• Nenhum resultado encontrado

Efeito da chuva na captura de morcegos em uma ilha da costa sul do Rio de Janeiro, Brasil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Efeito da chuva na captura de morcegos em uma ilha da costa sul do Rio de Janeiro, Brasil"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

808

Efeito da chuva na captura de morcegos em uma ilha da costa sul do Rio de Janeiro, Brasil

William Douglas de Carvalho¹*, Lorena Nicolay Freitas¹, Gustavo Pena Freitas¹, Júlia Lins Luz¹, Luciana de Moraes Costa¹,² & Carlos Eduardo Lustosa Esbérard¹

1. Laboratório de Diversidade de Morcegos, Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, CP 74507, 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. 2. Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, CEP 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

* Corresponding author. Email: wilruoca@hotmail.com

Abstract

Rain effects in the capture of bats in a coastal island in southeastern Brazil. Climatic factors are difficult to be analyzed because of their intrinsic unpredictability. For example, rain and wind occur in different intensities and in different nights each year. The objective of this work was to analyze the effects of the rain in the capture success of bats in an island in southeastern Brazil. A total of 31 sampling nights resulted in 2000 captures of 28 species, 1507 of which were obtained in nights without rain and 493 captures in rainy nights. The relationship between the total of captures and the species richness was observed for nights without rain as for rainy nights. The species richness and the capture efficiency in every night for all of the species were significantly higher for the nights without rain. The differences in feeding guilds were observed for the insectivorous species among the nights without rain and with rain heavy intensity, and nectar-feeding species among nights without rain and with rain intensities moderate and heavy. Heavy rain shows different effects in the bat species, generally inhibiting the activity or reducing the capture frequency.

Keywords: capture frequency, methods, mist nets, Southeastern Brazil.

Resumo

Os fatores climáticos são os mais difíceis de serem analisados, pois variam de forma imprevisível, ocorrendo chuvas e ventos em diferentes intensidades e em diferentes noites a cada ano. Este estudo teve como objetivo testar o efeito da chuva no sucesso de captura, das espécies mais frequentes de morcegos em uma localidade no litoral sudoeste do Estado do Rio de Janeiro. Totalizaram-se 31 noites de coletas com 2.000 capturas de 28 espécies. Obtiveram-se 1.507 capturas para noites sem chuva e 493 capturas em noites com chuvas. A relação entre o total de capturas e a riqueza de espécies foi observada tanto para noites sem chuva quanto para noites com chuva. A riqueza de espécies e a eficiência de captura em cada noite para todas as espécies foram significativamente maiores para as noites sem chuva do que para as noites com chuva, sendo que entre as guildas foi observada diferença para as espécies insetívoras entre as noites sem chuva e as com chuva muito intensa, havendo influência também nas espécies nectarívoras entre noites sem chuva e com intensidade moderada e intensidade alta. Chuvas fortes apresentam efeito diferenciado entre as espécies de morcegos podendo inibir a atividade ou diminuir a capturabilidade. Palavras-chave: capturabilidade, métodos, redes de neblina, sudeste do Brasil

Introdução

As taxas de capturas de morcegos podem ser influenciadas por diversos aspectos metodológicos (Kunz & Kurta 1988), os quais podem estar relacionados ao tipo de ambiente onde as amostragens se concentram (e.g. sub-bosque, dossel, clareira, etc.), assim como ao período selecionado para essas amostragens. Por exemplo, redes armadas em clareiras favorecem a captura de espécies típicas de dossel na Floresta Amazônica (Bernard 2001), enquanto redes armadas sobre a água são mais eficientes na captura de espécies

insetívoras (Kunz & Kurta 1988; Costa 2009). A fase lunar é outro fator que influencia diretamente abundâncias e taxas de captura de morcegos em uma amostragem (Esbérard 2007), assim como a permanência das redes nos mesmos locais em coletas subsequentes (Esbérard 2006). Entre os fatores determinantes do sucesso em uma noite de captura, os climáticos são os mais difíceis de serem previstos, pois ocorrem chuvas e ventos em diferentes intensidades e em diferentes noites a cada ano.

