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UM ESTUDO CONTRASTIVO ENTRE O PORTUGUÊS EUROPEU E O PORTUGUÊS DO BRASIL: O R FINAL DE VOCÁBULO

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UM ESTUDO CONTRASTIVO ENTRE O PORTUGUÊS EUROPEU E O PORTUGUÊS DO BRASIL: O –R FINAL DE VOCÁBULO *

Silvia Figueiredo Brandão - UFRJ Maria Antónia Mota - CLUL Cláudia de Souza Cunha - UFRJ

1. Introdução

Com base no Corpus Compartilhado VARPORT, iniciou-se um estudo que visa a levar a cabo uma pesquisa comparativa dos fenômenos fonéticos/fonológicos que dizem respeito ao (R) em final de vocábulo, nas variedades brasileira e européia, mais precisamente na fala do Rio de Janeiro e de Lisboa e respectivas zonas circundantes.

Como é sobejamente conhecido, /s/, /r/ e /l/ - consoantes que, em português, ocorrem em final de palavra, como coda - estão sujeitos a diversos fenômenos que, embora nem todos comuns às três consoantes, dão origem a um conjunto de variantes de realização muito produtivas na fala. Apesar de o objeto de análise se cingir ao (R) final (não estando fora de causa alargar, em fase posterior, a análise da consoante em posição medial, como ataque e como coda, e ainda em grupo consonântico), será interessante, apenas a título de nota e sempre na perspectiva da comparação PE/PB que se quer desenvolver, referir que, como em PB, em PE /s/ pode ser cancelado (p.e. vamos sair ☯´ a sa´i ); também /l/ pode semivocalizar em posição final, como em mel ☯´m , em variedades não-standard. Outros fenômenos, que são específicos do PE, afetam /s/ e /l/: por exemplo, /l/ em coda, pode ser realizado como lateral e não como velar já que é freqüente, na fala não standard, a inserção de uma vogal epentética final, por default ☯ ou ☯ (mal ☯´ a ou ☯´ a )1.

2. Objetivo e justificativas do estudo

O objetivo é controlar, na perspectiva sociolingüística variacionista, a realização versus queda do (R) em final de vocábulo em PB e em PE, na fala de indivíduos do sexo masculino de níveis de escolaridade elementar e superior, distribuídos por três faixas etárias.

Busca-se determinar quais os fatores relevantes, em cada uma das variedades, para o cancelamento de (R). Do mesmo modo, testa-se qual das duas variedades apaga mais freqüentemente o segmento, embora se tenha como hipótese de partida que tal ocorra sobretudo no PB.

A opção pelo estudo de (R) em final de vocábulo justifica-se pelas razões a seguir elencadas.

(i) Se, relativamente ao PB, são numerosos os estudos sobre o comportamento desta consoante, no que respeita o PE, e embora a ela haja referências em notas esparsas em monografias dialetais, não se dispõe de estudos aprofundados que contemplem as variedades standard e não-standard.

(ii) Não existem, que se saiba, estudos comparados PE/PB sobre o tema, o que permite

*

Texto publicado em BRANDÃO, Silvia Figueiredo; MOTA, Maria Antónia, org. (2003) Análise contrastiva de variedades do português: primeiros estudos. Rio de Janeiro: In-Fólio. P163-180.

1

Sobre fenômenos fonéticos que afectam /s/, em PE, decorrentes da seqüência de duas palavras com relação prosódica em que a primeira termina em /s/ e a segunda tem essa mesma consoante em início de palavra, ver nomeadamente MATEUS & ANDRADE (2000), de que se retiram os seguintes exemplos e respectiva explicação: dois sapatos ☯ (nota 14, p. 145) - /ss/ simplificam-se em ☯ ; ☯ (exemplo (31)b., p.145) - /ss/ realiza-se como consoante geminada. Os autores focam, também, a simplificação, nas mesmas circunstâncias, de / /, como em dois chás ☯ (p.145). Neste domínio, há ainda investigação a fazer, de forma a explicar ocorrências como pontas espigadas

☯ (anúncio TV), em que claramente ☯ é coda da sílaba ☯ e ☯ é

(2)

contribuir para uma pesquisa de caráter original.

(iii) Em Portugal, não há tradição de aplicação dos métodos variacionistas labovianos com o apoio do pacote de programas Varbrul.

(iv) O fato de o Projeto VARPORT ter constituído uma amostra equilibrada, o Corpus Compartilhado, permite que o estudo disponha dos meios requeridos para que a comparação levada a efeito seja confiável quer do ponto de vista lingüístico quer do ponto de vista do equilíbrio dos fatores extralingüísticos usados nas análises variacionistas.

