do Partido dos Trabalhadores, que, com o intuito de promover o crescimento econômico do Brasil, criaram o Plano de Aceleramento do Crescimento (PAC), cujo maior emblema é a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que afetou diretamente o modo de vida indígena, bem como a reversão da tendência de queda do desmatamento no interior das terras indígenas da região do Xingu (ISA, 2014).

A expansão acelerada da fronteira agrícola, pressionada pela expansão do agronegócio, bem como os projetos de megadesenvolvimento da construção civil

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colocados em marcha nos últimos anos, tornaram o Mato Grosso do Sul campeão nacional em termos de conflitos fundiários, resultando na maioria das vezes na espoliação e no esbulho de diversas comunidades tradicionais e comunidades indígenas. (FERRER, 2012.p 114).

Atualmente, os conflitos fundiários no Mato Grosso do Sul estão afetando os povos Guarani Kaiowá de modo avassalador. Atualmente, são milhares de indígenas que sofrem pelo avanço do agronegócio em suas terras tradicionais. Sendo o desenvolvimento econômico o principal causador dos números do suicídio, morte e violência nas comunidades. (GRUBITS, 2003.p.188).

Neste trabalho, buscamos entender a questão indígena ao processo de desenvolvimento econômico do País, partindo da dramática situação dos povos Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Metodologicamente o trabalho foi realizado a partir de levantamento e bibliográfico, discussões teóricas e levantamento e análise crítica de material da imprensa diária a respeito da questão indígena.

Essas discussões se concentraram nas discussões recentes sobre as questões indígenas atuais frente ao desenvolvimento econômico do país, em especial ao povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul. A pesquisa também pretendeu discutir sobre a expansão do agronegócio no solo de Mato Grosso do Sul e as consequências desse avanço no âmbito da vida indígena. Para tanto, foram utilizadas referencias bibliográficas de autores que trabalham a questão indígena no Brasil e no Mato Grosso do Sul e, sobretudo, os relatórios disponibilizados pelo Conselho Missionário Indigenista (CIMI) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

1. A questão indígena no Brasil.

A questão indígena no cenário brasileiro defronta-se com novos conflitos, todos oriundos das várias mudanças ocorridas ao longo do século XX, geradas pelo processo de expansão capitalista no Brasil. Recentemente, decorrentes do ingresso do País na globalização do capital como proeminente exportador de commodities. A luta pela terra e, mais recentemente, pelo reconhecimento das terras indígenas perdura há anos, embora na atualidade muitos desconheçam a realidade dos povos indígenas no Brasil.

Contemporaneamente, a partir dos anos de 1970, diversos grupos e movimentos indígenas começaram a emergir e a reivindicar direitos, contando,

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sobretudo, com o apoio de setores progressistas da Igreja Católica, particularmente do Conselho Indigenista Missionário, que através de um extenso trabalho de base passou a reunir os povos indígenas com o intuito de discutir seus problemas em grandes assembleia. “Envolvendo-se cada vez mais com os meios de comunicação, denunciaram o projeto oficial de extermínio promovido pela ditadura militar, que tinha entre os seus objetivos, a eliminação dos povos indígenas”.(LOEBENS, 2005. P.52). Na década de 1980, ocorrem diversas mobilizações em prol da redemocratização do país e o fim da ditadura militar no Brasil. Será neste processo que os povos indígenas terão seus direitos assegurados, ao menos formalmente, pela Constituição Federal de 1988. Para Falchetti (2010) a Constituição Federal de 1988 realizou diversas mudanças nas organizações sociais de luta e reinvindicações dos movimentos sociais e da organização da sociedade civil, alterando a relação entre a sociedade civil e o Estado. (FALCHETTI, 2010.p 95).

Apesar disso, ao observamos a conjuntura política e social dos povos indígenas, percebemos um cenário de confinamento e violência frente aos avanços (nem sempre legais) do capital. Conforme o Conselho Indigenista Missionário denuncia reiteradamente, a violência contra os povos indígenas persiste no Brasil, do ponto de vista econômico, político, social e cultural, sobretudo, nos últimos 10 anos nos governos de Lula da Silva e Dilma Roussef. (FEITOSA, 2006, p.121).

