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A CONCORDÂNCIA NOMINAL DE NÚMERO NA LINGUAGEM INFANTIL

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Academic year: 2021

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A CONCORDÂNCIA NOMINAL DE NÚMERO NA LINGUAGEM INFANTIL Elaine Teresinha Costa CAPELLARI (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

ABSTRACT: This work aims at analyzing nominal number agreement in Brazilian Portuguese

depevelopmental data. Children's number agreement marking will be compared to that of adults. In order to better understand the phenomenum three main points will be discussed: 1) which factors determine the standard morphological realization of number agreement, 2) children's NP structure, and 3) the role of discourse in determining the use of agreement marking.

KEYWORDS: noun agreement; noun agreement acquisition; variable agreement; agreement in

Brazilian Portuguese.

0. Introdução:

Este trabalho tem como origem a minha monografia de conclusão de curso, tendo como orientadora a professora Ana Zilles. Deste trabalho, a professora e eu elaboramos um artigo que será publicado no primeiro número da Revista ABRALIN. Nosso principal objetivo foi verificar como ocorre a marcação de plural na fala infantil, sob uma perspectiva variacionista. Nossa motivação vem do fato de serem poucos os trabalhos nessa área, ao contrário da fala adulta em que a concordância é bastante estudada.

A nossa análise baseou-se nas seguintes questões:

a) Examinar a relação entre a marcação padrão e não padrão da concordância nominal de número para verificar até que medida estes dados podem ser comparados aos dos adultos. Neste sentido, visa, também, traçar um padrão de desenvolvimento da concordância de número na fala infantil. b) O papel do contexto discursivo em que estes dados foram produzidos. Nessa pesquisa, dois contextos foram considerados. No primeiro, a criança era solicitada a fazer um relato pessoal, no qual se esperava um maior grau de informalidade na linguagem. No segundo, eram narrativas orais de historinhas, cuja expectativa era de uma linguagem mais formal, pois são reproduções de histórias aprendidas a partir de textos escritos como, por exemplo, Os Três Porquinhos.

c) Estrutura interna do SN. Tendo como pressupostos teóricos a literatura sobre o fenômeno na fala adulta, sobretudo os trabalhos de Marta Scherre, questionamos o tratamento linear dispensado ao SN, bem como as categorizações propostas pela autora com relação aos elementos constituintes do sintagma nominal.

1. Perspectivas Teóricas:

Segundo Scherre (1996:88), há diversas possibilidades de se marcar o plural nos SNs. a) plural em todos os elementos do SN;

b) em alguns elementos do SN; c) em apenas um elemento;

d) nenhuma marca formal de plural.

A primeira constatação diz respeito ao que Scherre (1996:89) chama de saliência fônica. Palavras que apresentam alguma mudança na estrutura fonológica, quando pluralizadas, são mais perceptíveis foneticamente e, por isso, mais pluralizadas. A segunda, refere-se aos SNs que possuem algum elemento com carga semântica de plural. Estes, na maioria das vezes, apresentam seus elementos flexionáveis sem flexão. A terceira, mostra que itens lexicais diminutivos informais desfavorecem a pluralização. Finalmente, a última constatação declara que numerais não acionam a flexão.

(2)

Com relação às variáveis lingüísticas, Marta Scherre analisa: a) a relação entre os elementos nucleares/não nucleares e posição linear dos elementos no SN; b) marcas precedentes em função da posição. Para categorizar os elementos sintagmáticos em nuclear e não nuclear, a autora separa as classes gramaticais da seguinte forma:

a) elementos nucleares: substantivo, categoria substantivada e pronome pessoal de terceira pessoa. b) elementos não nucleares: adjetivo, quantificador, possessivo, artigo, demonstrativo, pronome indefinido e identificador.

Com relação aos elementos nucleares, Scherre afirma que marcam-se mais os de primeira e terceira posições, sendo menos favorecida a segunda posição. Sobre os não nucleares, a autora constata que quando antepostos ao núcleo do SN, recebem mais marcas de plural do que quando pospostos. No que toca à variável marcas precedentes em função da posição, Scherre retoma o que Poplack (1980:63) encontra no espanhol:

A presença de uma marca de plural antes do dado favorece a retenção da marca naquele dado, enquanto que a ausência de uma marca precedente favorece o cancelamento.

Diante do que foi exposto, tecemos nossa primeira discussão que se refere a esse tratamento linear dispensado ao SN e ao agrupamento dos itens lexicais nos grupos nuclear e não nuclear. Julgamos que talvez o mais adequado fosse adotar uma concepção hierárquica para a constituição interna do SN. Entretanto, nenhuma proposta mais detalhada foi feita neste sentido. Nosso objetivo, portanto, é discutir algumas concepções adotadas por Scherre, usando para isso exemplos e buscando apoio na Teoria Gerativista.