(v) Por fim, deve-se sublinhar que também se justifica este estudo porque se impõe provar que, contrariamente a uma idéia generalizada de pessoas menos informadas, o PE apresenta significativo grau de variação em determinados subdomínios da gramática, variação essa em parte partilhada pelo PB, embora, em geral, em graus diferentes. Interessa, assim, determinar a relevância dessa diferença de grau, bem como a pertinência do fator nível de escolaridade: haverá, nas duas variedades, graus idênticos ou não? Este tipo de estudos comparativos reveste-se, portanto, da maior pertinência na perspectiva da elucidação das semelhanças e das diferenças entre as duas variedades do português, dado permitirem, entre outros aspectos, contribuir para a discussão em curso sobre se portugueses e brasileiros falam ainda a mesma língua ou se as duas variedades se afastaram o suficiente para se admitir serem já línguas independentes, embora muito aparentadas. Em todo o caso, certo é que, em PB como em PE, há coexistência de gramáticas diferenciadas, pelo que é necessário operar com um vasto leque de dados para, de um ponto de vista comparativo, se avaliar corretamente diferenças e semelhanças.

3. Hipóteses de partida

À seleção das variáveis, subjazem algumas hipóteses gerais.

Hipótese 1- sendo a estrutura silábica CV a estrutura considerada universal e também aquela que parece ser a preferencial em português, existe a tendência, quer em PB quer em PE, a evitar a realização de codas. Assim,

(a) a queda de (R) em coda (nesta primeira fase do estudo, em final de vocábulo) encontrará explicação em termos da estrutura silábica da palavra, se se considerar que as codas são segmentos flutuantes que só se ancoram ao esqueleto silábico no nível pós-lexical e que, sob certas condições, podem ter realização zero2

:

2

Cf. MATEUS & ANDRADE (2000:63), que sustentam que - referindo-se apenas ao PB, já que não evocam a existência deste fenômeno em PE -, quando / / tem realização fonética zero, se dá uma ruptura na sua ancoragem ao esqueleto (idem: 130).

(3)

Quadro 1 - Alteração da estrutura silábica pela realização zero de (R) em PE e PB (representação simplificada; por razões de facilidade, usa-se R em forma fonológica,

para as duas variedades)

(b) em PE, há a possibilidade de recuperar a estrutura CV, supletivamente à opção anterior, pela inserção de ☯ ou ☯ : A R A R A R N C N N x x x x x x x R R V(ogal) ☯ PE ☯ ,

Quadro 2 - Alteração da estrutura silábica pela inserção de vogal em PE

Hipótese 2 - Em PE, há menos queda de (R) diante de palavra iniciada por vogal do que em PB dado ser aparentemente mais produtivo o deslocamento de (R) na coda da primeira palavra para o ataque da primeira sílaba da palavra seguinte:

A R A R A R N C N N C x x x x x x x x R PE ☯ dar ar A R A R N C N C x x x x x x R R ☯ PB ☯ ☯ PE ☯

Quadro 3 – Alteração da estrutura silábica pelo deslocamento da vogal em coda para o ataque da sílaba seguinte, em PE

Em qualquer dos casos, os falantes de PE recorrem à ressilabificação para recuperar a estrutura CV.

Hipótese 3 – Diante de consoante inicial da palavra seguinte, a queda de (R) pode depender dos traços dessa consoante e, especificamene, da compatibilidade dos traços de (R) e dessa consoante. A título de exemplo, refira-se o comentário em ANDRADE & VIANA (1992), no artigo “Que horas são às (1)3 e 15?”:

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“A importância de o modo e o ponto de articulação serem idênticos é ilustrada pelo comportamento das sequências de vibrantes. Um falante que utilize a variante múltipla alveolar simplificará essas sequências ao passo que um outro que utilize a variante múltipla velar não o fará”

que ilustram com os exemplos (18)a. mar roxo ☯ e (18)b. mar roxo

☯ .

Esta questão remete para os fenômenos de sândi externo, ressilabificação e para a análise em termos de palavra fonológica, que se pretende desenvolver posteriormente.

4. O comportamento dos dados, no PE e no PB, segundo os grupos de fatores considerados A amostra inicialmente estudada, que foi eliciada de 12 inquéritos do Corpus Compartilhado VARPORT (6 por variedade nacional), perfez, inicialmente, 994 dados, 591 referentes ao Português Europeu e 403 ao Português do Brasil, apresentando a seguinte composição:

Brasil Portugal

Nível Superior Nível Elementar Totais parciais

Nível Superior Nível Elementar Totais

parciais Faixa 1 110 69 179 129 110 239 Faixa 2 23 78 101 77 126 203 Faixa 3 48 75 123 86 63 149 Total 181 222 292 299 403 591

Tabela 1 – Distribuição dos dados referentes a (R) por variedade nacional, nível de instrução e faixa etária

Verificou-se que o índice de cancelamento do (R) no Português Europeu é inversamente proporcional ao que ocorre no Português do Brasil. No PE, há 26% de cancelamento e 74% de manutenção. No PB, há 78% de cancelamento contra 22% de manutenção.