(2)

809

O efeito da chuva na atividade de forrageio de morcegos ainda é controverso. Enquanto alguns autores afirmam que não há efeito em espécies de Phyllostomidae e Vespertilionidae (Erkert 1982), outros afirmam que, dependendo da intensidade da chuva, os voos poderiam ser mais curtos, as saídas dos refúgios seriam mais tardias ou a atividade durante aquela noite poderia ser evitada (Erkert 1982; Kunz & Kurta 1988; Weinbeer et al. 2006; Albrecht et al. 2007). A maior parte dos estudos sobre o efeito de chuva e do vento na atividade de morcegos foi realizada com espécies insetívoras (Wimsatt 1969), que apresentam menor atividade sob chuva e vento acentuado (e.g. Weinbeer et al. 2006; Kunz & Kurta 1988), condições nas quais populações de suas presas estão menos ativas (Paige 1995; Hickey & Fenton 1996; Ahlén 2003; Fiedler 2004; Hensen 2004; Arnett 2005).

A chuva pode interferir de várias maneiras na atividade dos morcegos, seja reduzindo a temperatura ambiental, dificultando a recepção do sonar ou reduzindo a atividade das presas; ou na eficiência de captura tornando as redes mais facilmente detectáveis quando cobertas por gotas de água (Erkert 1982).

O objetivo deste trabalho foi testar o efeito da chuva no sucesso de captura das espécies mais frequentes de morcegos em uma ilha no litoral

sudoeste do estado do Rio de Janeiro, região sudeste do Brasil.

Material e Métodos

A área de estudo foi a Ilha da Gipóia (23o 02’ S e 44o 21’ W) situada no município de Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro (Figura 1). Essa região possui a maior intensidade de chuvas (1883,6 mm em média por ano) e elevado número de dias com chuvas a cada ano (média de 130 dias com mais de 1 mm de precipitação acumulada a cada ano) no estado do Rio de Janeiro (Ramos et al. 2009). Os critérios para escolha desta ilha se basearam em: (1) as redes terem sido armadas em área aberta e sempre na mesma posição e local, minimizando um possível efeito da complexidade ambiental (Presley et al. 2009); (2) as coletas terem sido realizadas a intervalos maiores que dois ciclos lunares, minimizando um possível efeito da memorização da posição destas pelos morcegos, e um possível comportamento de evitá-las (Kurta & Kunz 1988; Esbérard 2006); (3) no elevado sucesso de capturas (Esbérard 2009) e (4) no número satisfatório de coletas com noites chuvosas. Todas as análises basearam-se em espécimes capturados em redes armadas no sub-bosque.

Figura 1. América do Sul. Localização da Ilha da Gipóia no Sudoeste do Estado do Rio de Janeiro. O ponto branco representa o sítio de coleta.

Foram realizadas 16 campanhas entre os anos de 2004 e 2009 sem critério temporal, sendo geralmente duas noites de capturas subsequentes, totalizando 31 noites. As redes de neblina foram armadas sobre o dique de uma represa artificial, que mede cerca de 45 m de comprimento, e em suas trilhas de acesso. As redes permaneceram abertas desde o início do crepúsculo até o fim da noite, exceto por quatro noites, quando as atividades foram interrompidas devido ao vento excessivo. As noites escolhidas não apresentaram

frutificação de espécies com estratégias do tipo “big-bang”, na qual há uma produção excessiva de frutos em um curto período de tempo (Gentry, 1974), como figueiras (Ficus sp., Moraceae), que atraem elevada concentração de morcegos (Fleming 1971; Morrison 1978; Handley et al. 1991). No local predominam espécies frutíferas exóticas e nativas, tais como banana (Musa

paradisíaca L., Musaceae), fruta-pão (Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg, Moraceae), jaca

(3)

810

goiaba (Psidium guajava L., Myrtaceae), manga (Mangifera indica L., Anacardiaceae), cajá-manga (Spondias cytherea Sonn., Anacardiaceae), mamão (Carica papaya L., Caricaceae), abacate (Persea

americana Mill., Lauraceae), jambo (Syzygium spp. P. Browne ex Gaertn, Myrtaceae), sapoti

(Manilkara achras (Mill.) Fosberg, Sapotaceae), grumixama (Eugenia brasiliensis Lam., Myrtaceae), embaúbas (Cecropia sp. Loefl., Urticaceae), piper (Piper spp. L., Piperaceae) e solanum (Solanum sp. L. (Solanaceae).

