• Nenhum resultado encontrado

Modelos de negócios aplicados a empreendimentos de economia solidária: um estudo de caso na comunidade do Preventório

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Modelos de negócios aplicados a empreendimentos de economia solidária: um estudo de caso na comunidade do Preventório"

Copied!
63
0
0

Texto

(1)

JOHN LENNON SPECHT ALTRO

MODELOS DE NEGÓCIOS APLICADOS À EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE DO

PREVENTÓRIO

Projeto Final apresentado ao curso de Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Engenheiro de Produção.

Orientador:

Prof. Dr. Marco Aurélio Cabral

Coorientadora:

Prof. Dr. Elaine Araújo

Niterói

(2)

JOHN LENNON SPECHT ALTRO

MODELOS DE NEGÓCIOS APLICADOS À EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE DO

PREVENTÓRIO

Projeto Final apresentado ao curso de Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Engenheiro de Produção.

Aprovado em 09 de janeiro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof. Dr.MARCO AURÉLIO CABRAL - UFF

Orientador

___________________________________________________________________________

Prof. Dra.ELAINE APARECIDA ARAÚJO - UFF

Coorientadora

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. FERNANDO TOLEDO FERRAZ - UFF

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. OSVALDO LUIZ GONÇALVES QUELHAS- UFF

Niterói 2017

(3)
(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço, sobretudo, a Deus, que me permitiu chegar até aqui, transpondo todos os desafios ao longo desta árdua jornada.

À minha mãe e irmãs, por sempre estarem ao meu lado, apoiando-me diante das dificuldades desse caminho. Obrigado pela confiança e por jamais terem desacreditado de mim.

Aos meus amigos por todo o apoio, pelas palavras de autoestima e por jamais permitirem que eu me esqueça do que realmente importa na vida.

À minha coorientadora, professora Elaine, não somente pela oportunidade de participar de seu projeto do qual surgiu este trabalho, mas também por todo o apoio prestado. Seu tempo, paciência e atenção foram imprescindíveis para a execução deste trabalho.

Ao professor Marco Aurélio pela orientação e insights para o direcionamento deste trabalho.

À Universidade Federal Fluminense pelas vivências e oportunidade de conhecer pessoas incríveis, desde alunos à professores, além das diversas oportunidades de aprendizado e crescimento dentro e fora de sala de aula. Este projeto é um resultado do que foi aprendido, sobretudo, fora das paredes de sala.

(5)

RESUMO

A economia solidária surgiu na Europa durante o século XIX, enquanto no Brasil, este movimento ganhou força ao final do século XX. Neste contexto, surgem, no Brasil, os Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs). A gestão em empreendimentos de economia solidária (EES) ocorre de forma intuitiva, havendo carência de estudos que investiguem a aplicação de técnicas formais de gestão ao contexto destes empreendimentos. O objetivo deste trabalho é contribuir no preenchimento desta lacuna, propondo a aplicação de uma ferramenta de modelo de negócio, mais especificamente no âmbito de um banco comunitário. Para atingir este objetivo, aplicou-se o método Business Model Canvas (BMC) no Banco Comunitário do Preventório. Desta forma, foi possível a identificação de potencialidades e insumos necessários à elaboração de estratégias para o banco. Embora não haja sido necessária qualquer alteração à estrutura da ferramenta, alguns conceitos precisaram ser adaptados para que sua aplicação contemplasse as peculiaridades relacionadas ao contexto da economia solidária. Este trabalho contribui para o entendimento e delineamento do modelo de negócio em bancos comunitários, insumo necessário ao desenvolvimento de ferramentas e técnicas de gestão aplicáveis a empreendimentos de economia solidária, campo de estudo carente de pesquisas que reflitam sua realidade.

Palavras-chave: economia solidária, empreendimentos econômicos solidários, banco comunitário, business model canvas

(6)

ABSTRACT

Solidary economy emerged in Europe during the nineteenth century, while in Brazil this movement gained momentum at the end of the twentieth century. In this context, the Community Development Banks (BCDs) emerged in Brazil. Solidary economy business (EES) management occurs intuitively, and there is a lack of studies that investigate the application of formal management techniques to the context of theses business. The purpose of this paper is to contribute to fill this gap by proposing an application of a business model tool, specifically in the community bank scope. For this purpose, the Business Model Canvas (BMC) method is applied in the Banco Comunitário do Preventório. In this way, it was possible to identify potentialities and inputs for the development of strategies for the bank. Although there has been no change in the structure of the tool, some concepts are necessary to be applied in contemplation as peculiar aspects related to the context of the solidarity economy. This work contributed to the understanding and delineation of the business model in community banks, the necessary input for the development of tools and techniques of management of enterprises of solidarity economy, field of study lacking research that reflect their reality.

Keywords: solidarity economy, solidarity economic business, community bank, business model canvas

(7)

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS...9 LISTA DE QUADROS...10 LISTA DE GRÁFICOS...11 LISTA DE SIGLAS...12 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO...13

1.1. APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA...13

1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA...14

1.3. OBJETIVOS, DELIMITAÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO...14

1.3.1. Objetivos Específicos...15

1.4. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO...15

CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA...16

2.1. ECONOMIA SOLIDÁRIA...16

2.1.1. Empreendimentos Econômicos Solidários...17

2.2. BANCOS COMUNITÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO (BCDs)... 19

2.3.1. Crédito Social... 22

2.3.2. Moeda Social... 24

2.3.3. Moeda Social Eletrônica... 25

2.4. MODELO DE NEGÓCIO...28

2.5. BUSINESS MODEL CANVAS...30

2.5.1. Adaptações do Business Model Canvas... 33

CAPÍTULO III – METODOLOGIA...37

3.1. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA...37

3.2. ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA... 37

3.3. COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS...38

3.4. LIMITAÇÕES DO MÉTODO... 39

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DE RESULTADOS...41

4.1. BANCO COMUNITÁRIO DE DESENVOLVIMENTO DO PREVENTÓRIO...41

4.1.1. A origem do Banco Comunitário do Preventório a partir de uma parceria Ampla e IEES/UFF... 41

(8)

4.1.3. Desafios encontrados... 43

4.2. BUSINESS MODEL CANVAS DO BANCO COMUNITÁRIO DO PREVENTÓRIO... 44

4.2.1. BMC “AS IS” do BCP... 45

4.2.2. BMC “TO BE” do BCP... 53

4.2.3. Implicações do Processo... 56

4.2.4. Síntese dos Resultados... 56

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO...58

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Bussiness Model Canvas. ... 30

Figura 2 - Ferramenta Business Model Canvas. ... 31

Figura 3 - Roteiro de perguntas a ser respondida durante a construção do BMC. ... 32

Figura 4 - Estrutura do Circular Business Model Canvas. ... 34

Figura 5 - Camada econômica do triple layered business model canvas da Nespresso. ... 35

Figura 6 - Camada ambiental do triple layered business model canvas da Nespresso. ... 36

Figura 7 - Camada social do triple layered business model canvas da Nespresso. ... 36

Figura 8 - Etapas do Momento Teórico da Pesquisa. ... 38

Figura 9 - Etapas do momento empírico da pesquisa. ... 38

Figura 10 – BMC “AS IS” do Banco Comunitário do Preventório. ... 45

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Diferenças entre o sistema financeiro tradicional e o setor de microfinanças. ... 22

Quadro 2 - Resumo dos tipos de crédito oferecidos pelo Banco Palmas. ... 23

Quadro 3 - Tipos de crédito mais solicitados. ... 25

Quadro 4 - Benefícios esperados a partir da implementação da Moeda Social Eletrônica, a partir das ótica de Diniz (2016) e de Oliveira (s.d). ... 27

Quadro 5 - As diferentes visões sobre os componentes dos modelos de negócios. ... 29