Na tabela seguinte mostra-se o percentual de ocorrência das realizações de (R) encontradas no corpus:

Cancelamento Tepe Tepe + [i] Vibrante uvular Fricativa velar Fricativa uvular Fricativa glotal PE 156/591 26% 430/591 73% 05/591 1% 0% 0% 0% 0% PB 314/403 78% 33/403 8% 0% 02/403 08/403 2% 01/403 45/403 11% Tabela 2 – Distribuição das variantes de (R) em coda externa em PE e em PB

No PE, o (R), quando se realiza, só ocorre como tepe alveolar, que pode ter o reforço de uma vogal subseqüente ([ ] ou [i]). Este último caso mostrou-se pouco produtivo no corpus: 05 dados, correspondentes a 1% da amostra. Visto os informantes serem lisboetas, tal justifica-se pelo fato de a inserção de vogal por default não ser típica da variedade standard.

No corpus do PB aqui considerado, o (R), quando não sofre apagamento, concretiza-se por meio de uma consoante fricativa, em geral de articulação glotal e, mais raramente, velar, ou como tepe. Na amostra brasileira, nos casos em que não ocorre cancelamento, tepe e fricativa têm uma distribuição particular: o tepe restringe-se ao contexto pré-vocálico e as fricativas, aos contextos de pausa e pré-consonântico.

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Para a observação do processo de cancelamento, mostrou-se mais pertinente, a exemplo do que acontece com outras variáveis, analisar em separado cada uma das variedades nacionais para então compará-las e tecer as considerações que se fizessem relevantes.

Como se trata do primeiro estudo fonético-fonológico de cunho variacionista com amostra do PE e para fornecer uma visão global do comportamento dos dados nas duas variedades do Português, não só se expõem os grupos de fatores considerados e as hipóteses que os fundamentaram, mas também comentam-se os índices numéricos e percentuais bem como os pesos relativos referentes ao cancelamento, com base no nível 1 da análise realizada com todos os fatores que não apresentaram índices categóricos (0% ou 100% de aplicação da regra).

Deve-se observar, inicialmente, que a variável dependente constituiu-se de dois fatores: (i) queda de (R)

PB: tem que fica[ ] olhando sempre

PE: se fo[ ] pra consumo de casa já não conta (ii) manutenção de (R)

PB: eu não costumo ouvi[ ] não.

PE: mandei-os cala[ ] 4.1 Variável nível de escolaridade

No início do estudo, partiu-se da hipótese de que, tanto no PE quanto no PB, o índice de cancelamento de (R) seria mais relevante na fala de indivíduos de nível elementar de escolaridade, o que só se confirma na primeira das variedades. No PE, os índices percentuais de apagamento diferem em apenas 1%, enquanto no PB, em 18%, comportamento bem evidenciado pelos pesos relativos, que, no caso do PB, demonstram haver uma significativa diferença entre as opções dos falantes com mais ou menos tempo de escolarização.

Português Europeu Português do Brasil Nível de

Escolaridad e

Aplic./Ocos Perc. P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Superior 76/292 26% .50 123/181 68% .36

Elementar 80/299 27% .50 191/222 86% .62

Tabela 3- Atuação da variável Nível de escolaridade no total dos dados do PE e do PB

4.2 Variável faixa etária

Nas duas variedades nacionais, o cancelamento de (R) constitui uma inovação, que, no caso do PB, já se encontra bastante disseminada, mesmo porque, no contexto em análise, representa o último estágio de um processo de posteriorização, processo esse que não se observa no PE, em que, em caso de não-cancelamento,só se registra o tepe. Ainda assim, acreditava-se ser na fala dos informantes mais jovens que se encontraria o mais alto índice de cancelamento.

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Português Europeu Português do Brasil Faixa etária

Aplic./Ocos Perc. P.R. Aplic/Ocos. Perc. P.R.

Faixa 1 91/239 38% .65 151/179 84% .58

Faixa 2 48/203 24% .49 86/101 85% .60

Faixa 3 17/149 11% .28 77/123 77% .30

Tabela 4- Atuação da variável Faixa etária no total dos dados do PE e do PB

De fato, é isso que ocorre no PE, por pequena margem, mas não no PB, em que são os indivíduos da faixa intermediária os que mais apagam o segmento. Um quadro mais preciso da atuação desta e da variável anteriormente referida encontra-se no item 4.12.

4.3 Variável número de sílabas do vocábulo em que inside o (R)

Com base em outros estudos sobre o (R) (Callou: 1987), formulou-se a hipótese de que em monossílabos haveria a tendência a resguardar o segmento, o que, a princípio, não é confirmado no corpus europeu, em que são exatamente esses os vocábulos que mais favorecem o cancelamento (p.r. .70). Já na amostra brasileira, confirma-se a tendência (p. r. .30).

