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O DESENHO COMO EXPRESSÃO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E AVALIAÇÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO: ESTUDO DE CASO BIBLIOTECA LÚCIO COSTA FAU/UFRJ

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O DESENHO COMO EXPRESSÃO DE REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS E AVALIAÇÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO: ESTUDO

DE CASO BIBLIOTECA LÚCIO COSTA FAU/UFRJ

Rafael Ferreira Diniz Gomes

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - GAE/PROARQ/FAU/UFRJ raffa.arq@globo.com

Resumo

A avaliação pós-ocupação (APO) constitui um importante método de investigação a ser considerado na etapa preliminar de qualquer intervenção no ambiente construído. A exploração do desenho para a caracterização, representação e avaliação do ambiente construído constitui um papel importante nessa metodologia. O presente trabalho ilustra tal afirmação ao ter como objetivo geral de analisar o desenho como forma de expressão das representações sociais através da realização de uma avaliação pós-ocupação na Biblioteca Lúcio Costa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para tanto, foram adotados os métodos que se utilizam do desenho como principal fonte de investigação, a fim de avaliar os aspectos cognitivos percebidos pelos usuários na sua interação com o ambiente. Por fim, uma vez realizada a pesquisa de campo, chegou-se a análises e recomendações a serem utilizadas em futuras modificações.

Palavras-chave: Avaliação Pós-Ocupação, desenho, representações sociais

Abstract

The Post-Occupancy Evaluation (POE) is an important method for investigation considering the preliminary stage of any intervention in the built environment. The use of the drawing for the characterization, representation and evaluation of the built environment is an important role in this methodology. Thus, the objective of this paper has as main objective to analyze the drawing as an expression of social representations by performing a post-occupancy evaluation developed in the Lúcio Costa Library of the Faculty of Architecture and Urbanism of the Federal University of Rio de Janeiro. For this, were used methods that use drawing as the main source of research, in order to assess the cognitive aspects perceived by users in their interaction with the environment. In the end, after the case study and analysis, recommendations to be used for future modifications were generated.

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1 Introdução

O questionamento sobre a qualidade de vida no ambiente construído vem sendo sustentado por diversas pesquisas na área de Arquitetura, Urbanismo e da Psicologia ambiental. A colaboração entre essas disciplinas oferece diversas possibilidades para o estudo das relações psicológicas e psicossociais entre o homem e o meio em que ele se insere. Nesse sentido, Duarte (2002) atenta para a questão de que a arquitetura não é apenas a delimitação de um espaço físico, mas é também um fechamento cultural, e o ato de projetar significa buscar a satisfação de várias expectativas do homem em relação ao seu ambiente, seja permitindo o livre desempenho de suas atividades, seja proporcionando melhores condições de conforto ambiental, proporcionando a geração de afetos e a atribuição de significados ao lugar.

Ainda na visão de Duarte (2002), não é recomendável projetar um espaço sem que se leve em consideração que o ambiente construído sempre será reinventado pelos seus usuários e que seus valores e significados serão alterados de acordo com inúmeros fatores de ordem psicocultural. Del Rio (2002) aponta para o fato de que antes da intervenção projetual e da ação ambiental, é primordial o entendimento das necessidades e expectativas dos usuários para com o ambiente construído. Em suas palavras, "é preciso que estejamos conscientes das consequências previstas dessas ações e dos seus reflexos psicossociais para a sociedade futura" (DEL RIO, 2002, p. 203).

Stokols (1978), citado por Sager (2002), afirma que o conceito de otimização está na base de muitos estudos no campo da Psicologia ambiental. Esse conceito é baseado nas relações de troca entre o ambiente sociofísico e o sujeito. Deriva do fato de que as pessoas idealmente buscam ambientes que satisfaçam suas necessidades e o cumprimento dos seus objetivos. Porém geralmente encontramos uma gama de ambientes considerados indesejáveis por seus usuários, que não satisfazem as necessidades humanas. Nesse sentido, é muito importante compreender os aspectos cognitivos das relações usuário-ambiente e os aspectos de representação, percepção e interpretação dos espaços que abrigam as experiências de vida de cada grupo social. Essa compreensão é fundamental para o entendimento dos processos de valorização, ou não, do ambiente construído pelos seus usuários.

