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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA EVA KAROLINE BARONI

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

EVA KAROLINE BARONI

O PAPEL DO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA) NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA EM MATO

GROSSO

Cuiabá, MT 2016

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EVA KAROLINE BARONI

O PAPEL DO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA) NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA EM MATO

GROSSO

Dissertação de Mestrado em Geografia para a obtenção do título de Mestre em Geografiapela Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geografia, História e Documentação.

Orientadora: Profª Drª Onélia Carmem Rossetto

Cuiabá, MT 2016

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DEDICATÓRIA

Aos meus avós maternos Macionília e João (in memoriam) e seus filhos Cida, Tereza, Cleusa, Angela, Miguel, Gabriel e Rosa.

Avós paternos Idalina e Zé Baroni (in memoriam) e seus filhos Luzia, Waldecir e Claudecir.Por serem os primeiros camponeses que conheci na minha vida, ondeguardam com carinho as memóriasdas experiências de como era a vida simples de moradia na roça doEstado do Paraná. Relatam as emocionantes vivências de quando participavam das festas dos sítios, dos sabores caseiros, saberes tradicionais de família, recordam quando ajudavam o pai que trabalhava na lavoura de café, sem deixar de lado as emocionantes recordações dos sacrifícios que enfrentaram no campo para manter o sustento familiar.Enfim, hoje todos vivendo na cidade possuem muitas lembranças deste momento da vida no campo, onde vocês eram camponeses e não sabiam.

Dedico também,a todas as famílias camponesas e aos pesquisadores que de alguma maneira colaboram com a luta pela Reforma Agrária neste país contraditório e desigual.

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AGRADECIMENTOS

Embora a escrita da dissertação tenha sido individual, mas durante o caminho muitas pessoase momentos fizeram parte deste período importante.

Agradeço a Deus, pelo dom da vida.

Aos meus paisWaldecir e Cida, que me ensinaram valores essenciais através dos seus admiráveis exemplos de vida. Grata pela confiança, paciência e amor e estímulo com esta

pesquisa.

As minhas irmãs Simone, Karine e Júlia, por também estarem comigo dando força e coragem necessárias para continuar a caminhada.

Ao meu companheiroWesllen, por me proporcionar força e motivação em todas as horas frágeis e debilitadas da pesquisa e por me ajudar a refletir desde o início da pesquisa, mesmo sem perceber, com a pergunta: “O que é Reforma Agrária?”. Grata pelo seu amor e paciência.

A todos os membros da minha família que estão perto e distante de mim, mas sempre torceram pelas minhas conquistas.

A minha orientadora professora Carmem, pela imensa paciência e confiança em todos os meus passos nesta caminhada onde esteve comigo, colaborando com suas orientações desde a

monografia da graduação. Nestes anos sempre me motivando e alimentando a esperança de que no final tudo daria certo e mesmo com os meus erros acreditou em mim, agradeço a sua

participação no processo da pesquisa.

Ao professor Rafael, pelo crescimento proporcionado nos diálogosno curso de especialização, disciplina do mestrado e no norteador exame de qualificação, onde realizou contribuições

incalculáveis para a pesquisa e para a vida.

A professora Tânia, pelos ricos detalhes de contribuições, pois foram muito valiosos e essenciais para o amadurecimento da pesquisa. Agradeço também o gentil aceite de participar

da banca e ter realizado importantes sugestões que fizeram a pesquisa superar muitas fragilidades e equívocos.

Aos amigos do mestrado que conheci neste período e aos que já conhecia na caminhada da graduação, em especial Rafaelly, Guslene, Dayane, Carlos e Antônio, pelos muitos diálogos de motivação nos momentos que compartilhamos das mesmas alegrias, frustrações e receios.

Aos funcionários do INCRA, pela confiança e disponibilidade em terem colaborado com os muitos diálogos e acesso a documentos e sistemas da Instituição, poisesta confiança foi

essencial para o desenvolvimento da pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia pelo apoio necessário para a pesquisa e às secretárias pela colaboração.

Ao CNPq pela bolsa concedida durante o período do mestrado. A todos, o meu sincero agradecimento.

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APRESENTAÇÃO

Oprimeiro contato com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)foi no ano de 2011 quando esta Instituição possibilitou, depois de várias tentativas, abertura para receber alunos com interesses em desenvolver estágio no Órgão. Neste ambiente foi possível desenvolver o Estágio Orientado Supervisionado I e II da Graduação de Bacharelado em Geografia no período de dois anos, onde em 2012 foi necessário desenvolver uma monografia para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Fazendo observações sobre o INCRA muitos questionamentos surgiram por causa das suas ações, onde conhecendo ocotidiano do Órgão houve a motivação de realizar a pesquisa de graduaçãouma das muitas problemáticasvivenciadas durante o período de Estágio que foram percebidas.

Partindo da experiência muito peculiar no Setor de Cartografia da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária, a pesquisa de TCC resultou em apresentar informações que eram armazenadas em um banco de dados que registravam as áreas que tinham no espaço agrário, portanto o trabalho foi intitulado de “Análise da Organização Fundiária do Estado de Mato Grosso”, apresentando algumas problemáticas do sistema de cartografia adotado pela Instituição para armazenar e consultar os dados fundiários do Estado.

Após o término do estágio e conclusão da graduação, houve o interesse em dar continuidade na pesquisa abordando outros elementos encontrados, situação possível, uma vez que houve a possibilidade de realização de uma oportunidade ímpar para a educação do campo, pois houve um momento que o Governo Federal destinou recursos para a política do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) que estabeleceu parcerias com o CNPq e Universidades Públicas. O curso denominado de Organização Socioeconômica e Política de Desenvolvimento Territorial nos Assentamentos de Reforma Agráriafoi ofertado pela Faculdade de Economia/UFMT e se realizou no Centro de Formação Olga Benário Prestes (CECAPE).

A ampliação do debate que se desenvolvia, partindo da perspectiva teórica metodológica baseada no materialismo histórico e dialético, proporcionava outra dimensão para se pensar as questões da terra e as influências do capitalismo no campo, perpassando pela economia política. De maneira geral o curso se desenvolveu no período de dois anos, 2013/2 a 2015/2 e por opção política esteve pautado na organicidade que vem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo possível desenvolver uma monografia intitulada de “Análise dos instrumentos de levantamentos de dados do INCRA nos assentamentos de Reforma Agrária”, desenvolvendo uma breve reflexão sobre as políticas públicas que a instituição oferece aos seus assentados, porém não acompanha o que está sendo distribuído.

Esta monografia de especialização foi desenvolvida no mesmo período do amadurecimento da dissertação de mestrado, promovendo reflexões sobre como pensar o INCRA no contexto da qualidade do Estado, sendo considerado este momento como um processo importante para o crescimento da pesquisa que será apresentada a seguir.As discussões sobre a Reforma Agrária me motivou a continuar debatendo por este importante tema que merece ser reconhecido como algo extremamente necessário em Mato Grosso e em todo o país.