Português Europeu Português do Brasil Número de sílabas

do vocábulo Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Uma sílaba 95/218 44% .70 79/126 63% .30

Duas sílabas 56/268 21% .45 162/183 89% .66

Três sílabas 5/82 6% .17 60/78 77% .46

Quatro ou mais sílabas 0/23 0% -- 13/16 81% .52

Tabela 5- Atuação da variável Número de sílabas

do vocábulo no total dos dados do PE e do PB

A verificação da natureza dos 218 monossílabos do corpus europeu e dos 126 do brasileiro demonstra que, em sua grande maioria, consistem em ocorrências do vocábulo quer que constitui a locução quer dizer, o que justifica, no caso do PE, a não-confirmação da hipótese.

4.4 Variável intensidade da sílaba em que inside o (R)

Em geral, as amostras de (R) em final de vocábulo retratam aquilo que se observa no sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas (cf. no PE, apenas 60 ocorrências e, no PB, 40). Assim, esperava-se que, em sílabas tônicas, o (R) se mostrasse mais sensível ao cancelamento, sobretudo porque esse segmento incide sempre na sílaba tônica de verbos no infinitivo.

Português Europeu Português do Brasil Intensidade

da sílaba Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Tônica 148/531 28% .52 309/363 85% .59

Átona 8/60 13% .30 5/40 13% .03

Tabela 6- Atuação da variável Intensidade da sílaba em

que inside o(R) no total dos dados do PE e do PB

4.5 Variável contexto antecedente

Os altos índices obtidos em relação a [ ] – PE: .93; PB: .86 – estão, sem dúvida, condicionados por sua ocorrência no pronome <qualquer> e no primeiro elemento da locução <quer dizer>, itens lexicais em que o (R) apresenta alto índice de apagamento nas duas variedades (cf. tabela 8).

(7)

Português Europeu Português do Brasil Contexto

antecedente Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

[i] 3/37 8% .24 31/35 89% .63 [e] 41/216 19% .45 80/86 93% .53 [ ] 80/102 78% .93 28/29 97% .86 [a] 11/138 8% .24 140/167 84% .53 [ ] 2/12 17% .42 6/8 75% .39 [o] 12/31 39% .69 25/43 58% .23 [u] 7/55 13% .34 4/35 11% .03

Tabela 7- Atuação da variável Contexto antecedente

ao(R) no total dos dados do PE e do PB

No entanto, não se pode deixar de observar, em relação ao PB, em que o cancelamento é expressivo, que há uma marcante diferença de comportamento entre vogais [+arr] e [-arr], estas últimas mais favorecedoras da eliminação de (R), fato já destacado por Callou (1987: 141-142).

4.6 Variável classe do vocábulo

Partiu-se da hipótese de que (a) os verbos, por questões de ordem morfofonológica, condicionariam, pelo menos em PB, a queda de (R), enquanto (b) a preposição <por>, sobretudo em construções já cristalizadas, predisporia à manutenção do segmento, em virtude de se comportar, no âmbito do vocábulo fonológico, como sílaba pretônica, estando, portanto, em coda interna, posição em que o cancelamento não tem caráter sistemático.

Português Europeu Português do Brasil Classe do vocábulo

Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Verbo no infinitivo 29/299 10% .26 213/233 91% .63

Verbo em forma finita 0/4 0% -- 7/7 100% --

Nome 3/34 9% .24 54/85 64% .22

Quantificador 11/19 58% .82 7/7 100% --

Vocábulos maior, menor, melhor, pior 2/12 17% .40 6/8 75% .33

Conjunção quer...quer 0/2 0% -- -- -- --

Prepos. por em locução do tipo por exemplo 6/31 19% .44 0/14 0% --

Prepos. por em locução do tipo por cima 0/12 0% -- 4/7 57% .18

Prepos. por nos demais contextos 1/13 8% .22 0/19 0% --

Primeiro vocábulo da expressão quer dizer 78/85 92% .92 10/10 100% --

Segundo vocábulo das expressões quer dizer,

vamos dizer

26/80 32% .62 13/13 100% --

Tabela 8- Atuação da variável Classe do vocábulo no total dos dados do PE e do PB

Tais hipóteses parecem confirmar-se, integralmente no PB, em que os verbos no infinitivo apresentam .63 de cancelamento (as 04 ocorrências na forma finita têm apagamento categórico) e a preposição, em qualquer dos contextos observados, inibe a regra. Em locuções formadas de por + vocábulo iniciado por consoante há apenas .18 de cancelamento; quando é o caso de por + vocábulo iniciado por vogal ou quando essa preposição não integra locução, a concretização de (R) é categórica.

Os mais altos índices de cancelamento de (R) no PE, e também no PB, encontram-se na classe dos quantificadores, constituída pelo vocábulo <qualquer> – PE: .82; PB: categórico – e em constituintes das expressões <quer dizer>/<vamos dizer>. No PE, no primeiro constituinte, há .92 de cancelamento, e, no segundo, .62. No PB, em ambos, o apagamento é categórico.

