A função administrativa no
contexto das funções estaduais
Fernanda Paula Oliveira
Distinção entre
as funções do
Estado
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O modelo teórico originário (simplificado)
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Três poderes Três funções
Parlamento Legislativa, através de leis, Governo Executiva, através de atos, Tribunais Judicial, através de sentenças
A função administrativa: atividade de execução
material e função residual:
- não legislativa, porque não incluía elaboração de normas gerais e abstratas com valor jurídico;
- não jurisdicional, porque não visava resolver litígios jurídicos entre partes com força de caso julgado.
Complexidade atual das funções, da sua
caraterização e da sua distinção
•
Função política ou governativa
•
Função legislativa
•
Função judicial
•
Função administrativa
1. Função política
(autonomizada a partir da função executiva)Tribunal Constitucional STA
Engloba “todos os atos concretos dos órgãos constitucionais, cuja competência e cujos limites estejam definidos na Constituição” (A. Queiró), e não em leis ordinárias.
A importância primacial do conteúdo: •“a função política corresponde à prática de atos que exprimem opções fundamentais sobre a definição e prossecução dos interesses ou fins essenciais da colectividade” •“uma actividade de ordem superior, que tem por conteúdo a direção suprema e geral do Estado, tendo por objetivos a definição dos fins últimos da comunidade e a coordenação das outras funções, à luz desses fins”
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As dificuldades
•Ambas se situam no âmbito da atividade do tradicional poder executivo (actualmente bicéfalo -Presidente da República, Governo) cfr. artigo 197.º e 199.º CRP
•Em ambas estão em causa tipicamente atuações de caráter concreto.
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Exemplos tradicionais
•“atos auxiliares de direito constitucional”, no quadro das relações entre órgãos constitucionais
▫ promulgação de diplomas,
▫ referenda ministerial dos actos do PR, ▫ marcação de eleições legislativas, ▫ nomeação e demissão do Governo, ▫ dissolução da Assembleia da República, etc.,
•atos diplomáticos no contexto das relações externas,
•atos de defesa nacional,
•atos de segurança do Estado,
•atos de clemência (indulto e comutação de penas),
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Tradicionalmente
O caráter primário da atividade "política” •Desenvolve-se em aplicação direta da Constituição (onde está fixada a competência, bem como os respetivos
limites), sem interposição da lei ordinária (a não ser,
quando muito, para mera ordenação do procedimento) •Tem em vista a realização directa de interesses
fundamentais da comunidade política.
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Dificuldades atuais
•A atuação do governo através de dimensões de programação e de orientação político-estratégica da actividade administrativa (políticas públicas) exercida frequentemente através de decretos-leis (muitas vezes decretos-lei-medida) submetidos a legislação-quadro genérica (nacional ou europeia)
▫política energética,
▫política de saúde,
▫política de ordenamento do território,
▫política de ambiente,
▫política de transportes,
▫política orçamental
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•Uma atividade concreta que não é meramente executiva(dimensões de “liberdade de conformação mais amplas que a discricionariedade administrativa)
•Uma atividade normativa que também não é legislativa, porque não totalmente inovadora Função governativa, mas porque se desenvolve normalmente na forma de decretos-lei é designada de politico-legislativa (função de indirizzo politico)
Dificuldades atuais
Legislativa Administrativa
Sujeito Parlamento Governo
Modalidade Normas jurídicas gerais e abstratas Práticas de atos individuais e concretos Zonas de reserva
Fazer leis (define a esfera jurídica dos
cidadãos)
Executar as leis
Hierarquia Primado das decisões tomadas ao nível legal
Subordinação das suas decisões à lei
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2. Função legislativa
Altera-se o conceito de ato legislativo
•O Executivo também exerce a função legislativa(decretos-leis), com respeito pela reserva parlamentar; •o carácter geral e abstracto não é decisivo: o Parlamento
e o Governo aprovam leis individuais e leis-medida com carácter concreto;
•a hierarquia normativa não é inequívoca: também existem leis reforçadas relativamente a outras leis ou diplomas de carácter e nível legislativo;
•Alteram-se as matérias que são objecto de lei: ampliam-se e deixam de visar apenas a definição da esfera jurídica dos cidadãos;
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•Não existe uma reserva de regulamento administrativo (a lei pode regular em termos gerais e abstractos qualquer matérias – todos os preceitos gerais e
abstractos regulados sob forma de lei são considerados materialmente legislativos, ainda que o respectivo
conteúdo pudesse ter sido disciplinado por via regulamentar administrativa.
