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A valorização dos espaços verdes para a qualidade de vida urbana

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Academic year: 2021

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Karina Andrade Mattos

Universidade Estadual Paulista ´´ Júlio de Mesquita Filho´´ - Campus Bauru

karina_amattos@hotmail.com

A valorização dos espaços verdes para a qualidade de vida urbana

Norma Regina Truppel Constantino

Universidade Estadual Paulista ´´Júlio de Mesquita Filho´´ - Campus Bauru

nconst@faac.unesp.br 806

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

A VALORIZAÇÃO DOS ESPAÇOS VERDES PARA A QUALIDADE DE VIDA URBANA1

K. A. Mattos e N. R. T. Constantino

RESUMO

A crescente busca pela qualidade de vida urbana nas últimas décadas tem levado ao aumento da valorização dos espaços verdes urbanos, contudo, as ações desenvolvidas nestes espaços pelos gestores nem sempre correspondem às reais necessidades dos cidadãos, tornando-se um desafio ao planejamento urbano. Neste trabalho exploram-se os resultados de uma investigação qualitativa e quantitativa sobre as funções e os benefícios dos espaços verdes nos municípios brasileiros de Botucatu e Bauru, obtidos por multimétodos - pesquisa bibliográfica e documental, estudos de campo, cartografia, entrevistas e Best-Worst Scaling (BWS). Os resultados mostram que há uma hierarquização dos benefícios dos espaços verdes pela população, pois em Botucatu a percepção dos cidadãos assemelha-se às medidas adotadas pela gestão pública; e que pesquisas desta natureza são fundamentais para a valorização dos espaços verdes urbanos, para o planejamento de políticas públicas e para a qualidade de vida das cidades e de seus usuários.

1 INTRODUÇÃO

Diante da paisagem urbana construída e consolidada ao longo do século XX, embasada em um crescimento acelerado e desordenado das cidades, nas últimas décadas, uma nova discussão a respeito da importância da relação conjunta entre processos naturais e humanos tem ganhado força. A busca pela qualidade de vida e pela reintrodução de elementos naturais na paisagem2 das cidades fizeram com que os espaços verdes urbanos3 ganhassem destaque.

1 Artigo desenvolvido a partir da dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo intitulada ´´ Espaços verdes urbanos: análise multimétodos para a valorização´´, concluída em 2017 no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Bauru, Brasil. 2 Segundo Besse (2006, p. 145), são diversas as acepções da paisagem, resultado da fragmentação profissional e acadêmica das diferentes disciplinas (Filosofia, Geografia, Ecologia, Urbanismo, etc.) que a estudam. Assim, para o presente trabalho, a paisagem pode ser definida, ´´ 1) como uma representação cultural (principalmente informada pela pintura), 2) como um território produzido pelas sociedades ao longo da história, 3) como um complexo sistêmico que articula os elementos naturais e culturais em uma totalidade objetiva, 4) como um espaço de experiência sensível rebelde as diversas formas possíveis de objetivação, 5) e por último, como um sítio ou um contexto de projeto.´´. Para esse trabalho consideramos a paisagem urbana como “a porção ou a face da estrutura urbana que se revela aos nossos sentidos.” (Landim, 2004, p.36) 3 Entende-se por espaços verdes os espaços livres com vegetação, já os espaços verdes urbanos são aqueles “espaços abertos públicos e privados em áreas urbanas, principalmente cobertos por vegetação, que estão diretamente (por exemplo, recreação ativa ou passiva) ouindiretamente (por exemplo, influência positiva no

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Importante representante da natureza4, estes espaços têm se mostrado componente fundamental dentro dessa nova conjuntura urbanística que se desenvolve. Sua complexa e multidimensional estrutura reflete-se através de suas diversas funções, com valores ambientais, econômicos, estéticos, sociais e culturais. Assim, os novos parâmetros de utilização desses espaços versam sobre os diferentes benefícios que os mesmos já apresentaram ao longo da história das cidades e da sociedade, e que foram deixados de lado durante o processo desenvolvimentista pungente.

Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, diversos autores têm destacado e ordenado estes benefícios na ambientação das cidades e da paisagem urbana, destacando a importância desses elementos para a conformação do meio (Kaplan, S., 1995; Spirn, 1995; Hough, 1998; Romero, 2001; Kaplan, R., 2001; Moore e Cosco, 2005; Dines et al.; 2006; Pellegrino et al., 2006; Fálcon, 2007; Thompson, 2007; Herzog, 2013). Quando integrados ao desenho da cidade, os espaços verdes oferecem benefícios ambientais como equilíbrio entre o espaço modificado urbano e o meio ambiente; a redução da poluição atmosférica; a estabilização e melhoria da temperatura e umidade do ar; a retenção de pó e de dióxido de carbono; a atenuação de ruídos; a promoção da biodiversidade; a absorção da água da chuva; dentre outros. No caráter econômico, além de contribuírem para a valorização do local e para investimentos, proporcionam uma economia para a administração pública, uma vez que evitam os reparos de diversos problemas ambientais. No estético, proporcionam maior harmonia à paisagem, aumentando a qualidade visual da cidade. Com relação aos benefícios socioculturais, afetam tanto física quanto mentalmente os cidadãos, uma vez que proporcionam a promoção da saúde e do bem-estar; disponibilizam memórias por toda a vida; experiências multissensoriais; contato com a natureza; incentivo à prática de atividades esportivas e recreativas ao ar livre; convívio e interação social, dentre outros.

Diante dos inúmeros benefícios oferecidos, a inserção dos espaços verdes urbanos tem se tornado um desafio ao planejamento das cidades, visto que a implantação destes espaços requer uma definição com relação às prioridades de função a fim de qualificá-los. Muitas vezes, as tomadas de decisão e as ações desenvolvidas nestes espaços pelos gestores não correspondem às reais necessidades ou anseios dos cidadãos, causando novos problemas, como por exemplo, o abandono, a depredação e a falta de identidade com o meio. Deste modo, compreender como as diferentes instâncias da sociedade avaliam estes espaços é imprescindível para a construção e aplicação de estratégias e políticas públicas mais participativas e eficientes. Os espaços verdes e seus benefícios só se tornam significativos a vida urbana e a população à medida que são tratados diretamente em políticas, programas e projetos bem sucedidos, em conjunto com os usuários do meio urbano (Madureira et al., 2014).

Assim, o presente trabalho tem como objetivo explorar os resultados de uma pesquisa sobre como a população das cidades de Botucatu e Bauru, ambas localizadas no ambiente urbano) disponíveis para os usuários” (Baycan-Levent, Vreeker e Nijkamp, 2009, p.195, tradução nossa). Esses espaços são alguns dos elementos que estão inseridos na paisagem.

4 São diversos os conceitos adotados para natureza e ambiente. Assim, para o presente trabalho, entende-se ´´que o conceito de natureza se refere ao objeto mundo natural [...] (Ribeiro e Cavassan, 2013, p.66) e “o conceito de ambiente inclui em si o de território, também o conceito de paisagem inclui em si o de ambiente; então, a realidade que devemos estudar e sobre a qual, se necessário, devemos intervir é sempre a paisagem, e não o ambiente e muito menos o território.” (Assunto, 2011, p.129).

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Oeste do Estado de São Paulo, classifica os benefícios dos espaços verdes, e se os benefícios atribuídos pelos cidadãos apresentam o mesmo valor daqueles destacados pelas políticas públicas municipais.

2 METODOLOGIA

A partir do objetivo proposto, a investigação ocorreu por meio de duas principais frentes: a primeira direcionada às políticas públicas e ações municipais para os espaços verdes urbanos de Botucatu e Bauru, utilizando-se, assim, de pesquisa bibliográfica, documental, estudo de campo, cartografia e entrevistas; e a segunda direcionada à posição da população em relação aos benefícios destes espaços, por meio de questionários e método Best-Worst Scaling (BWS).

Para entender a atual configuração dos espaços verdes urbanos dos munícipios, bem como as ações diretamente atreladas a eles, é preciso considerar o contexto histórico, político, social e urbano ao qual foram inseridos desde a sua formação. Assim, além de um levantamento bibliográfico, para traçar um perfil histórico de cada município e sua relação com a configuração dos espaços verdes na malha urbana, foi realizado um levantamento documental das principais medidas adotadas pelos gestores para estes espaços, considerando desde fontes primárias, como leis e decretos, até secundárias, com projetos e programas da administração pública. Após a contextualização das cidades e suas respectivas legislações, foram selecionados oito espaços verdes urbanos em cada uma delas, para o estudo de campo. A partir de visitas in loco e observações, identificou-se as lógicas decorrentes de cada espaço, sua relação com diferentes elementos urbanos, os cidadãos e a paisagem. As informações desta etapa foram sistematizadas em fichas de caráter documental, físico-ambiental e comportamental, em conjunto com a cartografia, não detalhadas no presente estudo. As entrevistas estruturadas (Gil, 2008) ocorreram com representantes da administração pública municipal e profissionais da arquitetura e complementaram as etapas anteriores.