Enquanto no PB os altos índices de cancelamento de (R) nesses contextos não surpreendem tendo em vista que a regra tem input inicial .79 (78% de aplicação), no PE, em que predomina a manutenção do segmento (cancelamento com input inicial . 26 e 26% de aplicação), esses contextos surgem como verdadeiras exceções.

No caso do PE, observe-se, ainda, o contraste entre os índices de cancelamento dos verbos no infinitivo (.26) e sua categórica manutenção nas quatro formas verbais finitas, com o p.r. de

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.62 de cancelamento de no item dizer (em <quer dizer>/<vamos dizer>), índice alto porque o falante não mais o relaciona ao paradigma dos verbos, inconscientemente tratando-o como uma forma gramaticalizada.

4.7 Variável pressão paradigmática

Esta variável foi testada por Callou (1987) para verificar se a queda do (R) em verbos poderia estar sendo condicionada pela existência de outras formas verbais não constituídas por (R) (como em seguir x segui, pret. perfeito), o que implicaria homofonia. A variávelfunciona de forma inversa no PE e no PB. No primeiro, parece atuar (p.r. .59), enquanto no segundo não se mostra significativo (.42).

Português Europeu Português do Brasil Pressão

paradigmática Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Supressão do (R) implica homofonia do tipo segui/segui(r)

10/77 13% .59 45/50 90% .42

Supressão do (R) não implica homofonia do tipo segui/segui(r)

19/225 8% .47% 186/200 93% .52

Tabela 9- Atuação da variável Pressão paradigmática no total dos dados do PE e do PB 4.8 Variável modo de articulação da consoante subseqüente

Pela tabela abaixo, percebe-se a maior produtividade do fator oclusiva, tanto em PE quanto em PB. Apesar disso, é diferente seu impacto para a aplicação da regra. No PE, aparece como o seu principal fator condicionador (.65), enquanto no PB tal papel é exercido pela lateral, pela vibrante (categoricamente) e pela nasal (.62), o que determinou, na etapa final de análise em que se considerou cada variedade do português em separado, um diferente amalgamento dos fatores que compõem a variável.

Português Europeu Português do Brasil

Modo de articulação

da consoante subseqüente Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Oclusiva 97/190 51% .65 80/106 75% .46 Fricativa 8/43 19% .29 27/36 75% .45 Africada -- -- -- 12/16 75% .45 Nasal 3/40 7% .13 27/36 85% .62 Lateral 0/4 0% -- 14/14 100% -- Vibrante 2/5 40% .54 2/2 100% --

Tabela 10- Atuação da variável Modo de articulação da consoante subseqüente no total dos dados do PE e do PB

4.9 Variável ponto de articulação da consoante subseqüente

Partiu-se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais, alveolares – inibiriam a aplicação da regra, enquanto as demais a favoreceriam por um processo de assimilação. Observa-se, tanto em PE quanto em PB, que as alveolares são as que mais propiciam o cancelamento, apesar de sua zona de articulação. Resultado semelhante obteve Oliveira (1992) ao analisar o (R) no contexto pós-vocálico, embora em seu estudo tenha considerado em conjunto os dados referentes às posições medial e final de vocábulo.

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Português Europeu Português do Brasil

Ponto de articulação

da consoante subseqüente Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Labial 9/57 16% .24 59/79 75% .43 Alveolar 88/166 53% .66 75/89 84% .58 Pós-alveolar 0/3 0% -- 15/20 75% .43 Palatal -- -- -- -- -- -- Velar 11/52 21% .31 31/39 79% .50 Uvular 2/6 33% .46 -- -- -- Glotal -- -- -- 1/1 100% --

Tabela 11- Atuação da variável Ponto de articulação da consoante subseqüente no total dos dados do PE e do PB

4.10 Variável contexto subseqüente quanto ao tipo de impedimento à passagem do ar e à sonoridade

A hipótese inicial era a de que o cancelamento seria inibido pela presença de vogal no contexto subseqüente, o que é confirmado no corpus do PE (p. r. .27). No PB, a vogal não tem atuação relevante para a inibição da regra, comportando-se de forma semelhante à consoante surda e à pausa.

Português Europeu Português do Brasil Impedimento à passagem

do ar e sonoridade Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Consoante surda 22/120 18% .43 85/113 75% .46

Consoante sonora 88/164 54% .54 96/115 83% .59

Vogal 18/177 10% .27 109/144 76% .47

Pausa 28/130 22% .48 24/31 77% .49

Tabela 12- Atuação da variável Impedimento à passagem do ar e sonoridade no total dos dados do PE e do PB

Observe-se, no entanto, que, nas duas variedades,é a consoante sonora e a pausa que mais favorecem o cancelamento, conforme as escalas a seguir:

PE C [+son.] a Pausa a C [-son] a Vogal a

[+ canc] [- canc]

PB C [+son.] a Pausa a Vogal a C [-son] a

4.11 Variável Natureza da vogal subseqüente

Tanto em PE quanto em PB, as vogais nasalizadas, embora com diferentes pesos, mostram-se relevantes para a aplicação da regra, assim como a vogal anterior alta, esta de forma mais atuante no PE (.79), em que a vogal [e] aparece como o elemento mais significativo para o cancelamento (.81). Em PB, as vogais altas apresentam índices bem próximos ([u]: .61; [i]: .57).

