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Acordam no Tribunal da Relação do Porto

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Academic year: 2021

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PN. 1150.00 1; AP.: TC Braga; Ap.e2: Real Seguros, SA, Av. de França, 316, Porto;

Ap.o3: José Fernando Araújo Ferreira, Lugar de Paulinhos, Cabreiros, Braga.

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Acordam no Tribunal da Relação do Porto

1. O Ap.o pediu a condenação de Real Seguros, SA, no pagamento de uma indemnização de Pte. 28 820 000$00, com juros de mora até efectivo pagamento, e para ser ressarcido de todos os danos que lhe advieram de acidente rodoviário, ocorrido em 91.10.05, em que foram intervenientes, de um lado, o motociclo LO-01-63, segurado na R., conduzido pelo proprietário, Manuel Prata (de que o A. era passageiro), de outro, o ligeiro de mercadorias QA-99-43.

2. Tendo sido concedida ao A., José Fernando Araújo Ferreira, uma indemnização em parte liquidada, soma de 3 verbas, (1) Pte. 6 095 000$00, pelos danos patrimoniais apurados; (2) Pte. 3 500 000$00, para compensação dos danos não patrimoniais; (3) juros de mora sobre o total, desde a citação; e em parte a liquidar em execução de sentença, pelos prejuízos sofridos durante e por causa da incapacidade temporária

absoluta para o trabalho; fixado o limite da mesma no montante da apólice (Pte. 12

000 000$00), mas podendo o acerto excedê-lo, apenas no que diz respeito à influência do cômputo dos juros; inconformada, concluiu a Ap.a:

a) A sentença recorrida não pode manter-se;

1

Vistos:

Dr. Manuel Ramalho (1372A) Dr. Moreira Alves (159).

2

(2)

b) A verba arbitrada ao recorrente, relativa aos danos patrimoniais, é manifestamente exagerada;

c) Na verdade, ficou provado: (1) o A. ficou afectado de uma IPP, 20%; (2) exercia a profissão de trolha, por conta de outrem; (3) auferia por dia a quantia de Pte. 2 500$00 e, em cada um dos anos seguintes, teria uma actualização de pelo menos Pte. 500$00/dia; (4) após o embate, o A. cessou a actividade profissional;

d) Ora, de harmonia com o Ac. STJ, 81.05.19, BMJ 307/247: nos termos dos

arts. 562 e 564 CC, quem estiver obrigado a reparar um dano, deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação; a indemnização deve ser calculada em atenção ao tempo provável de vida activa da vítima, de forma a representar um capital produtor do rendimento que cubra a diferença entre a situação anterior e a actual até ao fim desse período, segundo as tabelas financeiras usadas para determinação do capital necessário a uma renda periódica, correspondente ao juro anual de 9%;

e) Pode assim ter-se em consideração um quantitativo determinado para aquilatar da perda da capacidade de ganho;

f) O certo é que não ficou provada a impossibilidade, para o recorrido, de exercer a profissão habitual de trolha, apenas se encontrando diminuído na capacidade de ganho, em 20%;

g) A profissão de trolha é, por outro lado, uma profissão indiferenciada, no sentido de que não há diferenças de categoria para efeitos da retribuição;

h) Não existe também, na citada profissão, qualquer progressão na carreira, pelo menos no sentido de se poder afirmar ordenado superior ou inferior, de acordo com a especialização conforme às tarefas desempenhadas por esta categoria profissional;

i) Isto posto, para cálculo da indemnização resultante da diminuição da força de trabalho, ou capacidade de ganho do recorrente, o critério mais razoável consiste nas tabelas financeiras aludidas no citado Ac. STJ;

3

(3)

j) E sendo de prever que o recorrido viesse a ter uma vida activa até aos 65 anos de idade, considerado o salário anual do mesmo (Pte. 75 000$00x14= 050 000$), atingir-se-ia a indemnização de Pte. 3 542 238$00, tendo por base a

taxa de juro de 5%;

k) Inegável é portanto que na fixação da indemnização resultante da diminuição da força de trabalho ou da capacidade de ganho do recorrido, a decisão recorrida lidou antes com um dano suposto e não real;

l) A verba de Pte. 6 000 000$00 é manifestamente excessiva, pelo que deverá ser reduzida para Pte. 3 500 000$00;

m) A sentença recorrida violou pois os arts. 562, 563e 564 CC;

n) Relativamente à quantia arbitrada a título de danos não patrimoniais, dir-se-á finalmente que, pese embora a subjectividade em que se encerra, afigura-se, no entanto, desproporcionada e excessiva a quantia reclamada pelo recorrente: Pte. 3 500 000$00;

o) Tendo em conta os critérios jurisprudenciais correntes para situações análogas, a verba arbitrada na sentença recorrida de Pte. 3 500 000$00 deve ser reduzida para Pte. 1 500 000 $00;

p) Neste âmbito a decisão em crise violou o disposto nos arts. 494 e 496 CC; q) Deve a sentença recorrida ser revogada e substituída por acordão que fixe a indemnização nos termos propostos.

