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O ensino, as novas tecnologias e o papel do professor?

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Academic year: 2021

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Caroline Caillaud Pereira Guimarães

O ENSINO, AS NOVAS TECNOLOGIAS E O PAPEL DO PROFESSOR?

Artigo monográfico apresentado como requisito à obtenção da licenciatura em Ciências Sociais Instituto de Ciências Sociais e Filosofia. Universidade Federal Fluminense.

ORIENTADORA

Professora Doutora Ana Maria Motta Ribeiro

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Resumo

Esse artigo tem o objetivo de refletir e problematizar sobre as novas tecnologias oriundas da metade do século XX e a maneira como elas modificam a construção do conhecimento dentro e fora da sala de aula, qual postura deve ter o professor diante de tais tecnologias, sua importância na interpretação e reflexão dessa nova sociabilidade.

A incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs – nas práticas pedagógicas possibilita uso de importantes ferramentas que impulsionam a experiência de ensino e aprendizagem. Dão ao professor e ao aluno novas possibilidades no ambiente escolar. A apropriação dessas tecnologias é um direito democrático do aluno ao acesso e expansão de conhecimento.

Esse artigo também possui um relatório das atividades desempenhadas na disciplina de Prática de Pesquisa em Educação IV ocorridas durante o estágio supervisionado em sociologia no curso de Ciências Sociais, para habilitação de licenciatura, da Universidade Federal Fluminense.

Palavras-chaves: Novas tecnologias. Papel do professor. Inovação pedagógica. Estágio supervisionado. Formação docente. Prática pedagógica.

Introdução

Nesse artigo, a nossa visão de educação é próxima ao modelo de Paulo Freire. Paulo Freire defendia que o objetivo da escola era ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo. Acreditava que ensinar era muito mais que transmitir o saber, segundo Freire, a missão do professor é possibilitar a produção do conhecimento, possibilitando ao aluno construir uma visão crítica da realidade.

“A educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir ‘conhecimentos’ e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação ‘bancária’, mas um ato cognoscente. Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é o mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador, de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da

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superação da contradição educador-educandos. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível.” (Freire, 2003, p. 68).

Nosso recorte está localizado no século XXI onde as tecnologias derivadas da ciência moderna, que ganharam força em meados do século XX, têm modificado rapidamente muitos de nossos costumes e de atividades. Entre as muitas modificações ocorridas com o advento dessas tecnologias, principalmente com a popularização do computador e da internet, incluem a forma de escrever, de se comunicar, forma de ler e de se informar. Com o avanço tecnológico e da internet, a informação foi democratizada e não se encontra mais restrita ao ambiente escolar/acadêmico. Faz-se necessário que os professores estejam preparados para interagir com uma geração mais atualizada e conectada, porque os modernos meios de comunicação, liderados pela internet, permitem o acesso instantâneo à informação e os alunos têm mais facilidade para buscar conhecimento por meio das tecnologias colocadas à sua disposição.

As tecnologias de comunicação e informação, as TICs, geraram e continuam gerando profundas mudanças em nossa sociedade e além de afetarem nosso cotidiano, modificam a nossa maneira de construir ideias e pensamentos. A quantidade de informação produzida é massiva, constante e extremamente ágil, sendo quase impossível filtrarmos com criticidade todas as informações as quais temos acesso.

Esse novo contexto social no qual nos encontramos, exige um novo contexto educacional, uma nova postura por parte do professor, para que o aluno possa aproveitar o melhor daquilo que lhe é oferecido, para que a interação com tais tecnologias possam de fato contribuir para uma educação de melhor qualidade. É necessário que o professor esteja preparado para lidar com os desafios existentes, buscando usar a tecnologia de forma efetiva e auxiliar seu aluno, para que este seja capaz de manuseá-la de maneira reflexiva.

Trata-se de uma inovação pedagógica fundamentada no construtivismo sociointeracionista que, com os recursos da informática, levará o educador a ter muito mais oportunidade de compreender os processos mentais, os conceitos e as estratégias utilizadas pelo aluno e, com esse conhecimento, mediar e contribuir de maneira mais efetiva nesse processo de construção do conhecimento (Valente, 1999, p.22).

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O ensino e as novas tecnologias

A tecnologia não é adotada apenas porque funciona. Ela é adotada porque as pessoas a usam e é feita para humanos. Software, máquinas e aplicativos, todo esse aparato tecnológico, contribui para uma nova forma de produzir conhecimento. A tecnologia mudou a maneira como vemos o aprendizado, a forma de ensinar e aprender.

O uso de tecnologias digitais tem possibilitado uma interação cada vez mais intensa, quase sempre instantânea e não limitada por barreiras físicas. Professores e alunos podem ser produtores de conhecimento.

O ciber-êxtase que se deu com a revolução da internet, nutre os mais jovens de nossa geração com um clima de possibilidades. Contudo, muitas vezes o jovem se perde em meio a tanto conteúdo, em meios às interatividades, por vezes improdutivas ou mesmo fúteis e deixa de se aprofundar em informações que podem fazer toda a diferença na construção de seu conhecimento. É comum que eles se limitem às redes sociais ou jogos, que por preguiça ou falta de um direcionamento façam uso de maneira errônea ou limitada dos meios de busca de informação. Logo, os professores não precisam ter o receio de serem substituídos pela tecnologia, como também não precisam concorrer com os aparelhos tecnológicos ou com a mídia digital. Não se trata, de substituir o livro pelo texto tecnológico, a fala do docente e os recursos tradicionais pelo fascínio das novas tecnologias. Ao contrário, significa se apropriar dessas tecnologias com criticidade, de maneira que permita dominar tal tecnologia, conhecê-la para saber aproveitar suas vantagens e contornar suas desvantagens e riscos, para poder transformá-la em ferramenta útil, fazendo uso de suas funcionalidades em alguns momentos, e dispensá-la em outros. Eles têm que utilizar aquilo que de melhor se apresenta como recurso nas escolas.