Todos os animais capturados foram identificados e marcados com coleiras plásticas providas de cilindros coloridos (Esbérard & Daemon 1999), com exceção dos selecionados para material testemunho e espécimes do gênero

Myotis, pois o método de marcação não se aplica à

espécies com peso igual ou inferior a nove gramas. Recapturas na mesma noite da amostragem não foram consideradas. O material testemunho das espécies está depositado na coleção de referência do Laboratório de Diversidade de Morcegos (Processo 1755/89 – IBAMA/SUPES/RJ), Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

As noites de coletas foram classificadas como noites com ou sem chuva. A intensidade da chuva no local onde foram armadas as redes seguiu a seguinte classificação: (1) chuva leve; (2) chuva moderada; (3) chuva intensa ou (4) ausência de chuva, o que foi avaliado pela percepção da equipe. Não foi observada correspondência entre as noites de chuva na localidade estudada e os dados de quatro estações meteorológicas no litoral sudoeste do Rio de Janeiro (distantes de 10 a 34 km do local das capturas), o que demonstra um caráter extremamente pontual na ocorrência de chuvas e impossibilita o uso desses dados. Como o número de redes variou a cada noite (de sete a 13, com 9 x 2,5 m, malha 36 mm), a taxa de captura foi calculada através da divisão do total de morcegos observados pelo esforço amostral, sendo esse valor expresso em capturas/h.rede.

Para testar um possível efeito lunar na riqueza e na eficiência de captura foram realizadas regressões lineares entre a proporção da face iluminada da lua com a riqueza de espécies e com a eficiência de captura (Esbérard 2007). Foi realizada uma regressão linear simples entre o total de capturas e a riqueza observada em cada noite para as noites com chuva e sem chuva. A riqueza de espécies foi comparada através da rarefação, usando o programa Past versão 2.00 (Hammer et al. 2001), com 1.000 iterações, utilizando o total de capturas nas noites sem chuva e com chuva.

Para testar se existe diferença na riqueza e eficiência de captura entre as noites com chuva e as noites sem chuva, foi utilizado o Teste T de Student (Zar, 1999) para duas amostras, tanto para

a amostra total quanto para as espécies com mais de 25 capturas na amostra total.

Foi usado o teste de Percentagem de Similaridade (Simper) para identificar as espécies responsáveis diretas pelas diferenças entre as noites com e sem chuva, através do programa Past (Hammer et al., 2001). As espécies indicadas foram usadas para testar o efeito da intensidade da chuva através do teste de Kolmogorov-Smirnov. As espécies foram classificadas em guildas tróficas (sensu Kalko et al. 1996) e a eficiência de captura do conjunto de seus representantes foi testada com a presença e intensidade de chuva usando o teste de Kolmogorov-Smirnov. Estas análises foram realizadas no programa Systat 8.0.

Resultados

A amostra total compreende 2.000 capturas de 28 espécies em 31 noites. O total de 1.507 capturas foi obtido em 19 noites sem chuva (eficiência de captura de 0,67 capturas/h.rede) compreendendo 26 espécies e de 493 capturas em 12 noites com chuvas (0,33 capturas/h.rede), compreendendo 21 espécies (Tabela 1). Não foi observado efeito do ciclo lunar, expresso como face iluminada da lua, sobre a eficiência de captura (r = 0,164, N = 31, F = 0,803, p = 0,378) ou sobre a riqueza de espécies (r = 0,162, N = 31, F = 0,779, p = 0,385) e, portanto, este fator não foi considerado relevante nas análises, não tendo, nos conjuntos amostrados, a predominância de nenhuma das fases do ciclo lunar (noites com chuva: média de 68,87 ± 26,75% da face iluminada; e noites sem chuva: média de 58,87 ± 24,75% da face iluminada).

A relação entre o total de capturas e a riqueza de espécies foi observada tanto para noites sem chuva (r = 0,69, F = 9,008, p = 0,013, y = 0,05x + 9,11) quanto para noites com chuva (r = 0,70, F = 16,057, p = 0,001, y = 0,05x + 9,03). A rarefação demonstra que as noites sem chuva obtiveram riqueza total similar (21,74 ± 1,32 espécies) ao total analisado nas noites com chuva (20,96 ± 0,19 espécies) para o mesmo número de capturas (Figura 2).