Quadro 6 - Etapas do processamento de dados. ... 39

Quadro 7 - Segmento de Clientes do BMC "AS IS" do BCP. ... 46

Quadro 8 - Proposta de Valor do BMC "AS IS" do BCP. ... 47

Quadro 9 – Campo “Relacionamento com os clientes” do BMC "AS IS" do BCP. ... 48

Quadro 10 - Campo “Canais de comunicação” do BMC "AS IS" do BCP. ... 48

Quadro 11 - Campo “Estrutura de receitas” do BMC "AS IS" do BCP. ... 49

Quadro 12 - Campo “Parceiros chave” do BMC "AS IS" do BCP. ... 50

Quadro 13 - Campo “Estrutura de receitas” do BMC "AS IS" do BCP. ... 51

Quadro 14 - Campo “Recursos chave” do BMC "AS IS" do BCP. ... 52

Quadro 15 - Campo “Estrutura de custos” do BMC "AS IS" do BCP. ... 52

Quadro 16 – Comparação entre a descrição dos campos do BMC proposta por Gonçalves (2011) e interpretação dos associados do BCP. ... 57

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1– Quantidade de empreendimentos econômicos solidários no Brasil, por tipo. ... 19 Gráfico 2 - Tipos de crédito mais solicitados. ... 23

(12)

LISTA DE SIGLAS

BCDs – Bancos Comunitários de Desenvolvimento

BCP – Banco Comnutário do Preventório

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BMC – Business Model Canvas

EES – Empreendimentos Econômicos Solidários

IEES/UFF – Incubadora de Empreendimentos em Economia Solidária da UFF

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

(13)

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Compreendida como uma alternativa real à crise do desemprego (FRANÇA FILHO, 2004; SINGER, 2000), a economia solidária caracteriza-se por um modelo onde permeiam práticas associativas e colaborativas, visando o alcance de interesses comuns, distintos dos objetivos capitalistas.

De acordo com França Filho (2004), o tema da economia solidária tem ganhado visibilidade e já existem publicações acadêmicas em diversos campos de estudos como economia, sociologia ou administração.

Por outro lado, nota-se uma carência de estudos que reflitam e contribuam para a gestão nas organizações no âmbito da economia solidária (PINHEIRO, 2015b; COSTA, 2003), apesar do aumento destas nas últimas décadas (PINHEIRO, 2015). Estas organizações, também denominadas empreendimentos econômicos solidários (EES), são caracterizadas por suas “relações cooperativas, democráticas e equitativas” (PINHEIRO, 2015).

Embora haja inúmeros estudos e ferramentas sobre a gestão no campo da administração tradicional, aplicados aos empreendimentos capitalistas, é importante ressaltar que este arcabouço não se adequa aos EES, uma vez que possuem necessidades e estruturas distintas (RUTKOWSKI, 2008).

Rutkowski (2008) afirma que o modelo de gestão para os EES requer uma racionalidade substantiva, ou seja, na qual a eficiência baseia-se na primazia do trabalho sobre o capital, e que a organização do trabalho se comprometa com o coletivismo, ao invés de uma racionalidade instrumental, que “resulta na vigência dos processos tradicionais de fragmentação do trabalho” (RUTKOWSKI, 2008).

Os EES, por apresentarem uma condição de fragilidade, demandam uma atenção especial para fatores inerentes a sua sustentabilidade econômica (COSTA, 2003). Costa (2003), Pinheiro e Paula (2015) corroboram esta afirmativa ao identificarem uma carência de estudos referentes às questões de natureza administrativa e gerencial nos empreendimentos de economia solidária.

Pinheiro (2015), através de estudos de Andion (1998), Moura e Meira (2002, 2005) e Costa (2004), apud Pinheiro (2015), mostra que, há mais de 15 anos, estudiosos continuam

(14)

identificando lacunas na literatura no que tange o desenvolvimento de instrumentos e técnicas que atendam às demandas da economia solidária.

1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

Embora haja farta literatura sobre empreendimentos de economia solidária e sobre gestão organizacional, ainda há carência de técnicas e ferramentas de gestão voltadas especificamente para os EES.

De acordo com Rutkowski (2008), parte relevante das ferramentas de gestão, voltadas para empreendimentos capitalistas, não contemplam aspectos relevantes considerados em EES, que Lechat (2012) afirma ser devido aos seus distintos objetivos.

Em contrapartida, pretende-se apresentar uma ferramenta de gestão voltada a modelos de negócios, bastante difundida, atualmente, na administração tradicional, a fim de identificar possíveis lacunas e possibilidade de adequação a um EES, caso necessário.

Neste sentido, tomando-se do conjunto de EES localizadas no Brasil, pergunta-se quais as peculiaridades relacionadas à construção de modelos de negócio nestes empreendimentos.

1.3. OBJETIVOS, DELIMITAÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

O presente estudo pretende construir o modelo de negócio do Banco Comunitário do Preventório (BCP), através da metodologia Business Model Canvas (BMC), a fim de estabelecer uma análise de forma conjunta aos associados deste empreendimento, identificando potencialidades do empreendimento e fornecendo insumos necessários ao planejamento de estratégias de curto, médio e longo prazos.

Por outro lado, pretende-se verificar, também, as limitações na aplicação da ferramenta em um EES, e identificar quais seriam as lacunas na aplicação do BMC, se houverem, buscando adaptá-lo ao contexto do empreendimento estudado.

Desta forma, este estudo permitirá a customização de uma importante ferramenta de gestão para um ambiente que carece de instrumentos gerenciais adequados a sua realidade.

É válido destacar que este trabalho posiciona-se na área de conhecimento “Engenharia Organizacional” dentro da engenharia de produção (ABEPRO, 2017).

(15)

1.3.1. Objetivos Específicos

O presente estudo deverá necessariamente atender aos seguintes objetivos específicos: ▪ expor os conceitos relacionados ao BMC para todos os associados do BCP; ▪ promover a reflexão e análise crítica sobre o modelo de negócio do BCP entre seus associados;

▪ consolidar a elaboração do modelo de negócio do BCP;

▪ identificar as possíveis lacunas existentes na aplicação do BMC em um EES.

1.4. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho é apresentado em 5 capítulos, a saber:

Capítulo 1: consiste na introdução e contextualização do cenário atual referente ao arcabouço instrumental de gestão para EES, além da apresentação da situação-problema e a justificativa para a realização de tal estudo. São também expostos os objetivos que se desejam alcançar, além da importância, delimitação do estudo e alguns questionamentos que direcionarão a pesquisa.

Capítulo 2: aqui se realiza uma varredura na literatura acerca de estudos sobre economia solidária e modelos de negócios, em busca de subsídio teórico para fundamentação do presente trabalho, como o estudo da metodologia a ser aplicada, e conceitos fundamentais ao desenvolvimento da pesquisa.

Capítulo 3: neste momento, é classificada a pesquisa e detalhada a metodologia aplicada, através das etapas percorridas para o alcance dos objetivos pretendidos no trabalho.

Capítulo 4: neste capítulo é realizado o estudo de caso, apresentando a empresa estudada, de forma sumarizada, e logo, são apresentados os resultados da aplicação da ferramenta Business

Model Canvas. Ao final do capítulo, tem-se uma análise dos resultados obtidos, de acordo com

a metodologia definida na etapa anterior.

Capítulo 5: o último capítulo exprime a conclusão do estudo, descrevendo os resultados das análises realizadas, principalmente referentes aos objetivos do trabalho.

(16)

CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA

2.1. ECONOMIA SOLIDÁRIA

Segundo Gaiger (2013), desde o século XIX, uma economia, caracterizada por estratégias associativas e cooperativas vem evoluindo, como um meio alternativo à economia capitalista. Esta economia impulsionou-se na segunda metade dos anos 1990 (SINGER, 2000), por meio de iniciativas econômicas caracterizadas pela forma de associação e suas práticas de cooperação e autogestão (GAIGER, 2013). Para Singer (2000), este avanço nesta economia resultou, no Brasil, de “movimentos sociais de reação à crise de desemprego em massa, em 1981, e se agravando com a abertura do mercado interno às importações, a partir de 1990” (SINGER, 2000:25).

Esta nova economia busca “assegurar condições de vida e, sobretudo, manter vigentes princípios de produção de bens, de organização do trabalho e de circulação da riqueza distintos da racionalidade estrita do capital” (GAIGER, 2013, p. 212).