Portanto, neste século, observa-se, que as mudanças de práticas administrativas e politicas legais estabelecidas nos autos do texto constituinte de 1988 não foram de fato, suficientes para legitimar o direito dos povos indígenas entre eles, a terra. Mas serviu de incentivo a sua luta histórica, que mesmo após os inúmeros episódios de espoliação e tentativas de genocídio, protagonizadas pelo avanço do capital, manteve no seio da organização indígena. Como assinala Maria da Glória Gohn, “hoje, os indígenas estão organizados em movimentos sociais e, em muitos países latinos- americanos, vivem em áreas urbanas e são parte do cenário de pobreza e desigualdade social”. (GOHN, 2008, p. 44).

Conforme assinalou José Carlos Mariátegui, socialista peruano, que no início do século XX dedicou-se a explicação da realidade peruana, defrontando-se neste processo com a questão indígena, suas causas devem buscadas:

[...] na economia do país e não no seu mecanismo, jurídico ou eclesiástico, nem em sua dualidade ou pluralidade de raças, nem em

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suas condições culturais ou morais. A questão indígena nasce na nossa economia. Tem suas raízes no regime de propriedade da terra. [...] (MARIATEGUI, 2010.p 53).

Assim, este trabalho consiste em fazer algumas breves indicações sobre as questões indígenas atuais frente ao desenvolvimento econômico do país, buscando neste processo, em especial no estado do Mato Grosso do Sul, a explicação causal mais elementar da violência que hoje marca a vida indígena. Para tanto, além da análise histórica, buscamos nos relatórios do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) elementos para a reflexão sobre a experiência indígena recente.

2 – O desenvolvimento econômico e a questão indígena no Brasil hoje.

Na atualidade, a questão indígena frente aos processos de desenvolvimento econômico tem sido marcada, no mais das vezes, por inúmeros casos de violências e retrocessos históricos. Eles são vistos, na perspectiva do governo e de certas ações da bancadas do Congresso Nacional como um obstáculo ao “progresso social” e ao capital, evidenciando assim, os motivos dos inúmeros processos de omissão e morosidade no âmbito da vida indígena. Isto porque, no Brasil, o agronegócio é uma das principais fontes de crescimento econômico, colocando o País na quinta posição em termos em expansão e potencial agropecuário perante os demais país. São 8.514.876,599 km², e a maior parte de suas terras encontra-se em poder de grandes corporações nacionais e multinacionais (IBGE, 2006). O Brasil é líder na produção de soja, café, açúcar, carne, frango, laranja e fumo. Sendo utilizados 330 milhões de hectares para o setor agrícola no período de 1996 a 2006. No período entre 2001 e 2011 o crescimento do agronegócio foi bastante expressivo, nestes últimos 10 anos a balança comercial brasileira saltou de US$ 113,9 bilhões para US$ 482,3 bilhões, representando um crescimento de 292%. A expansão do solo brasileiro para o desenvolvimento dos setores agropecuário/ agrícola vem afetando diretamente áreas da população indígena. Nessa perspectiva, Egon Heck destaca:

[...] é resultado de todo um processo histórico que, infelizmente, veio se agravando nos últimos anos, em decorrência da não demarcação

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das terras indígenas e do avanço acelerado de um processo de produção do agronegócio, baseado na monocultura expressiva, especialmente da soja e da cana-de-açúcar. (HECK, 2010, p. 129)

O modelo do desenvolvimento econômico atual é a marca registrada dos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, bem como os inúmeros casos de assassinatos, espancamento, atropelamentos e suicídio entre os povos indígenas. Além da omissão e morosidade nos processos das demarcações territoriais que estão paralisados no Congresso Nacional. Exemplar desta situação foi à implantação do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC)

O Programa de Aceleramento do Crescimento -1 (PAC) foi implantado no governo de Lula da Silva de (2003-2007) com o intuito de estimular o investimento privado em obras de infraestrutura do país, através de investimentos do Estado, do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) e de outras empresas privadas. Já a segunda fase do Programa de Aceleramento do Crescimento, o (PAC-2) teve início no governo da presidente Dilma Rousseff e previa uma duração de quatro anos (2011 -2014) e tinha como intuito consolidar e atualizar os projetos da primeira fase. Promovendo a retomada de grandes obras de infraestrutura social, urbana e logística que foram iniciadas no período anterior, e que ainda não foram concluídas, ou que por diferentes motivos não tiveram sua implantação. (VERDUM, 2012, p.4). A construção das obras do PAC é em sua maioria, de alto impacto as diversidades fauna e da flora, e também são devastadoras as comunidades indígenas, que moram ao entorno dos empreendimentos. O governo brasileiro vê nessas obras grande fonte para o desenvolvimento produtivo e econômico do país, nesse aspecto, as populações indígenas estão sendo lembradas como obstáculo ao progresso. Entre os megaprojetos do PAC, tem-se a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