Kenski (1998) argumenta que o fato de vivermos a era digital e enfrentarmos os desafios constantes, oriundos das novas tecnologias no cotidiano de nossas vidas, não significa que queiramos professores adeptos incondicionais ou de oposição radical ao ambiente eletrônico. Ao contrário, significa saber usar os conhecimentos já adquiridos e junto ao manuseio dos aparatos tecnológicos dominá-los para a uma melhor utilização e maior aproveitamento de suas potencialidades e principalmente para evitar cair nos erros de seu uso.

Os jovens da era da cibercultura crescem convivendo com tecnologia, elas fazem parte de seu cotidiano e é parte integrante de suas vidas. O modo como o professor insere o uso das tecnologias em suas aulas ajuda a definir como alunos se valem das tecnologias

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para suas atividades de aprendizado na disciplina fora e dentro da sala de aula. O professor deve buscar continuadamente apoio no domínio dos saberes, não apenas teóricos da própria disciplina, mas também nos conhecimentos pedagógicos e experiências, conciliando o fazer pedagógico com as exigências da modernidade.

A escola não pode mais ficar fechada em suas próprias paredes, o aluno fora da escola, tem acesso à internet e à toda uma mídia digital, deve então aprender a selecionar e distinguir o que é conhecimento científico ou mera divulgação sem fundamentação teórica, ou muitas vezes uma informação falaciosa.

A institucionalização da Sociologia como disciplina integrante do currículo do ensino médio, traz a necessidade de refletir sobre a importância disciplina Sociologia. Sua inclusão como disciplina curricular obrigatória do ensino médio atende a uma necessidade de contribuir na formação dos estudantes, possibilitando aos mesmos a apreensão de conhecimentos acerca da realidade social na qual estão inseridos. Uma possibilidade efetiva de apreensão de conceitos e categorias de análise que permitam aos alunos pensar a vida social criticamente, seja ela física ou virtual.

A sociedade exige uma educação capaz de preparar o cidadão social, técnica e cientificamente. Cabe ao professor a mediação entre a sociedade da informação e os alunos, visando, por meio da atividade reflexiva, construir um humano que não seja apenas um mero produto de um conhecimento socialmente exigido ou da assimilação do conhecimento exposto, mas um cidadão capaz de refletir criticamente a realidade na qual está inserido e que lhe é exposta.

O professor ao perceber as potencialidades que as ferramentas das novas tecnologias de comunicação e informação possuem deve buscar faz uso delas pensando o aluno como um ser capaz de construir conhecimento e guia-lo da melhor maneira à pensar reflexivamente todo tipo de informação que lhe é dado.

O professor não tem que temer e, sim, dominar os aparatos tecnológicos, aproveitando seu potencial em proveito de um ensino e uma aprendizagem mais criativa, autônoma, colaborativa e interativa.

Alguns autores acreditam que a informática possibilita o resgate do papel social e da cidadania, a partir da rápida e eficiente disseminação da informação e do conhecimento na sociedade.

A tecnologia na sala de aula não se refere exclusivamente ao computador. A TV e o vídeo também podem ser bem analisados e planejados para se constituírem num recurso de enriquecimento e interatividade, ela é também uma forma de levar os alunos a

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refletir e dialogar sobre o tema do filme ou curta-metragem, por exemplo, e relacioná-lo ao conteúdo da disciplina.

A educação precisa ser repensada e é preciso buscar formas alternativas para aumentar o entusiasmo do professor e o interesse do aluno. É importante criar um ambiente de ensino e aprendizagem instigante, que proporcione oportunidades para que seus alunos pesquisem e participem da construção de conhecimento, com autonomia, a fim de melhor aproveitar os recursos e desenvolver o espírito crítico e participativo dos alunos. O professor tem que estimular a curiosidade do aluno para buscar a informação mais relevante, ir além das páginas iniciais de sites de busca, saber lidar com as informações e não apenas consumi-la acriticamente.

Ao buscar criar estes ambientes de aprendizagem com o auxílio das novas tecnologias, o professor coordena o processo de análise e crítica dos dados informacionais que o aluno tem acesso, contextualiza-os, transformando a informação em conhecimento, para que o aluno possa pensá-las a partir de si e não somente como abordagem técnica ou um consumo mecânico, vazio de uma aprendizagem mais densa.

Segundo Pierre Lévy (1993), as novas tecnologias gestam novas formas de comunicação, de construção e compartilhamento do conhecimento, de classificação da informação, que implicarão em novas maneiras de categorizar o mundo e, provavelmente, em novas etapas cognitivas no desenvolvimento humano.

A informática é uma nova tecnologia intelectual e, analogamente ao que ocorreu com o advento da escrita ou da palavra impressa, ela traz consigo um novo modo de pensar o mundo, de conceber as relações com o conhecimento, de aprender coisas. Trata-se de uma nova ecologia cognitiva. (Lévy, 2002. p 75)

A necessidade de se pensar uma maneira de aplicar essas tecnologias vai além de tornar as aulas mais interessantes ou acrescentar novos recursos que auxiliem o trabalho do professor, mas aproximar-se da realidade dos alunos, da necessidade de se inserir em um espaço que faz parte do cotidiano desses alunos. Cabe aos educadores refletir essa nova forma de socialização. As novas tecnologias da comunicação e da informação transformam o conceito de conhecimento e modificaram a maneira de pensar e aprender. O educador exercerá um trabalho mais intelectual, mais criativo, mais colaborativo e participativo e estará preparado para interagir e dialogar – junto com seus

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alunos – com outras realidades fora do mundo da escola. É esta rede de informações e conexões que torna o ensino não-linear e colabora para a organização da inteligência coletiva distribuída no espaço e no tempo, como nos ensina Lévy (1999).

