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A Ultima Ceia, como Signo Linguístico

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Academic year: 2021

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“A Ultima Ceia”, como Signo Linguístico

Beatriz Jorge Ramos, nº 8255

Curso Ciências da Arte e do Património, 1ºano FBAUL, 2014/2015

Sumário

Resumo 1

Introdução 1

Desenvolvimento 1

1. Signo, Significado, Significante 1

1.2. Princípio de arbitrariedade do signo 2

2. A “Última Ceia”, como signo linguístico 3

Conclusão 6

Referências 6

Resumo

Este trabalho apresenta uma breve análise ao conceito de arbitrariedade de signo e uma abordagem à noção de signo de Ferdinand De Saussure, procurando explorar a relação entre esse mesmo conceito e o objeto cultural “A Ultima Ceia”.

Palavras-chave: Signo, Arbitrariedade de signo.

Introdução

Este trabalho visa abordar o conceito de arbitrariedade de signo de Saussure. Pretendo fazer uma análise simplificada do mesmo, explorando a sua relação com o objeto cultural “A Ultima Ceia”.

Em forma de contextualização, irei abordar as noções gerais de signo, significado e significante, e posteriormente analisar a ideia que dá título a este trabalho “A Ultima Ceia”, como Signo Linguístico; tendo sempre como apoio a obra de Saussure (1916/1999), Curso de Linguística Geral.

Desenvolvimento

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Ferdinand Saussure, linguista e professor Suíço, foi considerado o fundador da linguística moderna e trouxe novos caminhos para a linguística graças aos seus estudos sobre a língua. A sua obra capital, Curso de Linguística Geral, é uma compilação das suas aulas, publicada em 1916, por alunos seus. As conceções inovadoras de Saussure estão na base da linguística moderna, podendo dizer-se mesmo, que permitiram o estabelecimento da linguística como ciência. Incluem entre outras ideias relevantes, a sua teoria sobre o signo.

O signo linguístico, segundo Sausurre, é a união do conceito com a imagem acústica. Conceito pode ser encarado como a representação mental do objeto, ou seja, o que pensamos quando ouvimos uma determinada palavra, por exemplo, o que pensamos quando ouvimos a palavra água: água do mar, copo de água, poça de água,… É algo mais abstrato, mais ideal. Imagem acústica é algo mais “material”, (ex: a palavra “água”).

O signo linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. (Sussure, 1916/1999:122)

Saussure explica bem o seu conceito de signo com o exemplo da palavra latina “arbor”.

Estes dois elementos estão intimamente unidos e postulam-se um ao outro. Quer procuremos o sentido da palavra latina arbor, quer investiguemos qual a palavra com que o latim designa o conceito” árvore”, é evidente que só as aproximações consagradas pela língua nos aparecem conformes à realidade e, por isso, afastamos qualquer outra que se pudesse imaginar. (Sussure, 1916/1999:123)

Para que fosse mais percetível e mais fácil definir a sua noção de signo, Saussure propôs substituir conceito por significado e imagem acústica por significante, entre os quais existe uma relação simultaneamente arbitrária e necessária.

Propomos manter a palavra signo para designar o total e substituir conceito e imagem acústica respetivamente por significado e significante; estes dois termos têm a vantagem de marcar a oposição que os separa e que os distingue do total de que fazem parte. (Sussure, 1916/1999:124)

1.2. Princípio de arbitrariedade do Signo

A ligação entre o material e o ideal (signo) é frágil, não é uma relação obrigatória, mas sim, arbitraria. Uma palavra não tem que ter um significado obrigatório; não é como os signos naturais que são de necessidade, como por exemplo nos animais que fazem camuflagem, estes não pensam antes de camuflar, camuflam

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para se proteger, é um instinto natural por natureza, é biológico. O signo é arbitrário apenas para os seres culturais. Cultura é um signo arbitrário, pois não é igual para todos os homens e além disso é algo que está sempre a mudar. Exemplos de signos arbitrários: a moda, a música, a língua, as palavras, a arte, a cultura…

Saussure defende que a relação entre significado e significante é arbitrária, assim, o signo linguístico é arbitrário. Não existe nenhuma razão concreta para que um significante esteja associado a um significado, a própria existência de línguas diferentes explica e comprova essa ideia. A palavra cão em português, em inglês passa a ser dog, em espanhol perro, em francês chien, demonstrando que para o mesmo significado podem existir significantes diferentes.

O laço que une o significante ao significado é arbitrário, ou melhor, uma vez que entendemos por signo o total resultante da associação dum significante a um significado: o signo linguístico é arbitrário.

Assim a ideia de “pé” não está ligada por nenhuma relação à cadeia de sons (p) +(e) que lhe serve de significante; podia ser também representada por qualquer outra: provam-no as diferenças entre as línguas e a existência de línguas diferentes. (Sussure,

1916/1999:124).

2. A “Última Ceia”, como signo linguístico

Segundo Saussure, “conceito” ou “significado” é a mesma coisa que sentido ou ideia, estes são a representação mental de um objeto ou de uma realidade, representação essa, condicionada pela formação sociocultural que nos cerca desde que nascemos, designada por cultura.