Dezesseis espécies apresentaram mais de 25 capturas, sendo testadas as suas variações entre as noites com chuva e sem chuva. Quatro espécies apresentaram diferenças, sendo observada uma menor eficiência de captura nas noites com chuva para Artibeus lituratus (Olfers, 1818), Sturnira

lillium (E. Geoffroy, 1810) e Myotis nigricans

(Schinz,1821), enquanto que para Anoura geoffroyi Gray,1838 foi verificada uma menor

eficiência nas noites sem chuva. Foi observada diferença significativa para a guilda de espécies insetívoras quando comparadas as noites com e sem chuva, mas não para as demais guildas (Tabela 1).

(4)

811

Nas noites com chuva as espécies dominantes foram Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) e A.

lituratus, com respectivamente 20,08% e 19,27%

das capturas (Figura 3A). Nas noites sem chuva a espécie dominante foi A. lituratus com 33,38% das capturas, seguida por Artibeus obscurus (Schinz, 1821) com 9,54% das capturas (Figura 3B). A riqueza de espécies e a eficiência de captura em cada noite para todas as espécies foram significativamente maiores para as noites sem chuva do que para as noites com chuva (t = 2,135, df = 29, p = 0,041 para a riqueza de espécies e t = 2,920, df = 29, p = 0,007 para a eficiência de captura).

Figura 2. Rarefação para as noites com e sem chuva na Ilha da Gipóia entre 2004 e 2009.

Figura 3. Ordenação das espécies de morcegos segundo a percentagem do total de capturas para as noites com chuva (acima) e sem chuva (abaixo) na Ilha da Gipóia.

Nove espécies foram discriminadas pela análise de Percentagem de Similaridade (Tabela 2), todas com mais de 25 capturas na amostra total. Comparando-se as noites sem chuva com as noites com chuva separadas por intensidade, foi possível observar a influência da intensidade da chuva de nível intensa na eficiência de captura para as 16 espécies testadas simultaneamente (p = 0,008) e com a eficiência das nove espécies identificadas pela análise de Percentagem de Similaridade (p = 0,002) (Figura 4A). Apenas duas espécies apresentaram diferenças, tendo a intensidade da chuva também influenciado a abundância de A. lituratus entre as noites sem chuva e com chuva moderada (p = 0,008) e sem

chuva e com chuva intensa (p = 0,008) (Figura 4B) e em S. lillium entre as noites sem chuva e as noites com intensidades moderada e alta de chuva (respectivamente p = 0,036 e 0,019) (Figura 4C). Quanto às guildas foi observada diferença para as espécies insetívoras entre as noites sem chuva e com intensidade alta (p = 0,054) (Figura 4D). Há influência também nas espécies nectarívoras entre noites sem chuva e com intensidades moderada e intensidade alta (respectivamente p = 0,019 e p = 0,036) (Figura 4E). Não foram observadas diferenças para as abundâncias em noites de diferentes intensidades de chuva para as guildas de espécies frugívoras, hematófagas e nectarívoras.

(5)

812

Tabela 1 – Espécies capturadas, total de capturas analisadas, eficiência de captura para noites com chuva e sem chuva, valores do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS) e noites em que se observou a captura da espécie em %.

Taxa Capturas

Eficiência de Captura

(N/h.rede)*1.000 KS p

% Noites com capturas

Com chuva Sem Chuva Chuva Seca

Artibeus lituratus (Olfers, 1818) 603 64,626 226,080 0,526 0,025* 100,00 100,00

Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) 208 67,347 48,509 0,333 0,341 91,67 94,74

Artibeus obscurus (Schinz, 1821) 192 33,333 63,640 0,232 0,769 100,00 100,00

Artibeus fimbriatus Gray, 1838 180 26,531 62,750 0,230 0,770 91,67 100,00

Sturnira lillium (É. Geoffroy, 1810) 126 8,844 50,289 0,539 0,020* 75,00 84,21

Artibeus planirostris (Spix, 1823) 88 23,129 24,032 0,298 0,473 83,33 100,00

Platyrrhinus lineatus (É. Geoffroy, 1810) 55 8,163 19,137 0,237 0,749 50,00 73,68