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RESUMO

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é uma Autarquia Federal, criada em 1970, durante o regime militar, através das pressões sociais. O INCRA é o Órgão responsável pela formulação e execução da política fundiária nacional, dentre suas atribuições está a realização de projetos de colonização em áreas de conflitos e a criação de projetos de assentamentos no Brasil. Esta Instituiçãopossui o Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (SIPRA) um banco de dados criado em 1994e destina-se ao tratamento, sistematização e recuperação de dados sobre os projetos de Reforma Agrária, desde sua criação até sua emancipação, bem como, dos beneficiários propiciando desta forma o conhecimento da realidade nas áreas dos assentamentos. Atualmente o SIPRA tem informações de aspectos econômicos-sociais, com registro dos programas pertinentes que foram desenvolvidos, e ainda, o cadastro atualizado de dados dos assentados. O SIPRA funciona através de um sistema de gerenciamento de banco de dados relacional que permite o registro de dados de um projeto de Reforma Agrária. O objetivo desta pesquisa é avaliar o papel do INCRA no processo de Reforma Agrária em Mato Grosso através do SIPRA e dos elementos que aparecem no contexto do papel do Estado que faz mediações neste. Partindo do pressuposto de que a instituição investigada não poderia ser estudada somente do seu ponto de vista a metodologia utilizada foi de realizar levantamento bibliográfico e documental e entrevistas no Órgão. Os apontamentos finais desta pesquisa consistem na reflexão de que a Instituiçãopossui práticas que se concretizam através das contradições do Estado, este que revela suas ideologias devido a sua qualidade que vem de um enraizamento com as relações arcaicas, mas que também possui um importante papel no processo de recriação camponesa. No entanto, possui fragilidades na efetivação das suas atribuições neste processo de democratização do acesso a terra, uma vez que, muitas limitações devem ser superadas através do papel atuante dos movimentos socioterritoriais inseridos no território camponês.

Palavraschave:

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RESUMEN

El Instituto Nacional de Colonización y Reforma Agraria (INCRA) es una agencia gubernamental, creada en 1970 durante el régimen militar, a través de la presión social. INCRA es el organismo responsable de la formulación y aplicación de la política nacional de la tierra, entre sus funciones está llevando a cabo proyectos de colonización en zonas de conflicto y la creación de proyectos de asentamiento en Brasil. Esta institución cuenta con el Sistema de Reforma Agraria de información de proyectos (SIPRA) una base de datos creada en 1994 y está indicado para el tratamiento, sistematización y recuperación de datos en proyectos de reforma agraria, desde su creación hasta su emancipación y , los beneficiarios proporcionando así el conocimiento de la realidad en las áreas de asentamientos. Actualmente SIPRA tiene información de los aspectos económicos y sociales, con el registro de los programas pertinentes que se han desarrollado, y también los datos de registro actualizado de los colonos. El SIPRA funciona a través de un sistema de gestión de base de datos relacional que permite el registro de datos de un proyecto de reforma agraria. El objetivo de esta investigación es evaluar el papel del INCRA en el proceso de reforma agraria en Mato Grosso a través SIPRA y los elementos que aparecen en el contexto de la función del Estado que hace que este mediaciones. A partir de la institución investigó esa suposición podría no ser estudiadas sólo desde el punto de vista de la metodología utilizada para llevar a cabo la encuesta fue bibliográficos y documentales y entrevistas en el cuerpo. Las notas finales de esta investigación consiste en la reflexión de que la entidad cuente con las prácticas que se realizan a través de las contradicciones del Estado, esto revela sus ideologías, debido a su calidad, que viene de un enraizamiento con las relaciones arcaicas, sino que también tiene un papel importante en proceso de reconstrucción campesino. Sin embargo, tiene debilidades en la ejecución de sus funciones en este proceso de democratización del acceso a la tierra, ya que muchas limitaciones deben ser superados a través de la participación activa de los movimientos socio-territoriales entrado en el territorio campesino.

Palabras clave:

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Diretrizes Estratégicas para Implementação da Reforma Agrária. ... 30

Ilustração 2: Alguns incisos do Art. 13 da Seção III da Estrutura Organizacional do INCRA 30 Ilustração 3: Alguns incisos do Art. 14 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA. ... 32

Ilustração 4: Alguns incisos do Art. 16 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA 32 Ilustração 5: Todos os incisos do Art. 17 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA ... 35

Ilustração 6: Demonstração do Módulo Projeto – SIPRA/INCRA ... 40

Ilustração 7: Demonstração do Módulo Candidato – SIPRA/INCRA... 42

Ilustração 8: Demonstração do Módulo Comunidades Sociais –SIPRA/INCRA ... 43

Ilustração 9: Demonstração do Módulo Ambiental – SIPRA/INCRA ... 45

Ilustração 10: Demonstração do Módulo Beneficiário – SIPRA/INCRA ... 47

Ilustração 11: Demonstração do Módulo Crédito – SIPRA/INCRA ... 49

Ilustração 12: Demonstração do Módulo Titulação – SIPRA/INCRA ... 51

Ilustração 13: Demonstração do Módulo Produção – SIPRA/INCRA ... 53

Ilustração 14: Demonstração do Módulo Relatórios Gerenciais – SIPRA/INCRA. ... 54

Ilustração 15: Famílias em ocupação de terras no Brasil (2004 – 2014) ... 85

Ilustração 16: Desempenho na agricultura brasileira segundo o tamanho dos estabelecimentos. ... 86

Ilustração 18: Ocupação realizadas pelos Movimentos Socioterritoriais em Mato Grosso – Período de 2000 – 2014. ... 96

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LISTA DE SIGLAS

ATES – Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária CCIR – Certificado de Cadastro de Imóvel Rural

CCU – Contrato de Concessão de Uso CDR – Comitê de Decisão Regional CF – Constituição Federal

CRUB – Conselho de Reitores das Universidade Brasileiras DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf

DAPAA - Declaração de Aptidão ao Programa de Aquisição de Alimentos DD – Divisão de Desenvolvimento

DDA – Coordenação Geral de Desenvolvimento de Assentamento DE – Diretoria de Gestão Estratégica

DET – Coordenação Geral de Tecnologia e Gestão da Informação

DT – Divisão de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento DD – Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento

DDI – Coordenações Gerais de Infraestrutura DPM – Departamento de Metodologia de Projetos DTM – Coordenação Geral de Meio Ambiente DTO – Coordenação Geral de Obtenção de Terras DF – Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária DFT – Departamento de Alienação e Titulação IN – Instrução Normativa

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MCR - Manual de Crédito Rural

MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário MDS – Ministério de Desenvolvimento Social NE – Norma de Execução

PA – Projetos de Assentamento

PDA – Projeto de Desenvolvimento do Assentamento PNRA – Programa Nacional de Reforma Agrária

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RL – Reserva Legal

SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados SIGEF –Sistema de Gestão Fundiária

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SIPRA – Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária SIR – Sistema de Informações Rurais

SITT – Sistema Integrado de Terras

SNCR – Sistema Nacional de Cadastro Rural SR – Superintendência Regional

SRTT – Sistema de Regularização e Titulação de Terras TD – Título de Domínio

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1 O PAPEL DO INCRA NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA EM MATO GROSSO ... 22

2 REFORMA AGRÁRIA NO PROCESSO DA (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO NO BRASIL E EM MATO GROSSO ... 57

2. 1 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL E NO MATO GROSSO ... 60

2.2 CRIAÇÃO DO INCRA E OS MOLDES DA SUA CONFIGURAÇÃO ... 70

2.2.1 Governo de José Sarney ... 74

2.2.1.1 Política Fundiária e Política Agrícola... 74

2.2.1.2 I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) ... 77

2.2.2 Governos de Fernando Afonso Collor de Mello e Itamar Augusto Cautiero Franco ... 79

2.2.3 Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ... 80

2.2.4 Governo de Luiz Inácio Lula da Silva... 81

2.2.4.1 II Plano Nacional de Reforma Agrária ... 81

2.2.5 Governo de Dilma Rousseff ... 84

2.3 MATO GROSSO: QUESTÕES QUE MASCARAM A REFORMA AGRÁRIA ... 85

3 ATUAÇÃO DO INCRA NA ATUALIDADE E A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS ... 93

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 117

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INTRODUÇÃO

Um capitalismo que revela contraditoriamente sua face dupla: uma moderna no verso e outra atrasada no reverso. (Ariovaldo Umbelino de Oliveira).i

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INTRODUÇÃO

O processo de Reforma Agrária em Mato Grosso é um tema persistente tendo em vista o contexto histórico que possuímos desde o movimento bandeirante, onde possibilitou mais tarde que latifundiários e comerciantes se uniram e se fortaleceram politicamente, como resultante, houve a garantia do controle da capitania. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), criado na década de 1970, durante o regime militar, é o Órgão responsável pela formulação e execução da política fundiária nacional, dentre suas atribuições está a realização de projetos de colonização em áreas de conflitos e a criação de projetos de assentamentos no Brasil. É resultado de pressões sociais da época, que desde a década de 1950 tinha influências das Ligas Camponesas. Um instrumento para realizar a criação e acompanhamento do processo de Reforma Agrária possui fragilidades na sua efetivação, no entanto, por motivos de que a Instituição tenha sido gerada no seio de um Estado conservador com raízes nas relações arcaicas onde ainda expressa os interesses vindos da ideologia da classe dominante.