Este novo modelo, onde permeiam organizações de caráter cooperativo e associativo, é denominado economia solidária. Outros autores como Lechat (2012), por exemplo, ressaltam a singularidade da lógica das atividades econômicas deste modelo, se comparado à lógica capitalista de mercado. Enquanto este se caracteriza pela acumulação de capital e tem como objetivo o alcance de interesses individuais, a economia solidária busca a partilha das sobras (“lucros”) e o alcance de interesses comuns.

França Filho (2002) caracteriza a economia solidária como uma “hibridação de economias”, a partir de suas fontes de captação de recursos, que combinam a economia mercantil, não mercantil e não monetária (FRANÇA FILHO, 2002). Para Coelho e Godoy (2011), a economia solidária constitui um espaço que não é só econômico, mas de “recuperação e de ressignificação de valores e práticas sociais sucateadas pelo capitalismo” (COELHO & GODOY, 2011).

A Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) define economia solidária como um conjunto de atividades econômicas, implementadas por trabalhadores de forma solidária, coletiva e autogestionária. O Ministério de Trabalho e Emprego (MTE) apresenta uma definição bastante semelhante: “compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizado sob a forma de autogestão” (MTE, 2016).

(17)

O MTE (2016) e a SENAES (2016) ressaltam, ainda, nestes espaços, a presença de quatro importantes características: cooperação, autogestão, viabilidade econômica e solidariedade. Estas características são descritas a seguir:

• Cooperação: se opõem à competição, ou seja, busca-se o trabalho colaborativo, com vistas a interesses e objetivos comuns, a partir da união de esforços e capacidades. • Autogestão: as tomadas de decisão são realizadas de forma coletiva, impedindo sua

centralização em um indivíduo. Desta forma, todas as definições desde as de nível estratégico ao mais operacional são tomadas em conjunto.

• Dimensão Econômica: contempla a agregação de esforços e recursos motivados economicamente, como atividades de produção, prestação de serviços, crédito, a comercialização, trocas e consumo.

• Solidariedade: abrange a preocupação com melhoria do bem-estar dos envolvidos, distribuição justa dos resultados, envolvimento em movimentos sociais e populares e busca de um meio ambiente saudável.

A partir das características mencionadas pelos diferentes autores a respeito do conceito de economia solidária, depreende-se que esta caracteriza-se não somente pela democratização da economia, dada pela reorganização do trabalho e partilha social das riquezas dele proveniente, mas, também, pelo resgate de práticas sociais e culturais, outrora, marginalizadas pelo capitalismo.

2.1.1. Empreendimentos Econômicos Solidários

No Brasil, a economia solidária vem abrangendo vários tipos de organização, desde pequenos empreendimentos informais, associações de produtores e consumidores, até grandes fábricas que, por vezes, entraram em processo de falência e vieram a ser recuperadas por seus empregados que, por sua vez, tornaram-se associados da companhia.

Neste sentido, um empreendimento econômico solidário pode ser entendido como “uma sociedade de pessoas que se associam e cooperam reciprocamente tendo como objetivo a reprodução ampliada da vida” (TIRIBA; ICAZA, 2009). Para Gallo (2003) estes empreendimentos oferecem alternativas de geração de trabalho e renda à uma parte da população à margem do sistema.

(18)

O MTE (2016) caracteriza os empreendimentos econômicos solidários como organizações:

▪ Coletivas e suprafamiliares: devem ser compostas por mais de duas pessoas que não pertençam à mesma família;

▪ Em que os envolvidos sejam trabalhadores dos meios urbano ou rural;

▪ Em que haja gestão democrática das atividades e distribuição justa dos resultados;

▪ Que seja focada na realização de atividades econômicas, de modo permanente.

No Brasil, de acordo com o último mapeamento realizado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), existem 19.708 empreendimentos econômicos solidários (SENAES, 2016).

De acordo com o MTE (2016), os EES estão geralmente organizados em cooperativas, associações, grupos informais e sociedade mercantis.

Embora as cooperativas e associações sejam as formas legalizadas de organização, as primeiras apresentam finalidade essencialmente econômica, além de ser composta por, no mínimo, vinte integrantes. As associações, por outro lado, podem ser compostas a partir de dois integrantes e seu gerenciamento pode dar-se de forma mais fácil. Contudo, estas agem em prol de objetivos sociais e não apresentam capital social, dificultando a obtenção de financiamento junto à bancos (SEBRAE, 2016).

Os grupos informais, de forma distinta às outras organizações apresentadas, não possuem reconhecimento legal. Podem constituir-se como uma alternativa inicial às cooperativas, dada a quantidade insuficiente de integrantes. Porém, o fato de não obter um registro legal impossibilita qualquer opção de obtenção de crédito bancário e a realização de investimentos (GODOY, 2009).

O gráfico 01, a seguir, ilustra a quantidade de empreendimentos, por classificação, de acordo com o MTE:

(19)

Gráfico 1– Quantidade de empreendimentos econômicos solidários no Brasil, por tipo. Fonte: Adaptado MTE, 2016.

2.2. BANCOS COMUNITÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO (BCDs)

Baseados no apoio às iniciativas de economia solidária (MELO NETO & MAGALHÃES, 2006), os bancos comunitários surgem como uma tecnologia social, possibilitando a minimização das características excludentes do capitalismo. Desta forma, os bancos comunitários tornaram-se um instrumento da economia solidária.

Melo Neto e Magalhães (2006) apresentam a seguinte definição para bancos comunitários:

“Bancos Comunitários são serviços financeiros solidários, em rede, de natureza associativa e comunitária, voltados para a geração de trabalho e renda na perspectiva de reorganização das economias locais, tendo por base os princípios da Economia Solidária”. (MELO NETO & MAGALHÃES, 2006, p. 12).

Ainda de acordo com estes autores, o objetivo destes bancos é promover o desenvolvimento de comunidades vulneráveis economicamente, por meio do “fomento à criação de redes locais de produção e consumo” (MELO NETO & MAGALHÃES, 2006).

Desta forma, os bancos comunitários atuam de forma alinhada aos empreendimentos econômicos solidários, permitindo a implementação e desenvolvimento destes, através da disponibilização de recursos, por vezes, não disponíveis em fontes de âmbito capitalista.

É importante ressaltar que estes mesmos bancos também disponibilizam recursos (microcrédito) para os potenciais consumidores da área de influência dos EES, atuando como um instrumento de incentivo ao consumo local, permitindo a circulação de riqueza na comunidade e, portanto, promovendo o desenvolvimento local. Ou, nas palavras de Melo Neto e Magalhães

6.018

11.823

1.740

127

19.708

Grupo Informal Associação Cooperativa Sociedade mercantil

Nº EES

(20)

(2006), “estimula as pessoas a produzirem e consumirem na própria comunidade, criando um circuito financeiro gerador de desenvolvimento local”

Os BCDs, se comparados aos bancos tradicionais, possuem algumas características peculiares como: taxas de juros inferiores às de mercado, sistema de crédito socialmente justo e metodologia de análise de crédito diferenciada. De acordo com Melo Neto e Magalhães (2006), a análise de crédito dos BCDs verifica a confiabilidade do potencial cliente através da relação de vizinhança e proximidade com a comunidade, através de uma espécie de aval da vizinhança, o que se diferencia bastante dos instrumentos tradicionais de análise de crédito nos bancos tradicionais.

É válido destacar também que os recursos, resultados e gestão dos BCDs pertencem à comunidade, uma vez que estes apresentam, ainda, a autogestão como característica fundamental ao seu funcionamento, ou seja, suas ações são permeadas pela participação ativa da comunidade e pelo controle social (SANTOS, 2014).

Segundo Silva JR. (2007), as seguintes modalidades de produtos e serviços financeiros são oferecidas pelo banco comunitário:

▪ Moeda social circulante local;

▪ Crédito para financiamento de empreendimentos solidários; ▪ Crédito para consumo pessoal e familiar (sem juros); ▪ Cartão de crédito popular solidário;

▪ Abertura e extrato de conta corrente; ▪ Depósito em conta corrente;

▪ Saque avulso ou com cartão magnético.