A Usina Hidrelétrica Belo Monte está sendo construída nas margens do Rio Xingu e fica na cidade do Pará, nas proximidades de Altamira. O seu potencial será de 11 mil MW de potencia instalada a sua matriz principal, tornando-a segunda maior hidrelétrica do país, atrás somente da Itaipu binacional que produz 14 mil MW. (BERMANN, 2012.p 7). No entanto, implantação de Belo Monte deveria seguir um Plano Emergencial das Terras Indígenas, sendo de sua responsabilidade a construção de 21 Unidades de Propriedades Territorial. Em 2013, a Hidrelétrica

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recebeu uma notificação da Justiça Federal para regularizar o planejamento de ações de preservação a comunidade indígena. Em 2014, a empresa responsável pela construção de Belo Monte, a Norte e Energia não havia apresentado nenhum termo de compromisso com a Funai que garantisse o fortalecimento institucional em Altamira para os próximos anos. (ISA, 2014). Conforme indica a nota do Instituto Sócio ambiental, após dois anos nenhum compromisso foi estabelecido com relação à regulamentação das terras indígenas, tanto por parte da Norte e Energia quanto por parte do Governo Federal. Nesse sentido, Belo Monte é um espelho: desde a sua construção nas proximidades de Altamira (PA) são 50 mil pessoas a mais, o que gerou um caos nos serviços de assistência na cidade. Isto porque, conforme aponta as principais áreas de desmatamento dos anos anteriores são dos empreendimentos localizados na Amazônia, e nesse sentido não há como negar o avanço do agronegócio em áreas protegidas (INSTITUTO, 2014).

Conforme se observa, a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte é de fato, prejudicial à preservação ambiental, aos moradores do entorno e afetam diretamente as comunidades indígenas, pois tiveram boa parte de suas terras vendidas para construção do empreendimento. Além dos casos de violência e estrupo entre os funcionários da Belo Monte e a comunidade indígena da região, as forças policias, que em sua maioria, são repressivas e violentas com os indígenas, entre outros aspectos.

Em 2012, o Conselho Indigenista Missionário registrou 54 casos de omissão e morosidade nos processos de regularização das Terras Indígenas, em diversas regiões do país. Dessas, apenas sete terras indígenas foram homologadas, e há outras 339 terras sem nenhuma providência, sendo 293 terras em estudos, e outras tantas aguardando a aprovação da presidência da república. (RANGEL, 2012, p 13). Nos oito anos do governo de Lula da Silva foram homologadas em média 11 terras indígenas por ano, sendo 44 delas nos dois primeiros anos (e terras que já haviam sido preparadas no governo de Fernando Henrique Cardoso), exceto a Terra Indígena Panambizinho localizada na região centro-oeste. (HECK, 2010, p. 36) São 4.220 processos titulados e 152 de interesses em minério no solo indígena brasileiro. No entanto, para a realização dessas atividades é necessária à aprovação no Congresso Nacional (IEPE, 2013). Os direitos dos povos assegurados pela Constituição Federal de 1988 estão sendo invalidados por diversas emendas constitucionais no âmbito do Congresso Nacional.

