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A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR BRASILEIRO: DA TEORIA DO CAPITAL HUMANO À PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS

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Academic year: 2021

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A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR BRASILEIRO: DA TEORIA DO

CAPITAL HUMANO À PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS

Nilene Matos Trigueiro Marinho (1), Andréia Ferreira da Silva (2)

(1) Doutoranda em Educação na Universidade Federal da Paraíba, Professora do Instituto Federal do Ceará, campus Juazeiro do Norte, nillene.trigueiro@gmail.com, (2) Professora Doutora da Universidade

Federal de Campina Grande,

Resumo: O presente artigo propõe-se a discutir a formação do trabalhador no Brasil construindo um diálogo

entre conceitos como: a teoria do capital humano, instaurada na década de 1960 e a pedagogia das competências, propagada nos documentos do governo Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990. Diante da questão o assume-se como objetivo geral: investigar as bases econômico-pedagógicas que influenciaram a educação e a formação do trabalhador brasileiro da década de 1960, no intuito de compreender a teoria do capital humano, e na década de 1990, para elucidar as propostas contidas na pedagogia das competências. Como objetivos específicos: reconhecer como a formação humana acontece nos momentos de crise enfrentados pela sociedade capitalista; perceber a importância da formação do trabalhador numa perspectiva ontológica do trabalho. O presente trabalho resulta de uma revisão de literatura baseada em autores como Saviani, Kuenzer, Frigotto e Ramos, que abordam a formação humana numa perspectiva do materialismo histórico-dialético. Decorrida a análise proposta percebeu-se que a educação no modo de produção capitalista, desconsidera o trabalho enquanto princípio ontológico do ser, o que consequentemente impossibilita os indivíduos a superarem a alienação presente no trabalho e avançar no campo da emancipação da classe trabalhadora.

Palavras-chave: educação profissional, capital humano, pedagogia das competências.

1 Introdução

O presente artigo propõe-se a discutir a formação do trabalhador no Brasil construindo um diálogo entre conceitos como: a teoria do capital humano instaurada na década de 1960, momento em que o Estado brasileiro alicerça a concepção de educação no pensamento neoclássico econômico americano e a pedagogia das competências propagada, a partir da década de 1990, nos documentos do governo Fernando Henrique Cardoso.

As discussões acerca da formação do trabalhador brasileiro ganham relevância para autora do referido artigo que fez da educação uma escolha profissional e um espaço de reflexão e estudo, ao atuar como docente do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e ingressar como estudante do curso de Doutorado em Educação, do Programa de Pós-graduação, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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trabalhador em diferentes governos e momentos históricos distintos, o respectivo trabalho apresenta como objetivo geral: investigar as bases econômico-pedagógicas que influenciaram a educação e a formação do trabalhador brasileiro da década de 1960, no intuito de compreender a teoria do capital humano, e na década de 1990, para elucidar as propostas contidas na pedagogia das competências. Como objetivos específicos, buscou-se: conhecer como a formação humana acontece nos momentos de crise enfrentados pela sociedade capitalista; perceber a importância da formação do trabalhador numa perspectiva ontológica do trabalho.

2 Metodologia

O estudo resulta de uma revisão de literatura baseada em autores como Frigotto, Ramos, Saviani, Kuenzer, que abordam a formação humana numa perspectiva do materialismo histórico-dialético e reconhecem a necessidade de analisar a formatação assumida pela educação com o desenvolvimento de novas tecnologias e a organização do trabalho, no intuito de buscar superar o ocultamento das “verdades” contidas na produção de documentos e currículos no Brasil.

As análises versaram pela formação do trabalhador no Brasil, incluindo-a em um contexto mais amplo, que prima pela crítica e percebe a educação como uma categoria que se insere nas relações de opressão e como parte das reformas sociais necessárias para manter o sistema capitalista como modo de produção dominante.

3 Resultados e Discussão

3.1 Analisando a formação do trabalhador na década de 1960 e 1970: a teoria do capital humano

Entre as décadas de 1960 e 1970, o Brasil recebe forte influência do pensamento neoclássico americano que, atribuía à educação a responsabilidade de sanar os problemas econômicos do país (FRIGOTTO, 1989).

A teoria do capital humano percebe a escola como uma extensão da fábrica, já que a educação deve ser destinada à formação de mão de obra para atuar no mercado de trabalho. A responsabilidade pela desigualdade estrutural do modo de produção capitalista é transferida ao trabalhador que, deve investir em sua educação, tornando-se ele, o responsável pela sua condição de existência (FRIGOTTO, 1989).