Entretanto, para disponibilizar crédito a taxas acessíveis e manter o banco, faz-se necessário a captação de recursos públicos e a constituição de um fundo solidário de investimento comunitário (SANTOS, 2014). O fundo é proveniente das seguintes fontes (SILVA JR.,2006):

▪ Doações de pessoas físicas e jurídicas;

▪ Cotizações de associados (pessoas físicas e/ou jurídicas);

▪ Parcerias com o governo local, empresas e/ou entidades do terceiro setor.

É importante destacar que, embora os bancos comunitários sejam geridos pelos próprios moradores da localidade onde este está estabelecido, todos os bancos comunitários no Brasil

(21)

seguem as diretrizes que são repassadas pelo Instituto Banco Palmas, primeiro banco comunitário do país (INSTITUTO BANCO PALMAS, 2016).

O Instituto Palmas é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de microcrédito, sem fins lucrativos, sediada em Fortaleza-CE, cujo objetivo é a difusão das práticas de Economia Solidária do Banco Palmas. Por tratar-se de uma OSCIP, o Instituto Palmas pode firmar parcerias com o setor público e privado (bancos), captando recursos e tecnologias para os bancos comunitários que fazem parte da rede (INSTITUTO BANCO PALMAS, 2016).

A partir dos fatores elencados, pode-se perceber a importância dos bancos comunitários como mecanismo de desenvolvimento da economia solidária, seja como veículo de fomento para a circulação de renda, ou como instrumento público de articulação política, no qual são discutidos os problemas das comunidades e possíveis alternativas para solucioná-los.

2.3. MICROCRÉDITO

O advento de tecnologias sociais como o microcrédito permitiu a milhões de indivíduos o acesso a crédito, dado a falta de acesso ao sistema financeiro tradicional. O conceito de microcrédito pode ser entendido como um serviço financeiro de pequena escala, ou seja, que envolva valores baixos, destinado a pessoas de baixa renda (NERI et al, 2008).

Para Pacheco (2011), o microcrédito trata-se de uma modalidade de microfinanças - que compreende uma gama de serviços financeiros como microsseguros, micropoupanças, crédito imobiliário, entre outros -, voltada ao atendimento de clientes não atendidos pelo setor bancário tradicional, através do fornecimento de pequenos empréstimos (PACHECO, 2011).

Segundo Zouain e Barone (2007), o microcrédito pode ser utilizado como ferramenta de inclusão social, consistindo em um crédito produtivo ou crédito de consumo, “concedido por uma metodologia assistida, onde o agente de crédito (funcionário da instituição) interage com o tomador antes, durante e depois da concessão do crédito” (ZOUAIN & BARONE, 2007).

Fiori, Goldmark e Nichter (2002) destacam as diferenças entre o sistema financeiro tradicional e o de microfinanças no que se refere à metodologia aplicada na concessão de emprésti mos, carteira de empréstimos e características da estrutura das instituições reguladas, conforme ilustra a quadro 1, a seguir:

(22)

Área Sistema Financeiro Tradicional Microfinanças Metodologia para concessão de crédito ▪ Baseado em garantias; ▪ Muita documentação formal;

▪ Menos trabalho intensivo.

▪ Baseado nas características do tomador;

▪ Documentação formal reduzida ao mínimo; ▪ Mais trabalho intensivo;

Carteira de empréstimos ▪ Volume menor de empréstimo; ▪ Valores altos de empréstimos; ▪ Menor volatilidade; ▪ Garantias colaterais; ▪ Prazos longos de vencimento. ▪ Volume maior de empréstimos; ▪ Valores baixos de empréstimos; ▪ Maior volatilidade; ▪ Sem garantias colaterais; ▪ Prazos curtos de vencimento. Características da estrutura das instituições reguladas ▪ Maximização de lucros como objetivo principal; ▪ Criação por transformação

de instituições reguladas; ▪ Organizações centralizadas

com agências em áreas urbanas.

▪ Maioria não tem fins lucrativos;

▪ Criação por transformação de organização não governamental; ▪ Pequenas unidades

descentralizadas em áreas com pouca infraestrutura. Quadro 1 -Diferenças entre o sistema financeiro tradicional e o setor de microfinanças.

Fonte: Fiori, Goldmark e Nichter, 2002.

Em síntese, o microcrédito permite o aumento da capilaridade do sistema financeiro, através da concessão de empréstimos de pequena escala e outros serviços a negócios e famílias tradicionalmente mantidas à margem do sistema financeiro tradicional (NERI et al, 2008).

2.3.1. Crédito Social

De acordo com França Filho e Silva Junior (2009), uma das ações centrais dos bancos comunitários em seu processo de intervenção é o fundo de crédito solidário, pelo qual é disponibilizado o crédito em reais ou em moeda social, uma vez que o banco está ligado a comunidades com pouco ou nenhum acesso financeiro, com alto grau de exclusão social e desigualdade.

(23)

Embora possam existir diversos tipos de crédito oferecidos pelos bancos comunitários de acordo com o programa de cada banco, eles dividem-se em quatro, basicamente, conforme ilustra a quadro 2, a seguir:

Linha de Financiamento em

circulante local

Quem pode acessar Valor Máximo em moeda social Prazo de Pagamento Taxa de administração Crédito Produtivo Qualquer morador do bairro que tenha uma proposta produtiva viável

1000,00 6 meses 1% do total emprestado Crédito Consignado Qualquer trabalhador de instituições/ empresas cadastradas 300,00 30 dias 1% do total emprestado Crédito direto ao consumidor Qualquer morador do bairro 300,00 60 dias 1% do total emprestado Crédito para pagamento

de contas de água e luz

Qualquer morador do

bairro 60,00 30 dias -

Quadro 2 - Resumo dos tipos de crédito oferecidos pelo Banco Palmas. Fonte: França, 2011.

De acordo com Melo Neto e Magalhães (2005), a maior parte destes empréstimos é ligada ao consumo, caracterizado pelas solicitações ligadas à necessidade dos moradores de obterem bens de consumo, alimentação e pagamento de dívidas no comércio, conforme demonstra o estudo dos autores, ilustrado através do gráfico 2, a seguir:

Gráfico 2 - Tipos de crédito mais solicitados. Fonte: Melo Neto e Magalhães, 2005

(24)

Para Melo Neto & Magalhães (2005), a proposta dos bancos comunitários é fornecer crédito sem juros, em caso de moeda social, e com pagamento em até trinta dias, e com juros reduzidos, em caso de moeda oficial, proporcionais à renda do morador em reais, não sendo necessária consulta ao SPC ou à Serasa.

Contudo, para a obtenção de crédito, é realizada uma avaliação do nível de confiança do tomador do empréstimo pelos vizinhos deste, moradores da própria comunidade (MELO NETO & MAGALHÃES, 2005). Além disso, existe também a análise da necessidade deste empréstimo, que avalia sua destinação, o tipo de empreendimento que essa pessoa possui e quanto de dinheiro será realmente necessário para que o mesmo tenha condições de evoluir a partir desta ação (MELO NETO & MAGALHÃES, 2005).

2.3.2. Moeda Social

A moeda social é uma moeda alternativa à moeda oficial corrente e circula livremente por todo o comércio local. Desta forma, é capaz de reter valores dentro da comunidade, promovendo seu desenvolvimento local. Atualmente, existem mais de 104 moedas sociais circulando em pequenos e grandes centro urbanos do Brasil (SOUZA et al, 2016).

Uma das estratégias geralmente utilizadas é a oferta de descontos para os indivíduos que consomem com a moeda social, permitindo a fidelização daqueles que moram no bairro.

De acordo com Melo Neto e Magalhães (2005), esta moeda carrega com ela três novidades principais, que permitiram diferenciais para o sucesso em sua implementação:

▪ tem lastro em reais, ou seja, para uma determinada quantia da moeda social existe uma quantia equivalente no banco comunitário, correspondente à moeda oficial; ▪ o sistema de troca com a moeda social passa a se relacionar diretamente com os

sistemas de crédito do banco comunitário, permitindo que os tomadores de crédito possam optar por uma ou outra moeda;

▪ conversão de moeda social em reais.