Em contrapartida, este mesmo Estado também possui um papel fundamental na mediação entre as classes sociais que estão em constante luta, com a recriação do campesinato. Uma vez que, até o momento não inventaram outro modo de acesso a terra pelos camponeses a não ser pela realização da Reforma Agrária, sendo este o caminho para democratizar o acesso a ela, mas esta democratização é amplamente debatida durante muito tempo, mas lentamente realizada devido a qualidade do Estado, mas sobretudo da sociedade civil massacrada, com uma forte crise de representatividade no Estado na esfera política institucional.

Como pode o INCRA ser um Órgão Governamental mais ativo no sentido da Reforma Agrária em Mato Grosso, e no Brasil, que o agronegócio possui uma força significativa? O INCRA, na sua contradição evidencia as ideologias que vem do próprio Estado, ou seja, a Instituição possui o reconhecimento, através das pressões sociais, de que exista a necessidade de concretizar estas ações, mas suas ações se restringem a cada contexto que se realizam um no outro, como por exemplo, a perspectiva econômica, política e social de cada época. A Instituição investigada possui um instrumento denominado de Sistema de Informaçõesde Projetos de Reforma Agrária (SIPRA)capaz de registrar todas as informações que se concretizam no processo de Reforma Agrária, mas possui dificuldades de acompanhar estes dados, não por que exista uma incompetência por parte da Instituição, pois esta não pode ser analisada por ela mesma, mas sendo compreendida na totalidade que está inserida.

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O Brasil, com suas particularidades, possui um histórico de apropriação de utilização e uso da terra, provindo do resultado da monopolização capitalista na qual o país foi inserido. No debate desta complexidade e na tentativa de compreendê-la ou interpretá-la, a Geografia também se propõe a dialogar. Um dos temas desta complexidade é a questão agrária “produto do desenvolvimento desigual, contraditório e combinado do capitalismo”. No processo de expansão do capitalismo o seu desenvolvimento perpassa pelo resultado desigual, pois ao se reproduzir ampliadamente gera a riqueza e um maior aumento da pobreza, pelo contraditório, por destruir os impedimentos da sua reprodução e recria o novo que irá lhe sustentar com a sua nova configuração, e por fim, pelo combinado, pois simultaneamente realiza os dois processos anteriores (RAMOS FILHO, 2013, p. 81).

A Reforma Agrária tratada nesta pesquisa se orienta na compreensão que aponta Oliveira (2007) ao entender que o Estado, responsável por esta atribuição, não está cumprindo porque está inserido em uma lógica que vem da concentração da terra.A questão agrária também é abordada, segundo Fernandes (2008) na tentativa de contextualizar a Reforma Agrária nas superações que esta questão realiza em meio as contradições do Estado, uma vez que, tomaram direções que foram contornadas pelo processo histórico. Para entendimento deste processo foram apresentadas as percepções de Sorj (1986) e Silva, L. (1996) que realizam observações sobre os episódios da história sobre o poder coronelista e de políticos que colaboravam com a reprodução das contradições do Estado.

Ainda sobre a questão agrária com apresentações sobre o início do regime militar foram apontados as reflexões de Fernandes, Welch e Gonçalves (2012), e Buainain (2008), ambos levam questões que foram pertinentes para a época. Na construção do conhecimento sobre a criação do INCRA foram estudados os pensamentos dos autores Oliveira (2007), Mendonça (2010), Moreno (2007) e com as importantes compreensões de Martins (2011), todos colaborando para a contextualização do INCRA e os respectivos Órgãos Federais e Estaduais que o antecederam.

Sobre o entendimento da concepção de Estado apreendemos com Medeiros (1994) e sobre as desenvolturas nos apropriamos das falas de Ianni (2004), bem como utilizou-se das ideias de outros autores que compreenderam o Estado partindo das ações do INCRA. Quanto às contribuições que refletiram sobre o Estado de Mato Grosso, os autores que foram compreendidos foram Moreno (2007), Oliveira (2007), Silva, L. (1996), Rossetto (2015), entre muito outros. Sobre o contexto político foram compreensões desenvolvidas partindo da construção de Fabrini e Roos (2014) e Martins (2011), onde nas desenvolturas das barreiras da Reforma Agrária atual Paulino e Almeida (2010) e Castilho (2012).

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Compreendemos como as pressões sociais são importantes partindo dos conceitos de movimentos socioterritoriais construídos por Fernandes e Girard (2009), Pedon (2009) e sobre políticas públicas com os autores Fernandes, Welch e Gonçalves (2012). Em vários momentos na construção da pesquisa utilizamos dados do DATALUTA Brasil, relatório de 2014 e o DATALUTA Mato Grosso, também relatório de 2014, contexto de apresentar a luta pela terra através das evidencias com os números levantados nos respectivos documentos. Todas as informações apresentadas sobre o SIPRA constam no documento elaborado por Silva, C., Freitas e Leitão (2008) e as legislações expressadas nos organogramas foram retiradas na íntegra dos documentos oficiais legais da Instituição.

Partindo da realidade concreta e compreendendo o INCRA, este sendo uma materialidade, buscamos pensar a partir de uma perspectiva materialista que possui como movimento de pensamento a dialética. É oportuno dizer que a compreensão deste método dialético está em processo de amadurecimento e conhecimento do método, onde até mesmo na compreensão dos conceitos e nas análises da realidade possui fragilidades em seu curso de entendimento. A escolha deste método para alcançar os objetivos da pesquisa parte do que consideramos como o que mais se aproxima da percepção da realidade concreta, pois compreender a totalidade do INCRA pode nos possibilitar ver a reforma agrária com mais de um olhar. Cabe lembrar que, sou a única responsável pelos equívocos e incorreções que ainda permaneçam nesta pesquisa, bem como as contradições que se apresentarem neste processo de amadurecimento.

Os caminhos percorridos para alcançar os objetivos desta pesquisa foi realização do levantamento de pesquisas bibliográficas, via consulta de obras, capítulos de obras, dissertações, artigos publicados em anais de eventos, periódicos e a pesquisa documental, como informações retiradas dos sites do INCRA e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), notícias em jornais eletrônicos e documentos eletrônicos e impressos do INCRA considerados como instrumentos legais, tais como Diretrizes Estratégicas para Implementação da Reforma Agrária, Estrutura Organizacional do INCRA aprovada por Lei no ano de 2006, documento sobre o SIPRA de 2008 e o Manual de Obtenção de Terras e Perícia Judicial de 2006.

Algumas visitas foram realizadas na Instituição na tentativa de estabelecer diálogos com os técnicos que são responsáveis pelas atividades que se ocupam com o processo de Reforma Agrária, onde dos 20 técnicos realizamos entrevista com6 membros, por serem os técnicos mais próximos da realidade do SIPRA. Os membros são um advogado e procurador regional do INCRA, um assegurador de planejamento e controle das ações da Instituição, um

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engenheiro agrônomo técnico de obtenção de imóveis rurais, um engenheiro florestal técnico em assistência técnica e fomento, um engenheiro cartógrafo e técnico do monitoramento do SIGEF e um técnico administrativo também responsável pelo SIPRA. Embora este seja impossibilitado de realizar a função de acompanhar o desenvolvimento dos assentamentos, pois é humanamente impossível que apenas um técnico trabalhe efetivamente nos 547 assentamentos que Mato Grosso possui.

