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O TEATRO PERFORMATIVO NO PÚBLICO

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Academic year: 2021

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O TEATRO PERFORMATIVO NO PÚBLICO

MARIA IMACULADA DA CONCEIÇÃO TEIXEIRA GADELHA; Rua Pedro Machado, 195, Montese. CEP: 60416-432. Fortaleza-CE, (85) 88422890:

imaculadagadelha@gmail.com

RESUMO

O artigo discute alguns aspectos da relação entre o real e o ficcional observados no Teatro Dramático e no Teatro Performativo. Pretendo, ao longo desse artigo, fazer algumas reflexões sobre determinados aspectos da ação realizada em cena pelo ator no teatro contemporâneo tendo como objeto - “Público” (2012), espetáculo de Conclusão da 1º Turma de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, dirigido pelo professor e pesquisador Tomaz de Aquino. Palavras – Chave: Teatro – Performativo; Público;

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INTRODUÇÃO

Pensar o Teatro Contemporâneo significa tentar compreender a não preponderância de uma forma e de um estilo, a alternância e a convivência – mais ou menos pacífica – de tendências, convicções e estéticas. O próprio uso do termo “contemporâneo” já suscita uma série de controvérsias, além de instalar certa confusão com os conceitos de “pós-moderno” e “pós-dramático”.

Dramaturgia Performativa é um modo provocativo de denominar, a partir de algumas perspectivas, o texto teatral produzido a partir da década de 1970. Ele tem como principal característica a negação da estrutura dramática, não seguindo formas pré-estabelecidas e gerando novas configurações textuais e a proposição de diferentes modos de recepção.

A partir da experienciação de compor o grupo 13º Ato e participar da montagem do Espetáculo “Público”, pude ser um observador participante, com inquietações e dúvidas do que haveria se tornado o espetáculo, entre tantos conceitos formados, fechar o espetáculo em uma única linha é um trabalho difícil, até porque essas linhas se misturam numa grande “teia de aranha”.

Nós artistas, temos a mania de querer dar nome, de codificar nossas vivências, e isso às vezes nos limita ainda mais. Estar em um processo com treze pessoas, vivenciado na rua, e querer dar o seu olhar de forma fechada é impossível. Dizer que é Teatro de Invasão, que é Teatro de Rua, que é Teatro Performativo, seja lá o que for, todos esses estilos teatrais giram em torno de três grandes objetos: o ator, o espectador e o espaço. E é a partir desses objetos que podemos conceituar um espetáculo.

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ENTRE MUITAS VISÕES DO QUE VEM A SER TEATRO PERFORMATIVO. O teatro contemporâneo vem sofrendo transformações visíveis ao longo dos últimos anos e compondo um teatro que pode ser chamado de performativo (Josette Féral) ou pós-dramático (Lehmann). Segundo Féral (2008), podemos notar mudanças significativas na dramaturgia dos espetáculos, gerando um deslocamento da narrativa, antes centrada no texto e hoje diluída em todos os elementos que compõem a cena. De igual importância, é necessário reconhecer as vanguardas artísticas do início do século XX, que já apontavam, naquela época, algumas das características que irão, mais tarde, se desdobrar e/ou se radicalizar neste teatro que tem sido denominado performativo ou pós-dramático. Podemos notar, de acordo com Féral, alguns fatores comuns nos espetáculos de hoje que podem caracterizar um teatro performativo. Nesse contexto, o cenário, o figurino, os objetos e adereços, a sonoplastia, a luz, o uso de novas tecnologias, o corpo do ator e o texto passam a ser todos elementos de igual importância na dramaturgia. Assim, a leitura do espectador ocorre a partir da livre associação desses elementos. “Trata-se de um gênero não dramático na medida em que nenhuma narrativa linear mantém os elementos unidos” (FÉRAL, 2008). Enquanto nas montagens de textos dramáticos buscava-se, na maioria das vezes, uma unidade entre os elementos constitutivos da obra, hoje os espetáculos buscam uma abertura de significação para que cada espectador possa criar seu próprio modo de recepção e fruição. Como podemos verificar de forma clara em Pélbart (2006):

Somos um grau de potência, definido por nosso poder de afetar e de ser afetado, e não sabemos o quanto podemos afetar e ser afetados, é sempre uma questão de experimentação. Não sabemos ainda o que pode o corpo, diz Espinosa. Vamos aprendendo a selecionar o que convém com o nosso corpo, o que não convém, o que com ele se compõe, o que tende a decompô-lo, o que aumenta sua força de existir, o que a diminui, o que aumenta sua potência de agir, o que a diminui, e, por conseguinte, o que resulta em alegria, ou tristeza. Vamos aprendendo a selecionar nossos encontros, e a compor, é uma grande arte.

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“PÚBLICO”

Público é uma peça inspirada em obras de Nelson Rodrigues e que tem direção de Tomaz de Aquino. O espetáculo busca, a partir do universo rodriguiano e sua relação com a cidade, desenvolver o pensamento reflexivo tomando como base inspiratória os textos: “Toda nudez será castigada”, “Senhora dos Afogados”, “Vestido de noiva”, “A Serpente” e “Álbum de Família”.

Público é uma reunião de procedimentos criativos vivenciados durante as aulas práticas e teóricas das disciplinas de Interpretação II e Composição Cênica. A encenação tem como característica principal a investigação das relações entre o corpo e o espaço, fomentando uma reflexão acerca dos sítios históricos da cidade e a utilização desses espaços como palco para apresentações artísticas e culturais.