3. Nas contra alegações disse-se:

a) Feitas as contas, de acordo com o provado, o A. auferia um salário médio mensal de Pte. 184 000$00;

b) Pegando na mais comum das tabelas financeiras, chegaremos ao valor para indemnização decorrente da IPP, da seguinte forma: Pte. 184 000$00 x 14

x 20% x 22, 492462=Pte. 11 588 000$00;

c) Como se vê, a indemnização de Pte. 6 000 000$00, fixada na decisão recorrida, ficou muito aquém dos valores que a tabela financeira admitia;

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d) Quanto aos danos morais, a quantia arbitrada ajusta-se perfeitamente e peca só por defeito;

e) Basta pensar assim: (1) o A. tinha, à data do acidente, 27 anos; (2) não atingira ainda o pico mais alto da carreira profissional; (3) foi atirado para uma doença com incapacidade para o trabalho, que o reteve durante mais de 3 anos, período no qual se submeteu a tratamentos de recuperação; (4) no final, ficou ainda com 20% de IPP; (5) circunstância que é particularmente grave na actividade profissional exercida; (6) a que se junta o claudicar no caminhar.

4. Foi dado como provado:

a) Em 91.10.05, pelas 23.00h, no lugar da Bouça, Merelim, S.Paio, Braga, o motociclo LO-01-63 era conduzido por Manuel Prata, proprietário do mesmo, no sentido Ruães/EN 201; no lugar de trás era transportado o A.;

b) O LO circulava atrás de um outro veículo, no mesmo sentido de marcha; c) Em sentido contrário, circulava o veículo automóvel QA-99-43, pela semifaixa de rodagem da direita, atento o sentido de marcha EN 201/Ruães; d) O LO, animado de uma velocidade de cerca de 50/60 Km.h, ao descrever uma curva para a direita, passou a circular pela semifaixa de rodagem contrária, com a finalidade de ultrapassar o veículo que seguia na frente;

e) Assim, nessa curva, o LO veio a embater, dentro da referida semifaixa de rodagem contrária, com a parte lateral esquerda na porta do lado esquerdo do QA, apesar deste ter encostado à direita;

f) Após o embate, o motociclo LO imobilizou-se cerca de 15 m. após o local do acidente;

g) A estrada estava seca e em condições normais de aderência;

h) O A. sofreu fractura cominutiva exposta dos côndilos femurais e do prato tibial esquerdo, tendo sido conduzido ao H. S. Marcos, Braga, onde foi operado ao joelho esquerdo;

i) O A. esteve internado nesse hospital, não tendo sido possível apurar o tempo que durou esse internamento;

(5)

j) Depois, permaneceu em casa, com a perna engessada, durante 45 dias; k) Fez tratamento de recuperação;

l) Mas actualmente sofre de rigidez do joelho esquerdo, atrofia da coxa esquerda, e de cicatriz vertical na perna esquerda, com 30cm;

m) O A. ficou afectado de IPP: 20%; n) Claudica ao caminhar;

o) Exercia a profissão de trolha por conta de outrem e, à data em que ocorreu a colisão, executava um trabalho para Silva, Gomes & Carvalho, Lda., Braga; p) O A. auferia por dia a quantia de Pte. 2 500$00, aos Sábados, a quantia de Pte. 5 000$00; em cada um dos anos que se seguiriam, teria uma actualização remuneratória de pelo menos Pte. 500$00/dia;

q) Após o embate, cessou a actividade profissional do A.;

r) Que ficou com uma casaca de couro, um par de calças e umas botas imprestáveis, tudo no valor de Pte. 95 000$00;

s) O A. nasceu em 63.05.14;

t) Por contrato de seguro, titulado pela Ap. 35504, Manuel Prata transferiu para a R. seguradora a responsabilidade civil emergente de acidentes de viação com o motociclo LO-01-63, que lhe pertencia, até ao limite máximo de Pte. 12 000 000$00.