De modo geral, a estratégia dos descontos através da moeda social permitiu que as riquezas geradas internamente pela mesma dialoguem com a moeda oficial, de forma que as duas passassem a coexistir no mesmo espaço, mas com finalidades distintas. Enquanto a moeda social objetiva fidelizar os indivíduos no bairro através de privilégios aos que consomem com ela (descontos e crédito nos estabelecimentos, por exemplo), a moeda corrente serve para subsidiar

(25)

novas ações externas ao bairro e para garantir o lastro do banco comunitário (MELO NETO & MAGALHÃES, 2005).

Freire (2010) apresenta um quadro comparativo, ressaltando as principais diferenças entre a moeda oficial e a moeda social, conforme ilustrado, a seguir:

Moeda Oficial Moeda Social

▪ Moeda fiduciária oficial ▪ Complementar à moeda fiduciária oficial ▪ Três funções: unidade de conta, meio de troca

e reserva de valor.

▪ Não cumpre todas as funções da moeda > meio de troca.

▪ Curso legal e uso obrigatório por lei, garantida e monopolizada pelo Estado.

▪ Ninguém é (ou pode ser) obrigado a aceitar moeda social ou a participar de um sistema de moedas sociais.

▪ Conectada diretamente com as finanças públicas (dívida pública e direito público)

▪ Direito dos contratos e direito das obrigações (obrigações privadas e direito privado)

▪ 95% - moeda bancária privada (propriedade privada e dívida privada)

o Depósitos bancários; o Juros compostos;

o Crescimento exponencial.

▪ Reciprocidade, mutualismo (propriedade comunitária)

o Diversos tipos de incentivos à circulação;

o Evita juros compostos;

o Crescimento similar ao da economia real.

▪ Exclusão social

o Pessoas não bancarizadas; o Custo do crédito;

o Concentração financeira.

▪ Inclusão Social > a atividade do sistema funciona de maneira anticíclica

o Nível de emprego na economia formal; o Política monetária;

o Desconcentração financeira. Quadro 3 - Comparação entre moeda oficial e moeda social.

Fonte: Freire, 2010.

Segundo Melo Neto (2005), se a circulação da moeda social se restringir ao bairro, isto permitirá sua transformação em um ativo monetário capaz de potencializar as economias locais e garantir novos investimentos externos o que, caso contrário, dificultaria o desenvolvimento local nessas regiões.

2.3.3. Moeda Social Eletrônica

Uma nova tecnologia social vem emergindo nos bancos comunitários, ampliando o poder de transformação social das comunidades onde é aplicada. Trata-se da moeda social

(26)

eletrônica, um novo meio de pagamento digital. Esta moeda é operacionalizada através de um celular smartphone, a partir de aplicativo específico desenvolvido para este fim (OLIVEIRA, s.d).

No ambiente dos bancos comunitários, ela é denominada como e-dinheiro, embora possa receber outras denominações, de acordo com as característica da comunidade onde é inserida.

Este novo modelo de transação econômica foi integrado pelo Banco Palmas, com a finalidade de viabilizar operações financeiras virtuais, permitindo ampliar a atuação da moeda social junto às comunidades (SOUZA et al, 2016).

De acordo com Oliveira (s.d).:

“O e-dinheiro não é apenas mais uma plataforma de pagamento tradicional, como a dos bancos oficiais, e sim uma moeda social porque fomenta o comércio local, e toda a sua gestão e administração passa pelo controle dos bancos comunitários”. (OLIVEIRA, s.d., p. 12-13)

Diniz et al (2016), a partir de seu estudo exploratório sobre a percepcão dos gestores de bancos comunitários na aplicação da moeda social em celulares, afirma que todos os gestores entrevistados neste estudo apresentaram uma visão transformadora, introduzindo fatores ideológicos e transformacionais, provocando uma ressignificação dos conceitos em que consiste esta nova tecnologia social.

Através do e-dinheiro, o usuário da moeda social pode realizar pagamentos, transferências, depósitos, cobranças, checagem de extrato ou resgates (OLIVEIRA, s.d).

Oliveira (s.d) ainda explica o mecanismo de funcionamento para a realização de compras por meio da moeda socical eletrônica:

“Para fazer as compras por meio do e-dinheiro, basta apenas que o consumidor faça uma espécie de recarga do valor desejado em seu banco comunitário. Esse crédito é automaticamente vinculado ao número de registro do cliente, que a partir desse momento está apto a realizar suas compras”. (OLIVEIRA, s.d., p. 13)

Para cada transação comercial realizada, é descontado do comerciante um percentual referente a valor total da venda, geralmente inferior às taxas cobradas por cartões convencionais. De acordo com Oliveira (s.d), este valor é destinado ao Banco Comunitário para cobrir os custos

(27)

de manutenção do sistema operacional e o excedente é revertido em benefício para o banco e a comunidade.

Com o intuito de apresentar as principais vantagens com a implementação da moeda social eletrônica, foi elaborado o quadro 4, sintetizando seus potenciais benefícios, a partir de duas óticas: a de Diniz (2016), baseada em seu estudo sobre a moeda social no celular, e a de Oliveira (s.d.), baseada no resgate de memória de um dos fundadores do Banco Palma, Joaquim Melo, entrevistado pela autora.

Diniz (2016) Oliveira (s.d)

▪ Penetração mais ampla na comunidade, se comparado às contas bancárias;

▪ Alta densidade de celulares no Brasil (137 a cada 100 habitantes);

▪ Aumento da velocidade de circulação da moeda,

permitindo um aumento ainda maior no desenvolvimento da economia local;

▪ Existência de um arcabouço legal que regulamente estas operações (Lei 12.865/2013);

▪ Evita alguns problemas da moeda impressa, tais como: o Altos custos de emissão da nota;

o Baixa durabilidade das contas impressas; o Eventuais roubos;

o Custos transacionais, logísticos e de gerenciamento. ▪ Limitação de funções do uso da moeda impressa,

reduzindo o poder de transformar economias locais. ▪ O dinheiro digital permite maior escalabilidade;

▪ As moedas digitais permitem melhoras no gerenciamento de crédito, baseado nas informações de circulação de dinheiro na comunidade.

▪ Inclusão financeira;

▪ Facilita a comunicação entre as pessoas através de um chat do próprio aplicativo; ▪ Ecológico por dispensar o uso do papel; ▪ Mais econômico em termos de manutenção

do sistema e mais fácil de operacionalizar; ▪ Possibilita agregar novas formas de trocas

econômicas que não são permitidas pela moeda física;

▪ Maior transparência na gestão dos recursos; ▪ Maior segurança, conforto e comodidade

para os usuários que não precisam mais portar o dinheiro em espécie;

▪ Geração de receitas para o banco,

permitindo a sustentabilidade e autonomia financeira dos Bancos Comunitários, ainda muito vinculados a recursos e iniciativas governamentais.

Quadro 4 - Benefícios esperados a partir da implementação da Moeda Social Eletrônica, a partir das ótica de Diniz (2016) e de Oliveira (s.d).

Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.

O uso desta nova tecnologia social representa uma inovação e um caminho transformador que ainda não tem sido amplamente difundido (Diniz, 2016). Por outro lado, as características da moeda social eletrônica, já permitem a percepção de sua importância em um meio de trocas comerciais, diante de um ambiente tecnológico, no qual “a facilidade, a

(28)

potencialização dos processos financeiros e o favorecimento das relações mútuas econômicas precisam imperar” (SOUZA et al, 2016).

2.4. MODELO DE NEGÓCIO

O termo modelo de negócio passou a receber destaque a partir da década de 90, com o surgimento das empresas “pontocom”, nas quais os empreendedores tentavam simplificar a explicação da lógica do funcionamento de seus negócios a fim de convencer investidores a viabilizá-los (MAGRETTA, 2002; SHAFER et al, 2005; OROFINO, 2010).

De acordo com Gonçalves (2012), o modelo de negócio seria “uma representação objetiva e direta de como uma organização que produz, compra e vende seus produtos e/ou serviços e obtém recursos financeiros dessas transações”.