Houve um tempo em que o público ia até o teatro. Hoje o teatro vai até o público. Diferente das peças do Augusto Boal, no entanto, que, quando encenava, ninguém sabia se eram atores ou se eram pessoas reais que estavam representando, as peças não procuram esconder o seu caráter de teatro. Assim, quando o público se aproxima dos atores ele sabe que o que estão vendo é uma encenação mesmo que passe a fazer parte do enredo quando um dos atores – ou uma das atrizes – passe uma câmara fotográfica para um deles a fim de que, fotografando a peça, passe a fazer parte dela mesmo que não se dê conta disso. Todos sabem que estão diante de uma representação e não de uma realidade. Nelas os atores atuam diante de um grupo de pessoas, que circula em torno das personagens como se fossem fantasmas.

O Teatro de Invasão não tem como palco um ponto específico. Todo lugar serve de referencial para ele. Por isso, Público está sendo apresentado pelas ruas de Fortaleza. Por acaso estão sendo representada no Parque das Crianças e na Casa Juvenal Galeno. Mas podia estar na Praça do Ferreira ou José de Alencar. Afinal, como a intenção é a de interagir com o público e não a de encenar para ele, as peças são móveis e não fixas.

Público vem para mostrar á sociedade as relações grotescas que vivemos e varremos para debaixo do tapete, mostra a nossa real face, e é por isso que os espectadores vão atrás dos atores, mesmo sendo uma verdadeira maratona, os espectadores ficam no espetáculo, sendo livres para deixá-lo no momento que quiserem, até porque como o espetáculo acontece no centro de Fortaleza, o fluxo de carros, pedestres é muito intenso, e o intuito não é de parar esse fluxo, e sim fazer parte dele.

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CONCLUSÃO

Tomei como objeto um espetáculo teatral que pode ser considerado, sob vários aspectos, como teatro de invasão, ou teatro performativo, ou pós-moderno, até mesmo teatro de rua. A escolha de trabalhar nesse artigo a visão de Público como um teatro performativo, foi devido ao caráter inovador que presenciei no mesmo, um olhar de vanguarda, de mostrar o diferente, um jogo de dissimulações e de ocupação urbana. De ver a performance como linguagem, a presença não mais como representação. O ritual submete a suspensão do tempo, levar o espectador junto.

O que gostaria de desenvolver é o modo como o conceito de “dramaturgia performativa” vem sendo desenvolvido no processo atual de trabalho. Trabalhamos com o processo colaborativo e está neste tipo de processo, um aspecto inicial que poderíamos relacionar à performatividade da dramaturgia. O texto do atual trabalho foi desenvolvido ao longo do processo. O diretor vem observando as proposições da equipe e também sugerindo alguns procedimentos que fazem nascer indicações de campo temático, de caracterização de personagens, de trajetória e estilo da escrita. Este roteiro tinha uma indicação clara de percurso, que ele gostaria de experimentar e ver como se realizava em cena, mas também levava em consideração o caráter performativo que os atores vinham demonstrando ao longo dos ensaios.

A proposição textual do dramaturgo deve contemplar não somente as suas ideias, mas principalmente as vontades coletivas e ser capaz de materializar através da escrita os experimentos realizados em sala de ensaio. E ainda, o dramaturgo neste processo encontra a necessidade de desenvolver também propostas de ensaio que vislumbrem gerar materiais que poderão servir como norteadores de sua escrita.

A experiência acima pode ser considerada como um procedimento performativo por colocar o dramaturgo em local desconhecido, em fazer com que através de sua escrita seja capaz de provocar um processo de descobertas e de criação por parte dos atores e de toda a equipe envolvida e dispor-se constantemente para a re-escritura de suas proposições. Este tipo de operação expande a noção de performatividade textual, pois ela pode se encontrar não somente no texto em si, mas também no processo de seu desenvolvimento. Aproximando-se do que nos aponta Josette Féral (2009):

A performatividade não é um fim em si mesmo, uma realidade concreta ou acabada, mas um processo. Ela é construção (uma realidade X como performance) e reconstrução (reconhecimento intelectual das etapas dessa construção.

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BIBLIOGRAFIA

BAUMGARTEL, Stephan. Em busca de uma teatralidade textual performativa além da representação dramática in Sobre Performatividade. Org. Edélcio Mostaço, Isabel Orofino, Stephan Baumgartel e Vera Collaço. Santa Caratina: Letras Contemporâneas, 2009.

BONFITTO, Matteo. O ator pós-dramático: Um catalisador de aporias? in GUINSBURG, J. e FERNANDES, S. (orgs). O Pós-dramático, p. 87-100. São Paulo: Perspectiva, 2009.

FABIÃO, Eleonora. Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea. In: Sala Preta, Revista de Artes Cênicas, nº 8, p. 235 a 246. São Paulo: Departamento de Artes Cênicas, ECA/USP, 2008.

FARIA, J. R.; LIMA, M. A.; GUINSBURG, J. (orgs.). Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva: Sesc São Paulo, 2006. FÉRAL, Josette. Performance e performatividade in Sobre Performatividade. Org. Edélcio Mostaço, Isabel Orofino, Stephan Baumgartel e Vera Collaço. Santa Caratina: Letras Contemporâneas,2009.

FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. In: Sala Preta (nº 08). São Paulo: Gandalf Editora, 2008.

FERNANDES, Sílvia. Teatralidades contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2010. FERNANDES, Sílvia & GUINSBURG, J. (orgs.). O pós-dramático: um conceito operativo? São Paulo: Perspectiva, 2008.

LEHMANN, Hans-Thies. O teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

COMENTÁRIO:

Na primeira parte, com base em experiência vivida, a aluna traça um entendimento razoável para questões ligadas ao módulo estudado. Num segundo momento, quando cita o espetáculo em que participou, mistura conceitos que podem ser melhor delineados, como teatro de rua, teatro de invasão, etc.

Referências

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