Segundo Sager (2002), no campo da Psicologia Social e do estudo dos significados, a Teoria das Representações Sociais tem sido amplamente estudada e

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utilizada para compreender os diversos significados dados aos ambientes. "A possibilidade de ligação entre as teorias do lugar e as teorias desenvolvidas pela Psicologia Social acrescenta elementos importantes para a compreensão e avaliação das transações do sujeito e os ambientes nos quais desenvolvem suas atividades" (SAGER, 2002, p. 28).

Através da Avaliação Pós-ocupação (APO), metodologia fundamental para a análise da qualidade do ambiente construído e também para fundamentar propostas de intervenção, reformas e novos projetos, é possível analisar, dentre outras questões, os diversos aspectos cognitivos, relacionados aos processos de percepção, imagens e representações do espaço pelos seus usuários. Nesse sentido, o desenho é também uma ferramenta de fundamental importância para analisar os graus de satisfação do usuários em relação ao ambiente construído. Essa metodologia de APO, com base nas informações obtidas através do desenho, foi aplicada na avaliação do ambiente da biblioteca Lúcio Costa FAU/UFRJ, com o objetivo de analisar o grau de satisfação com relação ao ambiente e fundamentar propostas de melhorias no espaço estudado.

2 A teoria das representações sociais

A teoria das Representações sociais surgiu na Europa, mais precisamente na França, em meados do século XX, quando o psicólogo Serge Moscovici se preocupou em estudar as representações dos franceses sobre os termos da psicanálise. A partir daí ele pôde compreender que, na falta de uma linguagem específica que permitisse as pessoas definirem algum acontecimento, características ou comportamentos, elas se apropriavam de termos não tão usuais para expressarem seus pensamentos. Os indivíduos pensam através de uma linguagem. As palavras e seus significados são utilizadas para classificar coisas, pessoas e atitudes. Essas classificações, portanto, são baseadas nas representações sociais, da imagem simbólica com que as pessoas compreendem o mundo (o sentido figurado, ou conotativo da linguagem, é resultado de representações). Assim, segundo sua visão, "todos os sistemas de classificação, todas as imagens e todas as descrições que circulam dentro de uma sociedade, mesmo as descrições científicas, implicam um elo de prévios sistemas e imagens" .

Representações sociais são sistemas de valores, noções e práticas com duas funções principais: primeiro, estabelecer uma ordem que permita aos indivíduos orientarem-se e manterem-se donos de seu

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mundo material e, segundo, facilitar a comunicação entre os membros de uma comunidade, provendo-os com um código para nomear e classificar aspectos de seu mundo e sua história individual e em grupo. (MOSCOVICI, 1978, p. 23)

Ao tratarmos de representações, precisamos reconhecer a função simbólica, ou semiótica, que torna possível a sua compreensão. Fazendo o uso de exemplos no campo da linguística, o símbolo é a união de significante (grafia + som) e o significado (imagem, conceito). Ou seja, ao fazermos uma associação entre o termo "Mar" e a imagem de uma "vasta extensão de água salgada que cobre boa parte da superfície terrestre", obtemos como resultado um símbolo representativo, um signo linguístico.

Ao distinguirmos essas duas categorias, ou seja, quando compreendemos os significantes e significados separadamente, adquirimos a capacidade de representar objetos e acontecimentos fora do nosso campo de atuação, e associações apenas no campo mental. Assim, mesmo que uma pessoa nunca tenha visto o mar, através de jogos simbólicos, desenhos, ou a própria característica diversa da linguagem, ela tem a capacidade de representar o signo.