Essas entrevistas aconteceram no mesmo mês, ou seja, março de 2015, na própria sede do INCRA, em períodos aleatórios de acordo com a disponibilidade dos funcionários. Alguns documentos foram adquiridos no desenvolvimento de algumas entrevistas, como por exemplo, o documento que apresenta o SIPRA e seu respectivo histórico foi através de um pen drive na entrevista com o técnico administrativo e o Manual de Obtenção foi conhecido na entrevista com o engenheiro agrônomo que ressaltou este documento como o que orienta as ações no setor.

As falas foram utilizadas de duas maneiras no corpo da pesquisa, ou seja, muitas foram colocadas na íntegra na tentativa de apresentar o pensamento do entrevistado e realizando análises sobre as falas e a segunda correspondem as explicações de alguns sistemas e mecanismos na perspectiva técnica que não estão apontadas na forma direta, mas consistem na compreensão de algumas interpretações.

A análise dos dados foram sendo construídas em vários momentos no amadurecimento da pesquisa, ou seja, quando era adquirido uma nova fonte de informações a análise já realizada necessitava de modificações, como por exemplo, após o contato com muitos autores sugeridos pelo exame de qualificação e sugestões, a estruturação da pesquisa precisou ser alterada. Estas transformações foram realizando novos direcionamentos no pensar o SIPRA como instrumento no processo de Reforma Agrária, onde se apresentaram novos elementos que tornaram fundamentais na construção da análise, como por exemplo, perceber como o papel do INCRA, de fazer a Reforma Agrária, se materializa partindo das suas condições históricos até o contexto atual, onde o processo de Reforma Agrária está paralisada.

Os resultados que podemos adiantar neste momento é que o INCRA possui práticas que se concretizam através das contradições do Estado revelando suas ideologias, ou seja, ele é um importante Órgão responsável em realizar a Reforma Agrária no país, mas por que não são atribuições efetivas? E somente se efetiva quando existe pressão social dos movimentos sociais do campo? Podemos constatar que o Estado possui uma qualidade que vem desde os tempos históricos de relações entre o capitalismo e a terra, portanto possuirá fragilidades de

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efetivação neste processo importante de democratização do acesso a terra tendo como barreiras a ocupação de terras públicas e terras devolutas griladas pelo agronegócio.

O objetivo geral da pesquisa é avaliar o papel do INCRA no processo de Reforma Agrária em Mato Grosso através do SIPRA e dos elementos que aparecem no contexto do papel do Estado que faz mediações neste processo.

No entanto, se faz necessário desenvolver quatro objetivos específicos:

a) Levantar as atribuições do INCRA na realização da Reforma Agrária, bem como os instrumentos que pertencem a este contexto;

b) Refletir sobre o processo histórico de contextualização da criação do INCRA para compreender as barreiras que impedem as ações do Estado no tocante à Reforma Agrária brasileira e matogrossense;

c) Apreender como os movimentos socioterritoriais permeiam com as ações do Estado e como se desenvolve a mediação estatal na recriação camponesa;

d) Entender como o INCRA revela as contradições do Estado no processo de Reforma Agrária em Mato Grosso;

e) Realizar entrevistas com osagentes do Estado (técnicos e analistas do INCRA), mediadores diretos do processo de Reforma Agrária, buscando apresentar os avanços e os desafios enfrentados e as contradições inerentes ao processo.

Para alcançar estes objetivos a dissertação está estruturada em três capítulos. Após uma breve introdução da pesquisa, elaboramos o primeiro capítulo “O Papel do INCRA no processo de Reforma Agrária em Mato Grosso”, onde é realizando a apresentação do problema com os elementos que atribui a Instituição realizar essas ações e as contribuições dos autores sobre a totalidade envolvida neste processo.

O segundo capítulo “Reforma Agrária no processo da (re)produçãodo espaço agrário no Brasil eem Mato Grosso” tecendo o debate da questão agrária e os conceitos e reflexões que os autores desenvolveram sobre os temas do capítulo, resgatando o momento histórico da criação do INCRA e apontando os governos e suas ações para a realização da Reforma Agrária.

O terceiro capítulo “Movimentos socioterritoriais e o desempenho do INCRAna atualidade” apresenta os elementos necessários para compreender como as atribuições do INCRA se efetivam dentro da Instituição e aponta a importância dos movimentos camponeses de luta pela terra e permanência nela.

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De maneira geral, em nossas considerações finais buscamos refletir sobre esses elementos para entender como este processo de Reforma Agrária, através da observação do SIPRA se concretiza em Mato Grosso, ou seja, não está em curso a solução dos problemas, e sim, colaborar com o debate, compreendendo o processo de Reforma Agrária por outro viés, portantoatravés do SIPRA. Considerando que toda pesquisa não termina quando chega ao fim, mas esta pesquisa propõe realizar essas reflexões e apontamentos que possibilitem apreender como se desenvolveu este processo até este momento.

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CAPÍTULO 1

A luta pela terra foi protagonizada do lugar onde sempre estiveram: no corpo a corpo das disputas espacializadas no país inteiro, enquanto que os proprietários, sem abdicar do revide, se encontraram onde sempre se moveram melhor: no aparelho de Estado. (Eliane Tomiasi Paulino).ii

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1 O PAPEL DO INCRA NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA EM MATO GROSSO

Compreender o processo de Reforma Agrária do nosso país, não é uma reflexão simples, pois o Brasil possui sua particularidade e há relações diretas do capitalismo na totalidadee para ser entendido é necessário observar o que tem além da aparência, ou seja, para além daquilo que nos é imposto como verdade. Mato Grosso no contexto brasileiro é considerado economicamente como um Estadomuito importante para o cenário agrícola, compreende o Estado símbolo do agronegócio, mas também da pequena unidade de produção familiar. Do ponto de vida da questão agrária é um Estado com possibilidade de realização da Reforma Agrária devido ao intenso processo de concentração de terras. Está inserido nesta complexidade que é a questão agrária e o capitalismo, neste contexto de luta de classes, possui protagonistas atuantes que disputam o mesmo território, porém as visões de mundo são divergentes.

Por exemplo, camponeses com autonomia da sua produção de alimentos, que é de base familiar, não buscou desenvolver a sua agricultura em grandeescala, por exemplo, no entanto não deixou de existir por causa disso, pois a sua existência vai além desta opção, uma vez que,

a agricultura camponesa implica em relações sociais de produção e manifesta-se a partir de um conjunto de práticas relacionadas à produção de autoconsumo e resistência, controle dos segmentos do processo produtivo, autonomia, relações comunitárias e de vizinhança,enfim, relações sociais, entre outras características.” (FABRINI; ROOS, 2014, p. 42).