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Português Europeu Português do Brasil Vogal

subseqüente Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

[i] 6/25 24% .79 14/17 82% .57 [e] 6/22 27% .81 7/21 33% .12 [ ] 0/7 0% -- 7/10 70% .40 [a] 2/64 3% .27 37/47 79% .51 [ ] 0/2 0% -- -- -- -- [o] 0/5 0% -- 4/4 100% -- [u] 1/20 5% .38 11/13 85% .61 Vogal nasalizada 3/31 10% .55 29/32 91% .73

Tabela 13- Atuação da variável vogal subseqüente no total dos dados do PE e do PB

4.12. Variável compósita Nível de escolaridade e faixa etária

Esta variável foi organizada com o objetivo de controlar mais efetivamente as duas variáveis conjugadas. Acreditava-se que indivíduos mais jovens e com menor nível de escolaridade optariam pelo cancelamento de (R) em oposição aos falantes mais velhos de nível superior, que tenderiam a mantê-lo.

Português Europeu Português do Brasil Nível de escolaridade

e faixa etária Aplic./Ocos Perc./Ocos P.R. Aplic./Ocos Perc. P.R.

Faixa 1 nível elementar 43/110 39% .66 66/69 96% .83 Faixa 1 nível superior 48/129 37% .64 85/110 77% .44 Faixa 2 nível elementar 31/126 25% .50 66/78 85% .56 Faixa 2 nível superior 17/77 22% .46 20/23 87% .60 Faixa 3 nível elementar 6/63 10% .24 59/75 79% .46 Faixa 3 nível superior 11/86 13% .31 18/48 38% .12

Tabela 14- Atuação da variável compósita Nível de escolaridade e faixa etária no total dos dados do PE e do PB

No PE, são os falantes mais jovens, tanto os de nível elementar, quanto os de nível superior, os que mais cancelam o (R) – respectivamente, p. r. .66 e .64 – e os mais velhos os que menos o apagam, embora, entre eles, os que mais preservam o segmento sejam os indivíduos de nível elementar de instrução (p. r. .24).

No PB, o quadro é mais complexo. Apesar de serem os falantes mais jovens, de nível elementar, os que mais optem pelo cancelamento, não há, como no PE, homogeneidade de desempenho lingüístico na fala standard e não-standard. No PE, a faixa etária parece ter maior atuação no cancelamento do que o nível de escolaridade do falante; já no PB, têm de se levar em conta as duas referidas variáveis em conjunto para melhor compreender o comportamento da regra variável, o que foi confirmado durante as diversas rodadas com o programa IVARB.

5. Fatores condicionadores do cancelamento de (R) nas duas variedades do Português

As observações contidas no item anterior nortearam a etapa final de análise e determinaram novos procedimentos no que diz respeito tanto às variáveis consideradas quanto à junção/eliminação de alguns fatores. Desse modo:

(a) analisaram-se os dados controlando as variáveis nível de escolaridade e faixa etária em separado no PE ( como em 4.1 e 4.2) e em conjunto no PB (como em 4.12);

(11)

(b) nas amostras do PE e do PB reorganizaram-se ou eliminaram-se, de forma diferenciada, os fatores de algumas variáveis com base nos resultados expostos no item 4;

(c) retiraram-se do corpus do PE as ocorrências referentes ao primeiro constituinte da locução <quer dizer> , que apresentou alta tendência ao cancelamento (.92)

(d) não se considerou a variável pressão paradigmática, nunca selecionada nas diferentes etapas de análise;

Com tais procedimentos, na etapa final, a amostra reduziu-se a 506 dados para o PE e a 403 para o PB.

No quadro a seguir, expõem-se os grupos de fatores que, em ambas as variedades, se mostraram, por ordem decrescente de importância, relevantes para o cancelamento de (R), bem como os índices de significância e os inputs inicial e de seleção referentes à aplicação da regra.

Variedade Nacional Português Europeu Português do Brasil

Variáveis selecionadas

Faixa etária Classe do vocábulo Natureza da vogal subseqüente

Tonicidade

Faixa etária/nível de instrução Classe do vocábulo Natureza da vogal subseqüente

inicial .16 .78

Input da regra

de seleção .05 .89

Significância .003 007

Quadro 4 – Variáveis condicionadoras do cancelamento de (R) no PE e no PB

No PE, no nível de seleção, o input da regra é baixíssimo, podendo-se afirmar que a realização do (R) é praticamente categórica, ao inverso do que ocorre no PB, em que a probabilidade de ele sofrer cancelamento é muito alta (.89). No PE, a variável de natureza extralingüística é a que determina, em primeiro lugar, a queda do segmento, enquanto no PB a Tonicidade da sílaba em que inside o (R) aparece, em todas as rodadas empreendidas com o programa VARBRUL, como a mais significativa para a aplicação da regra.