Diversas pesquisas no campo da psicologia social têm buscado compreender as relações da teoria psicossocial das representações sociais de Moscovici com as ciências sociais, a fim de tornar lúcido os seus efeitos no modo como as pessoas enxergam o mundo em que vivem e as suas inter-relações pessoais. No campo da Arquitetura, os efeitos dessa teoria não são diferentes.

Segundo as ideias de Guareschi (2000) e Jodelet (2009), as representações sociais, que são sempre de alguém, são ao mesmo tempo individual e social. Seu estudo permite acessar os significados que os sujeitos atribuem a um objeto ou a um lugar, localizado no seu meio social e material, e permite examinar como os significados são articulados à sua sensibilidade, seus interesses, seus desejos, suas emoções e ao funcionamento cognitivo.

Nesse sentido ao relacionarmos essa teoria do campo da psicologia social com a arquitetura, poderemos compreender os simbolismos e significados com que as pessoas caracterizam seus lugares de convívio, seja o lar, a escola, o trabalho, a cidade, através de desenhos e mapas mentais, aplicados diretamente com os usuários dos espaços analisados em questão, evidenciando assim a sua imagem e algumas de suas características mais marcantes. O ser humano ao experienciar os seus espaços de vivência, adquire respostas, estímulos, que aos poucos vão definindo sentimentos

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como afetividade ou repulsa na interação usuário-ambiente. Reconhecer esses aspectos é de fundamental importância para a proposição de espaços mais responsivos ao uso do homem e a garantia da satisfação de suas necessidades.

3 Biblioteca Lúcio Costa FAU/UFRJ

A biblioteca, ambiente determinado para esta pesquisa, pode ser compreendida como o espaço físico no qual são armazenados livros e documentos. No entanto, ela ultrapassa a mera função de depositária desse material, ao possuir um vínculo de identidade com o público por ela atendido baseado no conhecimento e na cultura.

A Biblioteca Lúcio Costa da FAU/UFRJ (Figura 1) (especializada em literatura de arquitetura, urbanismo, paisagismo e artes) exemplifica tais considerações ao configurar um potencial referencial para os agentes (alunos, professores, técnicos administrativos e visitantes) do ambiente de ensino. Sendo assim, seu estudo, a partir das considerações de seus usuários, pode levar à reunião de dados e informações úteis sobre seu uso e, assim, orientar ações/decisões futuras.

Figura 1: Setor de leitura da Biblioteca Lúcio Costa FAU/UFRJ Fonte: arquivo pessoal

A edificação, que abriga toda a FAU/UFRJ, localiza-se na Cidade Universitária (Ilha do Fundão). Foi construída em 1961, a partir de projeto do arquiteto Jorge Machado Moreira, e estava vinculada à então Universidade do Brasil. Embora planejada para abrigar o campo de ensino em arquitetura e urbanismo, o edifício atende atualmente também à Reitoria e à Escola de Belas Artes.

A edificação é composta por 3 blocos, sendo um bloco principal de 8 pavimentos e área de 33.600 m² e 46 m de altura; um segundo de 2 pavimentos, com térreo em

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pilotis e área de 2.282 m²; e um terceiro com área de 18.100 m² (UNIVERSIDADE DO BRASIL, 1953).

A biblioteca foi aberta juntamente com a inauguração do edifício, mas parte do seu acervo tem origem na Academia de Belas Artes criada em 1816. Ao longo do tempo, especialmente com a separação em Faculdade de Arquitetura e Escola de Belas Artes (EBA), ocorrida em 1945, o acervo foi dividido. No ano 2000, passou a ser denominada Biblioteca Lúcio Costa, em homenagem a um dos primeiros diretores na Faculdade (BIBLIOTECA LÚCIO COSTA, 2014).

