PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS EM PROJETOS DA PAISAGEM: A REABILITAÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA DO PARQUE FIGUEIRAL EM PRESIDENTE EPITÁCIO
Priscila Oyan Sotto, Hélio Hirao, Neide Faccio Barrocá.
Curso Arquitetura e Urbanismo / Departamento de Planejamento / Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho, priscila_sotto@hotmail.com.
RESUMO
A pesquisa busca elaborar um procedimento metodológico para o estudo de um projeto de paisagem. Para este, toma como referência os estudos da paisagem que a Arquiteta Rosa Kliass utilizou no Projeto de Plano da Paisagem Urbana em São Luis‐Maranhão. Assim, desenvolve‐se um novo procedimento metodológico utilizando as ferramentas da APO, o exame de Referências Projetuais e verificação do potencial do lugar, que encaminham para diretrizes projetuais. Para verificar a eficácia desse processo metodológico, o mesmo é aplicado no desenvolvimento de um projeto de reabilitação do Parque Figueiral de Presidente Epitácio, SP.
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Para a elaboração de um procedimento metodológico de análise da paisagem, utilizou como referência a Arquiteta Rosa Kliass no Projeto de Plano da Paisagem Urbana em São Luis, Maranhão. Com o objetivo do estudo da paisagem do Parque Figueiral de Presidente Epitácio, SP, baseou‐se nas leituras da paisagem desenvolvidas pela arquiteta e adotou‐se um método semelhante. A adaptação ocorreu devido à diferença de escala dos projetos, porém ambos buscam a reabilitação das áreas.
Os itens estudados para o projeto do Parque Figueiral serão: primeiramente a técnica da APO (Avaliação Pós Ocupação) utilizando da aplicação de questionários e da walkthrough; em um segundo momento desenvolve‐se a leitura de projetos referenciais, elaborando uma matriz de referência projetual; a terceira análise estrutura‐se no estudo da paisagem existente no parque, evidenciando seus aspectos positivos; e como quarta e última análise serão propostas as diretrizes de implantação para o desenvolvimento do projeto. Palavras‐chave: Procedimento Metodológico em Paisagismo, APO, ReferÊncias Projetuais, Paisagem, Paisagismo. METODOLOGIA E JUSTIFICATIVA O exame dos procedimentos metodológicos que a Arquiteta Rosa Kliass desenvolveu para realizar o Projeto de Plano da Paisagem Urbana, conforme o quadro 1, iniciou uma reflexão para pensar em um método de leitura da paisagem e seu diagnóstico como subsídios para a
elaboração de um projeto de reabilitação de uma área pouco apropriada pela população e com grande potencial de utilização como é o caso do Parque Figueiral em Presidente Epitácio, SP.
Portanto, para a leitura e levantamento do Parque Figueiral, utilizando como base do estudo o procedimento metodológico da arquiteta Rosa Kliass, resultou no quadro 2, que foi estruturado respeitando suas proporções, em um esquema de leitura da paisagem existente, conduzindo as diretrizes projetuais para o desenvolvimento do projeto. Quadro 1. Análise da Arquiteta Rosa Kliass. QUADRO KLIASS DEFINIÇÃO 1. Inventário Mapeamento e locação do existente e dos aspectos naturais da paisagem. 2. Diagnóstico Levantamento das atividades da área, do existente, problemas, das tendências e potencialidades constatados. 3. Análise Análise em diferentes fatores, suas conexões e superposições. E a análise comparativa com outros objetos no mesmo segmento. 4. Propostas para a paisagem urbana Propor a revalorização do patrimônio cultural e do patrimônio ambiental, em ações de adequação, contenção, consolidação, preservação, expansão. 5. Diretrizes Para planos e projetos específicos, estabelecimento de prioridades em relação às atividades futuras a serem desenvolvidas. Quadro 2. Diretrizes de análise do Parque Figueiral. QUADRO ANÁLISE DEFINIÇÃO 1. APO Desenvolve‐se os métodos da APO: a walkthrough e o questionário, para levantar e mapear o existente da área. 2. Matriz de referências projetuais
Baseado na matriz de referências projetuais, pode‐se comparar outros projetos do mesmo segmento, buscando diretrizes para sua implantação. 3. Estudo da paisagem Analisa‐se a paisagem buscando valorizar e priorizar o existente. 4. Diretrizes para implantação Diretrizes de implantação proposta para o projeto a ser desenvolvido.