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Altera-se o conceito de ato legislativo
•A atividade administrativa não se limita às decisões concretas
•Administração também emana normas jurídicas gerais
e abstractas (regulamentos), por vezes com grande
autonomia em face da lei (regulamentos independentes).
▫ Dificuldade de as distinguir quando se está perante o Governo que desempenha as duas funções
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Altera-se a atividade administrativa
•O critério das suas características típicas: a função legislativa é tendencialmente geral e abstracta e a administrativa individual e concreta.
•Os critérios complementares, onde esta característica não permite a distinção: primariedade, essencialidade ou novidade da lei, cabendo, em regra, aos regulamentos a tarefa de executar ou pormenorizar a disciplina legal.
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Em suma:
•A função legislativa é uma função de primeiro grau, que corresponde ao desenvolvimento e aplicação directa da Constituição, falando-se a este propósito na “liberdade constitutiva do legislador” (desde que respeite o quadro constitucional).
•A função administrativa é uma função de segundo grau, isto é, subordinada à lei.
•
Distinção inicial com base na relação com a lei
▫ lei-limite para a Administração versus lei-fim
para o juiz;
▫ lei-meio versus lei-fim,
•
Distinção pela diferenciação da actividade
▫ prossecução de interesses administrativa versus
independência judicial;
▫ volição versus cognição.
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3. Função jurisdicional
Mas, na atividade administrativa:
•A lei não é mero limite (defesa dos direitos dos cidadãos) mas também pressuposto e fundamento da actuação administrativa (definição dos interesses públicos)
•Está cada vez maisintensamente vinculada ao Direito,
aberta à participação e sujeita a procedimentos
complexos e formalizados;
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A função jurisdicional (definição)
•"intenção axiológica" (procura dos “fundamentos”, do “valor”, do “justo” – Castanheira Neves),
•conteúdo e fim exclusivo: a resolução de uma
"questão de direito" (que abrange os litígios
entre pessoas e também a questão da conformidade de um acto ou de uma norma com um padrão normativo - Afonso Queiró) –
•sempre a cargo de um órgão "indiferente" (imparcial) e "inoficioso" quando dirime um conflito de interesses.
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O caso difícil das sanções administrativas
•as coimas em procedimentos de contra-ordenação: são decididas, em primeira instância, por órgãos administrativos, embora objecto de “revisão” em segunda instância pelos tribunais comuns
•As sanções cominadas no âmbito das actividades privadas sujeitas a regulação pública: as autoridades reguladoras dirimem litígios entre particulares, com possibilidade de impugnação judicial.
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Caraterização da
função
administrativa
(Modelo tipológico)
•Actividade pública (de conteúdo abstracto ou concreto), •desenvolvida, em regra, pelo Governo e pelos órgãos dos
entes públicos administrativos,
•não se destina a título principal à resolução de "questões de direito",
•Carateriza-se pela procura estratégica dos “efeitos”, da “finalidade”, do “útil” (Castanheira Neves),
•Visa a criação de condições concretas de realização do
Ideal de Segurança, Justiça e Bem-estar(prossecução de interesses públicos)
•em termos pré-definidos (pelo menos quanto aos fins específicos e às competências) pelos órgãos com competência política e legislativa.
Importância
prática da
distinção das
funções
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Administração e política
•Os “actos políticos”, ao contrário dos “actos administrativos”, não são impugnáveis perante os tribunais
▫ saber se certas Resoluções do Conselho de Ministros (em matéria de política de saúde, habitação, energia, transportes, educação, cultura), são decisões políticas ou regulamentos administrativos (independentes). ▫ Os Acórdãos do STA de 25/11/2010 (P. 762/10) e de
09/12/2010 (P. 855/10), qualificam como actos políticos as decisões relativas às transferências de verbas para as autarquias contidas em normas do orçamento ou de execução orçamental.