Para a pesquisa com a população, foi realizado um questionário estruturado em três partes5. A primeira parte está relacionada à caracterização socioeconômica; a segunda, à percepção dos participantes em relação aos espaços verdes urbanos da cidade; e a terceira, é relativa à identificação dos benefícios dos espaços verdes urbanos mais importantes, cujos resultados serão explorados neste trabalho. Por meio da técnica ´´Best-Worst Scaling´´ (BWS), foram inseridos para avaliação cinco benefícios ambientais e cinco socioculturais (Tabela 1).

5 A estrutura do questionário é a mesma aplicada pelos pesquisadores Helena Madureira, Fernando Nunes, José A. Vidal Oliveira e Teresa Madureira em cidades de Portugal e França, em função de parceria firmada entre as autoras e os pesquisadores nesta etapa da pesquisa. O artigo “Benefícios atribuídos aos espaços verdes urbanos pela população: resultados de um inquérito conduzido em Lisboa e no Porto” (Madureira et al., 2014) traz os resultados da pesquisa com os espaços verdes urbanos portugueses, e que serviram de base para a elaboração da pesquisa no Brasil.

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Tabela 1 Benefícios dos espaços verdes urbanos avaliados na pesquisa

Benefícios Ambientais Benefícios Sociais e Culturais

1. Diminuir a poluição do ar da cidade 6. Aumentar a qualidade visual da cidade 2. Diminuir a temperatura do ar na cidade 7. Favorecer o contato com a natureza

3. Reter o dióxido de carbono 8. Fomentar atividades recreativas e desportivas

ao ar livre

4. Contribuir para a diversidade 9. Promover a saúde e o bem-estar

5. Atenuar o ruído na cidade 10. Facilitar o convívio e a interação social

Diferente de outros métodos de avaliação, por meio do Best-Worst Scaling (Burke et al., 2013; Casini et al., 2008; Flynn e Marley, 2014) os participantes devem identificar o benefício ´´mais´´ e ´´menos´´ importante a partir de um conjunto de atributos (De Magistris et al., 2011), obrigando-os a fazer escolhas de uma forma mais consciente (Cunha, 2013), a fim de hierarquizá-los. Organizados a cada três ou mais, os atributos são distribuídos em conjuntos (´´sets´´) que surgem de forma contínua durante o questionário (Madureira et al., 2014; Casini et al., 2008) (Figura 1). Por meio de software, determinou-se o aparecimento dos atributos o mesmo número de vezes (Madureira et al., 2014), nos dez conjuntos analisados.

Fig. 1 Exemplo de um conjunto com quatro atributos

Com a definição do universo e da amostra da população de Botucatu e Bauru, o questionário foi aplicado de forma ´´online´´, com 250 moradores de cada centro urbano, totalizando 500 pessoas. Com o auxílio de indicadores de análise, foi possível obter um ranking ordinal dos atributos, em uma escala de intervalo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em relação ao processo de valorização dos espaços verdes urbanos pelas administrações públicas dos municípios estudados, observa-se que, em Botucatu, o reconhecimento da importância dos elementos naturais e dos espaços verdes surge, por meio de ações dos gestores, de forma tardia, a partir da necessidade de reparos de áreas fragmentadas e de problemas ambientais. Com isso, o município passa a valorizar ações relacionadas à manutenção e conservação do meio ambiente. Em Bauru, a ausência de uma política de criação e tratamento dos espaços livres durante a implantação da malha urbana em quadrícula e o desenvolvimento posterior de obras sanitaristas e higienistas, embasadas em paradigmas, como a canalização dos córregos e a retirada da mata ciliar, contribuíram para

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a formação de uma cidade sem levar em consideração os preceitos ambientais. A elaboração tardia de um conjunto de legislações ocorreu na tentativa de minimizar os impactos já existentes e controlar a futura expansão da malha urbana junto aos remanescentes vegetais ainda preservados.