Assim, compreendemos que estas relações sociais está contida na luta de classes pela terra e ao conquistá-la busca criar articulações para a sua resistência. Esta resistência também se realizar por meio das mediações do Estado, este que possui papel fundamental no processo, uma vez que, deve estar presente na atuação da questão agrária através de várias instâncias. O Estado reconhecer a necessidade de fazer a Reforma Agrária já é um exemplo de mediação, bem como de solucionar conflitos propondo solução. Na luta de classes no espaço agrário, cabe ressaltar que

ao passo que aumenta a concentração das terras nas mãos dos latifundiários, aumenta o número dos camponeses em luta pela recuperação destas terras expropriadas, nem que para isso eles tenham que continuar seu devir histórico: a estrada como caminho. (OLIVEIRA, 1989, p. 64)

Neste caso o autor reporta-se a reprodução da necessidade do camponês se reproduzir enquanto classe social, buscando a migração para outras localidades vista como alternativa de

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territórios possíveis.Ianni compreende que o Brasil possui uma história profundamente enraizada com as relações das sociedades agrárias, exemplificando ele entende que

Se fôssemos especificar: a história da escravatura é agrária; o problema da abolição é agrário; o da Proclamação da República é agrário; a revolução de 30 divide o poder entre as oligarquias agrárias e as nascentes classes sociais urbanas; o golpe de 64, independente das definições que se queira dar, não se explica sem a aliança entre a burguesia industrial e a agrária. (2004, p. 143)

Conforme o autor, o nosso país passou por histórias de formações baseadas na sociedade agrária, pois sempre foi retirado da terra o excedente que se possa ter através da produção. O modelo econômico de cada momento foi orientando para que isso se articulasse de maneira que viesse a se realizar, portanto ainda estamos reproduzindo esta herança.

Durante muitos anos o INCRA, criado no contexto da ditadura militar, no ano de 1970, apresenta desde a sua criação, fragilidades para efetivar esta política de Reforma Agrária em cada Governo Federal e Estadual, pois a qualidade do Estado brasileiro, que não representa a maior parte da população, não criou condições de relações sociais, ao longo da história, para que tal realização aconteça. Mato Grosso desde 2014 possui cerca de 547 assentamentos constando 104.120 famílias em 6.251.291 de hectare (DATALUTA/MT, 2014), resultados das pressões sociais, pois embora exista na lei a realização da Reforma Agrária, mas os empecilhos vão sendo reproduzidos comprometendo a consolidação desta prática. Durante os governos de João Figueiredo (1979-1984) até o primeiro mandato do governo Dilma Rousseff (2010-2014), muitos assentamentos foram criados, ou seja, cerca de 9.337 distribuídos em todo o território brasileiro com 1.110.753 de famílias assentadas em 81.950.074 hectares de área(DATALUTA, 2015).

Cabe resgatar a visão do INCRA sobre o assentamento rural: é “basicamente um conjunto de unidades agrícolas independentes entre si, instaladas pelo INCRA onde originalmente existia um imóvel rural que pertencia a um único proprietário1”. Esta definição evidencia que para o INCRA as ações de implantar já demonstra a realização da Reforma Agrária, mas devemos considerar o que compreende Fernandes.

As disputas territoriais são, portantode significação das relações sociais de controle dos diferentes tipos de territórios pelas classes sociais. O território, compreendido apenas como espaço de governança, é utilizado como forma de ocultar os diversos territórios e garantir a manutenção da subalternidade entre relações e territórios dominantes e dominados (2008, p. 200)

1

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Do ponto de vista de que os assentamentos sejam territórios de governança, como interpretado também na definição do INCRA, ele pode ser inserido no sistema que consiste na sujeição das famílias camponesas nas dinâmicas dos territórios dominantes, como por exemplo, a oferta de mão de obra. Para Leite o assentamento é o resultado de vários elementos que se articularam para a sua realização de diferentes origens, vejamos:

Denominamos de assentamento um conjunto de iniciativas desencadeadas através de desapropriação de terras, projetos de reassentamento em função de construção de barragens hidrelétricas, projetos de reservas extrativistas, projetos de aproveitamentos de terras públicas e ainda alguns projetos de colonização. (1999, p. 173)

Os conjuntos de iniciativas podem ser compreendidas como as políticas de Estado, bem como também a pressão social vinda, na maioria das vezes, por trabalhadores e grupos que se aliam neste conjunto de forças que buscam debater o que está sendo colocado. Sobre o debate, Medeiros entende que “Em relação aos trabalhadores do campo, o Estado se destaca pela omissão. Contudo, nessas exposições, o Estado também se apresentou como opositor, financiador, árbitro e ainda como mediador dos conflitos.” (MEDEIROS, 1994, p. 180).

Tendo em vista a compreensão destes conceitos, podemos entender como é importante o papel de mediação do Estado, que ora omite a classe, ora faz políticas por ter sido opositor para esta classe. “Tratar dos assentamentos é também falar das experiências contidas nas trajetórias de seus personagens e ali atualizadas. Experiências que não podem ser reduzidas às lutas políticas.” (MEDEIROS, 1994, p. 21). A autora se reporta as análises sobre os estudos nos assentamentos que não podem ignorar ou camuflar as experiências daquela comunidade no campo, pois um assentamento em processo de distribuição das famílias, também possui experiências que vão além da luta pela conquista da terra pois, algumas famílias podem já possuir formas de organização política, religiosa, cultural, entre outros.

Os I e II PNRA não alcançaram suas metas estipuladas pelos planos de governos da época, ou seja, Sarney e Lula. Embora as metas não tenham se concretizado conforme as propostas, porém segundo dados do INCRA foi possível reformar cerca de 88 milhões de hectares no Brasil, criando e implantando 9.128 assentamentos para 956.543 famílias. Em Mato Grosso, os quase 600 assentamentos, dos que foram implementados pelo INCRA são de várias origens comomostram as modalidades de projetos:

Entre 1980 e 1992, o Incra implantou no Estado 59 projetos de colonização e de assentamento em diversas áreas de tensão social no estado. Esses projetos foram classificados de acordo com as estratégias específicas de implantação, em PAR, PAC, PEA, e PA (Oliveira apud MORENO, 2007, p. 164)

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Para compreendermos todos estes projetos, apresentados acima, devemos lembrar que “todos convergiam para o mesmo objetivo: eliminar os conflitos sociais gerados pela expropriação sistemática de trabalhadores rurais nas regiões de elevada concentração fundiária.” (MORENO, 2007, p. 164). Diante desta explicação, podemos ainda com Moreno apresentar cada um deles, poisestes projetos do INCRA com diferentes modalidades estão consolidados no estado e contribuíram para a produção do espaço agrário de Mato Grosso.

Portantoo papel do INCRA no Projeto de Assentamento Rápido (PAR) foi de regularizar e titular lotes, poisse tratava de uma área com infraestrutura e necessitava da regularização, totalizando 9projetos com 4.542 famílias. O Projeto de Ação Conjunta (PAC) era o conjunto da Instituição com cooperativas, onde o que cabia ao INCRA era a infraestrutura e titulação, resultando em 3 projetos com 7.459 famílias. O Projeto Especial de Assentamento (PEA) coube ao INCRA implantar assentamentos emergenciais para famílias que se encontravam em áreas de conflito, foi sua atribuição organizar e administrar, bem como colocar infraestrutura, promoveu a criação de apenas 1 projeto com 252 famílias. Por fim, o Projeto de Assentamento (PA) foi criado para consolidar, através de infraestrutura e inserção a região de localidade, as áreas que forma ocupadas anteriormente por posseiros, uma vez que esta modalidade recebeu trabalhadores rurais sem terra em 46 projetos resultando em 12,830 famílias (MORENO, 2007).

Esta última modalidade foi a única que continuou sendo desenvolvida no INCRA, portantoas áreas de conflitos para esta destinação ou são desapropriadas ou por meio de aquisição, ou seja, o INCRA compra de proprietários que se interessam em vendê-las e isso se torna um negócio, onde a Instituição realiza a terra para os assentados com o pagamento da renda da terra ao fazendeiro, permitindo ao latifúndio uma chance de se manter em outros momentos, pois, o INCRA irá comprá-la caso seja do interesse do proprietário. Consideramos que a compra de terras enfraquece a desconcentração fundiário, poispode ser que exista a compra de uma propriedade que não esteja em conflito com os trabalhadores rurais, mas será adquirida pelo Órgão para criar um projeto de assentamento para realizar a que chamamos de Reforma Agrária.

