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Formas de Investigação Preliminar
1. Fases da persecução penal:
Cominação legal: quando o legislador cria um tipo penal, nascendo para o Estado do poder/dever de fazer valer
a coercibilidade daquela lei.
Investigação preliminar: é o poder/dever do Estado de investigar, a partir do ferimento do conteúdo de
deter-minada previsão legal;
Instrução criminal: estase sob o manto do contraditório e da ampla defesa;
Execução penal: sendo o agente culpável, este receberá uma pena, que será executada.
Reabilitação criminal. 2. Procedimentos investigatórios
Termo Circunstanciado (art. 68 da lei 9099/95): serve para o registro e encaminhamento ao Juizado
Especi-al CriminEspeci-al das infrações de menor potenciEspeci-al ofensivo (art. 61 da lei 9099/95) – contravenções penais e cri-me com pena máxima de até 2 anos, com ou sem multa.
Exceções: lesão culposa de transito que decorrer de embriagues ao volante, racha ou acima da velocidade
permitida (art. 291 do CTB);
Violência domestica e familiar contra a mulher (art. 41 da Lei Maria da Penha).
Observação: O STF declarou a constitucionalidade do referido dispositivo legal (ADI 4424 e ADC 19). Inquérito Policial: ocorre quando não houver infrações de pequeno potencial ofensivo - IMPO
3. Outras formas de investigação (art. 4º, § único ad CPP):
a. CPI (art. 58, § 3º da CRFB);
b. Inquérito Policial Militar –I PM (art. 9º e seguintes do CPPM); c. Inquérito Civil (art. 129, III, da CRFB);
d. Inquérito para expulsão de estrangeiro (lei n. 6815/90); e. Polícia Ambiental (lei n. 9605/98);
f. Polícia Legislativa (súmula n, 397 do STF);
g. Banco Central e Comissão de valores Imobiliários – LC 105/01; h. COAF – lei n. 9613/98.
i. Poder Judiciário em seus membros (LC 35/79);
j. Ministério Público em seus membros (lei n. 8625/93);
k. SIPAER (lei n. 12970/2012);
3.1. Investigação criminal do Ministério Público – PIC:
Problemática: pode o MP investigar ou a investigação é exclusiva das polícias federais e civis estaduais?
Argumentos desfavoráveis: são dois
I. Ausência de previsão constitucional explícita;
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Argumentos favoráveis:
I. A ausência de previsão constitucional explícita é rebatida com a teoria de origem norte americana,
chama-da de Teoria ou Doutrina dos Poderes Implícitos, a qual argumenta que quando a CRFB dá ao MP diversas atri-buições refrentes à persecução penal, dentre as quais, a titularidade da ação penal pública com exclusividade, garante ao órgão os mecanismos e instrumentos para alcançar seus fins (quem pode o mais, pode o menos).
II. Há controle externo pela sociedade e pelo poder judiciário, no momento em que o MP reportar seus pedidos
de prisão, busca e quebra de sigilos ao Judiciário.
Proposta de emenda constitucional – PEC 37: esta foi arquivada. Propunha-se a acrescentar um parágrafo 10 ao art.
144 da CF, dizendo que a investigação criminal é somente da polícia. Nos movimentos de maio de 2013, em razão das tarifas de ônibus, encontrou-se uma forte pressão popular para o arquivamento da aludida PEC. O tema foi re-tomado e o STF decidiu que o MP tem legitimidade para promover investigação criminal (PEC n. 37).
Conceito, natureza jurídica e finalidade do IP: é um procedimento administrativo que visa apurar a autoria e materialidade
de determinada infração penal. Objetiva dar base à propositura da ação penal. A natureza jurídica é administrativa por ter esta feição, possui fins administrativos e é presidida por uma autoridade administrativa.
Notitia criminis
a. Conceito: é o conhecimento provocado ou espontâneo da infração penal pelo policial.
b. Notitia criminis de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada: o delegado toma conhecimento por meio da sua própria investigação ou pelas suas atividades rotineiras.
b.1. Delação apócrifa (denúncia anônima ou notícia inqualificada) – art. 5º, § 3º do CPP: há duas posições:
Não pode impulsionar a investigação criminal;
Independentemente da origem da informação, a polícia deve investigar (posição majoritária).
b.2. Notitia criminis de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada: o delegado toma conhecimento de um crime.
Delactio criminis: meio pelo qual a notícia de uma infração penal chega ao delegado. Espécies: Simples (narra o fato
delituo-so, sem pedir providências) ou postulatória (narra o fato e requer providências, por exemplo, violência doméstica). Pode ser:
Oficial: requerimento do Ministério Público ou Judiciário;
Comum, não oficial ou popular: qualquer pessoa pode noticiá-la para o delegado apurar;
Facultativa: indica a qualquer do povo;
Obrigatória ou compulsória: funcionário público tem obrigação de noticiar, sob pena de responder
pe-los crimes previstos nos arts. 319 e 320, ambos, do Código Penal, entre outros.
