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Academic year: 2021

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A variação da velocidade de fala como estratégia comunicativa na expressão de atitudes

Palavras-chave: velocidade de fala, comunicação, atitude Introdução

Uma das principais funções da prosódia é a expressão de atitudes. Através da variação de parâmetros como entonação, intensidade e organização temporal (velocidade de fala e pausas) o ser humano é capaz de transmitir atitudes diferenciadas, como a certeza e a dúvida. O presente trabalho tem como foco o estudo da expressividade do falante e sua relação com a variação da velocidade de fala. Faz parte do projeto de doutorado do primeiro autor.

A velocidade de fala pode ser relacionada com o ritmo que cada individuo imprime à seu discurso, adequando-se ao contexto e a própria situação na qual ele se encontra (Behlau e Pontes, 1995). Dessa forma, unem-se dois parâmetros relevantes para a velocidade de fala: aspectos individuais e o ambiente. Estudos sobre a velocidade de fala considerando esses dois fatores foram desevolvidos no estudo de falantes nativos em diferentes idades (Folha e Felicio, 2009; Martins e Andrade, 2008), distúrbios de fala e linguagem (Wertzner e Silva, 2009; Azevedo e Cardoso, 2009) e expressividade. Dentro desta última, podemos considerar os atos de fala, as emoções e as atitudes.

Estudos sobre a organização temporal no comando militar verificaram que tanto a velocidade de fala quanto a localização das pausas apresentaram tendências relevantes neste tipo de discurso (Celeste et. al., 2006; Coelho, 2007).

Alguns autores apontam que a variação da velocidade de fala pode ser utilizada na expressão de emoções, com menor velocidade de fala na expressão de carinho e maior na expressão de raiva (Barbosa et. al., 2009).

Ao estudar a expressividade de professores de química, a velocidade de fala foi considerada como um dos parâmetros relevantes. Essa foi avaliada como lenta, rápida ou adequada, estando adequada em apenas um pouco mais da metade dos participantes (54%) (Chaves, Coutinho e Mortimer, 2009).

Tendo em vista a relação entre a velocidade de fala e a expressividade dos falantes, o objetivo deste trabalho foi investigar como a variação da velocidade de fala pode ser utilizada como estratégia comunicativa na expressão das atitudes de certeza e dúvida.

Métodos

Participaram desta pesquisa 12 indivíduos do sexo masculino, sem queixas de alteração de fala, linguagem e audição.

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Para constituição do corpus, foram elaboradas 10 frases neutras e curtas. Essas foram colocadas na forma declarativa e interrogativa. As mesmas frases foram inseridas dentro de contextos específicos a fim de auxiliar os participantes na expressão de certeza e dúvida. Foram no total 10 frases neutras, 10 expressões de certeza e 10 expressões de dúvida por participante.

Os dados foram coletados em ambiente silencioso para que o ruído não interferisse nas análises acústicas, por meio do programa de análise acústica Praat. Os participantes leram as frases nas formas declarativa e interrogativa num primeiro momento. No segundo momento, foram coletadas as expressões de certeza e por fim de dúvida.

A análise acústica considerou os seguintes parâmetros:

• Tempo total de pausas e disfluências;

• Taxa de elocução: número de sílabas dividido pelo tempo total de elocução; • Taxa de articulação: número de sílabas dividido pelo tempo total de articulação.

Após a análise acústica dos dados foi realizada a análise estatística através dos programas excell, versão windows vista e Minitab® 15.1.30.0. Foram tiradas medidas de estatística descritiva e teste de associação de variáveis não paramétrico de Kruskall Wallis, uma vez que os dados não apresentaram normalidade satisfatória, com nível de confiança de 95%.

Resultados

Inicialmente, é necessário expor que a expressão de dúvida apresentou duas formas distintas: uma similar a forma afirmativa (dúvida1) e outra similar a forma interrogativa (dúvida2) e por isso foram analisadas separadamente.

No que diz respeito às pausas e às disfluências, essas foram encontradas somente na expressão de dúvida, como mostram as tabelas 1 e 2.

Afirmativa Interrogativa Certeza Dúvida 1 Dúvida 2

N enunc 120 120 120 30 90

N pausas 0 0 0 27 8

% p p 0 0 0 90% 8,80%

Média* 0 0 0 0,106 0,337

Tabela 1: Número total de enunciados, número total de pausas nos enunciados, sua porcentagem de ocorrência e média em milisegundos para GC.

Legenda:

N enun: número total de enunciados

% p p: porcentagem de ocorrência de enunciados com pausas

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Afirmativa Interrogativa Certeza Dúvida 1 Dúvida 2

N enunc 120 120 120 30 90

N disf 0 0 0 15 9

% p disf 0 0 0 50% 10%

Média* 0 0 0 0,232 0,157

Tabela 2: Número total de enunciados, número total de disfluências nos enunciados, sua porcentagem de ocorrência e média em milisegundos.

Legenda:

N enun: número total de enunciados N disf: número total de disfluências

% p p: porcentagem de ocorrência de enunciados com disfluências

*Foram consideradas para o cálculo da média apenas os valores maiores que 0.