5.1 Fatores extralingüísticos 5.1.1 no PE

Em PE, a variável mais relevante para o cancelamento é a faixa etária, como se demonstra no gráfico a seguir, baseado nos pesos relativos obtidos para cada fator.

Cancelamento de (R) no PE: pesos relativos por faixa etária

70 43 31 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3

(12)

Num universo, como se indicou, de baixa rentabilidade de cancelamento, são, nitidamente, os indivíduos mais jovens (18-35 anos) os mais propensos à aplicação da regra (p. r. .70) e os da faixa 2 os que menos a aplicam, talvez pelo fato de esta ser a faixa em que se concentram indivíduos profissionalmente ativos, o que demandaria um maior “auto-policiamento” lingüístico. Como se pode verificar pela tabela a seguir, em que se cruzam faixa etária e nível de instrução, o comportamento dos falantes mais novos é comum em ambos os graus de escolaridade, havendo, inclusive, maior propensão à queda do (R) entre os indivíduos de nível superior (18% contra 13%).

Instrução

Faixa etária

Elementar Superior Percentuais

por faixas

1 (18-35 anos) 27% 28% 27%

2 (36-55 anos) 2% 13% 7%

3 (56-70 anos) 8% 10% 9%

Percentuais por níveis 13% 18%

Tabela 15 - Índices percentuais referentes ao cancelamento de (R) em PE por faixa etária e nível de instrução 5.1.2 .No PB

O mesmo não ocorre no PB. Embora Faixa etária seja uma das variáveis relevantes para aferir o comportamento do (R), ela só se mostra realmente significativa se conjugada a Nível de instrução, o que evidencia que, também em relação a variações no plano fonético-fonológico, as falas culta e popular brasileiras apresentam considerável grau de distanciamento.

Cancelamento de (R) no PB:

pesos relativos por faixa etária e nível de instrução

54 93 54 32 8 53 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3

Nível Superior Nível Elementar

Gráfico 2- Atuação da variável compósita

Faixa etária/Nível de instruçãopara o cancelamento de (R) em PB

Os dados coletados para a amostra que subsidiou o estudo do PB são da década de 90 e demonstram, no que se refere aos informantes de nível superior, a tendência à manutenção do (R), haja vista o baixo índice de cancelamento na faixa 1 (.32) e na faixa 3 (.08) e a neutralidade da faixa 2 (.54). Já a curva referente aos indivíduos de baixo nível de escolarização sugere que os mais jovens estão implementando a regra (.93) de forma praticamente categórica, enquanto os demais falantes ora mantêm, ora apagam o segmento (faixa 2:.53; faixa 3: .54). Observe-se, ainda, que, apenas na faixa 2 (36-55 anos), há coincidência no desempenho lingüístico dos indivíduos.

(13)

5.2 Fatores lingüísticos

Excluindo-se Tonicidade, que só é selecionada para o PB e em primeiro lugar, observa-se o mesmo tipo de condicionamento nas duas variedades nacionais: Classe de vocábulo e Natureza da vogal subseqüente surgem como relevantes logo a seguir às variáveis extralingüísticas comentadas no item anterior.

5.2.1 No PB

Dentre todas as variáveis consideradas, Tonicidade da sílaba em que incide o (R) foi a que se mostrou mais atuante em relação ao PB em todas as etapas da análise. Nos vocábulos tônicos, o segmento apresenta maiores chances de ser cancelado (.67) do que nos átonos (.01). Não é de estranhar que isso ocorra, pois a quase totalidade de verbos e nomes que compõem a amostra brasileira apresenta (R) na sílaba tônica e as ocorrências de átonas acabam por se concentrar no âmbito da preposição por, que, como se pôde observar na tabela 8, predispõe à retenção do segmento categoricamente em dois dos três contextos observados, apresentando variação (57%; input .18) apenas quando diante de consoante.

Português do Brasil Intensidade

da sílaba Aplic./Ocos Perc. P.R.

Tônica 309/363 85% .67

Átona 5/40 13% .01

Tabela 16- Atuação da variável Intensidade da sílaba

para o cancelamento de (R) no PB

5.2.2 No PE e no PB

Quanto a Classe do vocábulo, não se deve esquecer que há casos de cancelamento/manutenção categóricos (cf. tabela 8) ou pouquíssimo produtivos, incidindo a variação sobretudo entre as classes que se indicam nas tabelas 16 e 17.