Como o projeto de São Luis é estruturado em uma escala urbana, foi‐se adaptado as análises para o estudo do Parque Figueiral, que é um parque na cidade de Presidente Epitácio, admitindo sua escala local, assim, adotou‐se quatro diferenciados itens para a análise: a primeira é a APO (Avaliação Pós‐Ocupação) e suas ferramentas: a Walkthrough e os questionários. Como segundo item é a releitura de dois projetos referenciais com temas semelhantes; o terceiro é o estudo e levantamento do potencial do lugar, que analisados e refletidos serviram de subsídios para realizar um diagnóstico síntese, como quarto e último item, indicando as diretrizes de um plano de reabilitação do Parque Figueiral.
A APO se equivale ao inventário e ao diagnóstico, pois ambos tratam com o existente da paisagem, as atividades, problemas, tendências e as potencialidades das mesmas. A análise no projeto da Rosa Kliass estuda outros projetos com o mesmo segmento, que é relacionado com a matriz de Referências projetuais, pois utilizando de outros projetos na mesma área, se elabora um quadro comparativo entre os mesmos.
Já na proposta para a paisagem urbana, Rosa evidencia e valoriza os aspectos do terreno, que ela divide em: patrimônio cultural, patrimônio ambiental, ações de adequações, contenção, preservação e expansão. Para o estudo do Parque Figueiral, elabora‐se o estudo da paisagem, de forma a valorizar o patrimônio natural e ambiental do parque.
APO (AVALIAÇÃO PÓS‐OCUPACIONAL) DOS AMBIENTES CONSTRUÍDOS
A APO considera a opinião do usuário, sempre procurando entender sua relação com o ambiente construído. Segundo Rheingantz (2009, p. 16), APO é ¨um processo interativo, sistematizado e rigoroso de avaliação do ambiente construído, passando algum tempo de sua construção e ocupação.¨
Já conforme Ornstein (1992, p. 20), ¨é ¨um mecanismo eficiente de realimentação para outros projetos semelhantes e do controle de qualidade global do ambiente construído no decorrer de sua vida útil¨. Para este estudo optou‐se por realizar uma APO do tipo walkthought e com aplicação de questionário, pois conforme estudos e pesquisa, concluiu‐se que são os métodos mais eficazes para esta análise. Questionário O questionário é um exemplo do método quantitativo mais utilizado, segundo Lay e Reis (2005). É um instrumento de coleta de dados, de forma objetiva e eficaz. Com os resultados percebe‐se que o parque é bem frequentado por mulheres e homens, sendo 42% do público feminino e 58% do público masculino.
O estado civil das pessoas é na maioria casada (42%) e solteira (42%). Havendo uma pequena porcentagem de pessoas divorciadas (8%) e uma pessoa viúva. As pessoas que frequentam o Parque são de todas as faixas etárias, mas a maioria se concentra entre 20 a 30 anos (34%).
As pessoas que frequentam são de diversas profissões e que chegam de outras cidades da redondeza, havendo também alguns turistas do Mato Grosso do Sul. A nota média, de zero a dez, atribuída pelos usuários para o Parque Figueiral é de 7,6.
Nas perguntas abertas, o ponto mais encontrado foi que faltam mais equipamentos para as crianças. Muitos sugeriram a melhoria dos quiosques para refeição. Os pontos positivos mais destacados foram a arborização do parque e as áreas de lazer. Os pontos negativos mais relatados foram os banheiros, que são muito pouco conservados. Os usuários classificam a maioria dos equipamentos entre otimo e bom, mas quando a questão em relação a quais equipamentos que eles utilizam, a maioria acaba apenas utilizando aqueles que estão na orla da praia.