De acordo com Teece (2010), o modelo de negócio representa o que os clientes querem, de que forma eles querem e o que eles pagarão por isto, além de como a empresa fará o melhor arranjo para atender estas necessidades e, em contrapartida, obter um pagamento justo por isto. Trimi e Mirabent (2012) afirmam que o modelo de negócio “descreve como as coisas tem que ser feitas para entregar valor aos clientes, onde colocar o dinheiro para a sustentabilidade da empresa, e como gerenciar a organização”.

HAMEL (2010) sugere que o modelo de negócios deve descrever, de maneira concisa, as forças do negócio. Entretanto, para o próprio autor, esta síntese deverá ser complementada por um detalhamento dos fatores que viabilizariam tal conceituação.

Gonçalves (2012) propõem uma lista de elementos que deveriam compor o modelo de negócios, de acordo com as percepções dos principais autores. O quadro 5 sumariza alguns dos autores elencados por Gonçalves (2012) em sua dissertação.

(29)

Autores Lista de componentes do modelo de negócio

Hamel (2000)

- Processos centrais; - competências centrais; - ativos estratégicos; - fornecedores; - parceiros e coalizões; - estrutura de preços; - escopo de mercado; - dinâmica de relacionamento; - produto.

Linder e Catrell (2000)

- Operações para criar e agregar valor; - proposta de valor; - posição no

continuun de preço/valor; - atividade geradora de lucro

Peterovic; Kitll e Tektsen (2001)

- Modelo de produção; - modelo de recursos; - modelo de valor; - modelo de receitas; - relacionamento com clientes

Magretta (2002) -Atividades associadas a fazer algo; - atividades associadas a vender algo.

Osterwalder (2004)

-Configuração de valor; - capacitações; - parcerias; - estrutura de custos; - proposta de valor; fluxo de receitas; canais de distribuição; relacionamento; -consumidores-alvo.

Osterwalder e Pgneur (2009)

- Recursos-chave; - atividade-chave; - proposta de valor; - rede de parceiros; - proposta de valor; - estrutura de custos; - modelo de receitas; - segmentos de consumidores; -relacionamento; - canais de distribuição.

Campos (2010) -Estrutura de custos; -lógica de precificação e margens; -formas de transação; - estrutura de receitas.

Quadro 5 - As diferentes visões sobre os componentes dos modelos de negócios. Fonte: Adaptado de Gonçalves, 2010.

Atualmente, não existe um consenso, em nível teórico, sobre a definição do que seria um modelo de negócio (ZOTT et al., 2011; TRIMI & MIRABENT, 2012). Porém, para este artigo, será utilizada a definição de modelo de negócio proposta por Osterwalder e Pigneur (2011): “o modelo de negócio é a lógica de como uma organização cria, entrega e captura valor”.

É válido ressaltar que a definição de valor aplicada aqui é alinhada à conceituação de Bowman e Ambrosini (2000), na qual o valor “refere-se às qualidades específicas de um produto percebido pelos clientes em relação às suas necessidades”.

Osterwalder desenvolveu uma metodologia específica para a construção de modelos de negócios, também conhecido como Business Model Canvas (BMC). O BMC trata-se de uma ferramenta que tem sido amplamente utilizada por profissionais no campo da gestão (OECD et

al., 2012; KAPLAN, 2012).

De acordo com Joyce e Paquin (2016), o BMC pode auxiliar os usuários a representar visualmente os elementos de um modelo de negócios como as potenciais interconexões e impactos na criação de valor. Além disso, ela permite a estes usuários desenvolver uma perspectiva mais sistêmica de uma organização e os principais elementos na criação de valor

(30)

(Wallin et al., 2013; Bocken et al., 2014). Desta forma, permite facilitar a discussão e o debate no desenvolvimento do próprio modelo de negócios (JOYCE & PAQUIN, 2016).

Por estas justificativas, optou-se por utilizar, neste artigo, o Business Model Canvas desenvolvido por Osterwalder e Pigneur (2011).

2.5. BUSINESS MODEL CANVAS

Para Osterwalder (2004) os relacionamentos e os canais, meios pelos quais a empresa entrega suas propostas de valor aos clientes são dependentes de suas capacidades, parcerias e atividades de configuração de valor. Essas relações, por sua vez, são traduzidas nos aspectos financeiros da empresa, compostos pelo balanço de seus custos e fluxos de receitas.

Evoluindo nesta lógica, Osterwalder e Pigneur (2011) desenvolveram uma ferramenta com “linguagem comum para descrever, visualizar, avaliar e alterar modelos de negócios” (OSTERWALDER E PIGNEUR, 2011), intitulada Business Model Canvas, representada na figura 1, em um esquema conceitual.

Figura 1 - Bussiness Model Canvas. Fonte: Osterwalder e Pigneur, 2011.

Este esquema conceitual consiste em uma representação dos nove grupos que compõem o business model canvas, permitindo a visualização das interações entre as áreas, assim como elucidar o relacionamento e as trocas entre os ambientes e os atores.

Objetivando permitir às pessoas criar ou modificar um modelo de negócio, Osterwalder e Pigneur (2011) transformaram o esquema conceitual em um mapa visual, conforme a figura 2, a seguir:

(31)

Figura 2 - Ferramenta Business Model Canvas. Fonte: Osterwalder e Pigneur, 2011.

Desta forma, este mapa possibilitaria o intercâmbio de ideias entre os envolvidos no processo de modelagem do negócio (OROFINO, 2011).

Os nove blocos que compõem o modelo de negócio de Osterwalder e Pigneur (2011) segmentam-se em quatro macro áreas (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011):

▪ oferta de valor (proposição de valor);

▪ clientes (segmento de clientes, canais e relacionamento);

▪ infraestrutura (recursos principais, atividades-chave e principais parcerias); ▪ viabilidade financeira (estrutura de custos e fontes de receita).

De acordo com Gonçalves (2011), ao se trabalhar cada um dos elementos do Business

(32)

Figura 3 - Roteiro de perguntas a ser respondida durante a construção do BMC. Fonte: Gonçalves, 2011.

(33)

O processo de construção do BMC pode variar de acordo com a realidade de cada empresa. Em todo caso, Osterwalder e Pigneur (2011) sugerem que o modelo de negócios seja impresso e as ideias construídas por meio de notas adesivas, permitindo a participação de várias pessoas de forma mais interativa e dinâmica.

2.5.1. Adaptações do Business Model Canvas

Alguns autores, além de se utilizarem da ferramenta BMC para explicitar determinados modelos de negócios, realizaram adaptações à ferramenta, de forma a contemplar especificidades que o modelo original proposto por Osterwalder e Pigneur (2011) não contemplava.

Lewandowski (2016), por exemplo, aplica o BMC à negócios de economia circular, ou seja, que permita que produtos já utilizados pudessem ser reincorporados à cadeia produtiva. Segundo o mesmo autor, a economia circular atende a seis princípios: regeneração, compartilhamento, otimização, ciclo, virtualização e substituição. Para contemplar estes princípios, Lewandowski propõem um BMC semelhante ao proposto por Osterwalder e Pigneur (2011), mas com a adição de dois novos campos: (i) retorno ao sistema – relacionado à logística reversa - e (ii) fatores de adoção - relacionados à capacidade da organização na implementação da economia circular, tais como cultura organizacional, motivação, processos de transição, fatores tecnológicos, políticos, entre outros.

A figura 04 apresenta uma visão geral do circular business model canvas, proposto por Lewandowski (2016):

(34)

Figura 4 - Estrutura do Circular Business Model Canvas. Fonte: Lewandowski, 2016.

Gelbmann e Hammerl (2015), ao aplicarem o BMC à sistemas de produtos/serviços sustentáveis a partir da prática do reuso, afirmam que a ferramenta carece de uma análise abrangente dos stakeholders. Desta forma, os autores propuseram uma nova estrutura que contemplasse análises relacionadas às partes interessadas.