Platyrrhinus recifinus (Thomas, 1901) 43 12,925 10,681 0,373 0,221 58,33 63,16

Vampyressa pusilla (Wagner, 1843) 13 2,721 4,005 - - 33,33 21,05

Chiroderma doriae Thomas, 1891 1 0,680 - - - 8,33 -

Chiroderma villosum Peters, 1860 1 - 0,445 - - - 5,26

Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843) 1 - 0,445 - - - 5,26

Total para Frugívoros 1.511 248,299 510,013 0,404 0,153

Desmodus rotundus (É. Geoffroy, 1810) 39 5,442 13,796 0,184 0,938 50,00 63,16

Dyaemus youngi (Jentink, 1893) 1 - 0,445 - - - 5,26

Total para Hematófagos 40 5,442 14,241 0,184 0,938

Molossus molossus (Pallas, 1766) 133 24,490 43,169 0,434 0,103 25,00 68,42

Myotis nigricans (Schinz, 1821) 34 2,721 13,351 0,518 0,029* 16,67 68,42

Myotis riparius Handley, 1960 25 3,401 8,901 0,434 0,103 25,00 68,42

Micronycteris megalotis (Gray, 1842) 5 1,361 1,335 - - 16,67 15,79

Saccopteryx leptura (Schreber, 1774) 5 - 2,225 - - - 15,79

(6)

813

Peropteryx macrotis (Wagner, 1843) 1 - 0,445 - - - 5,26

Thyroptera tricolor Spix, 1823 1 0,680 - - - 8,33 -

Total para Insetívoros 205 32,653 69,871 0,539 0,020*

Anoura geoffroyi Gray, 1838 56 21,769 10,681 0,570 0,011* 83,33 42,11

Glossophaga soricina (Pallas, 1766) 25 3,401 8,901 0,224 0,806 25,00 47,37

Anoura caudifer (É. Geoffroy, 1818) 9 2,721 2,225 - - 33,33 26,32

Lonchophylla bokermanni Sazima, Vizotto & Taddei, 1978 4 - 1,780 - - - 21,05

Total para Nectarívoros 94 27,891 23,587 0,443 0,091

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) 86 14,286 28,928 0,254 0,668 83,33 84,21

Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758) 64 6,803 24,032 0,268 0,607 41,67 68,42

Tabela 2 – Diferenças e contribuições das espécies discriminadas pela análise de Percentagem de Similaridade entre as noites sem e com chuva.

Espécies Dissimilaridade média (%) Contribuição (%)

Artibeus lituratus 7,22 27,83 Carollia perspicillata 6,42 24,76 Anoura geoffroyi 2,45 9,44 Sturnira lillium 2,43 9,37 Artibeus planirostris 1,66 6,39 Platyrrhinus recifinus 1,13 4,36 Noctilio leporinus 0,78 3,00 Artibeus fimbriatus 0,72 2,79 Myotis nigricans 0,59 2,27

(7)

814

0 1 2 3 Intensidade de Chuva 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Capt ur as (N/h -r ede) 0 1 2 3 Intensidade de Chuva 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 Capturas de S. l illium (N/h-r ede) 0 1 2 3 Intensidade da Chuva 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Capturas de A. l ituratus (N/ h-rede)

Figura 4 – Variação da taxa de captura com a intensidade estimada de chuva na Ilha da Gipóia. (A) para todas as espécies, (B) para Sturnira lillium, (C) para Artibeus lituratus, (D) para insetívoros e (E) para nectarívoros.

Discussão

Observou-se que nas noites com chuva a eficiência de capturas foi cerca de 50% mais baixa. Tal diferença resulta em maior riqueza de espécies nas noites sem chuva, sendo esperado o mesmo número de espécies se o total de capturas fosse similar, demonstrando que menos morcegos voam em noites de chuva com qualquer intensidade. Artibeus lituratus, espécie representada por mais de 30% das capturas em todas as noites, tem sua taxa reduzida significativamente nas noites com chuva. Apenas duas outras espécies apresentaram redução na taxa de captura em noites com chuva, S. lillium e M.

nigricans.

A chuva interfere de várias maneiras na biologia dos morcegos, sendo pouco vantajoso saírem dos refúgios em noites com pluviosidade intensa. A taxa de captura de todas as espécies insetívoras e de M. nigricans isoladamente neste trabalho foi menor para noites com chuva. Paige (1995) analisou a resposta de morcegos insetívoros a variações na pressão barométrica, concluindo que os morcegos optam em sair apenas nas noites em que existam maiores probabilidades de encontrar suas presas ativas. As espécies de Molossidae e Vespertilionidae forrageam em voo capturando insetos (Kalko et al. 1996). A atividade reduzida destas presas e a dificuldade de usar o sonar em voo sob chuva provavelmente atrapalham a atividade de forrageio.