5. A sentença recorrida, inquestionável a culpa do segurado (vd. arts. 5/2, 7/1.2 b.,

10/2.5 CE vigente na altura do acidente, e presumida negligência que decorre, segundo entendimento pacífico, da inobservância regulamentar4), fixou a indemnização pelos danos patrimoniais, tendo por mera referência o método das tabelas financeiras, mas por juízos de equidade: considera-se por equilibrada e

equitativa a quantia de Pte. 6 000 000$00; e por danos morais, visto que as lesões

sofridas pelo A., em consequência do acidente, são graves, lhe causaram notórias dores, ficando a padecer de sequelas que o desgostam e incomodam, para além da

4

Cit., em abono, Ac. STJ, 740125, BMJ 273/231, Ac. STJ, 810511, BMJ 307/131, Ac. STJ, 821014, BMJ 320/422, Ac. STJ, 840705, BMJ 339/364 e Ac. STJ, 870106, BMJ 363/488.

(6)

constrição das intervenções cirúrgicas, internamentos e tratamentos, em Pte. 3 500 000$00: apresenta-se como adequada e equitativa.

Quanto aos juros de mora: desde a citação, até embolso, sobre Pte. 6 095 000$00; também desde a citação, até embolso, sobre Pte. 3 500 000$00.

Por fim, condenou ainda numa verba indemnizatória, a liquidar em execução de sentença, pelos prejuízos sofridos pelo A. durante e por causa da incapacidade

temporária absoluta para o trabalho, a responsabilidade da recorrente limitada a Pte.

12 000 000$00, não se incluindo nesse limite o que for devido a título de juros de

mora.

6. O recurso está pronto para julgamento.

7. Embora não tenha sido questionado, mas por isso mesmo e porque todos os elementos necessários resultam dos autos, adita-se ao provado que as lesões sofridas (e descritas) pelo Ap.o resultaram como consequência directa do acidente em questão, tal como a destruição das roupas. (art.712/1 a CPC).

8. Apenas foi posto o problema do quantum das verbas indemnizatórias respeitantes aos danos patrimoniais e não patrimoniais.

Aqueles foram considerados exclusivamente segundo o recorte de danos futuros, em que rege, para o acerto de ressarcimento, o critério de equidade, ao qual fez expresso apelo a sentença recorrida5.

Não obstante, tendo presente a técnica das tabelas financeiras, a seguradora defende excesso. Nenhum outro problema põe, insiste-se.

Por conseguinte, sendo só este o problema a ter presente, tem de fazer-se notar que, na verdade, e segundo o que sustenta o Ap.o, os cálculos apresentados pela recorrente não estão certos. De uma vez, porque errou na quantia que deveria ter considerado como de remuneração média da vítima, desde logo por ter esquecido que foi dado

5

O cômputo dos danos patrimoniais, derivados da incapacidade para o trabalho durante o período de internamento e doença foi relegado para execução de sentença, Vd. 5 in fine.

(7)

como provado dobro de remuneração aos Sábados; depois, por errado input das taxas de juro.

Por outro lado, o Ap.o, socorrendo-se de metodologia de cálculo semelhante, logrou fazer crer num resultado que excede manifestamente o montante fixado para esta verba da indemnização.

Ora, Pte. 6 000 000$00, a que acresce o dado inquestionado do preço das roupas imprestáveis, pode ser quantia reputada, tal como nos convencemos, como prudente e satisfatoriamente equitativa, no sentido de se obter o resultado de uma indemnização pelos danos que afinal estão em causa.

Nesta parte, não assiste razão à recorrente.

Pelo contrário, já no que diz respeito ao montante da verba indemnizatória pelos danos não patrimoniais, aqui referentes às dores, angústia e incómodos sofridos pelo Ap.o, e em certa medida permanentes, afigura-se-nos, tal como defende a recorrente, um excesso criticável.

Valendo o mesmo critério dos juízos de equidade, porém, não pode deixar de se atender à tradição jurisprudencial. Esta, em caso de dano de morte tem vindo a fixar pela perda do direito à vida montantes aproximados ao que foi fixado, na sentença recorrida, mas por danos naturalmente de menor expressividade. Assim, se julga de prudente arbítrio fixar, neste caso, a verba de compensação, que cabe ao recorrido, pelo quantum proposto pela Ap.e: Pte. 1 500 000$00.

Tem pois de conceder-se parcial razão à seguradora.

9. Atento o exposto, vistos os arts. 483, 562, 563, 564/1.2 e 496/1.3, decidem alterar parcialmente a sentença recorrida, para que seja agora considerada, no cômputo global da indemnização, e nos termos em que a Ap.e foi condenada, a verba de Pte. 1 500 000$00, referente aos danos não patrimoniais apurados.

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