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Certamente, é ilusório falar em direito aos povos indígenas no Brasil, pois como bem se observa a situação atual é de confinamento e retrocessos sociais, ou seja, apesar dos vários avanços formais obtidos ao longo da décadade 1980, sobretudo, com o fortalecimento do Movimento Indígena, o avassalador processo de desenvolvimento econômico atual vem sistematicamente destituindo as conquistas políticas das décadas anteriores. Os diversos aspectos teóricos legais contidos no texto constitucional de 1988 não passaram de medidas administrativas do Estado ou da política indigenista praticada pelo governo no período pós-1988. A prova disto são os inúmeros assassinatos, o entrave na homologação das terras indígenas e os diversos projetos de leis que visam alterar o texto constitucional em favor ao grande capital. (BRAND, 2002, p.31). Para se ter uma ideia, mais recentemente foi levada ao Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição1 da portaria 215/200 (PEC 215), que tem como intuito transferir para o âmbito do Congresso Nacional a responsabilidade nos processos de demarcação de terra indígena, conforme seus atributos legais. (SILVEIRA, 2013). Diante da extensa e fortalecida bancada ruralista, ainda mais fortalecida depois do pleito de 2014, isto significará um retrocesso ainda maior nos processos de reconhecimento e homologação dos territórios indígenas. Já o Projeto de Lei Complementar (PLP 227/2013), em tramitação desde 2013, tem o intuito de alterar o artigo 231 da Constituição Federal de 1988, que assegura o direito dos povos indígenas, entre outros, à terra. E abre algumas exceções quanto a exploração de terras indígenas para o desenvolvimento do agronegócio, mineração e empreendimentos do interesse público. (SILVEIRA, 2013). A aprovação de tais Projetos de Leis possui o apoio de empresas nacionais e transnacionais que enxergam nas terras indígenas solo fértil para expansão do agronegócio, da mineração e da construção, hoje os eixos do programa neodesenvolvimentista posto em marcha pelos governos do PT. (FIRMIANO, 2014). A omissão do Governo Federal nas demarcações territoriais e os Projetos de Leis que buscam inviabilizar e modificar o direito dos povos indígenas a terra, são os protagonistas dos altos índices de violência em Mato Grosso do Sul, conforme veremos a seguir.

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Proposta de Emenda à Constituição Federal (PEC) é uma atualização, uma emenda ao texto constitucional.

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3 – A violência contra os povos indígenas no Brasil e no Mato Grosso do Sul.

Para compreender a violência contra os povos indígenas no campo brasileiro, é necessário avaliar os impactos dos processos históricos e, ainda os resultados dos projetos do desenvolvimento econômico hoje em marcha do país.

Nas décadas de 1960 e 1970, o governo militar do presidente Emílio Médici(1969-1974) lançou o ambicioso programa de construção da Rodovia Transamazônica, a Belém-Brasília, a BR 364, a BR 174 e a Perimetral Norte, como frente de desenvolvimento da Amazônia. O projeto tinha o intuito da abertura de estradas, ligando as regiões Norte e Nordeste do Brasil com o Peru e o Equador. No entanto, a construção da obra no coração da Amazônia no século XX, significou para os indígenas uma época repleta de violência, sangue e cinzas. Inúmeros indígenas foram acometidos por doenças, tiveram seus recursos naturais esgotados pela presença dos garimpeiros, madeireiros e pistoleiros da região. (HECK, 2005.p 239). Além, é claro, das inúmeras ações militares no sentido da dizimação dos povos indígenas, conforme a Comissão Nacional da Verdade já têm demonstrado. (Cf. www.cnv.org.br). Estima-se que oito mil índios foram diretamente afetados pelas políticas do Estado. Para Cicero Almeida, coordenador do SOS Racismo da Alesp, os processos de genocídio e a violência contra os povos indígenas foram promovidos, principalmente, sob a invasão de terras que, até hoje, permanecem nas mãos dos invasores. (CRUZ, 2014).

Atualmente, ao analisarmos o contexto dos povos Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, é possível notar diversos casos graves de violência e desrespeito. Entre 2003 e 2010, os números de violência e assassinatos no Brasil e no Mato Grosso do Sul foram horripilantes. Com relação ao número de assassinatos, foram 452 casos registrados e nessa estimativa, Mato Grosso do Sul, teve 250 índios assassinados. Mais da metade dos casos registrados em diversas regiões do Brasil. Na terra indígena em Dourados, onde há 14 mil indígenas, aconteceram 16 assassinatos dos 34 ocorridos no Mato Grosso do Sul, em 2010. Os números de homicídio (culposo) na região de Mato Grosso do Sul, no período de 2003 a 2010, apresentaram o total de 49 casos registrados, ao passo que no restante do Brasil foram 50 mortes. (RANGEL, 2011.p 16) Em 2012 aumentaram, de maneira preocupante, os números de assassinatos, espancamento. Na maioria dos casos, contando com a omissão do governo federal. Naquele ano, o número de