Porém, a cultura é um signo arbitrário que está sempre a mudar, ao longo do tempo.

Na época do Renascimento, os temas bíblicos eram os mais comuns nas pinturas, sendo uma das mais populares “A Ultima Ceia”. Era tão normal pintá-la que já havia, na época, um modelo de como devia ser representada: todos os apóstolos deveriam estar representados lado a lado de Jesus, num lado da mesa, à exceção de Judas (o traidor), que deveria estar do lado oposto, de costas para o espectador que observa o quadro. “A Ultima Ceia” de Ghirlandaio, datada em 1480, e a de Rosselli, datada de 1480 a 1481, contêm os elementos típicos do tradicional modelo de composição, no entanto muitos outros a representaram desta forma.

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4 Figura 1: “A Ultima Ceia”, fresco de Domenico Ghirlandaio, 1480, Convento de S. Marcos, Florença, Itália (Prosimetron, 2009)

Figura 2: “A Ultima Ceia”, fresco de Cosimo Rosselli, 1480-1481, Capela Sistina, Vaticano, Itália (Prosimetron, 2009)

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Com este efeito, qualquer meio de expressão recebido numa sociedade assenta, em princípio, num habito coletivo ou, o que resulta no mesmo, numa convenção. As formas de cortesia, por exemplo, dotadas muitas vezes de uma certa expressividade natural (pensemos nos chineses que saudação o imperador inclinando-se nove vezes até ao chão), são igualmente afixadas por uma regra; é essa regra que as torna obrigatórias e não o valor intrínseco que elas possam ter. (Sussure, 1916/1999:125).

Mas, de todas as pinturas existentes da “Ultima Ceia”, a mais famosa é a de Leonardo da Vinci, encomendada por Ludovico Sforza e pelos frades dominicanos, para decorar a parede do refeitório da igreja de Santa Maria della Grazie, em Milão.

Figura 3: “A Ultima Ceia” fresco de Leonardo da Vinci, 1495-1497, Refeitório da igreja de Santa Maria della Grazie, Milão, Itália (Milão nas mãos, 2013)

A obra de Da Vinci retrata o momento em que Cristo diz haver um traidor entre os seus discípulos. Ao fazer essa afirmação tão inesperada, consegue inquietar todo o grupo, criando um ambiente com uma elevada intensidade dramática.

Quando Leonardo da Vinci pintou “A Ultima Ceia”, tinha como objetivo recriar esse momento dramático, rompendo o modelo tradicional, colocando todos os apóstolos no mesmo lado da mesa, incluindo Judas (o traidor).

Esta alteração na composição do quadro deixou todos incrédulos, porque era completamente inovador em relação à tradição. Isto deve-se ao fato, de na época, as

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pessoas terem uma imagem mental pré-concebida (significado) para o acontecimento Bíblico da Ultima Ceia (significante). Contudo, ao longo do tempo esse significado foi mudando, pois tudo o que não é natural é cultural e a cultura é um signo arbitrário, logo, o significante tem diversos significados correspondentes, dependendo depois de cada Homem.

Existe também uma precisão. Ela não deve dar a ideia de que o significante depende da livre escolha do sujeito falante (…); queremos dizer que ele é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem, na realidade, qualquer ligação natural. (Sussure, 1916/1999:126)

A partir da quebra que houve, entre o modelo tradicional de pintar a “Última Ceia” e o modelo inovador de Leonardo da Vinci, começaram a surgir muitas outras versões da “Ultima Ceia” totalmente diferentes e inovadoras, em todas as civilizações e culturas até aos nossos dias.

Conclusão

A finalidade deste trabalho residiu em explorar a ligação do conceito “signo” de Saussure com o objeto cultural “A Última Ceia” abordando as ideias chave de signo, significado e significante, e desenvolvendo o tema da arbitrariedade do signo.

À guisa de conclusão, é importante referir que cada signo, quando não é natural, é arbitrário, ou seja, o seu significante contem diversos significados ou ideias, sendo que, cada um está associado a uma cultura, civilização ou mentalidade. No que se refere à ligação “A Última Ceia” e signo linguístico, segundo Saussure, podemos concluir que existe uma forte relação entre os dois, pois o facto de ter havido uma quebra entre o modelo tradicional (significado 1) e a estrutura modernizada de Da Vinci (significado 2) do quadro “A Ultima Ceia”, concebido para representar o acontecimento Bíblico da Ultima Ceia (significante); é um exemplo de arbitrariedade do signo, segundo a teoria de Saussure.

Referências

Cavalcanti, J. (2013), A Ultima Ceia de Leonardo da Vinci [Consult. 2015-01-03]. Disponível em <URL: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3682&titulo=A_Ultima_Ceia_d e_Leonardo_da_Vinci>

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7 Milão nas mãos (2013) Mage Santos [Consult. 2015-01-03] Disponível em

<URL: http://www.milaonasmaos.it/patrimonios-unesco-lombardia/> Prosimetron (2009) Jad [Consult. 2015-01-03]. Disponível em

<URL: http://prosimetron.blogspot.pt/2009/11/aqui-ha-gato.html> Saussure, R. (1916/1999), Curso Linguistico Geral. Lisboa: Edições Dom Quixote

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