Diante desta realidade, torna-se necessário que as escolas passem a trabalhar visando a formação de cidadãos capazes de lidar, de modo crítico e criativo, com a tecnologia no seu dia-a-dia. Cabendo à escola esta função, ela deve utilizar como meio facilitador do processo de ensino-aprendizagem a própria tecnologia com base nos princípios da Tecnologia Educacional (Leite 2000, p. 40).

Qual o papel do professor?

Desde sempre, o professor foi aquele que detinha o conhecimento e que transmitia para os alunos todo o seu conhecimento em geral de forma linear. Tradicionalmente a educação é centrada na figura do professor, fundamentalmente baseada em texto e em aulas expositiva. Porém, a nova geração de alunos está acostumada a agir em vez de passivamente assistir, com a evolução das tecnologias de comunicação e informação, os jovens ganharam um espaço onde eles podem transitar livremente, seja adquirindo novos conhecimentos, expressando-se e externalizando suas experiências e saberes. A internet se tornou um espaço essencial na vida desses jovens, nesse espaço eles podem experimentar a sociabilidade de uma maneira completamente diferente. Muitas vezes o jovem se perde em meio a tanto conteúdo, em meios às interatividades, por vezes improdutivas ou mesmo fúteis e deixa de se aprofundar em informações que podem fazer toda a diferença na construção de seu conhecimento. É comum que eles se limitem às redes sociais ou jogos, quer seja por preguiça ou por falta de um direcionamento eles podem vir a fazer uso de maneira errônea ou limitada dos meios de busca de informação. Essas tecnologias se caracterizam pela interatividade e pela não-linearidade na aprendizagem. O mundo está muito diferente, os alunos hoje são diferentes, e por isso, a era tecnológica necessita de um sistema educacional reformulado voltado para esses novos sujeitos e essa nova forma de se relacionar com a informação.

Lévy (1993), afirma que em meio ao desenvolvimento da sociedade em rede, a escola enquanto instituição aprendente deve buscar compreender a importância do ser professor, pois o mesmo tem a possibilidade de assumir o papel de orientador de seus

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educandos, em relação aos dados apreendidos em meio às novas tecnologias, auxiliando o processo de informação pelos alunos para o uso cotidiano.

Durante o estágio supervisionado, tive contato com dois professores. Um deles fazia muito uso dos recursos tecnológicos disponíveis na escola. Quase todas as aulas ocorriam na sala de multimídia, que estava sempre disponível. Com a última professora o uso ocorreu poucas vezes, e em uma das vezes, a sala já estava ocupada por outro professor, o que impossibilitou o acesso ao recurso e a professora teve que mudar a curso da aula. O que pude observar é que quando o aluno participa de uma aula que possui algum tipo de recurso tecnológico ele se anima mais para essa aula, pois ela foge um pouco ao comum, que para ele é tedioso. Os recursos são diversos, músicas, filmes, curta-metragem, animações, apresentação das aulas através do power-point. Mas não basta simplesmente fazer uso aleatório desses recursos, caso contrário, perde-se toda a riqueza que eles proporcionam, o objetivo deve ir além de simplesmente chamar a atenção do aluno, não basta apenas dar acesso aos conteúdos, sem a devida análise crítica dessas informações, seu uso precisa estar aliado a uma preocupação por parte do educador em mediar esse conhecimento e oferecer ao aluno uma aprendizagem questionadora e crítica da realidade na qual ele está inserido, dando assim, significado a esse novo processo pedagógico.

A simples ‘transmissão de conteúdos’ realizada através do computador e da Web não possibilita espaço para que o aluno crie, aprenda, produza, torne-se cidadão do mundo (Turk).

O papel do docente está na orientação do discente no processo de compreensão das informações obtidas por meio das novas tecnologias para que estas se tornem um conhecimento e aprendizado eficaz, condizentes com a experiência prática do aluno. Os procedimentos didáticos, nesta nova realidade modificada pelas novas tecnologias, devem privilegiar a construção coletiva dos conhecimentos, as novas tecnologias trazem a necessidade de que o professor seja esse alguém que intermedia e orienta esta construção.

O professor, neste processo de mediar a interação, utilizando recursos tecnológicos deve buscar a construção coletiva do conhecimento. Isto implica uma análise da mudança do paradigma educacional e da função do professor na relação pedagógica, focalizando as inovações tecnológicas como ferramentas para ampliar a interação.

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Muitas vezes as barreiras impostas podem ser burocráticas, por conta da organização tradicional com ênfase em aulas teóricas (projeto político-pedagógico da instituição escolar) e preocupadas com a transmissão do conteúdo e de acesso a essas tecnologias, pois nem todas as escolas estão devidamente estruturadas de acordo com a necessidade vigente. Muitas vezes, professores e alunos compartilham o entusiasmo pela tecnologia, mas suas pretensões são limitadas pela falta de infraestrutura, integração com o currículo, organização tradicional da escola e desigualdades de oportunidades de acesso.

Para reverter esse quadro, é preciso fortalecer o Estado, capacitando-o para conceber políticas públicas eficazes que possibilite uma educação de qualidade que atenda às necessidades, viabilizando condições para que essas capacidades e competências se realizem. Ações que criem condições que contribuam para que as classes populares conquistem o direito ao exercício da cidadania plena. Contudo, devido às políticas governamentais para a educação estarem subordinadas aos organismos financeiros internacionais, a educação do país não está plenamente direcionado para o ensino da ciência e tecnologia.