As médias e o desvio padrão das taxas de elocução e articulação encontram-se nos gráficos 1 e 2, respectivamente e a comparação desses parâmetrso na tabela3.

Int Duv 2 Duv 1 Cert Afirm 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 Tipo fr T x E Interval Plot of Tx E 95% CI for the Mean

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Int Duv 2 Duv 1 Cert Afirm 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 Tipo fr T x A Interval Plot of Tx A 95% CI for the Mean

Gráfico 2: Média e desvio padrão das modalidades e atitudes para os valores da taxa de articulação.

Afirm X Cert Afirm X Duv 1 Inter X Duv 2 Cert X Duv 1 Cert X Duv 2 Duv 1 X Duv 2 Tx E 0,000* 0,000* 0,06 0,000* 0,4 0,000* Tx A 0,000* 0,000* 0,04 0,000* 0,1 0,000*

Tabela 3: Valor de p (p<0,05) por meio do teste não paramétrico de Kruskall Wallis para comparação entre modalidades e atitudes das taxas de elocução e articulação.

Discussão

O primeiro fator a ser considerado aqui será a presença de pausas do enunciado. Como os participantes falaram frases curtas, considerou-se que não há necessidade fisiológica de utilizar pausa. Dessa forma, as pausas foram consideradas como parte de uma estratégia do locutor para se expressar, ou seja, foram produzidas como estratégia comunicativa. As pausas são um recurso supra-segmental relevantes no discurso, desempenhando várias funções em conversações (Alves, 2002).

Assim como as pausas, as disfluências foram inseridas a fim de expressar dúvida, mais fortemente em dúvida1. Tanto as pausas quanto as disfluências ocorreram apenas na dúvida, reforçando a idéia de que a presença dessas é intencional.

Quanto às taxas de elocução e articulação, vimos que a dúvida1 é estatisticamente diferente das demais. No entanto, a dúvida2 não apresentou diferença estatisticamente significativa da interrogativa para taxa de elocução. Tal fato se justifica na medida em que observamos o gráfico 2 e a tabela 1: a articulação na dúvida é mais rápida do que na interrogativa, no entanto foi “mascarada” na taxa de elocução devido às pausas e às disfluências.

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A certeza, por sua vez, se diferencia claramente da afirmação, com médias bem mais elevadas nas taxas de elocução e articulação, com diferença estatisticamente significativa. O mesmo acontece se compararmos certeza e dúvida1.

No comando militar, a taxa de articulação apresenta média inferior à encontrada para a expressão de certeza (Coelho, 2007).

Uma dificuldade encontrada para a comparação com a literatura é que a maior parte dos estudos utiliza avaliação qualitativa para esta medida (Barbosa et. al., 2009; Chaves, Coutinho e Mortimer, 2009).

Conclusão

O presente estudo mostrou que a variação dos aspectos de velocidade de fala apresentam uma tendência estatisticamente significativa na expressão das atitudes de certeza e dúvida. A presença de pausas e disfluências na expressão de dúvida mostraram-se também relevantes. No entanto, são necessários mais estudos para que essa relaçéao seja melhor compreendida.

Referências

Azevedo, Luciana Lemos de; Cardoso, Francisco. Ação da levodopa e sua influência na voz e na fala de indivíduos com doença de Parkinson: [revisão] / The action of levodopa and its influence on voice and speech of patients with Parkinson desease: [review]. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2009; 14 (1):136-141.

Barbosa, N. Cavalcanti, E. Neves, E. Chaves, T. Coutinho, F. Mortimer, E. A expressividade do professor universitário como fator cognitivo no ensino-aprendizagem. Cien. Cogn. 2009; Vol. 14 (1): 75-102.

Behlau, M. Pontes, P. Avaliação e tratamento das disfonias. São Paulo: Lovise, 1995.

Celeste, L.C. Coelho, L. Reis. Organização temporal no comando militar. IX Semana de Letras - as letras e seu ensino, 2006.

Chaves, T. Coutinho, F. Mortimer, E. A expressividade nos professores de química : aspectos verbais e não verbais. R.B.E. C. T. 2009; 2(1):1-17.

Coelho, L. A prosódia no comando militar [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais - Faculdade de Letras; 2007.

Folha GA, Felício CM. Relationship between age, percentage of consoants correct and speech rate (original title: Relações entre idade, porcentagem de consoantes corretas e velocidade de fala). Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 jan-mar; 21(1):39-44.

Martins, V.O. Andrade, C.F. Perfil evolutivo da fala de falantes do português brasileiro. Pró-Fono R. Atual. Cient. 2008; 20(1).

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Oliveira, Carolina Rotta; Ortiz, Karin Zazo; Vieira, Marilena Manno. Disartria: estudo da velocidade de fala / Dysarthria: a speech rate study. Pró-fono. 2004; 16(1):39-48.

Wertzner HF, Silva LM. Speech rate in children with and without phonological disorder (original title: Velocidade de fala em crianças com e sem transtorno fonológico). Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2009 jan-mar;21(1):19-24.

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