O primeiro exemplo é o caso do quantificador todos que é tratado como determinante, mas que apresenta muitas particularidades combinatórias que o distinguem dos demais casos de determinante. Para descrever este comportamento, buscamos Perini (1998) que mostra esse comportamento sintático diferenciado. O autor o classifica como predeterminante, como um termo que não pertence à estrutura do SN, devido a sua liberdade de movimentação.

Os meninos todos foram à festa. Os meninos foram todos à festa. Os meninos foram à festa, todos.

Um outro aspecto encontra-se em Simões (1992), que trata da Aquisição da Distinção Semântica

entre Nominais Contáveis e Não-Contáveis em Língua Portuguesa. Neste trabalho, a autora mostra que a

flexão do plural está relacionada com a identificação de elementos contáveis. É necessário individuar os elementos a fim de que possam ser contados. Contudo, existem palavras, chamadas de quantificadores massivos que não permitem essa identificação, tais como monte, pacote, que desfavorecem a marcação do plural. Nosso comentário em relação à análise de Scherre é que essa distinção não é feita, existindo apenas a categoria dos quantificadores. Na nossa opinião, isso prejudica a análise.

2. Metodologia:

Os dados analisados provêm de uma coleta longitudinal e pertencem ao Banco de Dados do projeto Desenvolvimento da Linguagem da Criança em Fase de Letramento – DELICRI. Esta coleta foi realizada durante o período de 1992 a 1996 em uma escola particular de Porto Alegre. São ao todo dezoito entrevistas de uma menina, sendo que a primeira foi aos 4;03 e a última, aos 8;05.01; cada entrevista tem, em média, dez minutos. A criança em questão não tinha irmãos naquele período, sempre estudou na mesma escola e não tinha nenhum contato com língua estrangeira. A categoria socioeconômica em que sua família se enquadra é a B. Os critérios para tal categorização foram estipulados pelo projeto, a saber:

Classe B: nível médio – escolaridade de 1º grau completo ou 2º. grau; funcionário público, comerciante, técnico, bancário, escriturário, professor de escola secundária ou primária; bairro de moradia considerado de classe média; escola pública.

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Ressaltamos que essa coleta longitudinal tinha como objetivo observar o desenvolvimento da capacidade narrativa das crianças. Logo, as entrevistas foram elaboradas para esse fim, sem atenção específica à produção de SNs plurais. Com isso, conforme se observa na primeira tabela que segue, o número de SNs é muito pequeno, não nos permitindo uma boa análise estatística, como pretendíamos. Assim sendo, a nossa análise é cautelosa, restringindo-nos apenas a percentuais, tentando somente lançar algumas hipóteses explicativas. Lembramos, também, que nosso objetivo não é observar a emergência do fenômeno na fala infantil, uma vez que ela acontece por volta dos dois anos e a idade inicial da coleta é de 4 anos. Trata-se, então, de observar o desenvolvimento da concordância de número na fala da criança, levando em consideração, indiretamente, o processo de alfabetização já que no período da coleta a criança freqüentava a escola aqui já citada.

3. Resultados e Discussões:

Antes de analisarmos os dados, elaboramos um quadro com a distribuição de SNs plurais coletados em cada entrevista.

TABELA 1 - Número de SNs plurais por entrevista na fala de uma criança dos 4 aos 8 anos de idade

Entrevista / idade Total de SNs

4;03.07 0 4;07.17 1 4;09.19 0 5;02.02 5 5;03.00 6 5;05.15 0 5;08.01 1 5;09.29 4 6;03.05 8 6;05.15 5 6;07.16 2 6;09.10 11 7;01.27 5 7;04.13 1 7;07.16 16 7;10.22 34 8;01.15 20 8;05.01 7 TOTAL 126 SNs

Como se pode perceber, o número de SNs é muito pequeno, 126 em quatro anos de coleta. Feito o primeiro levantamento, o próximo passo foi separar os SNs padrão dos não padrão. TABELA 2- Número e percentual de SNs padrão por entrevista na fala de uma criança dos 4 aos 8 anos de idade

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Entrevista (idade) SNs padrão / total de SNs % 4;7.17 0/1 0 5;2.2 0/5 0 5;3.00 0/6 0 5;8.01 0/1 0 5;9.29 4/4 100 6;3.5 3/8 37,5 6;5.15 2/5 40 6;7.16 0/2 0 6;9.10 4/11 36,36 7;1.27 2/5 40 7;4.13 0/1 0 7;7.16 6/16 37,5 7;10.22 22/34 64,70 8;1.15 5/20 25 8;5.1 2/7 28,57 TOTAL 50/126 39,68