Com configurações históricas e urbanas semelhantes e também algumas especificidades locais, decorrentes das características morfológicas do território e dos processos desenvolvimentistas, constata-se que em ambas as cidades, o reconhecimento da importância dos espaços verdes e a consolidação de um conjunto de medidas urbanas e ambientais só ocorreram em virtude dos inúmeros problemas sofridos, como as enchentes e a supressão de maciços vegetais, que passaram a afetar diretamente sua infraestrutura e o bem-estar da população.

Ao longo dos anos 2000 em Botucatu, políticos, gestores e planejadores mudaram a forma de administrar a cidade, e adotaram novas medidas em relação à paisagem e os espaços verdes, com base em participação em programas e projetos com diferentes instituições, atuação popular e novas ferramentas públicas. Verifica-se um avanço da gestão ambiental botucatuense, em função das mudanças e tendências que se manifestam no cenário social contemporâneo, principalmente no que se refere ao reconhecimento da importância das várias funções e benefícios dos espaços verdes. O desenvolvimento de espaços de qualidade, por meio de reformas e programas de conservação, incentiva, atualmente, o uso pela população e eleva seus níveis de satisfação, como, por exemplo, na praça Rubião Júnior, inaugurada em 1916 e reformada em 2014 (Figura 2). Um dos elementos mais importantes do centro histórico da cidade, a praça conta com sanitários, rede de internet wi-fi, mobiliários de qualidade (bancos, lixeiras, postes de iluminação e bebedouro para cães), estátuas, chafariz, lagos com peixes, canteiros e árvores de pequeno, médio e grande porte que atraem os usuários para seu interior, sendo utilizada atualmente como local de passagem, permanência, convívio social, contemplação, visitação e atividades esportivas, de lazer e cultura6.

Fig. 2 Praça ´´Rubião Júnior´´, Botucatu/SP

6 Todas as informações a respeito da praça foram obtidas através da observação sistemática realizada em dois dias da semana.

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Em Bauru, com a setorização e estruturação do município em zonas, a gestão pública buscou um controle sobre a paisagem urbana e natural. De fato, ao longo dos anos de 1990 e 2000, criou-se uma ampla legislação de ordenação do território, de proteção ambiental e de gestão dos recursos naturais. Com isso, inúmeras diretrizes, planos, programas e projetos foram previstos, contudo, a inércia da administração municipal, a falta de recursos e a desvalorização de ações ambientais impediram o avanço das ideias para além do papel. Os instrumentos públicos, até hoje, não são suficientes para assegurar a preservação, manutenção e qualidade dos espaços verdes urbanos. A carência de ações mais efetivas por parte da gestão ambiental reflete tanto na qualidade dos espaços quanto no grau de satisfação da população. Apesar do constante trabalho da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) nos espaços verdes urbanos, políticos, gestores e planejadores devem mudar a forma de administrar, adotando medidas mais efetivas junto às diferentes instituições e a população. Durante as observações realizadas em alguns dos mais importantes parques e praças arborizadas de Bauru, constatou-se uma falta de identidade entre o cidadão e o espaço, além da ausência de uma política de educação ambiental mais efetiva, que vise a conservação dos espaços verdes urbanos. Na praça Rodrigues de Abreu, por exemplo, datada de 1923, é possível verificar a falta de identidade dos usuários com o meio. Ocupada pela Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus, por uma escola municipal e pela Legião Feminina de Bauru, a praça é utilizada principalmente como local de passagem e de permanência rápida. Além dos poucos mobiliários, seus caminhos encontram-se em péssimo estado de conservação, causando problemas de circulação. Além de servir como acesso para a escola e a igreja, funciona como estacionamento para motoristas que param seus veículos sobre os canteiros, apesar da sinalização ´´Proibido estacionar. Área de praça´´ (Figura 3).

Fig. 3 Praça ´´Rodrigues de Abreu´´, Bauru/SP

No que se refere à classificação dos benefícios dos espaços verdes urbanos pela população de Botucatu e Bauru, observa-se na figura 4 uma hierarquização dos mesmos. A análise dos resultados demonstra que a ordem ocorre de maneira muito semelhante em ambos os centros urbanos, indicando um consenso em relação aos dois benefícios mais importantes - ´´promover a saúde e o bem-estar´´ e ´´diminuir a poluição do ar da cidade´´, em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Além disso, observa-se um mesmo posicionamento dos participantes em relação aos três benefícios menos valorizados, que são ´´facilitar o

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convívio e a interação social´´, ´´aumentar a qualidade visual da cidade´´ e ´´atenuar o ruído na cidade´´.