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Peças inaugurais:
a. Portaria: documento que o delegado narra o fato delitivo de forma sucinta, faz comando de instauração e diz as providências a serem tomadas, mandando autuá-lo. A ausência de portaria não invalida a subsequente ação penal. Ainda, as datas referidas no presente documento servem para estabelecer os marcos de prescrição e de-cadência, bem como a competência.
b. Requisição do MP ou do juiz: é uma ordem do promotor ou juiz para que o delegado instaure o IP (comando le-gal). O delegado deve instaurá-lo, salvo em caso de ordem manifestamente ilegal. Em caso de habeas corpus para trancar esse IP, a autoridade coatora é o requisitante (MP ou juiz);
c. Requerimento: é uma solicitação da vítima em sede de ação penal pública incondicionada ou privada. Confor-me o art. 5º, § 2º do CPP, em caso de indeferiConfor-mento do delegado, cabe recurso ao chefe de polícia.
d. Representação: é uma manifestação da vítima ou representante legal, que funciona como uma autorização pa-ra a instaupa-ração do IP de crime de ação penal pública condicionada à representação que, sem esta, não pode ser instaurado.
e. Auto de Prisão em Flagrante – APF: é o documento em que o delegado narra o fato, ou seja, instrumentaliza o IP. O APF é mais completo que a portaria.
a. Atributos da autoridade policial:
I. Autoritariedade: o delegado pode realizar determinados atos, independentemente de autorização
do juiz. Toda vez que não houver cláusula de reserva jurisdicional, bem como quando os atos não irem de encontro aos direitos fundamentais resguardados pela Constituição. Ex.: requisi-tar perícias, promover reconhecimento pessoal, acareação, etc..
II. Discricionariedade: é a liberdade de escolha que o delegado tem diante dos procedimentos inves-tigatórios.
III. Exclusividade (art. 133, § único do CERS e lei n. 12.830/13): somente delegados de polícia são au-toridades policiais, cargo privativo de bacharéis em direito.
IV. Autonomia regrada: o delegado não se subordina hierarquicamente aos membros do MP ou Ma-gistratura, mas deve atender as requisições advindas dessas autoridades (art. 13 do CPP).
Características do IP:
a. Oficialidade: a investigação criminal no Brasil é realizada pelas polícias federais e civis estaduais, órgãos oficiais do Estado.
b. Unidirecionalidade: a finalidade única do IP é apurar os indícios de autoria e materialidade delitiva. Em virtude da lei n. 12.830/13, o delegado de polícia (carreira jurídica) pode fazer análise das causas de exclusão do crime (ilicitude, culpabilidade e tipicidade). Assim, o delegado não está adstrito à tipicidade formal.
c. Obrigatório à autoridade policial: Vide art. 5º, caput do CPP;
d. Dispensável ao MP: não precisa do IP para instaurar ação penal (art. 12, 27, 39, § 5º e 46, § 1º do CPP);
e. Substituível pelo termo circunstanciado: o TC é o procedimento substituto do IP, que faz o encaminhamento da infração de menor potencial ofensivo - IMPO (autor do fato e vítima) ao juizado especial criminal; Objeto: quan-do se está diante de uma IMPO (art. 61 da lei 9099/95: são contravenções penais e crimes com pena restritiva de liberdade de até dois anos).
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Exceções:
Art. 291 da lei n. 9.503/97 – Código de Trânsito; Art. 41 da lei n. 11.340/06 - lei Maria da Penha.
f. Escrito ou Formal: o CPP impõe que seja realizada a redução a termo do IP, deve ser escrito e rubricado pela au-toridade policial (delegado).
g. Indisponibilidade (art. 17 do CPP): o delegado não pode arquivar autos de IP. Exceção: notícia crime (BO, re-querimentos, denúncia anônima ou qualquer outro instrumento que reproduza uma notícia que não configura conduta penal) o delegado pode arquivar. Na hipótese de registro de uma das referidas espécies de notícia cri-me, o delegado não poderá desinstaurar (arquivamento implícito) Somente o juiz poderá arquivar, mediante requerimento do MP.
h. Sigilosidade (art. 20 do CPP):
Faces da sigilação:
I. Pró-sociedade: o IP deve ser sigiloso para garantir o êxito da investigação.
II. Pró-indiciado: reguarda os direitos fundamentais do instigado.
III. Destinatários do sigilo: a sociedade de um modo geral e o investigado. Não se dirige ao juiz ou MP. Quanto ao advogado, o art. 20 do CPP diz que o IP é sigiloso, mas ao art. 7º, inc. XIV do EOAB prevê a possibilidade de vista ao advogado. Assim, verifica-se uma antinomia aparente de normas. Consoante à súmula vinculan-te n. 14 do STF, essa resguarda o amplo acesso aos atos já documentados. Dessa forma, significa que o sigi-lo persiste aos atos não documentados (atos em curso, autos apartados de medidas cautelares patrimoni-ais, pessoais). Nesse caso, o contraditório é diferido.