Uma vez que, o acesso às novas tecnologias é ditado pelas condições materiais de cada indivíduo, e a ciência está comprometida com os interesses econômicos de mercado ela deixa de atender aos interesses da sociedade. A ciência e a tecnologia estão ambas imersas nas relações sociais, devemos buscar induzir a produção de tecnologia e conhecimento que tenham embutidos valores que permitam a promoção de um modelo de desenvolvimento socialmente justo, capaz de conduzir ao desenvolvimento todos os indivíduos e o progresso da sociedade.

Publicações online e seus riscos reais

A tecnologia, mais propriamente a Internet, deu às pessoas um ambientes em que há relativa liberdade para se divulgar e discutir diversos assuntos.

Em 2014, no Guarujá, litoral de São Paulo, uma mulher foi amarrada e espancada por dezenas de moradores após um boato gerado por uma publicação numa rede social. A publicação que afirmava que uma moça sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra, junto à publicação foi divulgado um desenho de um retrato falado. A moça teria sido confundida com a foto, pouco tempo depois das agressões, ela veio a falecer. O vídeo com as agressões chegou a ser postado em sites como o youtube. A

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investigação policial citou que sequer havia boletim de ocorrência sobre sequestros na região.

Em abril deste ano, ocorreu um caso similar ao citado. Uma multidão tentou linchar um casal em Araruama, região dos Lagos no Rio de Janeiro, depois de um boato em rede social de que eles seriam sequestradores de crianças. O casal chegou a ser agredido, mas não sofreu nenhum ferimento grave.

Sem contar os inúmeros casos de crimes virtuais de discriminação, preconceito, páginas que incentivam crimes de ódio e agressões em redes sociais. Inclusive há delegacias que tratam exclusivamente de crimes cibernéticos, como a DRCI - Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, no Rio de Janeiro. O que no mundo real, normalmente seria um caso realizado por uma pessoa ou por um grupo limitado, no mundo virtual toma proporções gigantes, podendo chegar ao número de milhares de agressores à uma única pessoa. E assim como existe o desrespeito às leis no mundo real, o desrespeito à elas tomam novas proporções no meio virtual.

O que tais notícias mostram é que nem todas as pessoas estão preparadas ou munidas das ferramentas e conhecimentos necessários para filtrar o conteúdo que pode ser divulgado ou na hora de analisa-lo. Da necessidade de se pensar o tipo de reação que essas publicações induzem nas pessoas que não possuem um pensamento crítico e tomam por verdade qualquer tipo de conteúdo.

Por outro lado, o uso excessivo dessas tecnologias da informação tem apresentado também uma tendência ao aumento da dispersão e falta de concentração intelectual, assim como um certo aguçamento de problemas entre jovens, que poderiam comprometer padrão esperados de solidariedade que fossem valorizadoras da experiência existencial pela coletivo.

Salas de aula online e experiências tecnoeducacionais que deram certo

A distribuição de conteúdo online possibilitou às pessoas que vivem em lugares em que a educação não está prontamente acessível, tivessem a oportunidade de iniciar ou continuar seus estudos.

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Daphne koller - O que estamos aprendendo com a educação online

Uma ferramenta que se mostrou positiva foi a empresa tecnológica educacional Cousera. A plataforma digital criada por Daphne Koller e seu amigo Andrew Norvig, ambos professores de ciências da computação na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Eles acreditavam que a educação não conseguia atingir o seu objetivo de ensinar, muitos professores ensinam mas não conseguem de fato o objetivo de fazer com que o aluno aprendesse. Eles apostaram em criara algo que suprisse essa demanda. Possibilitando que estudantes das mais diversas realidades, com suas limitações de tempo, saúde ou quaisquer outras dificuldades tivessem a chance para de fato aprender. Eles selecionaram três turmas de Stanford para realizar uma parceria com Cousera, cada passou a contar com cerca de 100.000 alunos inscritos. Em uma das turmas de Inteligência artificial, ministrada professor Andrew Norvig, co-fundador, havia cerca de 400 alunos inscritos, quando a matéria foi disponibilizada para o público geral, houve um crescimento deste número para 100.00 inscritos. O objetivo de criar o Cousera era disponibilizar os melhores cursos, ministrados por professores de grandes e respeitadas instituições para a maior quantidade de pessoas, de forma gratuita.

Salman Khan - Usemos o vídeo para reinventar a educação

Salman Khan, um ex-analista de um fundo de investimentos, criou o Academia Khan, um canal no youtube com mais de 2.200 vídeos educativos cuidadosamente estruturado, que oferece formação curricular completa em matemática e noutras matérias, cobrindo tudo desde a aritmética básica até aos cálculos vectoriais. Um milhão de estudantes acessam a este sítio por mês. Ele contou que a iniciativa para criar o canal surgiu da necessidade de auxiliar seus primos em seus estudos, ao mostrar seus primeiros vídeos do youtube à seus primos os mesmo disseram que preferiam suas aulas pelo youtube do que suas aulas presenciais, após refletir para além da ironia da situação ele chegou à conclusão que eles tinham razão em sua preferir sua versão automatizada do que ele em pessoa, com o vídeos eles possuem a vantagem de controlar a maneira como interagem com o conteúdo, pausando ou repetindo o seu primo quando necessário, aprendendo de acordo com a sua velocidade, no seu próprio ritmo. Com o tempo seu canal ganhou notoriedade, se tornou um site e alcançou pessoas de diversas partes do globo e com as mais variadas limitações, como o caso de um pai que o agradeceu, pois seu filho

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autista que possuía dificuldades em matemática pode compreendê-la através de suas lições em vídeo.

Outras vantagens do conteúdo interativo se dá pelo fato que esse conteúdo estará ali sempre presente para ajudar futuramente seus filhos ou seus netos e por estar sempre lá você poderá retornar ao conteúdo para fixa-lo. O site possui também um aplicativo que torna possível que o professor acompanhe o rendimento individual de cada aluno, podendo assim agir na dificuldade individual. É possível também acompanhar outros usuários e solicitar ajuda daqueles que se dispõe a serem para além de usuários e atuam no site também como auxiliadores.