Em seu estudo de caso aplicado à ECO-WISE – ecologically oriented work integration

social enterprises (integração de trabalho orientado ecologicamente a empresas sociais) -

Gelbmann e Hammerl (2015) subdividem o novo bloco “stakeholders” do BMC em clientes; colaboradores, autoridades públicas e stakeholders sociais.

Joyce e Paquin (2016), por outro lado, afirmam que, embora o BMC proposto por Osterwalder e Pigneur (2011) auxilie os usuários a alinhar o lucro e a proposta de criação de valor mais orientada à sustentabilidade, o valor social e ambiental estão implícitos, por trás da perspectiva econômica de valor. Neste sentido, os autores propõem um Triple Layer Business

Model Canvas (TLBMC), ou seja, um Business Model Canvas de três camadas, cada uma

representada por uma perspectiva do triple bottom line: econômica, social e ambiental.

A camada econômica é representada pelo BMC originalmente proposto por Osterwalder e Pigneur (2011). Segundo Joyce e Paquin (2016), a camada ambiental do TLBMC estrutura o modelo de negócios em uma perspectiva de ciclo de vida do impacto ambiental, a camada social

(35)

estrutura-o em uma perspectiva do gerenciamento de stakeholders para explorar o impacto social da organização (JOYCE & PAQUIN, 2016).

As camadas social e ambiental, segundo Joyce e Paquim (2016), atuam paralelamente à perspectiva econômica, destacando as interconexões que suportam os impactos sociais e ambientais separadamente e permitindo suportar uma perspectiva integrada do triple bottom line.

A figuras 5, 6 e 7, a seguir, ilustram, respectivamente, as perspectivas econômica, ambiental e social do Business Model Canvas, aplicado a um estudo de caso da Nespresso, proposto por Joyce e Paquin (2016):

Figura 5 - Camada econômica do triple layered business model canvas da Nespresso. Fonte: Joyce e Paquin, 2016.

(36)

Figura 6 - Camada ambiental do triple layered business model canvas da Nespresso. Fonte: Joyce e Paquin, 2016.

Figura 7 - Camada social do triple layered business model canvas da Nespresso. Fonte: Joyce e Paquin, 2016.

(37)

CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.1. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

A presente pesquisa classifica-se em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios utilizados.

Quanto aos fins, este trabalho apresenta caráter descritivo e explicativo. O primeiro justifica-se por seu objetivo, que é o de descrever o contexto interno e externo do empreendimento analisado. O segundo, por outro lado, visa esclarecer quais os fatores críticos de sucesso na aplicação do BMC a um EES.

Quanto aos meios, o estudo caracteriza-se por ser bibliográfico e estudo de caso (GASPARINI, 2005), como descrito, abaixo:

▪ Bibliográfico, pois para a fundamentação teórica foram utilizados como base os seguintes materiais: artigos publicados em revistas científicas, teses e dissertações, livros e relatórios disponíveis em endereços eletrônicos;

▪ Estudo de caso, visto que se objetiva apresentar um exame de forma detalhada de um objeto ou situação específica (GODOY, 1995) ou, nas palavras de Yin (2010), “que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto” (YIN, 2010).

3.2. ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa desenvolvida nesse trabalho pode ser dividida, em duas etapas: a primeira etapa, de caráter teórico e a segunda etapa, de caráter empírico, conforme detalhado abaixo:

▪ Etapa teórica: trata-se da revisão de literatura, realizada após a definição do tema. Esta etapa compreende todo o arcabouço teórico necessário para o entendimento do contexto no qual o banco comunitário situa-se, além do embasamento teórico sobre modelos de negócios e a ferramenta Business Model

Canvas, a ser aplicada ao empreendimento. Todo este processo resultou na

construção do segundo capítulo do presente trabalho, que consiste em uma compilação sintetizada dos materiais pesquisados. A metodologia inicial adota um sequenciamento conforme mostrado na figura 8, a seguir:

(38)

▪ Etapa empírica: neste momento é realizada a coleta, análise e tratamento de dados, em atendimento ao objetivo principal do trabalho, para chegar-se à conclusão, conforme sequenciamento mostrado na figura 9:

É válido destacar que a aplicação do BMC, dividiu-se em duas partes, em virtude de duas conjunturas distintas que estavam sendo analisadas. A primeira delas, contemplada pelo “BMC AS IS”, trata-se da conjuntura atual do empreendimento analisado. A segunda, contemplada pelo “BMC TO BE”, refere-se aos elementos necessários a um novo modelo de negócio para impementação da moeda social digital e-dinheiro.

3.3. COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS

A coleta de dados neste trabalho ocorreu a partir de conversas com os associados e da aplicação da ferramenta Business Model Canvas.

A coleta de informações não seguiu um roteiro estruturado, se não o da aplicação da ferramenta Business Model Canvas, que se deu de forma interativa com os associados do banco para compreensão do seu respectivo modelo de negócio. Desta forma, à medida que se obtinha

Definição do Tema Revisão da Literatura Bancos Comunitários Microcrédito Modelos de Negócio Definição do tipo de modelo de negócio a ser utilizado Economia Solidária

Figura 8 - Etapas do Momento Teórico da Pesquisa. Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.

Conversas com os associados para compreensão do negócio do banco comunitário Identificação da necessidade de implantação do e-dinheiro no banco comunitário Aplicação do BMC “AS IS” Aplicação do BMC “TO BE”

Figura 9 - Etapas do momento empírico da pesquisa. Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.

(39)

as informações referentes a cada campo do BMC, também se captava as percepções dos associados, uma vez que o preenchimento da ferramenta inferia um processo de análise crítica do próprio empreendimento por parte dos mesmos.

Para o tratamento dos dados, realizou-se uma análise crítica e sistematização das informações levantadas sobre o empreendimento, através de publicações, conversas com os associados e a própria dinâmica realizada para a construção do BMC. A quadro 6 ilustra o plano utilizado:

Instrumento de coleta Etapas

Embasamento sobre o empreendimento e aplicação do Business Model Canvas

i) Leitura de publicações sobre o empreendimento analisado; ii) Conversa com os associados do empreendimento para compreensão do negócio;

iii) Aplicação do BMC “AS IS”; iv) Aplicação do BMC “TO BE”;

v) Análise e sistematização das informações obtidas. Quadro 6 - Etapas do processamento de dados.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.

O Business Model Canvas auxiliou na análise e processamento dos dados, a partir de seu roteiro de aplicação, dividido em nove quadrantes:

i) Segmento de clientes; ii) Proposta de valor; iii) Relacionamento;

iv) Canais de comunicação; v) Fontes de receitas; vi) Atividades-chave; vii) Parceiros;

viii) Recursos-chave; ix) Estrutura de custos.

3.4. LIMITAÇÕES DO MÉTODO

É válido destacar que, apesar de amplamente utilizado na área das ciências humanas e mesmo nas ciências da engenharia, estudos de caso possuem limitações. De acordo com Ventura

(40)

(2007), o método está sujeito ao risco dos pesquisadores apresentarem uma falsa certeza de suas conclusões e fiarem-se demais em falsas evidências. Essa técnica exige, portanto, maior esforço do pesquisador no que concerne à verificação da fidedignidade dos dados, da categorização e da análise realizada (VENTURA, 2007).

É importante ressaltar ainda que, por limitar-se ao estudo de um único empreendimento, essa análise não permite traçar generalizações, das conclusões obtidas, para outras organizações ou mesmo para outros setores.

(41)

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1. BANCO COMUNITÁRIO DE DESENVOLVIMENTO DO PREVENTÓRIO

O Banco Comunitário do Preventório, situado no Morro do Preventório no município de Niterói – RJ, é gerido pela Associação para Desenvolvimento Solidário do Preventório. A comunidade está situada às proximidades da praia de Charitas. De acordo com França (2013), ali se instalaram projetos sociais como o Programa Médico de Família e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre outros.

Caracterizado como empreendimento de economia solidária, o BCP instalou-se na comunidade em setembro de 2011 (SANTOS, 2014). O BCP está situado nas proximidades da entrada da comunidade do Preventório e possui uma pequena estrutura física, na qual há duas funcionárias exercendo as operações de trocas de moeda social, pagamentos de contas, crédito, divulgação e atendimento geral ao cliente.