Instalada no segundo pavimento, a biblioteca teve uma expansão em 2008 que a permitiu ocupar parte do mezanino da edificação. Atualmente, o espaço possui um acervo de cerca de 12000 títulos e, em uma área de cerca de 538,00 m², ele abriga não somente o acervo da FAU, mas também da EBA – desde o ano de 2006 – e possui os setores de leitura, administrativo e consulta/acervo e serviços (Figura 2). Hoje, existe a previsão de uma nova expansão que, uma vez concretizada, permitirá à nova biblioteca ocupar uma área total de 1.943,59 m², reunindo os acervos da FAU, da EBA e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR).

Figura 2: Planta-baixa da Biblioteca Lúcio Costa FAU/UFRJ Fonte: arquivo pessoal

4 Materiais e métodos

A metodologia de pesquisa escolhida para a investigação da imagem, representação social e qualidade do ambiente da Biblioteca Lucio Costa FAU/UFRJ foi a avaliação pós-ocupação, com base nas ferramentas que utilizam o desenho como forma de expressão e análise. A partir disso, o mapa mental foi adotado para a compreensão da

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imagem do ambiente para os usuários e o poema dos desejos para registrar seus anseios e demandas. A aplicação dessas ferramentas em conjunto com outras, tais como entrevistas e questionários, visaram proporcionar o entendimento acerca da avaliação do ambiente pelos respondentes discentes, docentes e/ou visitantes.

A pesquisa de campo foi empreendida entre os meses de novembro e dezembro de 2014, por meio de três visitas à área de trabalho. Ao final foram reunidas informações importantes acerca da imagem e da representação do espaço da biblioteca, informações fundamentais para a compreensão dos aspectos cognitivos com que os usuários se relacionam com o ambiente e também para fundamentar as futuras proposições de melhorias do espaço analisado.

5 Ferramentas de APO baseadas no desenho: análises e recomendações

O Mapa Cognitivo ou Mapa Mental é um dos instrumentos utilizados em avaliação pós-ocupação baseado na elaboração de desenhos ou relatos de um ou mais indivíduos acerca de um determinado ambiente, possibilitando assim reconhecer a representação que os respondentes têm dos espaços analisados. Sua utilização no campo da arquitetura foi difundida por Kevin Lynch, em a "imagem da cidade". Segundo Lynch, todos possuímos uma imagem da cidade onde vivemos na memória, e através dessa imagem podemos nos orientar ao andarmos por ela.

O Mapa mental foi aplicado em grande parte para uma turma de primeiro período da graduação de Arquitetura e Urbanismo e também para bolsistas de pesquisas desenvolvidas no PROARQ/FAU/UFRJ. Os usuários foram abordados com uma cópia do instrumento, que havia a seguinte questão aberta: "Qual a imagem que você tem da biblioteca FAU/EBA/UFRJ?", a ser respondida através de desenhos e/ou relatos escritos, com o objetivo de perceber o quanto se conhece do ambiente analisado, através da memória. Foram aplicados por volta de 16 fichas, apenas para os alunos do curso de arquitetura, por maior facilidade de acesso ao respectivo curso, sem a identificação dos respondentes.

Um fato curioso que deve ser mencionado foi em relação ao pouco interesse por parte dos respondentes em relação ao desenho, em um ambiente onde acredita-se inicialmente a facilidade com tal habilidade, uma faculdade de arquitetura. Em grande parte os respondentes preferiram relatar suas impressões por meio da escrita e nem tanto com recursos gráficos, embora tenha sido explicitado que os desenhos não

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91 estariam sendo avaliados pela sua qualidade gráfica e sim pelos seus significados, buscando compreender quais eram as relações dos mesmos com o ambiente em questão. Dado a possibilidade de responderem através da escrita, muitos se sentiram mais confortáveis com a atividade. A seguir um exemplo de ficha respondida pelos alunos e seus resultados obtidos (Figura 3).