IV. Negativa de vista: medidas cabíveis: mandado de segurança e a segunda opção é o habeas corpus (libera-tório, repressivo, preventivo ou profilático).
V. Sigilo decretado pelo juiz (art. 23 da lei n. 12.850/13);
VI. Inquisitivo ou Inquisitório: o IP é inquisitivo, implicando o sigilo da investigação, descabimento de contradi-tório, mitigação da ampla defesa e a impossibilidade de arguir suspeição do delegado (art. 107 do CPP). A lei 12830/13 prevê duas possibilidades de transferência da presidência do IP: redistribuição e avocação, ambas exigindo fundamentação.
VII. Sistêmica ou sistemático: o IP deve ser feito de forma ordenada e cronológica.
VIII. Temporário: o CPP e algumas Leis Especiais Penais reservam um prazo para a conclusão do IP.
Procedimento investigatório:
a. Conservação do local do crime – art. 6º, I, do CPP. Objetiva preservar os vestígios até a chegada dos peritos. Exceção: caso de acidente de trânsito, para prestar socorro às vítimas e desobstrução de tráfego. Em caso de desfazimento malicioso, a consequência, em regra, é o crime do art. 347 do CP – fraude processual; se ocorrer no trânsito, o crime do art. 312 da lei n. 9503/97 – inovação artificiosa; em caso de arma de fogo: art. 16, § úni-co, II, da lei n. 10.826/03.
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b. Apreensão de objetos – art. 6º, II, CPP:
Alvos: instrumenta sceleris, productos sceleris, objectos sceleris;
Momento: no local do crime, depois da liberação da perícia, no ato de prisão, em qualquer momento
(com autorização judicial).
Domicílio: com o consentimento do morador, a qualquer hora (art. 5º, XL da CF/88), sem autorização
do morador: somente durante o dia. Conceito de dia: I. Flexível: luz solar;
II. Rígido ou Cronológico: horário: 6 – 20 horas (em analogia ao art. 172 do CPC) ou das 6 – 18 horas. Destino dos objetos:
I. Se interessarem ao processo, acompanham o IP e ficam à disposição do juízo (art. 11 do CPP); II. Se não interessarem:
a. Não havendo dúvida quanto ao direito de ser restituído, é possível, mediante oitiva do MP. Se houver pressa na restituição: mandado de segurança; sem pressa: simples pedido de restituição.
b. Havendo dúvida quanto à propriedade ou posse: deve-se instaurar o incidente de restitu-ição de coisa apreendida, promovida pelo juiz. Se houver o indeferimento, a doutrina di-verge: cabe:
Correição parcial (Tourinho Filho);
Apelação – art. 593, II, CPP (Norberto Avena).
c. Oitiva do ofendido e das testemunhas (art. 6º, IV, do CPP):
Forma de chamamento: mandado de intimação, para qualquer situação.
Negativa injustificada de comparecimento: se o delegado tiver interesse de ouvi-las, é possível a
condução coercitiva da vítima (art. 201, § 1º, do CPP) e da testemunha (art. 218 do CPP), ainda po-dem responder pelo crime de desobediência.
Negativa injustificada de prestar depoimento: o sujeito comparece, mas não presta depoimento.
Há casos em que se têm essa possibilidade, em razão do ofício (advogado, médico, etc.), salvo se for desobrigado pelo interessado, bem assim quando houver parentesco. Caso contrário a essas hipóteses, o indivíduo incorrerá no crime de falso testemunho (art. 342 do CP).
Interrogatório do indiciado (art. 6º, V do CPP):
Formato: mesmo formato do judicial. É bifásico. Em uma das fases ocorrem as perguntas de cunho
pessoal e a 2ª fase é sobre os fatos em si.
Nemo tenetur se detegere: ninguém é obrigado a produzir prova contra a si mesmo. Na CF/88 há o equivalente do direito ao silêncio na prisão em flagrante.
Curador (art. 15, CPP): se o indiciado for menor. A expressão menor, atualmente, refere-se às
pes-soas com até 18 anos. OBS.: o referido art. perdeu a aplicabilidade.