Segundo Frigotto (1989), a teoria do capital humano está associada à perspectiva tecnicista da década de 1950, trazendo consigo a visão de que seria necessário livrar o sistema educacional de

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sua ineficiência. A pedagogia tecnicista teria a capacidade de sanar essa ineficiência dos sistemas de educação, ao perceber a educação como capital e como geradora de capital humano. Consoante Frigotto (1995, p. 41),

[...] a ideia de capital humano é uma “quantidade” ou um grau de educação e de qualificação, tomado como indicativo de um determinado volume de conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas, que funcionam como potencializadoras da capacidade de trabalho e de produção. Desta suposição deriva-se que o investimento em capital humano é um dos mais rentáveis, tanto no plano geral de desenvolvimento das nações, quanto no plano de mobilidade individual.

O capital humano é abordado como capital físico e por isso, necessitaria de investimentos em educação, sanado esse problema, o trabalhador teria acesso igualitário aos bens materiais por ele produzidos, já que o trabalho, para a teoria do capital humano, seria por si só, o responsável pela produção de riquezas (FRIGOTTO, 1989).

No final da década de 1980 e o início da década de 1990, o neoliberalismo surge como teoria político-filosófica capaz de responder aos interesses dominantes. Um marco importante para decisões neoliberais tomadas para os países da América Latina foi o consenso de Washigton, definido em 1989, numa reunião promovida por John Williamson no Internacional Institute de

Economy, que discutiu a inserção dos diversos organismos internacionais e seus intelectuais nas

reformas a serem realizadas em países da América Latina.

Após o consenso de Washigton, a teoria do capital humano daria lugar a uma nova formulação dos processos educativos, denominada pedagogia das competências1, que privilegia as capacidades e competências dos sujeitos. O novo contexto produz uma educação que não garantirá ao homem capacitar-se para um mercado de pleno emprego, já que as oportunidades não permitem esse cenário, as possibilidades da formação escolar podem trazer-lhe apenas o status de empregabilidade (SAVIANI, 2010).

No próximo tópico foi realizada uma discursão acerca da pedagogia das competências, destacando sua influência na construção dos documentos e legislações da educação brasileira a partir da década de 1990, definindo atualmente a abordagem de educação tecnológica e a formação profissional no Brasil.

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Torna-se relevante esclarecer que para alguns autores, como Ramos (2011) a pedagogia das competências não assume uma continuidade em relação à teoria do capital humano, pois segundo a autora há um deslocamento conceitual do termo qualificação para o de competência. Um deslocamento conceitual do primeiro, no que tange a sua centralidade na abordagem histórica das relações sociais do trabalho e educação. O conceito de qualificação foi substituído, na contemporaneidade, pela noção de competência, não no sentido de superá-lo, pois ele nega alguma de suas dimensões e afirma outras, mas no sentido de um deslocamento conceitual que vai da qualificação à competência.

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3.2 A reforma da educação nos anos de 1990 e a pedagogia das competências no Brasil

A intensificação da competitividade por melhores postos de trabalho e o individualismo tomam a cena da organização do trabalho na sociedade capitalista após a década de 1990. Esses preceitos assentaram as bases da educação, absorvendo a lógica advinda dos interesses privados na formação do trabalhador, pautada no ensino de competências e habilidades.

A noção de competências surge como a noção de empregabilidade, como fruto de uma elaboração ideológica que explica as questões sociais a partir do sujeito individual. Para isso, conceitos como qualificação – definida como um conceito central nas relações de produção – e competências sofrem um deslocamento conceitual e a noção de competência passa, em alguns momentos, a reafirmar e em outros momentos a negar o conceito de qualificação, que tem sido continuamente redefinido. O deslocamento do conceito de competência é uma expressão da pós-modernidade e das mudanças por ela provocadas na produção e na cultura (RAMOS, 2011).

Pode-se seguramente afirmar segundo Ramos (2011, p. 22) que,

A noção de competência fundamenta-se em uma concepção natural-funcionalista de homem e subjetivo-relativista de conhecimento, que reforça o irracionalismo pós-moderno nas suas principais características. A análise de sistemas de competência profissional permitiu também concluir que, metodologicamente, sua institucionalização ancora-se na teoria funcionalista, atualizada pela Teoria Geral dos Sistemas […].

De acordo com Ramos (2011), a pedagogia das competências expressa uma mediação renovada da acumulação flexível do capitalismo e, apesar de ser um conceito desenvolvido pela sociologia, ancora-se na psicologia construtivista e na teoria de competência linguística de Chomsky, não se restringe apenas ao fazer prático do trabalhador, mas sim ao desenvolvimento de comportamentos e posturas. É nesse sentido que a educação irá revestir-se de preceitos mais humanistas, objetivando moldar a personalidade dos sujeitos.