Ele mostra o poder dos exercícios interativos, e apela aos professores para considerarem a hipótese de revolucionar os métodos habitualmente utilizados na sala de aula e darem aos alunos a exposição da matéria em vídeo, para verem em casa, e para fazerem o "trabalho de casa" na sala de aula, com o professor disponível para ajudá-los. Salman Khan defende que vídeos são a melhor maneira de reinventar a educação.

Samara Werner - Educação: Novas práticas para estimular o aprendizado e a criatividade.

Samara Werner é coordenadora do Programa Nave, Núcleo Avançado de Educação, em uma escola pública no Rio de Janeiro. Ela busca fazer a diferença na área de educação. Segundo ela, a escola mata a criatividade e as potencialidades dos alunos. A escola não mudou nada ao longo do tempo, o mundo está se transformando profundamente, as relações conosco mesmo e com os outros estão mudando numa velocidade infinita. A tecnologia está em todos os lugares, o tempo todo o mundo se reinventa e se transforma. Ela então se indaga, e a escola? Onde essa escola está? Essa escola não está formando os nossos jovens e crianças para fazer o Brasil dar certo, para terem ideias, para que a gente tenha mais coisas a mostrar para o mundo.

Ela faz referência a “Davi” de Michelangelo. Que utilizava o mármore para esculpir suas obras não por ele ser um material nobre, mas por ele existir em abundância em Florença na época do Renascimento. Era a matéria prima daquela época. A matéria prima que nós temos hoje, cada vez mais presente no dia a dia de cada um de nós, celular, computador, são as tecnologias, está todo mundo conectado, essa é nossa matéria-prima. Então porque nós não a estamos utilizando de forma adequada essa matéria prima para formar as gerações? Isso é uma questão grave, por que, quando se fala de tecnologia na

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escola, costuma-se falar de laboratório de informática, como apêndice. O laboratório para imprimir um texto, acessar a internet e buscar conhecimento. Mas nós não estamos falando das novas tecnologias, entretanto, no processo de ensino e aprendizagem.

Quando ela menciona a necessidade e a importância de aplicar essas novas tecnologias na educação, as pessoas sempre a questionam que existem outras prioridades, como problemas de falta de capacitação dos professores, com salários, com infraestrutura, e logo, tecnologia não seria uma prioridade. Entretanto, segundo Werner está não é a questão, as coisas não concorrem entre si, o papel do professor é fundamental, tudo é importante. Pensando em resolver este problema, em lidar de maneira prática com esta nova configuração de escola, um projeto foi criado pelo Oi Futuro com parceria com o governo do estado do Rio de Janeiro, o Nave, que é uma escola diferente, que busca levar para a sala de aula, para o dia a dia desses jovens, tudo que não é permitido nas outras escolas, games, iPod, celular, só que eles não estão utilizando isso só como meio, eles estão se transformando a partir dessa nova rede porque essa é a realidade deles no dia a dia fora da escola.

O Nave (Núcleo Avançado em Educação) é um programa voltado para a pesquisa e o desenvolvimento de soluções educacionais que usa as tecnologias da informação e da comunicação no ensino médio, capacitando os estudantes para profissões na área digital. Desenvolvido em parceria com as Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro e de Pernambuco, o programa é estruturado sobre três pilares: a oferta de ensino profissionalizante integrado ao ensino médio regular nas escolas estaduais objetos da parceria; o desenvolvimento de atividades de Pesquisa e Inovação (Centro de Pesquisa); a disseminação de metodologias e práticas desenvolvidas pelo Programa (Núcleo de Disseminação).

Atualmente, as escolas do Rio de Janeiro e de Recife contam com cerca de 960 estudantes e 100 educadores. A formação do estudante prevê um ciclo básico, no primeiro ano do programa, quando são apresentados os cursos técnicos profissionalizantes oferecidos. A partir do segundo ano, os estudantes optam por uma formação específica entre as áreas de Roteiros para Mídias Digitais (só na escola do Rio), Multimídia e Programação para Jogos.

O desenvolvimento do programa conta com a participação de parceiros reconhecidos em suas áreas de atuação, como o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), o Vision Lab da PUC-RJ e a Planeta.com.

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O programa chamou a atenção da Microsoft, que em 2009 escolheu o Nave Rio como uma das 30 escolas mais inovadoras do mundo. Em 2010, a escola carioca foi eleita “Mentora” dentro do Programa de Escolas Inovadoras da Microsoft. E, em 2012, convidada a participar do programa World Tour, dentro do qual as melhores escolas do mundo inteiro têm a oportunidade de serem visitadas por outras.

O Nave mostra que é possível educar inovando, trabalhar educação aliada ao uso de tecnologias, trabalhando para auxiliar seus alunos, para que eles não se percam em meio a todas as possibilidades de ação que as tecnologias oferecem, mas possam aproveitar seus recursos de maneira enriquecedora para a construção de conhecimento e de uma escola de qualidade.

Werner acredita que, a escola, como ela é configurada atualmente, coloca um muro que separa esse ambiente da sociedade. Segundo ela, há um potencial, uma juventude criativa, só que nós não estamos dando oportunidade para que esses jovens se desenvolvam.

Ronaldo Lemos – Apropriações: Como a tecnologia fomenta transformações democráticas

O Brasil têm 2.000 salas de cinema. O Brasil têm 2.600 livrarias espalhadas em todo o país. Tem mais ou menos 5.000 bibliotecas públicas. E têm 90.000 lan houses. Segundo ele, a lan house virou uma espécie de um novo espaço público, tanto real quanto virtual, que está trazendo conectividade para o Brasil inteiro.