Morcegos frugívoros têm atividade de forrageio menos afetada pela chuva que espécies

insetívoras, pois frutos continuam disponíveis, enquanto insetos mostram-se inativos em noites mais frias e chuvosas (Paige 1995). Parte das espécies de morcegos frugívoros apresenta grande mobilidade e as espécies que se utilizam de refúgios não permanentes (como ramos, superfície abaxial de folhas) trocam periodicamente de refúgio (Lewis 1995). As espécies de Artibeus são exemplo disto, com deslocamentos diários de mais de 3,6 hectares (Chaverri et al. 2007) e este comportamento resulta em baixa fidelidade a uma determinada área (Pulchério-Leite 2008). É, portanto, possível que estas espécies troquem de área com a ocorrência de chuvas localizadas, como ocorrem frequentemente na área estudada. Mas, considerando que os morcegos frugívoros também enfrentam maiores gastos energéticos em noites mais frias e chuvosas (McNab 2002), é também possível supor que as espécies maiores, como A. lituratus (~70 g) optem mais frequentemente em permanecer refugiados que outras espécies, já que suportam maiores períodos de jejum (Pinheiro 1995). Espécies menores, em contrapartida, podem utilizar-se destas noites, tanto por suas maiores demandas energéticas (McNab 2002), como por se beneficiarem da ausência de competidores, como deve ocorrer com

C. perspicillata, que não diminuiu suas atividades.

Esta hipótese não parece aplicar-se a todas as espécies de frugívoros, pois nas noites de chuva foi observada menor taxa de captura de S. lillium, uma espécie de frugívoro de médio porte (~22 g) que se alimenta principalmente de Solanaceae

(8)

815

(Fabian et al. 2008). Esta espécie teve sua abundância diminuída em períodos mais frios em localidade situada em região de altitude no sudeste do Brasil, comprovando o efeito restritivo para a atividade nos meses de maio a agosto (Mello et al. 2008). As chuvas no litoral sudoeste do estado do Rio de Janeiro foram mais frequentemente observadas nos meses mais quentes (de outubro a março), quando a abundância deste morcego deveria ser alta em terras baixas (Mello et al. 2008). A abundância de S. lillium foi maior em noites sem chuva em meses frios (abril a julho e setembro, N = 71 capturas) do que em noites com chuva nas estações mais quentes, como primavera e verão (N = 13 capturas, de outubro a março).

Os nectarívoros apresentaram menores capturabilidades durante as noites de chuva intensa, no entanto, uma espécie, Lonchophylla

bokermanni Sazima, Vizotto & Taddei, 1978 só

foi capturada em noites com chuva e representada por apenas um indivíduo e apenas A. geoffroyi apresentou diferenças quando considerada individualmente, sendo menos capturada em noites sem chuva.

Apesar de ter sido encontrada diferença significativa da intensidade estimada da chuva com a taxa de captura para algumas espécies e para todas as capturas, a ausência de dados precisos quanto ao total e horário de precipitação ainda impedem maiores considerações. Chuvas fortes e concentradas nas primeiras horas após o pôr-do-sol podem inibir a atividade de espécies que apresentam sua maior atividade neste período da noite (Erket 1982). Cabe destacar a importância de se estudar o comportamento em refúgios de espécies tropicais para conhecer as estratégias adotadas por cada espécie em noites chuvosas.

Numerosos aspectos exógenos podem influenciar o sucesso na captura de morcegos, como variação na disponibilidade das plantas usadas como alimento ou presas, proximidade de refúgios, estrutura do habitat, temperatura e umidade (e.g., Dumont 2003; Mello et al. 2008; Mello 2009). Mas ainda pouca atenção foi dada para aspectos metodológicos no sucesso de uma coleta, e este trabalho tem a relevância de levantar informações sobre o efeito diferenciado da chuva em algumas espécies.