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assassinatos foi de 60 vitimas, ao passo que em 2011 registrou-se 51 casos no Brasil. Mato Grosso do Sul, registrou 37 vitimas e no ano anterior foram 31 casos. Nesse aspecto, o Cimi destaca:

Nos últimos 10 anos, os levantamentos do Cimi mostram que pelo menos 563 indígenas foram assassinados no país. Uma média anual de 56,3 indígenas. Como nos anos anteriores, Mato Grosso do Sul destaca: 60% das ocorrências em 2012 e 55% das ocorrências nos últimos 10 anos, totalizando, pelos levantamentos do Cimi, 317 vítimas (CIMI, 2012, p. 16).

Isso, sem contar as situações enfrentadas por estes povos de desnutrição infantil, morosidade na homologação das terras, expulsões, falta de assistência em saúde, etc. Ao realizar uma análise histórica da violência contra os povos indígenas no Brasil e no estado do Mato Grosso do Sul, percebe-se que os processos de violência no campo são marcados em sua maioria pelos avanços do capital do agronegócio em terras indígenas. E mais recentemente, pelos programas de desenvolvimento econômico que se confrontam diretamente com a proteção dos direitos dos povos indígenas.

4 – Considerações Finais.

Partindo das transformações que aconteceram no mundo, nas ultimas décadas, o Brasil vem se desenvolvendo economicamente, garantindo seu lugar na globalização do capital, através de sua posição subalterna de grande exportador de commodities. Mas esta nova frente de expansão capitalista e desenvolvimento implicam diretamente à vida indígena, sobretudo, no que toca à questão da terra.

5- Referências

BRAND,A.Mudanças e continuísmos na política indigenista pós -1988, 2002.31p. Disponível em:<http://www.scholar.google.com.br/scholar?hl=pt- BR&as_sdt=0,5&q=mudan%C3%A7as+e+continuismos+na+politica+indigenista> Acesso em 10 de set.2014

BERMANN, C. O projeto da usina hidrelétrica Belo Monte: a autocracia energética como paradigma, Novos Cadernos,São Paulo,v.1, 2012. 07 p.

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Disponível em: < http:// www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/viewArticle/895> Acesso em 05 de set. 2014.

HECK,Egon. A violência e a paciência combativa.In: COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Conflitos no campo Brasil 2009. (Coordenação: Antônio Canuto,Cássia Regina da Silva Luz, IsoleteWichinieski). – São Paulo: Expressão Popular,2010. HECK,Egon. Relatório violência contra povos indígenas. Conselho Indigenista

Missionário 2005.p 36. Disponível em:<

http://www.cimi.org.br/pub/MS/Viol_MS_2003_2010.pdf > Aceso em 25 de nov. de 2014.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Justiça determina cumprimento das medidas de proteção às TIS afetadas por Belo Monte. São Paulo, 28 abr. 2014.

Disponível em: <www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/justica-determina-cumprimento-das-medidas-de-protecao-as-tis-afetadas-por-belo-monte>. Acesso em 05 de set. 2014.

FALCHETTI,A.C.Horizontes da luta social: os sujeitos da política. Belo Horizonte:Book Jvris,2010.95 p.

FEITOSA,Saulo Ferreira. A violência dos grandes projetos. In: CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Violência contra os povos indígenas no Brasil- Relatório 2012.CIMI;CNBB:Brasília,2013.

LOEBENS,F.A Amazonia indígena conquistas e desafios. In: Dossiê Amazônia brasileira,v.19,São Paulo,n 53,p.240,set.2008.

Disponívelem:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000100015&script=sci_arttext> Acesso em 01 de jun. 2014.

MARIATEGUI,C.J.Sete ensaios de interpretação da realidade peruana.SãoPaulo:Expressão Popular,2010.p.53.

RANGEL,Lucia Helena. Violência contra os povos indígenas. In: CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO.Violência contra os povos indígenas no Brasil-relatório 2011.p 16.

SILVEIRA,D. Agronegócio e mineração formam nova frente contra indígenas. Brasil

de Fato,Brasíla, dez.2013. Disponível

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