A integração da noção de competências na educação brasileira surgiu na década de 1990 na promulgação de diversos documentos, dentre eles: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9.394 de 20 de dezembro 1996; as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCN´s) consubstanciadas no Parecer CNE/CEB nº 16 de primeiro de junho de 1990 e respectiva Resolução nº 15, de 26 de junho de 19982; e documentos não obrigatórios, de caráter apenas consultivo como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s); dentre outros.

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As referidas diretrizes foram substituídas pelas novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, definidas pelo Parecer CEB/CNE nº5 de 4 de maio de 2011 e pela Resolução CNE/CEB nº 2, de 30 de janeiro de 2012.

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De acordo com a pedagogia das competências, fundada nos pressupostos da reestruturação produtiva e do toyotismo, o homem precisa estar preparado para novas demandas, em que prevalece a acumulação flexível em detrimento da rigidez anteriormente conhecida nos processos de produção como no fordismo e no taylorismo visto que, encontrará um mercado de incertezas onde sua formação não lhe garantirá mais a empregabilidade. Nesse contexto de imprevisibilidade estará sendo construída a sua formação, destinada a disseminar novos valores necessários à ordem social em uma sociedade pós-industrial (RAMOS, 2011).

4 Considerações finais

Torna-se perceptível que a formação do trabalhador brasileiro sempre esteve em sintonia com a ordem econômica dominante, absorvendo suas concepções de mundo, de indivíduo e de trabalho, necessárias à construção do homem para uma sociedade capitalista.

O individualismo, presente na concepção moderna de homem foi fundamental, segundo Ramos (2011), para superar o fordismo e assumir como característica do mercado a acumulação flexível. A pedagogia das competências, assim como a teoria do capital humano, refletiu um momento histórico de produção da existência que requereu determinadas características para a construção do homem brasileiro.

Alienado de seu trabalho e sem acesso ao conhecimento econômico-científico da sociedade, o trabalhador acaba por reconhecer que esse processo, no caso específico da restruturação produtiva, pode vir ao encontro de suas necessidades e da melhoria de sua qualidade de vida, desconhecendo a falácia presente em afirmativas como essa, que escondem a face real do problema, que seria o aumento do uso de tecnologias e a substituição do trabalho vivo, pelo trabalho morto, expropriando-o cada vez mais do fruto de seu trabalho e do poder de decisão sobre sua existência.

Em suma, as mudanças ocorridas na formação dos sujeitos, nos momentos históricos abordados, refletem o processo de reestruturação produtiva e a necessidade do Estado de buscar articular a educação a esse processo, provocado pela divisão social do trabalho no modo de produção capitalista.

A educação que deveria possibilitar ao trabalhador uma leitura de totalidade do mundo restringe-se, no Brasil, a construção do homem necessário, com personalidade cordial para enfrentar as incertezas que se instalam no mercado de trabalho. Diante de tal perspectiva é negada ao indivíduo, uma formação que possibilite a libertação da condição de opressão em que se encontra e

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o trabalho perde a sua característica de categoria ontológica do ser, tornando-se alienado.

A sublimação das condições de classe nas duas teorias aqui discutidas expressa de forma clara essa questão, primeiramente ao ocultar aos sujeitos as crises enfrentadas pelo trabalho sobre uma abordagem macroeconômica, responsabilizando o próprio indivíduo pela sua formação, ou ausência dela e pela sua não inserção no mercado de trabalho; depois por não conseguir responder a necessidade da classe trabalhadora, de uma educação que humanize as relações de trabalho compreendendo-o como “[...] atividade humana produtora de vida material e espiritual no confronto com a natureza para humaniza-la [...]” (MANOCORDA, 2001, p. 275).

Referências Bibliográficas

FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Cortez, 1995.

_________. A produtividade da escola improdutiva: um (re)exame das relações entre educação e estrutura econômico-social e capitalista. 3Ed, São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989.

KUENZER, Acácia Zeneida. A pedagogia da fábrica: as relações de produção e a educação do trabalhador. 8º ed., São Paulo: Cortez, 2011.

_________. Ensino Médio e Profissional: As Políticas do Estado Neoliberal, São Paulo: Cortez, 2001.

MANOCORDA, Mário Alighiero. Marx: do liberalismo ao comunismo. Perspectiva, Florianópoles, v. 19, n.2, p.271-293, jul/dez. 2001. Disponível em: https://docs.google.com/viewer. Acesso: out. 2012.

MARTINS, Marcos Francisco. Ensino técnico e globalização: Cidadania ou submissão? Campinas: SP: Autores Associados, 2000.

RAMOS, Marise Nogueira. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? 4. Edição. São Paulo: Cortez 2011.

SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton (Org.). Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2012.

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. São Paulo: Autores Associados, 2010.

Referências

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