Agradecimentos

A Fazenda da Gipóia – SOGIM

Empreendimentos. Este trabalho foi desenvolvido sob licença especial para coleta do IBAMA-DF (processos 1755/89 e 4156/95-46 e SISBIO 10356-1 para C.E.L. Esbérard). Ao Dr. R. Moratelli pelas críticas e sugestões a uma das versões deste manuscrito. J.L. Luz recebeu bolsa de Doutorado (processo número 563571/2008-0), L.M. Costa recebeu bolsa de Doutorado da

Coordenação de Pesquisa e Ensino; W.D. Carvalho e G.P. Freitas receberam bolsas de mestrado da Coordenação de Pesquisa e Ensino; L.N. Freitas recebeu bolsa de Iniciação Científica do CNPq; C.E.L. Esbérard recebeu bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq (processo 152910/2004-0) e bolsa JCNE da FAPERJ (processo E-26/102.201/2009). Adarene Guimarães Motta, Tássia Jordão Nogueira, Juliana Almeida, Lívia Cristina, Elizabete Captivo Lourenço, Roberta Mariano, Gabriela Peixoto, Ágata Fernandes e Débora França auxiliaram em campo.

Referências

Ahlén I. 2003. Wind turbines and Bats – a pilot study. Final report to the Swedish National Energy Administration 11 December 2003. Dnr 5210P-2002-00473, P-nr P20272-1. Disponível

em: <

http://publikationer.slu.se/Filer/08WindBatFinal Report.pdf>. Acessado em: 12 de nov. de 2010. Albrecht L.; Meyer C.F.J & Kalko E.K.V. 2007.

Differential mobility in two small phyllostomid bats, Artibeus watsoni and Micronycteris

microtis, in a fragmented Neotropical landscape.

Acta Theriologica 52: 141-149

Arnett E.B. 2005. Relationships between bats and wind turbines in Pennsylvania and West Virginia: an assessment of bat fatality search protocols, patterns of fatality, and behavioral interactions with wind turbines. A final report submitted to the Bats and Wind Energy Cooperative. Bat Conservation International, Austin, Texas, USA.

Bernard E. 2001. Vertical stratification of bat communities in primary forests of Central Amazon, Brazil. Journal of Tropical Ecology 17(1): 118-126.

Chaverri G.; Quiro´s O.E.; Gamba-Rios M. & Kunz T.H. 2007. Ecological correlates of roost fidelity in the tentmaking bat Artibeus watsoni. Ethology 113: 598–605.

Costa L.M. 2009. Morcegos insetívoros que voam sobre lagoas no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Dumont E.R. 2003. Bats and fruit: an ecomorphological approach. In: Bat Ecology (edited by Kunz, T.H. & Fenton, M.B), pp. 398– 439. The University of Chicago Press, Chicago. Erkert H.G. 1982. Ecological aspects of bat

rhythms. In: Ecology of bats (editado por Kunz T.H.), pp. 201- 242. New York: Plenum Press. Esbérard C.E.L. 2006. Efeito da coleta de

morcegos por noites seguidas no mesmo local. Revista Brasileira de Zoologia 23(4): 1093-1096.

(9)

816

Esbérard C.E.L. 2007. Influência do ciclo lunar na

captura de morcegos phyllostomidae. Iheringia, Série Zoologia 97(1): 81-85

Esbérard C.E.L. 2009. Capture sequence and relative abundance of bats during surveys. Revista Brasileira de Zoologia 26(1): 103-108. Esbérard C.E.L. & Daemon C. 1999. Novo

método para marcação de morcegos. Chiroptera Neotropical 5(1-2): 116-117.

Fabián M.E.; Rui A.M. & Weachter J.L. 2008. Plantas utilizadas como alimento por morcegos (Chiroptera, Phyllostomidae), no Brasil. In: Ecologia de morcegos (editado por Reis N.R.; Peracchi A.L. e Santos G.A.S.D.), pp. 51-70. Londrina, Paraná.

Fiedler J.K. 2004. Assessment of bat mortality and activity at Buffalo Mountain Windfarm, eastern Tennessee. MS thesis, Knoxville, TN: University of Tennessee.

Fleming T.H. 1971. Artibeus jamaicensis: delayed embryonic development in a neotropical bat. Science 171(3969): 402-404.

Gentry, A.H. 1974. Flowering phenology and diversity in tropical Bignoniaceae. Biotropica 6(1): 64-68.

Hammer O.; Harper D.A.T. e Rian P.D. 2001. Past: Palaeonthological statistics software package for education and data analysis. Version. 2.00. Disponível em: <http://palaeo-electronica.org/2001_1/past/issue1_01.htm>. Acesso em: 12 de Nov. de 2010.