Figura 3: Mapa mental ou mapa cognitivo Fonte: arquivo pessoal

Para uma melhor leitura dos resultados obtidos, buscou-se categorizar os aspectos, positivos e negativos, recorrentes nas fichas. Os elementos mais presentes foram: 1) qualidade do acervo; 2) iluminação; 3) dimensionamento; 4) conforto térmico; 5) aparência; 6) organização espacial; 7) relação com o exterior; 8) equipamentos e infraestrutura; 9) sistema de busca (acervo); 10) mobiliário; 11) aspectos subjetivos.

Através da análise dos resultados pode-se perceber que os respondentes não encontram muitos aspectos positivos referentes ao ambiente da biblioteca. Uma das categorias mais avaliadas negativamente é a categoria 3 (organização espacial). Muitos discursos como "espaço apertado", "espaços vazios", "desorganizada", foram utilizados para avaliar a setorização dos espaços, o layout da biblioteca e o uso que se faz deles. Uma outra categoria que merece atenção é a categoria 8 (equipamentos e infraestrutura). A falta de computadores com internet para o auxílio das pesquisas individuais e/ou em grupo, bem como a ausência de rede wi-fi nas dependências da biblioteca são itens bastante recorrentes nas fichas. A precariedade de tomadas próximas às mesas de estudo também são assinaladas.

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92 Outro aspecto percebido foi a falta de uma setorização mais bem definida dos espaços, como espaço de leitura, de estudo em grupo e de convívio. Porém nos desenhos percebe-se que alguns dos respondentes parecem compreender a setorização existente da sala de leitura o que pode indicar uma relação de apropriação desse setor por parte dos usuários. O que não acontece com a parte onde se localiza o acervo da biblioteca, onde alguns respondentes desenharam tal espaço com o tamanho menor em relação à sala de leitura (Figura 4), quando o correto é justamente o contrário. Tal característica nos mostra aqui talvez quase que uma desapropriação desse espaço.

Figura 4: Relação de proporção entre o acervo e a sala de estudos, pela percepção dos

respondentes

Fonte: arquivo pessoal

Outras questões como o conforto térmico (categoria 4) são também mencionados a medida em que alguns respondentes salientam a falta de um sistema de ar condicionado na biblioteca, pois em dias muito quentes o ambiente se torna muito abafado, prejudicando a concentração necessária para a realização das atividades nela existentes. Já na categoria 2 (iluminação), embora alguns respondentes se mostrem bastante satisfeitos com a luminosidade da sala de leitura, a "escuridão" do acervo é também bastante mencionada, e essa relação entre muito claro-muito escuro possui certa recorrência nas fichas.

O Poema dos Desejos ou Wish Poem foi desenvolvido por Henry Sanoff e é um dos instrumentos utilizados em Avaliações Pós-Ocupação. Este consiste em um instrumento não estruturado e de livre expressão que incentiva e se baseia na espontaneidade das respostas. Sua aplicação visa que usuários de um determinado

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ambiente declarem, por meio de um conjunto de sentenças escritas ou de desenhos, suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou ambiente analisado. Esta técnica proporciona a identificação de um imaginário coletivo, possibilitando construir, após sua análise, a imagem do ambiente ideal a ser replanejado ou construído (RHEINGANTZ et. al., 2009).

O Poema dos Desejos é essencial na etapa de programa de um projeto de arquitetura, onde busca-se captar ao máximo as necessidades e anseios dos usuários do ambiente a ser analisado. Tal ferramenta é includente e pluralista, pois as experiências e saberes dos usuários e atores envolvidos no processo são compartilhados e o projeto passa a ter um caráter social participativo (RHEINGANTZ et. al., 2009).