No Brasil colonial, a pequena propriedade surgiu quando os posseiros, que não tinham escravos, mas praticavam a agricultura de subsistência e a prática da produção da cana-de-açúcar, no contexto do término do sistema de Sesmarias no século XIX, tiveram posses sobre as terras e esta quantidade aumentou, pensando no assunto, elaboraram a Primeira Lei de Terras, constando em seu Artigo 1º a definição de como seria a aquisição das terras devolutas,

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portanto esta lei também surgiu para tornar a terra em mercadoria, que apenas seria adquirida através da compra.

Em Mato Grosso, realizando um recorte histórico sobre a comercialização das terras devolutas, esta manobra foi motivada por uma política concretizada nas alterações do Código de Terras de 1949. Moreno aponta que “De acordo com a política federal de ocupação dos „espaços vazios‟, [...] implementou no Estado a política de colonização, entregando esta tarefa a empresas particulares de colonização”(2007, p. 113). A autora acrescenta que as empresas particulares eram a garantia de que as concessões dadas a elas facilitavam no processo de venda dessas terras. Observando esta afirmação, podemos entender que esta situação foi vivenciada no país, pois estavam envolvidas em jogos de interesses entre políticos e empresários da época.

A nota de conhecimento, outra Instituição pública importante que também atua na ação da Reforma Agrária é o Instituto de Terras de Mato Grosso (INTERMAT), entrando em funcionamento em 1978, ficando mais concentrado nas ações de discriminação das áreas devolutas, bem como, arrecadação e alienação.

A realização da Reforma Agrária é complexa, poisdentro deste contexto, ela foi pensada para tentar alterar a estrutura agrária em escalas regionais e nacionais, porémpartindo da realidade da existência de concentração de terras particulares. No Brasil, as primeiras propostas da Reforma Agrária surgiram na Constituição Federal de 1946, porémconforme aponta Oliveira “mas até o início dos anos 60, nenhum dos projetos apresentados, conseguiu tornar-se lei frente à maioria reacionária das elites latifundiárias no Congresso Nacional.” (2007, p. 104), esta realidade aponta o quanto foi conservador o poder político nacional, esta espera por aprovações de algum projeto de lei que terminou somente em 1962, como ressalta o autor.

Estudos desenvolvidos sobre os assentamentos rurais no nosso país deram início na década de 1980, sobre diversos conteúdos que compreendem na sua realização. As reproduções do desenvolvimento capitalista no campo passam por relações contraditórias, por exemplo:

A industrialização da agricultura, também desigual no campo brasileiro, revela que o capitalismo também está contraditoriamente unificando o que ele separou no início de seu desenvolvimento: indústria e agricultura. [...] Capitalistas da indústria, proprietário de terra e capitalista da agricultura têm um só nome, são uma só pessoa. Para produzir utilizam o trabalho do assalariado, dos bóias-frias. (OLIVEIRA, 1989, p. 62).

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Estas relações estabelecidas pelo capitalismo revelam a sua verdadeira face, pois no processo do desenvolvimento do capitalismo as contradições aparecem como natural, mas já foram elaboradas em seu percurso por momentos históricos que a definiram tal como ela é. O Estado é resultado de relações arcaicas que vieram de um processo histórico conservador e não permite ser alterado efetivamente. É importante observarmos que em Mato Grosso, conforme compreende Rossetto: “A produção do espaço agrário do território Matogrossense foi construída por meio dos distintos momentos da política nacional e estadual sob influência do capital privado e público. (2015, p. 29).

Podemos acrescentar que esta construção consiste naquilo que compreende Ianni “assim, o desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo no campo implica crescente expropriação do trabalhador rural.” (200, p. 160), apreende-se então que as articulações do capital que vão se desenvolvendo no campo, ao expropriar o trabalhador do rural, também colabora com o crescimento da organização desta classe para se manter, pois elas não são desaparecidas do mapa.

Assim, entendemos que o acesso a terra pelas famílias camponesas percorrem um processo de implantação de assentamentos, pois não houve no Brasil uma Política de Reforma Agrária. O agronegócio tem a postura de criar resistências na política brasileira e a Reforma Agrária, na luta de classes, muitas vezes acaba perdendo.

Por conta disso as políticas para o desenvolvimento desses territórios não acontecem de forma efetiva, o que possibilita ao capital ser hegemônico determinando as relações sociais e econômicas que homogeneízam as paisagens rurais pelamonótona monocultura. (FERNANDES; WELCH; GONÇALVES, 2012, p. 45)

Este é o caso de Mato Grosso, onde a produção dos grãos, em principal destaque é a soja, reproduz a prática da agricultura monopolista, pois estão dentro de diretrizes que foram organizadas pelo mercado internacional. Dentro do INCRA existe a regularização de imóveis rurais, para que seja emitido pela Instituição uma certificação de imóvel rural que servirá para ter acesso á créditos, por exemplo, pois esta certificação consiste em uma análise se a propriedade não possui irregularidades quanto a sobreposição em outras áreas. Estas áreas podem ser outras propriedades rurais, territórios indígenas, reservas ambientais, assentamentos da União ou do Estado e as áreas arrecadas, sendo estas terras públicas do Estado ou da União.

Neste contexto, o INCRA também possui a função de organizar o espaço fundiário brasileiro realizando o ordenamento das estruturas fundiárias. Então, podemos pensar que esta Instituição no mesmo momento em que possui o papel de realizar o ordenamento das

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propriedades particulares, tomando conhecimento de todas elas para realizar a sua certificação, é também responsável por implantar assentamentos quando propriedades de latifúndio passam pelo processo de desapropriação, ou seja, se desconcentra a terra pelo viés da Reforma Agrária, mas isso não é enfrentado como algo simples e prático.

O Estado Brasileiro, além de possuir projetos de Reforma Agrária para desconcentração da terra, também proporciona apoio para manter a grande propriedade improdutiva concentrada. Do ponto de vista de primeira Lei de Terras, de 1850, a terra é vista como mercadoria mesmo na desconcentração da propriedade, uma vez que, com a implantação de assentamentos esta prática faz generalizações propriedade privada da terra, ou seja, se criam os minifúndios.

Antes de realizarmos análise sobre o INCRA, faz-se necessário apresentar o papel do INCRA no conjunto das suas atribuições, pois é permitido apresentar o lado desta positividade do Estado para observarmos o conteúdo da contradição, colaborando com a investigação e percebendo que as questões que desencadeiam a Reforma Agrária vão além das aparências constatadas na lei que a define, pois do ponto de vista social ela não a define, porémcolabora com o processo de recriação de uma classe.

O INCRA, tendo em vista a atribuição de realizara Reforma Agrária e o ordenamento fundiário do país, possuicomo visão de futuro“ser referência internacional de soluções de inclusão social.”2

, em contrapartida, “até 1992, o ordenamento fundiário do Estado de Mato Grosso se caracterizou pela concentração de terras e pela priorização das estruturas produtivas baseadas no agronegócio principalmente nas mesorregiões norte e nordeste.” (ROSSETTO, 2015, p. 61), portantoconseguimos imaginar que as ideologias contidas no Estado permitiram este acontecimento. Na luta de classes o pensamento sobreReforma Agráriavem de visões diferentes, mas o Estado, não considerado como neutro, parte da positividade das questões, pois na sua concretização como Instituição nos apresenta uma Instituiçãoconservadora, tal como a herança herdada.

Quando aReforma Agráriaacontece, parte do contexto de um conjunto de medidas entre Instituição e sociedade civil, para que realizem a distribuição da terra que e consequentemente as modificações do regime de posse e uso, aumento da produção de alimentos e soberania alimentar, bem como tornar evidente a prática da justiça social, conforme estabelece o Estatuto da Terra. Porémo INCRA não se realiza assim concretamente, pois ele possui alguns elementos que o impedem de tal ação. Compreendemos que a Reforma

2

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Agrária na prática proporciona a desconcentração e democratização da estrutura fundiária, proporcionando o acesso a terra, mas partindo das articulações que envolvem outras esferas do poder público e privado, podem ser gerados obstáculos que se materializam nas leis.