Handley C.O.Jr.; Wilson D.E. & Gardener A.L. 1991. Demography and natural history of the common fruit bat, Artibeus jamaicensis, on Barro Colorado Island, Panamá. Smithsonian Institution Press,Washington, D.C.

Hickey B.C. & Fenton M.B. 1996. Behavioural and thermoregulatory responses of female hoary bats, Lasiurus cinereus (Chiroptera: Vespetilionidae), to variations in prey availability. Ecoscience 3: 414–422.

Kalko E.K.V.; Handley, C.O. & Handley D. 1996. Organization, diversity and long-term dynamics of a neotropical bat community. In: Long-term studies of vertebrate communities (edited by Cody M.L. & Smallwood J.A.), pp. 503-553. San Diego, Academic Press.

Kunz T.H. & Kurta A. 1988. Capture methods and holding devices. In: Ecology and behavioral methods for the study of bats (edited by Kunz, T.H.), pp. 1-30. Washington, Smithsonian Institution Press.

McNab B.K. 2002. The Physiological ecology of vertebrates: A view from energetics. Cornell University Press, Ithaca.

Mello M.A.R.; Kalko E.K. & Silva W.R. 2008. Diet and abundance of the bat Sturnira lilium (Chiroptera) in a brazilian montane Atlantic Forest. Journal of Mammalogy 89(2): 485-492.

Mello M.A.R. 2009. Temporal variation in the organization of a Neotropical assemblage of leaf-nosed bats (Mammalia: Chiroptera). Acta Oecologica 35(2): 280-286.

Morrison D.W. 1978. Lunar phobia in a neotropical fruit bat, Artibeus jamaicensis (Chiroptera: Phyllostomidae). Animal Behaviour 26: 852–855.

Paige K.N. 1995. Bats and barometric pressure: conserving limited energy and tracking insects from the roost. Functional Ecology 9: 463 - 467. Pinheiro E.C. 1995. Metabolismo intermediário de morcegos frugívoros. Tese de Doutorado, University of São Paulo, São Paulo, Brasil. Presley S.J.; Willig M.R.; Saldanha L.N.;

Wunderle Jr. & Castro-Arellano I. 2009. Reduced-impact logging has little effect on temporal activity of frugivorous bats (Chiroptera) in lowland Amazonia. Biotropica 41(3): 369-378.

Pulchério-Leite A. 2008. Uso do espaço por

Artibeus lituratus e Sturnira lilium (Chiroptera:

Phyllostomidae) em fragmentos florestais urbanos de Curitiba, Paraná. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná.

Ramos A.M.; Santos L.A.R. & Fortes L.T.G. 2009. Normais Climatológicas do Brasil 1961-1990. Instituto Nacional de Meteorologia. 466 p.

Von Hensen F. 2004. Thought and working hypotheses on the bat compatibility of wind energy plants in German. Nyctalus 9(5): 427-436.

Weinbeer M.; C.F.J. Meyer & E.K.V. Kalko. 2006. Activity Pattern of the Trawling Phyllostomid Bat, Macrophyllum macrophyllum, in Panamá. Biotropica 38(1):

69-76.

Wimsatt W.A. 1969. Transient behavior, nocturnal activity patterns and feeding efficiency of vampire bats (Desmodus rotundus) under natural conditions. Journal of Mammalogy 50: 233-244.

Zar J.H. 1999. Biostatistical analysis. Prentice Hall. New Jersey.

Referências

Documentos relacionados

Luckesi (1998) acredita que a relação professor-aluno pode favorecer a aprendizagem, desde que seja estabelecida por eles uma relação de confiança e que a sala de aula

A seleção de professores é uma medida que não parece ter uma solução tão breve e foge aos limites legais das escolas e da 28ª CRE. Para além da seleção de professores,

O presente trabalho buscou investigar como vem ocorrendo o processo de implementação da política pública de Educação Profissional em Pernambuco e verificar como

[r]

Então são coisas que a gente vai fazendo, mas vai conversando também, sobre a importância, a gente sempre tem conversas com o grupo, quando a gente sempre faz

Neste capítulo foram descritas: a composição e a abrangência da Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Estadual de Educação e em especial as

A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO DE PESSOAS: O CASO DE UMA INDÚSTRIA GRÁFICA DE SANTA CATARINA.. Paulo Roberto Silveira

One of the main strengths in this library is that the system designer has a great flexibility to specify the controller architecture that best fits the design goals, ranging from