Optou-se por utilizar a técnica por se tratar de uma análise rápida e eficaz sobre as prospecções dos usuários que, durante a aplicação, receberam uma cópia do instrumento com a seguinte questão aberta a ser completada: "Eu gostaria que a biblioteca da FAU/EBA UFRJ...". Sobre a aplicação do instrumento (Figura 5), esta foi realizada de maneira prática e eficiente, possibilitando identificar situações de representações e avaliações positivas e negativas do ambiente recorrentes para os usuários e fazer inferências através da observação no local.

Figura 5: Poema dos desejos ou Wish poem Fonte: arquivo pessoal

Durante a tabulação dos dados, observou-se que a maior parte dos respondentes preferiu se expressar por meio da escrita e não do desenho, sendo 19 versus 4, respectivamente. Mesmo os que desenharam descreveram também por

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escrito algumas informações. As respostas foram agrupadas de acordo com as informações semelhantes e recorrentes, construindo uma categorização dos resultados de ordem qualitativa. A partir da análise dos resultados, é possível identificar que os elementos mais mencionados foram: 1) equipamentos e infraestrutura; 2) organização espacial; 3) mobiliário; 4) conforto térmico; 5) iluminação; 6) conforto acústico; 7) sistema de buscas; 8) dimensionamento/ ampliação; 9) relação com exterior e aparência; 10) qualidade do acervo; 11) manutenção e horário de funcionamento.

Observou-se que os usuários, quase em sua totalidade, desejam adequações que se refletem principalmente no melhor uso das tecnologias (computadores, wi-fi e tomadas), possivelmente por esses elementos se apresentarem de forma escassa e não atendendo às demandas dos usuários. Muitos também descreveram seu desejo por uma melhor setorização das áreas hoje existentes e a criação de novos espaços, como o de estudo individualizado.

Assim, observa-se que os alunos desejam espaços separados por territórios, atendendo a diferentes funções, sem que uma interfira na outra e todas sejam passíveis de realização. Mais do que isso, anseiam por mobiliários que se adequem a diferentes possibilidades das áreas de estudo. Também foram mencionados desejos de melhoria de conforto ambiental, como térmico, lumínico e acústico. O salão de estudos é claro, iluminado natural e artificialmente, porém, alguns alunos colocaram que o excesso de luz causa ofuscamento e poderia ser algo a se pensar em projetos futuros. Há ainda os que reclamam dos ruídos das conversas enquanto estudam, entretanto, muitos pedem um espaço em que possam conversar.

6 Conclusão

A aplicação da APO, com base nas ferramentas que utilizam o desenho como forma de expressão, revelou-se bastante pertinente na caracterização e avaliação do ambiente construído. Os instrumentos aplicados permitiram a percepção de diversos aspectos cognitivos na interação homem-ambiente construído. Através do desenho podemos perceber diversos fatores na avaliação, que um simples relato talvez não conseguisse expressar, tais como a proporção dos espaços percebidos, e a importância dos ambientes mais valorizados ou rejeitados pelos usuários por exemplo.

Com o estudo foi possível compreender o modo como os usuários se apropriam do espaço físico da Biblioteca Lúcio Costa da FAU/UFRJ, e os aspectos positivos e

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negativos dessa interação. Uma vez aplicadas as duas ferramentas descritas, em conjunto com outras, foi possível identificar pontos que apresentam características desfavoráveis aos usuários e apontar recomendações de adequações que podem ser consideradas em projetos futuros nesta e em outras bibliotecas similares.

As análises e recomendações realizadas apontam caminhos para que o ambiente se torne menos impessoal e mais adequado às demandas existentes, considerando as necessidades e também as aspirações de quem o habita.

7 Referências

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GUARESCHI, P. Representações e ideologia. Revista de Ciências Humanas, 2000. MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

JODELET, Denise. O movimento de retorno ao sujeito e a abordagem das representações sociais. Sociedade e estado, Brasília. 2009, vol.24, n.3, pp. 679-712. ISSN 0102-6992.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Editado em inglês por Gerard Duveen; traduzido do inglês por Pedrinho A. Guareschi. 11. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

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