Os objetivos institucionais do INCRA, quando observados para além das aparências, relevam ser contraditórios quando visto do ponto de vista da realidade concreta.O INCRA, considerado resultado de pressões sociais, possui ações que realizam a Reforma Agrária, conforme demonstra Ianni “Mas toda essa luta passa pela ação estatal; diretamente, pelas políticas, diretrizes, atuações, empresas governamentais; indiretamente, pela sua deliberada omissão.” (2004, p. 252). Esta mediação do Estado permite as famílias o acesso à terra, porémcabe lembrar que, ele faz isso pontualmente e não como uma política efetiva.

Vejamos na ilustração 1 as suas diretrizes:

Diretrizes Estratégicas para Implementação da Reforma Agrária

Democratização do acesso a terra  Implantação de assentamentos rurais sustentáveis  Regularização fundiária e gestão da estrutura fundiária  Contribuindo para:  Desenvolvimento sustentável;  Desconcentração da terra;  Redução da violência e da pobreza no campo;  Promoção de igualdade. Forma participativa  Contribuindopara:  Fortalecimento das parcerias e da sociedade civil organizada. Fiscalização da função social  Contribuindo para:  Capacitação dos(as) assentados(as):  Fomento da produção agroecológica de alimentos;

 Inserção nas cadeias produtivas. Qualificação dos assentamentos  Licenciamento ambiental;  Infraestrutura básica;  Crédito;  Assessoria técnica e social;  Articulação com as demais políticas públicas (educação, saúde, cultura e esportes).  Contribuindo para:  Cumprimento das legislações ambiental e trabalhista e para a promoção da paz no campo. Destinação das terras públicas

 Demarcação e titulação das terras ocupadas por comunidades tradicionais e quilombolas;

 Gerência da estrutura fundiária nacional pelo conhecimento da malha fundiária mediante o cadastramento e certificação dos imóveis rurais.

 Contribuindo para:

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Ilustração 1: Diretrizes Estratégicas para Implementação da Reforma Agrária. Fonte: Dados do site O INCRA – 2014. Org.: BARONI, 2016.

As diretrizes estratégicas em curso no INCRA possuem seus limites e fragilidades para se efetivar devido o contexto histórico do país, pois, temos no país uma elite agrária que, de certa forma, comanda a política nacional e que não interessa na desconcentração da terra e da renda. Elas podemproporcionar o acesso às terras, mas o processo para a concretização de todas as diretrizes, vai se tornando muitas vezes um longo caminho que ora é interrompido ora realizado até o seu destino final. As diretrizes se conversam entre si e estabelecem algumas relações onde uma se realiza na outra.

Na estrutura organizacional do INCRA, aprovada pelo Decreto nº 6.812/2009, faz apontamentos de algumas questões, como por exemplo, o que consta no Art. 13 que apresenta o papel da auditoria interna, entretanto, esses dois pontos apresentados demonstram os compromissos que auditoria possui no processo de obter dados para realizar avaliações dos resultados, sendo eles também pertinentes aos assentamentos rurais, conforme a ilustração 2.

Ilustração 2: Alguns incisos do Art. 13 da Seção III da Estrutura Organizacional do INCRA. Fonte: Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do INCRA – 2006. Org.: BARONI, 2016.

A atribuição da auditoria, em geral, possui a finalidade de levantar falhas resolvê-las quanto às ações do Órgão, porémcomo vai sendo colocado em debate essas falhas? Uma vez que, torna evidente quando ocorrem descumprimentos dos objetivos institucionais. O INCRA no limite das suas atribuições pode estar apontando neste momento sua potencialidade em realizar atividades de acompanhamentos. Sobre o acompanhamento dos técnicos no campo, assim aponta um dos membros deste setor.

Art. 13 À Auditoria Interna

I – Assessorar o Conselho Diretor para o cumprimento dos objetivos institucionais, avaliando o nível de segurança e qualidade dos controles, processos, sistemas e gestão. IV – Subsidiar as Diretorias na proposição de padrões, sistema e métodos de avaliação e acompanhamento da qualidade e produtividade das atividades do INCRA, bem como nas ações voltadas para a modernização institucional.

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Aqui no Mato Grosso, o INCRA criou muitos assentamentos e não foi criado recursos humanos para cuidar de todos os assentamentos. Se for ver os mais de 500 assentamentos, olhando para a parte técnica, a parte que o pessoal faz serviço de campo, acho que dá de 10 a 20 assentamentos para cada um cuidar.3

Este relato demonstra o quadro frágil de técnicos que realizam as atividades em campo e principalmente quanto ao número de assentamentos para cada técnico. Em levantamento de pesquisa, foi apontado por um membro do Setor de Obtenção de Terras, que o quadro de técnicos envolvidos na prática de obter a terra para realização da Reforma Agrária está em um conjunto de 8 a 10 técnicos. Esta quantidade apresenta limites ao desenvolverem as suas ações, tendo em vista o número de assentamentos no estado, ou seja, 547 conforme apresentado no último relatório DATALUTA, 2014.

O próximo artigo da estrutura regimental corresponde a Diretoria de Gestão Estratégica, também apresenta diversas responsabilidades da Instituição em promover o levantamento de informações sobre as atividades do Órgão e aqui serão apontadas algumas que se tornam mais pertinentes ao foco merecido para esta pesquisa, conforme demonstrado na ilustração 3.

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Técnico do Setor de Implantação de Assentamentos – INCRA, possui mais de 30 anos nesta instituição. Entrevista realizada para este trabalho pela pesquisadora. INCRA, Mar./2015.

Art. 14. À Diretoria de Gestão Estratégica

I – Definir diretrizes, objetivos e estratégias de atuação do INCRA. II – Atuar na pesquisa e disseminação de novas práticas organizacionais que proporcionem a melhoria contínua da qualidade, eficiência e produtividade do INCRA.

III – Analisar cenários e tendências da ambiência externa e interna que impactam o direcionamento estratégico do INCRA.

IV – Promover, acompanhar e coordenar a definição de diretrizes estratégicas e a elaboração dos planos de curto, médio e longo prazo das ações de reforma agrária.

VI – Acompanhar, monitorar e avaliar as informações gerenciais do INCRA, sistematizando-as de forma a dar suporte ao processo decisório.

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Ilustração 3: Alguns incisos do Art. 14 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA. Fonte: Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do INCRA – 2006. Org.: BARONI, 2016.

Os incisos mencionados apresentam ações que instrumentalizam o INCRA para realizar estratégias para a Reforma Agrária no país. São diretrizes, conforme apresentado anteriormente na ilustração 1, e se aplicam por todo o território brasileiro, embora, cada estado possua as suas peculiaridades. Do ponto de vista da realidade concreta, as estratégias para a implementação da Reforma Agrária ainda em curso precisam entrar em debate porque não se concretizam efetivamente.

O próximo artigo, apresentado na ilustração 4, possui um papel importante na realização do processo de Reforma Agrária, uma vez que, as competências da Diretoria de Obtenção de Terras e a Implantação de Projetos de Assentamento consistem em adquirir as propriedades rurais, seja por aquisição ou desapropriação.

Ilustração 4: Alguns incisos do Art. 16 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA.Fonte: Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do INCRA – 2006. Org.: BARONI, 2016.

Art. 16 Competências da Diretoria de Obtenção de Terras e a Implantação de Projetos de Assentamento

I – Coordenar, normatizar e supervisionar as atividades de aquisição, desapropriação e incorporação ao patrimônio do INCRA das terras necessárias às suas finalidades.