Walktrrough
A walkthought é um exemplo da análise qualitativa, pois tem o objetivo de coletar e analisar dados dos ambientes construídos e a utilização por seus usuários, em um período rápido de tempo. Seu principal objetivo é a descrição de aspectos positivos e negativos do ambiente, a partir de um olhar técnico do avaliador.
Os objetivos são identificar os espaços avaliados, as apropriações imediatas dos usuários do ambiente, as principais alterações realizadas nos espaços e o nível de familiarização dos usuários com os espaços.
As observações da área foram organizadas na forma do estudo de walkthought, desenvolvida com a coleta de imagens e mapa da área, conforme a figura 1.
MATRIZ DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS
O objetivo da análise de outros projetos é a leitura e compreensão de projetos semelhantes ao desenvolvido, servindo como referência a ser utilizada ou não, dependendo do contexto em que se insere o projeto de requalificação do Parque Figueiral, ou seja, o lugar e seu potencial (físico, climático, conforto, visuais, ambiência), as características do público alvo (hábitos, costumes, anseios, desejos, imaginários) que frequenta o lugar, por exemplo.
Para o estudo das referências, foram escolhidos duas obras para a leitura projetual. Esta leitura corresponde em uma observação, analise e compreensão da obra escolhida, levantando seus aspectos positivos e negativos, encaminhando diretrizes para o projeto a ser desenvolvido.
Figura 1. Análise da Walktrough. Os projetos estudados foram visitados e vivenciados, podendo haver uma grande auxílio para os estudos dos mesmos. O primeiro é o Camping Fuentes Blancas, na cidade de Burgos, ao norte da Espanha. E o segundo é o Balneário da Amizade, na cidade de Presidente Bernardes. Assim, nas duas primeiras colunas apresenta as características dos campings escolhidos e a terceira coluna são diretrizes projetuais possíveis para o projeto. As Diretrizes Projetuais, são os itens positivos que se deve ser estudado na reabilitação do Parque Figueiral, mas que serão melhores destacadas no próximo item.
MATRIZ DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS REFERÊNCIAS PROJETUAIS
PROJETOS DE REFERÊNCIA DIRETRIZES PROJETUAIS
Camping Fuentes Blancas Balneário do Futuro Projetos de diretrizes
projetuais. ENTO
RNO
Entorno composto pela vegetação e um rio que passa na encosta do camping e uma praia artificial.
No camping tem vistas
para fora, onde o
entorno é composto por muita vegetação.
Busca‐se o descanso, somente com vistas para a paisagem natural.
PAISA GEM
Não respeita o existente da paisagem local. Apenas
insere o
empreendimento.
Não respeita o existente
da paisagem local.
Apenas insere o
empreendimento.
A Casa da cascata, pois ela propõe uma sutil implantação ao na paisagem, de forma natural.
SETORI ZAÇÃO
Atividades de forma
setorizada.
Atividades de forma
setorizada
Pretende‐se setorizar as
atividades propostas,
relacionadas com suas funções. Evitando que que se molestem. ASPEC TOS ARQUI TETÔN ICOS Nenhuma característica arquitetônica marcante. Apenas os bangalôs que são todos feitos em madeira, resultando em
uma tendência
arquitetônica. Área
totalmente adaptada para deficientes.
Arquitetura tradicional, sem nenhuma linha ou tendência arquitetônica. Utiliza das cores como característica marcante para o camping.
Não se pretende projetar edifícios monumentais, apenas utilizar da arquitetura funcional, para melhor desenvolver o projeto.
LEITURA DA PAISAGEM E DIAGNÓSTICO
Esta etapa do processo metodológico faz a leitura da paisagem existente, com seus aspectos naturais da topografia, insolação, ventilação, vegetação e a hidrografia, visuais favoráveis. Verifica assim, o potencial do lugar a ser considerado na definição das diretrizes de projeto.
A topografia do Parque Figueiral é consideravelmente plana, com a ressalva de algumas áreas que possui um declive mais acentuado, ou até alguns pontos de grandes desníveis. O parque possui um desnível de 45m que divididos ao longo dos seus 851m de largura, possui uma inclinação média no terreno de 5,30%.