Fig. 4 Hierarquização dos benefícios dos espaços verdes urbanos pela população de Botucatu e Bauru

Assim, diante de tais semelhanças, não é possível afirmar que a escolha dos benefícios está diretamente atrelada às características e particularidades de cada cidade e de suas ações públicas, uma vez que estas são bem distintas. Na ordem política, em Botucatu, observa-se uma ação mais efetiva dos gestores municipais, tanto pelo conjunto de legislações ambientais vigentes, quanto pelos programas de reforma e melhoria dos espaços verdes públicos. Já em Bauru, o processo de ações efetivas nestes espaços ainda está em processo de consolidação, embora exista um conjunto significativo de leis para o ordenamento dos mesmos.

Os resultados obtidos por meio dos multimétodos, no entanto, permite identificar particularidades em relação à opinião dos participantes e o desempenho administrativo. No município de Botucatu, por exemplo, observa-se uma valorização de medidas e políticas atreladas diretamente aos benefícios ambientais. As diversas ações realizadas em parceria com a população e as Organizações Não-Governamentais (ONGs) da cidade pode ser um dos fatores responsáveis pela moderada valorização pelos participantes, no conjunto, dos benefícios ambientais. Dos cinco benefícios mais importantes, três são de ordem ambiental. Já em Bauru, a falta de ações efetivas para a consolidação de espaços verdes urbanos de qualidade não contribuem para o contato da população com a natureza. Embora seja considerado o terceiro benefício mais importante para os bauruenses, verifica-se pouca utilização destes espaços verdes urbanos pelos cidadãos, com exceção dos espaços localizados em áreas centrais.

Além da relação com fatores de contexto local, observa-se que contextos globais também interferem na classificação. Ao comparar com outros estudos da mesma natureza realizados em outros países, constata-se uma semelhança na classificação. Em pesquisas

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realizadas em Portugal (Madureira et al., 2014) e China (Jim e Shan, 2013), o benefício mais valorizado também estava relacionado a promoção da saúde e do bem-estar, demonstrando uma tendência geral de preocupação com o corpo e a mente. Por fim, os portugueses de Lisboa e Porto também acreditam que ´´atenuar o ruído na cidade´´ seja o benefício menos valorizado (Madureira et al., 2014).

4 CONCLUSÃO

A partir da investigação apresentada, observa-se uma visão hierárquica dos benefícios dos espaços verdes urbanos. Com tal classificação, pode-se apresentar duas principais conclusões. Primeiro, os benefícios não são avaliados de maneira igual pelos participantes de Botucatu e Bauru, embora exista alguma semelhança. Segundo, em Botucatu, as ações públicas municipais para os espaços verdes urbanos aproximam-se mais da visão e dos anseios da população.

Ainda que diferentes, as classificações dos benefícios dos espaços verdes urbanos dos dois municípios apresentam semelhanças significativas entre os mais valorizados e menos valorizados, seguindo uma tendência de outros estudos. Pode-se afirmar, portanto, que são diversos os fatores que influenciam na escolha, tanto de ordem mais geral quanto local. Ao comparar a hierarquização dos benefícios com as ações pública municipais, observa-se que, de fato, há uma diferença. Enquanto em Botucatu existe uma compatibilizacação de ideias entre as esferas pública e popular, em Bauru, há um contraste. No entanto, mesmo com a ampla abordagem sobre as características socioambientais e as políticas públicas municipais para os espaços verdes, acredita-se que novos estudos devem ser realizados a fim de detectar-se outros fatores importantes de influência, uma vez que os analisados no presente estudo não se mostraram fatores únicos e determinantes para diferenciar a hierarquização realizada pelos cidadãos.

É notório que pesquisas e medidas desta natureza são fundamentais para a valorização dos espaços verdes urbanos, para o planejamento de políticas públicas e para a qualidade de vida das cidades e de seus usuários. Portanto, para evitar conflitos entre as diferentes instâncias da sociedade e para auxiliar e qualificar os processos de decisão das funções dos espaços verdes urbanos, novos métodos de avaliação e interação entre os grupos sociais devem ser desenvolvidos.

5 AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) pelo apoio financeiro; agradecemos também aos pesquisadores Helena Madureira, Fernando Nunes, José A. Vidal Oliveira e Teresa Madureira, pelo auxílio fundamental em uma das fases da pesquisa.

6 REFERÊNCIAS

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