IV – Normatizar, coordenar e supervisionar as atividades de seleção de famílias, promoção do acesso à terra e criação de projetos de reforma agrária.

V – Normatizar, coordenar e supervisionar as atividades relativas ao aproveitamento sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais nos projetos de assentamento.

VI – Apoiar as Superintendências Regionais na identificação de prioridade para a reforma agrária e na solução de conflitos em áreas de tensão social.

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As ações desta diretoria direcionam para que se realize a criação do projeto de assentamento, seleção de famílias e implantação do assentamento. Esta atribuição apresenta claramente o papel do INCRA. Segundo o relato de um dos técnicos do Setor de Obtenção de Terras, aponta algumas informações sobre a prática deste setor:

A desapropriação não é um ato só administrativo, ela também passa ser (um ato) jurídico. A obtenção se dá por duas modalidades, por desapropriação, por não cumprimento da função social da propriedade e por ser improdutivae por aquisição através da compra da terra, indicado no Decreto 433, que regulamenta. Por aquisição, o INCRA faz um edital ou o próprio proprietário oferece a área. Geralmente, e em poucos casos no estado, são focadas as aquisições em regiões de conflitos ou que o INCRA não consiga desapropriar por que são produtivas e que não conseguem com a desapropriação obter. A maior parte das obtenções é por desapropriação onerosa. Temos também a criação de assentamentos por terras públicas fazendo uma retomada para voltar para a União.4

Observando o relato percebemos que a Instituição, em suas duas modalidades: aquisição e desapropriação de terras, apontam alguns elementos para pensarmos o papel do Órgão, ou seja, as regiões de conflitos não estão sendo o seu foco e criação de assentamentos em terras públicas, por exemplo. Os pontos levantados nesta fala indicam que está sendo desviado o foco do INCRA com relação as áreas conflitadas, onde são consideradas prioridade quando se cria os projetos de assentamentos e o outro ponto é a criação de assentamentos em terras públicas. Neste último caso, o INCRA implantou no estado assentamentos nessas áreas, mas esta prática não efetiva o que também é considerado importante, ou seja, a “destruição do latifúndio improdutivo” que resultará na distribuição desta terra.

Segundo o mesmo entrevistado5, “não existe assentamento que deu errado, poisantes ele pertencia a um (dono) e hoje e pertence a mais de um, então você fez a Reforma Agrária.” do ponto de vista do INCRA o que se considera por Reforma Agrária é o ato de implantar um assentamento, seja ele de origem de área pública, de latifúndio ou até por aquisição. Porémsabemos que existem outros elementos que podem oferecer suporte para as famílias no campo, como por exemplo, os créditos, infraestrutura básica, escola, entre outros, que podem ser impedidos de se realizarem por motivos que consistem nas políticas uma luta de forças que, mesmo com a consolidação de um projeto de assentamento, ainda compõe um contexto de luta pela permanência na terra. Em outras palavras, as luta dos movimentos sociais do

4

Engenheiro Agrônomo e técnico do Setor de Obtenção de Terras – INCRA, possui quase 10 anos nesta instituição. Entrevista realizada para este trabalho pela pesquisadora. INCRA, Mar./2015.

5

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campo não terminam com a conquista da terra, a luta depois é pela permanência nela através de muitas resistências.

O último artigo levantado neste momento para ser compreendido, se ocupa em apresentar as atribuições da Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento, faz-se necessário lembrar que, muitas funções foram desvinculadas do INCRA e foram repassadas para empresas que terceirizam esses serviços, esta alternativa é vista como uma busca por sanar as emergências que a Instituição possui como meios para não perder as suas atividades. Diante deste contexto, a ilustração 5 se ocupa em apresentar estas atividades.

Art. 17. À Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de

Assentamento

Normatizar, coordenar e supervisionar as atividades:

(Incisos I, II, III e IX)

Concessão de créditos e de assessoria técnica, social e ambiental. Titulação de imóveis. Elaboração dos projetos de desenvolvimento e recuperação dos projetos e serviços topográficos. IV - Desenvolver, acompanhar e supervisionar projetos relativos à educação do campo e cidadania. Implantação de infraestrutura física. V - Apresentar e discutir estratégias, em diversas esferas governamentais, de modo a integrar as políticas e ações do INCRA. VI - Elaborar diagnósticos visando à implantação de alternativas de sustentabilidade econômica e social. VII - Apoiar as SR‟s na integração e institucionalização de cooperação e parcerias entre o INCRA, Estados, Municípios e entidades não governamentais.

VIII - Prestar suporte à integração das políticas de agricultura familiar e de reforma agrária.

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Ilustração 5: Todos os incisos do Art. 17 da Seção IV da Estrutura Organizacional do INCRA.Fonte: Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do INCRA – 2006. Org.: BARONI, 2016.

Todos os incisos foram apresentados, pois neste setor as atividades são diretamente destinadas para os assentamentos de Reforma Agrária, porémpossui atividades que não lhe compete mais realizar, mas possui a função de acompanhar essas ações. Para compreendermos como o INCRA está se concretizando com relação a esta questão buscamos a explicação de um membro deste setor.

Hoje o INCRA está retirando algumas atribuições para cuidar da parte de desenvolvimento do assentamento. O que está sendo fortalecido, desde os últimos dois anos na Instituição é a ATES contratada pelo INCRA, está é acompanhada através de sistema e fiscalizada a campo, mas a maioria é acompanhamento que o INCRA faz. O contrato da assistência é de no máximo 5 anos, onde suas atividades são de realização de oficinas de capacitação e atividades individuais, sendo esta de duas modalidades, a primeira é para realizar o diagnóstico por família respondendo um questionário e depois haverá uma visita de acompanhamento do crédito, de uma produção, onde é avaliado o projeto criado pelo diagnóstico. A segunda refere-se a discussão de projetos, cursos de capacitação de 8 horas, atividade com crianças, jovens e mulheres na escola do assentamento, e em uma das atividades a assistência técnica faz um planejamento do que será realizado no local, por exemplo, se os assentados vão querer trabalhar com o gado, agricultura, entre outras, porémo INCRA intervém aprovando ou não o que os assentados gostariam de desenvolver, levando até eles outras propostas.6

O entrevistado indica a prática que se fortaleceu na Instituição, ou seja, a Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária(ATES)7, apontando que o vínculo com esta atividade ainda permanece, poiscabe a ele realizar as vistorias do que a assistência desenvolve nos projetos de assentamentos, porém será que para o INCRA esta seria uma alternativa de ainda permanecer com esta atribuição? Uma vez que, a fiscalização das ações acompanharia os assentamentos, mas pensando se a Instituição possui este quadro de funcionários que devem conhecer o que a ATES está realizando no campo, por que não efetiva ela mesmo esta atribuição? Observamos que a Instituição possa não estar realizando esta atividade devido os poucos recursos para o Órgão, porémno primeiro governo da Dilma (2011-2014) o foco para a Reforma Agrária não perpassou por criar novos assentamentos, mas sim, principalmente pela opção pelo agronegócio e a realizar a qualificação dos já existentes, mesmo ela estabelecendo

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Engenheiro Florestal, técnico da assistência técnica e fomento – INCRA. Entrevista realizada para este trabalho pela pesquisadora. INCRA, Mar./2015.

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É um programa que ajuda a desenvolver os assentamentos unindo o saber tradicional dos assentados ao conhecimento científico, sem perder o foco na preservação ambiental. Os trabalhos são feitos em parceria com instituições públicas e privadas, entidades que representam os trabalhadores rurais e Ongs ligadas à reforma agrária. Atuam equipes compostas por técnicos em Ciências Agrárias, Sociais, Ambientais e Econômicas. (INCRA, 2008).

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