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 49% dos acessos individuais são de lan houses.  40% são de origem doméstica.

 6% são em iniciativas governamentais como os telecentros.

Desses dados ele observou o seguinte, que as lan houses eram um fenômeno de empreendedorismo, que aconteceu no país inteiro, de baixo para cima, que levou conectividade para lugares que a gente muitas vezes, nem imaginava. Ele cita outros exemplos como os casos das presenças de lan houses em favelas do Rio de Janeiro, na Rocinha há mais de 150 lan houses, na Cidade de Deus mais de 80. Esse fenômeno é importante porque trouxe conectividade para o país e criou um novo espaço público. Ele chama esse fenômeno de “A apropriação, por parte das periferias brasileiras, da tecnologia”. Ele desenvolveu um estudo chamado “Open Business”, onde ele investiga essa apropriação da tecnologia em lugares, não só no Brasil mas também na Colômbia, no México, na Argentina e na Nigéria. Através desse estudo, ele buscou entender, o que acontece quando os lugares que a gente não espera, que são mais inusitados, se apropriam da tecnologia. Qual o impacto daquilo? Que tipo de indústria cultural, que tipo de relações surgem entre as pessoas quando a tecnologia chega a lugares inesperados?

O estudo aconteceu em cima do movimento do tecnobrega (mistura de batidas eletrônicas, no estilo dos anos 80, com o brega), por ano é lançado 400 novo CDs, entretanto, segundo Lemos, se você for a uma loja comprar um CD de tecnobrega, você não vai encontrar, pois existe um acordo direto de distribuição com os camelôs, como se pulasse os intermediários e distribuindo toda a música por camelô, mas não é pirataria pois existe esse acorda de venda com os camelôs. A forma de ganhar dinheiro são nas chamadas “Festas de Aparelhagem”, as salas de festas e as Aparelhagem contratam as bandas e os DJs, que possuem um uso intensivo de tecnologia, existe um verdadeiro culto à tecnologia. As bandas gravam seus CDs em estúdios caseiros, pagando um valor muito barato, que em seguida é entregue para o distribuidor, nesse caso o camelô, e este repassa através da venda para o público, os CDs também podem ser repassados para público nos shows. E esses artistas também crescem graças à exposição que a internet lhes proporciona, como visualizações em sites como o youtube. E é um fenômeno também das periferias globais, como o “grind” em Londres. O “publin” no Suriname. A “champeta” na Colômbia. A “cumbia-villera” na Argentina.

O que ele pode constatar foi uma experiência renovada das práticas democráticas, como acesso à internet, o acesso à informação, o acesso à arte, através da música de estilo

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tecnobrega, em lugares inesperados e por pessoas que muitas vezes ficam de fora do processo de construção e interação de diversas partes da estrutura social, mas auxiliadas pelo uso da tecnologia, elas se inseriam a sua maneira e de acordo com sua realidade em áreas importante de maneira inusitada.

Lévy, em sua obra Cibercultura, afirma que a rede de computadores é um universo que permite as pessoas conectadas construir e partilhar inteligência coletiva sem submeter-se a qualquer tipo de restrição político-ideológico, defende que a internet é capaz de democratiza a informação porque permite a valorização das competências individuais e a defesa dos interesses das minorias.

Após a demonstração dos exemplos acima, nota-se que a tecnologia deve ser utilizada para trabalhar uma maneira de expandir a forma como se distribui conhecimento, sua capacidade de dar voz à aqueles que antes se encontravam marginalizados.

Educação como um processo social

A educação é processo social, ela é um sistema humano. É sobre pessoas, sobre suas biografias, suas histórias únicas, sobre a como elas interagem com outros múltiplos atores em suas diversas realidades, como nelas estão inseridos e como a percebem, como nela se realizam como indivíduos únicos.

O sistema pedagógico precisa considerar as mudanças culturais geradas pela TICs na sociedade, as escolas não devem funcionar como algo à parte do sistema social. Não há como ter uma escola socialmente eficaz se ela se mantém inalterada frente as mudanças. É necessário que a escola se renove para que seja capaz de gerar alunos capacitados a se tornar agentes conscientes, capazes de filtrar informações com criticidade e usufruir do melhor que a tecnologia dispõe e se defender de seu mau uso.

O uso das TICs na educação, não significa mecanizá-la ou transformá-la em um processo industrial. Mas usar suas possibilidades para gerar criatividade e dar liberdade de ação para o professor. Despertar e desenvolver criatividade. Engajar a curiosidade de aprender do aluno. Revolucionar a educação, inovar, para transformar a maneira de construir conhecimento. Atualmente os alunos encontram-se desengajados, a cultura educacional vigente, não consegue lidar de maneira efetiva para a formação dos estudantes. O talento humano é diverso, deve-se aproveitar as possibilidades das TICs na educação, adaptar a educação às novas circunstâncias. Cultivando a criatividade tanto dos professores quanto dos alunos.

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As tecnologias transformaram a maneira como o mundo se organiza, produz e se relaciona. Apesar dos significativos benefícios, é importante que o homem não seja coisificado nesse processo. As pessoas se tornaram um com seus dispositivos digitais, tablets, celulares e redes sociais, se tornaram uma extensão de seus proprietários, de seus “eus” e de suas mentes. As tecnologias estão tão inseridas em seu cotidiano, estão tão imbricadas nos homens que é muito fácil internalizá-las de formar automática e acriticamente, o que pode ser perigoso. Essa conexão quase que permanente pode acarretar em mais malefícios do que benefícios.

Por isso, é importante que o professor consiga ser uma espécie de mediador e auxiliador, aparamentando o estudante da melhor maneira possível, para que ele saiba fazer uso das TICs sem perder a essência de seu eu e sem que haja perda dos limites com o excesso de uso.