Nesta tabela, observa-se que não há ocorrência de SNs plurais padrão nas entrevistas iniciais, aparecendo somente a partir dos 5;9.29. Entretanto, isso não significa que a criança não produza antes desta idade, apenas não apareceram nas entrevistas. Outra peculiaridade é que nesta entrevista ocorrem 100% de casos (4 casos) de flexão padrão. Todavia, é importante comentar que esse discurso foi baseado em um texto escrito (Os Três Porquinhos) e isso, portanto, poderia favorecer o acionamento da regra padrão. A outra entrevista com alto índice de concordância padrão é a de 7;10.22 com 64,7%. Nesse caso, trata-se de um relato pessoal, mas a criança fala sobre um teatro do qual ela participou. Um outro fator é que esse teatro era a adaptação de um livro infantil e foi a própria menina quem a fez. Assim, estas são as nossas hipóteses para esses altos índices de concordância padrão nestas entrevistas. No âmbito geral, porém, o índice de marcação padrão é de 39,68%, muito parecido com o do adulto.

Para caracterizar melhor os dados coletados, selecionamos alguns SNs que julgamos interessante comentar com mais detalhe.

a) um monte de coisa b) trinta Reais c) Os Três porquinhos

Sobre o SN um monte de coisa, nossa hipótese retoma Simões (1992). A ausência da flexão decorre da presença do quantificador massivo monte. Conforme já exposto aqui, esse tipo de quantificador não permite a identificação de elementos contáveis, necessário para identificação do plural. Nesta situação encontramos outros SNs tais como, um pacote de borracha, uma pasta de foto.

Com relação ao SN trinta Reais, trata-se de uma forma padrão não esperada, pois segundo as afirmações de Scherre sobre a fala adulta, numerais tendem a desfavorecer a flexão de plural. Entretanto, levando em consideração o contexto da produção, vimos que se trata de uma fala reportada. A menina fala como se fosse o seu próprio pai, manifestando-se em relação ao dinheiro gasto por ela.

O SN Os Três Porquinhos é bem interessante, pois têm dois itens desfavorecedores para a marcação do plural, no caso o numeral e o diminutivo, mas que não influenciam este SN. A nossa hipótese é que se trata de uma expressão memorizada e que está relacionada ao texto escrito; logo, dá-se a concordância padrão.

Diante destas descrições, torna-se interessante olhar a distribuição dos SNs de acordo com o contexto discursivo em que ocorrem.

TABELA 3 - Número e percentual de SNs plurais padrão na fala de uma criança dos 4 aos 8 anos de idade, considerando o contexto em que foram produzidos

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SNs padrão/total

%

relato pessoal 29/84 34

Contando historinha 21/42 50

TOTAL 50/126 39

Como se observa, há maior número de SNs padrão no contexto de contar historinhas (50%), sugerindo uma influência do texto escrito padrão, que em certa medida, pode ter sido memorizado pela criança. No relato pessoal, ocorre 34% de concordância padrão; portanto, esses resultados parecem, de certa forma, refletir o comportamento do adulto. Isto é, maior produção padrão em contextos mais formais e menor, em fala espontânea.

4. Considerações finais:

De acordo com o exposto neste trabalho, podemos elaborar algumas considerações que, de certa forma, aproximam-se das constatações feitas acerca da fala adulta.

- O contato com o texto escrito parece estimular o uso de plurais padrão.

- Os numerais e os quantificadores não tendem a acionar o uso da regra padrão, exceto quando relacionados a expressões aprendidas de memória, ou a contextos que têm por base textos escritos. -Itens diminutivos desfavorecem a marcação de plural, exceto quando também aprendidos de memória.

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar a concordância nominal de número na fala infantil. Interessa-nos examinar o fenômeno, comparando-o com sistema de concordância do adulto. Os principais pontos discutem a influência de elementos na aplicação da regra padrão de concordância, a estrutura do SN e o papel do contexto discursivo.

PALAVRAS-CHAVE: concordância nominal; aquisição de concordância nominal; concordância variável, concordância no Português do Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PERINI,Mário A. Gramática descritiva do português. 3a. Ed., São Paulo, Ática, 1998.

SCHERRE, Maria Pereira. Sobre a influência de três variáveis relacionadas na concordância nominal em português. In: SCHERRE; SILVA (Org.). Padrões Sociolingüísticos : análise de fenômenos variáveis

do português falado na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1996.

SIMÕES, Luciene Juliano. Aquisição da distinção semântica entre nominais contáveis e não-contáveis

em língua portuguesa, PUCRS, 1992. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica do

Referências

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