A insolação incide no terreno de forma perpendicular ao seu comprimento. Assim, o nascer e o por do sol são observados no horizonte do Rio Paraná.
Os ventos acontecem na vertical do parque e sua maior intensidade ocorre saindo do rio, e percorrendo ao longo do parque.
A vegetação existente esta espalhada ao longo do terreno, sendo do tipo rasteira em todo o parque. Mas também há várias árvores, de grande, médio e pequeno porte. A vegetação existente deverá ser integrada na implantação do projeto arquitetônico e paisagístico. A hidrografia é composta pelo rio Paraná, ao longo de toda a orla do Parque. A orla da praia é um atrativo natural. Assim, os quiosques, banheiros e estacionamentos que estão o redor da orla, também são os mais utilizados. Os outros equipamentos são muito poucos utilizados.
Na figura 2, observa‐se um esquema da insolação, ventilação, topografia, vegetação e hidrografia existente na área. Na figura 3, destacam‐se os caminhos atuais do parque. Os caminhos de cascalho são os mais utilizados e maiores. Os de pedrisco são os menos utilizados, sendo em alguns pontos do parque, praticamente inexistentes. O material construtivo dos
equipamentos existentes é a alvenaria aparente.
Figura 2. Esquema de ventilação,
insolação e topografia do parque. Figura 3. Mapa dos caminhos do parque.
RESULTADOS
Como resultado, apresenta‐se as diretrizes projetuais, que foram baseadas na análise de referências projetuais dispostas na matriz, bem como no estudo e compreensão das características naturais e das intervenções existentes do Parque Figueiral.
DISCUSSÕES
A discussão consiste na principal diretriz do projeto de reabilitação do parque será a integração dos ambientes construídos com o ambiente natural do parque, trabalhando com os caminhos, fluxos, volumetria e materialidade do objeto proposto.
A implantação será desenvolvida a partir dos espaços cheios e vazios e de seus caminhos existentes. Além de tirar partido do desnível do terreno, para um projeto acessível, onde todos seus usuários possam utilizá‐los sem nenhuma restrição. Esta implantação acontecerá na forma de setorização das atividades, de forma que estas atividades semelhantes estejam relacionadas com as características do terreno e sua potencialidade a ser aproveitada. Sempre integrando‐as e relacionado‐as.
Os caminhos contemplam o visual do parque, tomando partido para a implantação dos equipamentos, que estarão localizados ao longo dos mesmos. Estes caminhos poderão ser ora contemplativos, ora de percurso, ora de atividades de permanência e ora de flanar. As edificações devem se integrar ao máximo, com a natureza. Utilizando de materiais que integrem com o parque, as edificações não buscam o objetivo de serem monumentais, mas colocadas de forma a participarem da paisagem. Locadas de melhor forma no terreno, buscam aproveitar seus aspectos naturais, como ventilação e iluminação. CONCLUSÕES
Com o procedimento metodológico adotado, o encaminhamento projetual da reabilitação surge naturalmente, como consequência, bem como a fundamentação para justificativas das soluções adotadas no projeto fica clara. Desta forma o Projeto de reabilitação do Parque Figueiral ganha consistência e qualificação.
Existem diversos outras perspectivas de procedimentos metodológicos em projetos da paisagem, mas este adotado possui uma condução lógica contemplando os vários aspectos envolvidos no processo com um potencial de acerto de chegar a boas soluções de desígnios para a requalificação do Parque Figueiral.
REFERÊNCIAS
KLIASS, R. G. Rosa Klias: desenhando paisagens, moldando uma profissão. Texto: Ruth Zein. Editora SENAC. São Paulo. 2006.
ORNSTEIN, S. W.; ROMÉRIO, M. A. (col.) Avaliação pós ocupação (APO) do ambiente construído. São Paulo: Studio Nobel / Edusp, 1992.
RHEINGANTZ, P. A.; et al. Observando a qualidade do lugar: procedimentos para avaliação pós ocupação. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU/ARQ, 2009.110p.