De acordo com Santos (2014), a missão do banco é “promover o desenvolvimento econômico da comunidade do Preventório, através de serviços financeiros, social e cultural tendo como base os princípios da Economia Solidária”. A mesma autora afirma que a visão do empreendimento é “ser referência regional em Bancos Comunitários, garantindo serviços financeiros de qualidade e proporcionando o desenvolvimento econômico, social e cultural do Preventório”.

Atualmente, participam da gestão do banco:

▪ a presidente Sônia Maria da Silva que, anteriormente, atuava como agente de crédito e membro do Conselho Fiscal do Banco do Preventório;

▪ os conselheiros, Marcos Rodrigo Maciel e Maria das Graças Neves de Oliveira; ▪ a agente de crédito, Maria Hosana Gomes da Silva, que atua com a parte contábil

e dos gastos do banco, além da cobrança dos empréstimos à comunidade.

4.1.1. A origem do Banco Comunitário do Preventório a partir de uma parceria Ampla e IEES/UFF

A partir de um programa de interno de incentivo a ideias inovadoras, o Inova, a Ampla deu início ao apoio na formação de bancos comunitários em sua região de influência. De acordo com Santos (2014) o objetivo era apoiar empreendimentos como bancos de microcrédito em

(42)

comunidades, tendo em contrapartida, a implantação de ações de acompanhamento e suporte à clientes do banco no pagamento das contas de energia elétrica.

A partir de análise pela área de Integração e Desenvolvimento Social da Ampla, identificou-se o alinhamento dos propósitos do banco comunitário com a vertente de desenvolvimento local e geração de renda de uma das linhas de ação da empresa, o Programa Consciência Ampla.

Logo, restava somente a análise da aplicabilidade e da viabilidade da proposta. Nesta etapa, durante pesquisa sobre os bancos comunitários existentes no Brasil, identificou-se o Banco Palmas, um benchmark de banco comunitário no país que veio a se tornar um parceiro do BCP. Posteriormente, em busca de suporte especializado para avaliação de viabilidade da proposta, chegou-se a um novo parceiro: a IEES/UFF (SANTOS, 2014).

Uma vez com a proposta aprovada, a área de Integração e Desenvolvimento Social da Ampla, com o apoio do Núcleo da UFF, iniciou a busca por uma comunidade que detivesse fatores favoráveis à formação de um banco comunitário. Foi definido, então, a comunidade do Preventório, devido ao atendimento aos seguintes requisitos: existência de comércios locais, delimitação geográfica, existência de algum grau de organização comunitária e identidade local (SANTOS, 2014).

Uma vez definida a comunidade beneficiária do projeto, a Ampla passou a contribuir com recursos próprios para o processo de mobilização da comunidade e desenvolvimento da iniciativa, enquanto a UFF iniciava um processo de capacitação, que perdurou após a formação do banco.

Santos (2014) afirma que a participação e disponibilização de recursos de uma empresa de capital privado, durante o planejamento e criação de um empreendimento de economia solidária, foi um fato inédito no Brasil.

4.1.2. A parceria BCP/Ampla

Dada as características de um empreendimento econômico solidário, de autonomia e suporte ao desenvolvimento local, torna-se um fator crítico o nível de interação empresa – banco comunitário. A fim de que a comunidade assumisse uma participação mais ativa para a autonomia do empreendimento, manteve-se a parceria BCP/Ampla, mas de forma mais independente.

(43)

Contudo, o contato mais direto deu-se com a IEES/UFF, através das atividades de assessoria e incubação.

De acordo com Santos (2014), a parceria da Ampla com o BCP, após sua criação, deu-se mediante ações, tais como:

▪ Programa Clube de Energia: tecnologia social desenvolvida para que a comunidade e o banco comunitário adquirissem benefícios, mediante o consumo consciente e a adimplência no pagamento de contas de energia;

▪ Ações de aumento de eficiência energética: troca gratuita de geladeiras antigas por novas (mais eficientes), da instalação elétrica das residências, de lâmpadas incandescentes por fluorescentes (que consomem menos com a mesma iluminação);

▪ Sensibilização de consumo consciente: realização de palestras e oficinas com dicas de consumo de energia que evitam o desperdício.

4.1.3. Desafios encontrados

Em conversas com os associados, notou-se que ainda existe uma grande dependência do BCP em relação a instituições de apoio, por meio de serviços da incubadora no intuito de prestar suporte organizacional e de recursos provenientes de parceiros como a Ampla, BNDES e editais de projetos a custos perdidos.

Percebeu-se ainda, que o relacionamento que havia entre os parceiros iniciais do BCP sofreu modificações. Novas relações foram fortalecendo-se à medida que outras foram enfraquecendo-se, sem que os associados houvessem tomado conhecimento disto.

Notou-se, ainda, que havia atividades que o BCP propunha-se a realizar, mas que, na prática não eram feitas, a exemplo da utilização dos canais de comunicação para divulgação do BCP dentro e fora da comunidade onde atua, mas que os associados também não haviam tomado consciência de sua inexistência.

O banco possui intenção de implementar a moeda social e-dinheiro. Entretanto, não havia tomado, ainda, todas as ações necessárias para sua implementação. Como os associados, de forma unânime, consideraram a implementação do e-dinheiro um fator crítico para o BCP, o presente trabalho definiu dois cenários a serem analisados pelo estudo:

(44)

▪ Cenário 1 – “AS IS” – trata-se do modelo de negócio atual do BCP, ou seja, ainda não se considera o e-dinheiro como atividade-chave do empreendimento.

▪ Cenário 2 – “TO BE” – o modelo de negócio é voltado somente para a articulação do e-dinheiro, visto que as demais atividades já seriam abordadas no cenário 1.

4.2. BUSINESS MODEL CANVAS DO BANCO COMUNITÁRIO DO PREVENTÓRIO

A aplicação do BMC foi realizada com o intuito não somente de realizar um diagnóstico do empreendimento, como também auxiliar-lo no planejamento da implementação de um novo serviço: o e-dinheiro.

Desta forma, a aplicação da ferramenta deu-se em dois momentos:

i. Diagnóstico do modelo atual de negócio do Banco Comunitário do Preventório -

BMC “AS IS”;

ii. Planejamento do modelo de negócio para implementação do “e-dinheiro” - BMC

“TO BE”.

Todo o processo de aplicação do BMC foi realizado de forma colaborativa, ou seja, além da explicação da dinâmica do processo de construção, houve eventuais intervenções dos pesquisadores, de forma a garantir que o resultado final fizesse sentido.

A aplicação do BMC “AS IS” e “TO BE” ocorreu de forma simultânea, pois partiu-se do pressuposto que haveria um ganho de produtividade ao longo da dinâmica, uma vez que os conceitos já estariam esclarecidos.

A dinâmica iniciou-se com a explicação da finalidade da ferramenta Business Model

Canvas, seguido da explicação da forma como é organizado e, logo, a definição de cada campo,

assim como a relação entre cada um deles. A explicação destes aspectos iniciais, permitiu a condução da dinâmica de forma mais harmoniosa, uma vez que todos estavam imersos na lógica do processo de construção do BMC.

O passo seguinte foi a explicação da forma como cada bloco deveria ser preenchido. Porém, os associados logo perceberam que o conceito original do BMC assumia uma amplitude maior quando considerado no ambiente da economia solidária, como será descrito a seguir.

Referências

Documentos relacionados

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

O mecanismo de competição atribuído aos antagonistas como responsável pelo controle da doença faz com que meios que promovam restrições de elementos essenciais ao desenvolvimento

Além desta verificação, via SIAPE, o servidor assina Termo de Responsabilidade e Compromisso (anexo do formulário de requerimento) constando que não é custeado

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

nesse contexto, principalmente em relação às escolas estaduais selecionadas na pesquisa quanto ao uso dos recursos tecnológicos como instrumento de ensino e

Declaro que fiz a correção linguística de Português da dissertação de Romualdo Portella Neto, intitulada A Percepção dos Gestores sobre a Gestão de Resíduos da Suinocultura:

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

[r]