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Função administrativa e função legislativa
•
Relevo no Tribunal Constitucional no âmbito de
deteção de eventuais conflitos de competências :
•
Evitar invasão do poder legislativo pelo
poder administrativo
▫ v.g. regulamentos municipais que regulam primariamente matéria de direitos, liberdades e garantias (afixação de publicidade e propaganda, liberdade de circulação das pessoas); regulamentos municipais que criam tributos unilaterais (impostos, mascarados de “taxas”);
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•
Evitar a invasão do poder administrativo
pelo poder legislativo (sobretudo quando
o Governo é minoritário)
▫ O critério do carácter abstracto típico da legislação e do carácter concreto típico da administração, que aponta para um princípio de “reserva da decisão no caso concreto” (v. Acórdão do TC n.º 1/97 – criação de vagas adicionais no ensino superior público; Acórdão do TC n.º 24/98, - caso da alteração de um contrato de concessão de auto-estrada).
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•Uma directriz ao legislador quanto à atribuição de
competências à Administração: deve respeitar o
princípio da reserva da função jurisdicional (o seu núcleo essencial) para o juiz
▫ Pode bastar-se com a reserva da autoria da decisão final (aplicação de sanções de regulação sectorial e de coimas por contra-ordenações gerais).
•Uma orientação constitucional de limitação e de auto-contenção (self restraint) do juiz perante o perigo de invasão da esfera de avaliação e de decisão própria da administração (relevo no âmbito do contencioso administrativo: vg. ações de condenação e controlo do poder discricionário).
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Jurisprudência
com relevo
•Acórdão do STA de 06/03/2007, P.1143/06:função (ato) político?: decisão por parte do Ministério da Saúde de encerramento de maternidades e salas de partos
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/175acff833dd a947802572aa004c5b3e?OpenDocument
•Acórdão do STA de 20/05/2010, P. 390/09 –função (ato) político?:decisão de supressão da transferência do Orçamento do Estado das verbas necessárias para garantir a remuneração dos membros das juntas de freguesia, em regime de permanência
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/d938ac305c9 de9958025773400312b53?OpenDocument
•Acórdão do STA (Ac. 03/04/2008, P. 934/07 –
função jurisdicional–decisão sobre se um terreno integra o domínio público ou é propriedade de um particular http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/02e183434e77 ac318025742e003ca718?OpenDocument
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•Acórdão do STA de 25/11/2010 (P. 762/10)
•Acórdão do STA de 09/12/2010 (P. 855/10)
▫qualificam como actos políticos as decisões relativas às transferências de verbas para as autarquias contidas em normas do orçamento ou de execução orçamental. Respetivamente:
•http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/b35646d8 2ea2e991802577ee0051974a?OpenDocument
•http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/d8b259ac 8f036519802577fc0057b0a1?OpenDocument
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•Acórdão do TC n.º 1/97 – delimitação entre função administrativa e função legislativa-criação de vagas adicionais no ensino superior público http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/19970001.html
•Acórdão do TC n.º 24/98 - delimitação entre função administrativa e função legislativa:alteração de um contrato de concessão de auto-estrada http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/19980024.html
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•Acórdão do TC n.º 427/2009 –reserva do juiz? -sobre a atribuição legal a órgãos da administração penitenciária da competência para, verificado um conjunto de pressupostos de forma e de fundo, decidir sobre a colocação de reclusos em regime aberto.
“….é de concluir que não se verificam os pressupostos de que parte o requerente. Isto é, a administração prisional não modifica o sentido da sentença que condenou a uma pena de prisão nem altera o sentido da pena, quando coloca o recluso em regime aberto no exterior. Tanto basta para concluir que a norma cuja apreciação foi requerida não viola o parâmetro constitucional convocado pelo requerente”
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20090427. html
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