O educador deve sempre assinalar a necessidade de fazer um uso consciente do espaço virtual e dos dispositivos que os jovens têm à sua disposição, treinar e ensinar o aluno a usar as TICs com uma postura crítica e com equilíbrio.

Outro problema que decorre do uso acrítico das TICs, é a questão da alienação. Há uma alienação, no sentido de que há um desligamento, uma falta de consciência da pessoa com o que é parte de si e dos assuntos expostos no meio digital. Ela se aliena em consequência de uma ideologia, entendo ideologia como “um conjunto de ideias, modos de pensar e de se relacionar para com os valores, as crenças, os costumes, as normas e os modos de certos grupos de pessoas da sociedade.” (CARRASCO,2005), passa a submeter seu eu às normas e pensamentos alheios. Portanto se a escola se manter indiferente as mudanças, e se nega à habilitar o aluno a lidar com as TICs, seria como ela se posicionasse a favor de manter e fomentar essa alienação. É necessário libertar o aluno do pensamento padrão, da aceitação do discurso raso e capacitá-lo para desenvolver uma consciência crítica, transformando em um indivíduo social, um agente transformador pleno de seu exercício social.

As novas tecnologias podem auxiliar a educação, torná-la mais flexível e interessante. É preciso questionar o modelo educacional existente. Imagina exigir a atenção de um aluno para a apresentação de um conteúdo, para que ele fique atento para escutar uma coisa que ele não pediu para aprender e que muitas vezes não se encaixa em sua realidade, mas que tem que aprender por um dia vai ser útil. É necessário pensar a educação de forma diferente, ousando um pouco mais, com novas práticas para estimular a aprendizado e a criatividade. A grande sacada está em se descobrir como unir a

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tecnologia que os alunos querem sem que ela intervira ou prejudique a grande missão da escola, instruir, educar e ensinar, respeitando os alunos como seres sociais. E é nessa hora que entra o professor, que é a ponte entre o conhecimento exigido a ser aprendido e o aluno. Renovar a metodologia do ensino é fundamental para criar novas oportunidades, é preciso trabalhar com aquilo que dispomos no nosso cotidiano, no caso as tecnologias de informação. Pois isso faz parte da sociedade, a informação virtual tem se mostrado como base de uma série de estruturas sociais, o mundo é informação. Mas como nem toda informação ou tecnologia é útil deve o educador aproveitar a chance de trabalhar com isso em sala de aula, trabalhar com o aluno uma consciência crítica para que ele esteja apto a lidar com seu conteúdo, seja em redes sociais ou em site de busca e pesquisa. A tecnologia de informação se não for bem trabalhada pode ser limitadora ou até mesmo excludente.

O estágio supervisionado

Relatório de descrição das atividades desempenhadas na disciplina de Prática de Pesquisa em Educação durante o estágio supervisionado em sociologia no curso de Ciências Sociais, habilitação Licenciatura, da Universidade Federal Fluminense. O estágio foi realizado no colégio o Colégio Estadual Aurelino Leal, que fica situada na Rua Presidente Pedreira, 79 no bairro Ingá. Duas vezes na semana das 07h00min às 12h00min, em turmas do 2º e 3º ano. O estágio supervisionado tem por finalidade envolver o aluno na prática da docência, na realidade das escolas, levá-lo à reflexão e à apreensão da relação sociedade-escola-educação. Em conjunto com a matéria de prática e pesquisa à educação IV, que teve como parte da avaliação uma aula para os alunos, que possibilitou ao aluno um contato mais direto com a prática de lecionar, pensar um tema, preparar a aula e a construção de um artigo.

O Estágio Supervisionado ocupa um lugar importante na formação docente, pois é responsável pela experiência da prática pedagógica do futuro professor, possibilita uma aproximação com o seu futuro campo de trabalho, a escola e a sala de aula, permite ao aluno-professor o desenvolvimento de habilidades necessárias à prática docente, à produção de saberes para ensinar e, ainda, à reflexão sobre a atividade docente.

Durante o estágio supervisionado tive meu primeiro contato com uma instituição pública, pois sempre estudei em colégios particulares, até ter ingressado em uma universidade federal. O colégio possui uma história interessante, o prédio no qual

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funciona o colégio já pertenceu ao Barão de São Gonçalo que foi um senhor possuidor de fazendas e engenhos, por ser considerado um prédio histórico as características desta época são visíveis na arquitetura do colégio, e este ano, o diretor encontrou em um dos prédios salas onde os escravos do Barão ficavam, e está trabalhando na restauração do ambiente.

As atividades do estágio ocorreram duas vezes na semana, na parte da manhã, cada tempo de aula possuía 50 minutos e foram ministradas em turmas do 2º e 3º ano do Ensino Médio. A professora tinha um bom relacionamento com os alunos, de maioria adolescente, as atividades que foram desenvolvidas durante o processo do estágio supervisionado foram aulas expositivas, aulas-debate com discussão de temas atuais, questionários para serem respondidas em casa ou em aula, provas presenciais e no final do curso para aqueles que não conseguiram fechar a nota necessária para a aprovação a professora Vera passou um trabalho para auxiliá-los. Durante o período, os estagiários do PIBID ofereceram oficinas para os alunos e participei de uma, foi um evento de capoeira que buscava conscientizar os alunos sobre a consciência e história negra, na aula seguinte eles trabalharam em grupo para redigir um texto sobre o tema que foi abordado através de aulas teóricas em conjunto com o evento. Durante o estágio supervisionado, acompanhávamos as atividades em aula e auxiliávamos os estudantes em trabalhos de grupo.