No PE, entre os verbos e nomes (as duas classes que congregam o maior número de dados e, também, as mais produtivas no sistema), reunidos na amostra lusa por apresentarem comportamento quase idêntico no que toca à variável, a tendência ao cancelamento é da ordem de .39, enquanto em expressões cristalizadas (quer/vamos dizer) ou quase cristalizadas (por exemplo) e em um pequeno número de vocábulos (quantificadorqualquer, adj/adv. maior, etc) muito repetidos no discurso, a tendência ao cancelamento atinge índices significativos, todos acima de .65. Isso corrobora as observações iniciais (cf. item 4.6) e permite inferir que, nessa variedade do Português, é nos elementos mais gramaticalizados que o (R) tende a ser eliminado, o que vai ao encontro de um dos princípios funcionalistas ligados à gramaticalização que prevê a redução do material fônico dos vocábulos envolvidos no processo.

No PB, em que os 7 casos de formas verbais finitas apresentaram cancelamento categórico, são os verbos no infinitivo (p. r. .64) os vocábulos em que mais incide a queda do segmento, em flagrante contraste com o que ocorre no PE. Esse condicionamento morfofonêmico tem sido apontado, em relação aos diferentes falares brasileiros, em estudos de orientação teórico-metodológica diversa, desde os mais tradicionais, de cunho dialectológico, por exemplo, aos mais atuais, como os de cunho variacionista.

(14)

Variável Classe do vocábulo

Português Europeu Português do Brasil

Oco Perc. P.R Oco Perc. P.R.

Verbo/Nome 32/337 9% .39 Verbo no Infinitivo 213/233 91% .64

Quantificador 11/19 58% .89 Nome 54/85 64% .17

Segundo constituinte

da expressão quer/vamos dizer

26/80 32% .74 Vocábulos

maior/melhor/pior/menor

6/8 75% .27

Preposição por em loc. do tipo por exemplo

6/31 19% .65

Vocábulos

maior/melhor/pior/menor

2/12 17% .65

Tabela 17 - Atuação da variável Classe do vocábulo para o cancelamento de (R) em PE e em PB Atua, ainda, para a implementação da regra, tanto em PE quanto em PB, a Natureza da vogal subseqüente ao (R), embora por força de diferente conjugação de fatores. Pelo que ficou demonstrado na tabela 13, as vogais não-nasalizadas apresentam comportamento que permite reuni-las em dois grupos, em contraste com as nasalizadas. Desse modo, na etapa final, o grupo constituiu-se de três fatores, um comum às análises do PE e do PB (vogal nasalizada) e dois outros diferenciados consoante os resultados iniciais obtidos para cada uma das variedades: vogal [-nas +ant] e vogal [-nas -ant] para o PE e [-nas +alta] e vogal [-nas -alta] para o PB.

Variável Natureza da vogal subseqüente

Português Europeu Português do Brasil

Oco Perc. P.R Oco Perc. P.R.

Vogal [-nas +ant] 12/54 22% .69 Vogal [-nas +alta] 25/30 83% .34 Vogal [-nas -ant] 3/90 3% .34 Vogal [-nas –alta] 65/78 65% .32 Vogal nasalizada 3/31 10% .65 Vogal nasalizada 29/32 91% .91

Tabela 18 - Atuação da variável Natureza da vogal subseqüente para o cancelamento de (R) em PE e em PB

Em ambas as variedades, a vogal nasalizada aparece como fator condicionador da queda do segmento, embora de forma mais efetiva no PB (.91), em que as demais não se mostraram relevantes. No PE, são as [-nas +ant] as que mais predispõem ao cancelamento (.69)

6. Considerações finais

As significativas diferenças entre o Português do Brasil e o Português Europeu mostraram ser pertinente a análise particular de cada variedade em relação à queda do (R), a exemplo do que vêm demonstrando estudos sobre outros fenômenos lingüísticos.

Fica claro que, no PB, a tendência é a de eliminar o (R) e assim simplificar a estrutura silábica buscando o padrão (C)V, enquanto no PE, a tendência é a de manter a estrutura (C)VC, hipótese que, de certa forma, parece encontrar respaldo no fato de o PE ser uma modalidade de reforço consonântico, ao passo que o PB tende a reforçar seu quadro vocálico.

Apesar das referidas divergências, a análise mostra que, tanto do ponto de vista estrutural quanto extralingüístico, fatores condicionantes do cancelamento do segmento são em grande parte coincidentes, como, de um lado, os relacionados à classe da palavra e à natureza da vogal subseqüente e, de outro, à faixa etária.

7. Referências bibliográficas

ANDRADE,Ernesto & Maria do CéuVIANA (1992) Que horas são às (1)3 e 15? Actas do VIII Encontro da Associação Portuguesa de Lingüística. Lisboa: APL/ Colibri. p. 59-66.

CALLOU, Dinah M. Isensee (1987) Variação e distribuição da vibrante na fala urbana culta do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PROED-Universidade Federal do Rio de Janeiro.

(15)

MATEUS, Maria Helena & Ernesto d’ANDRADE (2000) The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press.

OLIVEIRA, Josane Moreira de Oliveira (1999) O apagamento do /R/ implosivo na norma culta de Salvador. Salvador: Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. Dissertação de mestrado. 99 p.

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