Os alunos da turma do terceiro anos eram mais concentrados nas aulas e bem menos bagunceiros que os da turma do segundo ano, mas ambas as turmas possuem alunos participativos na hora de fazer trabalhos ou qualquer outro tipo de atividade em sala de aula. O que pude observar no estágio é que alguns alunos de sociologia, não levavam as aulas com seriedade e não a consideram tão importante como as outras, mas isso é algo que até o Estado acredita, pois assim como a filosofia, a sociologia possui uma carga horária reduzida com relação às outras matérias.

Quando participei pela primeira vez das aulas, que é parte obrigatória da carga horária da Prática de Pesquisa de Ensino, me senti desmotivada devido a visível desmotivação do professor, que inclusive questionou a mim e a outro aluno se tínhamos certeza se era o que queríamos, pois segundo ela era muito trabalho e pouca gratificação. No estágio feito com a professora Vera, senti-me mais motivada, pois ela parecia sentir-se realizada com o seu trabalho e a maneira como suas aulas motivam alguns alunos e os influenciava na decisão de escolhas melhores.

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No decorrer do estágio com a professora Vera é visível a importância que ela dá à voz e opinião dos estudantes, o que eles pensam e o que acham interessante, para fazer a aula realmente valer a pena, fazê-los querer aprender o conteúdo que se pretende ensinar e, para ela ser docente é muito mais do que ir à sala e passar o conteúdo. É tirar tempo para estudar, ler, fazer planos de aula, pesquisar, estar atento ao mundo, observar bastante, buscar pensar a aula sempre levando em conta a realidade dos estudantes, suas necessidades e curiosidades. Procurando sempre uma nova forma de abordar os temas e correlacioná-los com a realidade, buscando esclarecê-lo e chamando a atenção dos alunos para papel de cada um no rumo das coisas, como aconteceu no evento de capoeira, onde os alunos além de assistirem foram chamados para participar.

A realidade dos alunos e suas experiências devem e são levadas em consideração no processo de ensino-aprendizagem. A professora Vera assume o papel de mediadora do saber e do conhecimento, tratando o aluno como um sujeito da sua aprendizagem e não um ser ouvinte estático, ela chama para participação, interroga, reflete com eles, sempre vinculado a um processo de conscientização social, o aluno não é um objeto de ensino alienado à sua realidade, ele é um ser pensante e atuante em seu meio, e não um mero reprodutor de conteúdo.

As aulas de sociologia, foram bem objetivas e bem pensadas, o professora aplicava aulas com os conteúdos relacionando-os à fatos cotidianos, possibilitando uma melhor compreensão do tema para os alunos. Ocorreram muitas aulas com debate, onde ela incentivava os alunos a falarem e exporem seus pensamentos, alguns deles participavam com seriedade das aulas e estavam bem preparados. Em alguns momentos, entretanto, era impossível passar o conteúdo desejado, pois ela o fazia através do ditado, ao invés de trabalhar com uma folha pronta e distribuir uma xerox entre eles, isso tomava um tempo muito precioso da aula que já era curta, e algumas vezes o tempo da aula não era suficiente para passar todo o conteúdo desejado.

Mesmo com o curto período de tempo de aula, com aos falatórios ocasionais e com uma estrutura que às vezes deixavam a desejar, a professora Vera buscava despertar nesses estudantes o senso crítico e um olhar diferente do mundo do qual eles fazem, para assim serem capazes de exercitar a reflexão sobre a realidade e o exercício de cidadania com criticidade.

A interação com o campo de atuação, durante o estágio supervisionado caracteriza-se como um momento indispensável na formação. Esta atividade formativa propicia a experiência nas diversas situações de ensino-aprendizagem e nos desafios da

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prática pedagógica. O estágio supervisionado inicia o aluno-professor no exercício da atividade docente.

O Estágio Supervisionado é imprescindível para a prática pedagógica do professor. A articulação entre teoria e prática possibilitada a identificação de aspectos próprios da prática pedagógica.

Considerações finais

De que maneira a tecnologia pode transformar a educação? De que forma deve o professor administrar a interação entre o desenvolvimento humano e o tecnológico? Até que ponto o uso da tecnologia não está produzindo indivíduos acríticos e domesticados? E como usar essas ferramenta para tornar-se habilidoso e não um mero consumidor de conteúdo midiático e vazio? Como evitar que os sujeitos sociais se tornem meros consumidores acríticos de tais tecnologias e das informações que circulam pelo ambiente digital?

É preciso buscar um vínculo das TICs com a educação, respeitando a parte humana deste processo. Respeitando a relação entre os sujeitos da educação com o conhecimento e a cultura na qual estão inseridos. Um modelo educacional que se proponha à educar alicerçada no comprometimento de auxiliar os alunos a se tornarem capazes de serem criativos e críticos, ativos e conscientes de sua realidade. Usuários pensantes e críticos das ferramentas tecnológicas e digitais.

A inserção das TICs na escola implica em desafiar professores e alunos à usá-las para além de suas funções mecânicas, mas pensar seu uso como uma ferramenta capaz de ser um agente transformador na vida dos estudantes. Muni-los para irem além da memorização do conteúdo exigido mas apreender conhecimento útil. Aprender a pensar, refletir e discutir diversos assuntos, sobre si, sobre sua cultura e sobre sua realidade. Ensiná-los a usar as TICs para adquirir conhecimento socialmente útil. O uso das TICs nas práticas pedagógicas deve buscar melhorar a qualidade de ensino, sempre atento que esse movimento ocorra de forma democrática, comprometida com um ensino que objetiva alunos conscientes e críticos de sua realidade, capazes de irem além de meros expectadores mas pessoas capazes de reflexão.

Finalmente, urge considerar que esse artigo é apenas uma tentativa de levantar questões para refletir ou para pensar mais criticamente relação entre o ensino e as TICs e mais especificamente seu impacto sobre a sociologia, disciplina que junto a filosofia

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configura o exercício do pensamento autônomo e crítico a ser desenvolvido junto a juventude no ensino médio.

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Referências

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