• Nenhum resultado encontrado

Brinquedoteca Aprender Brincando : espaço educativo alternativo na Universidade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Brinquedoteca Aprender Brincando : espaço educativo alternativo na Universidade"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Brinquedoteca Aprender Brincando : espaço educativo alternativo na Universidade

Maria Janine Dalpiaz Reschke1

Lílian Aiala2

Este trabalho tem como objetivo discutir os resultados do projeto de extensão: Brinquedoteca como um espaço lúdico-científico dentro da Universidade Luterana do Brasil Gravataí, desenvolvido no curso de Pedagogia e apoiado pelos cursos de Letras, Matemática, História,Biologia e Psicologia. Descreve o projeto da brinquedoteca, as atividades nela desenvolvidas durante os anos 2007 e 2008. Pretende contribuir para a reflexão acerca da necessidade de implementar medidas institucionais orientadas para a formação de professores que prestigiem a presença e a utilização do lúdico na Educação. Preconiza o uso do lúdico na Educação como alternativa de promoção da inclusão social, sob o argumento de que o ressignificar do brincar contribui para o questionamento dos padrões de funcionamento da escola e possibilita o resgate do prazer de aprender, colaborando com o sucesso escolar. Considera a importância da dimensão lúdica no desenvolvimento e aprendizagem humana na perspectiva da discussão sobre as relações entre lazer e educação, desde o ponto de vista da necessidade de educar para o lazer até o exame das especificidades e articulações entre ludicidade e educação.

Palavras Chave: Formação de professores, Ludicidade, Brinquedoteca

Apresentando a Brinquedoteca

O Projeto Brinquedoteca: espaço lúdico científico trata-se de um espaço totalmente lúdico, organizado com jogos, brinquedos e acessórios que possibilitam o brincar tranqüilo. Diariamente de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 11h e das 14h às 17h30min, e aos sábados das 08h30min às 11h, o espaço está aberto

1

Socióloga, Mestre em Sociologia, Professora do Curso de Pedagogia da Ulbra Gravataí

2

(2)

para crianças, jovens e adultos exercerem seu direito de brincar,através de visitas agendadas, durante o período de uma ou duas horas. Oportunizamos empréstimos de brinquedos para as crianças que sejam associadas, materiais pedagógicos, brinquedos e livros aos acadêmicos. Possuímos um grupo de estudos, Infância, brinquedos e brincadeiras, constituídos pelas monitoras, professores e acadêmicos interessados .

Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se confundem. O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo.

Criar um espaço denominado Brinquedoteca destinado à pesquisa de jogos e brincadeiras na infância, bem como beneficiar a comunidade infantil, do município de Gravataí e região, com momentos de recreação e lazer que oportunizam a melhoria dos laços afetivos e de aprendizagem. Esse projeto possui uma proposta de integração entre as áreas de ensino, pesquisa e extensão, teve o seu início a partir de uma disciplina chamada Pesquisa da criança na educação infantil e nos anos iniciais do curso de Pedagogia, pois as acadêmicas deveriam durante o semestre realizar um estudo sobre a infância.

Surgiu a necessidade de termos na universidade um espaço para que as crianças pudessem circular na universidade e as acadêmicas realizarem atividades pra que pudessem realizar as suas investigações. Pensamos então, em criar na universidade um espaço específico para essas crianças utilizarem, as acadêmicas e professoras preocuparam-se em oferecer para as crianças um espaço de desenvolvimento infantil, com brincadeiras livres e dirigidas .

Com isto a brinquedoteca surge como um projeto de enfoque sócio-educacional, onde as crianças da comunidade podem ser atendidas em um espaço de formação profissional e de qualidade. A brinquedoteca é para as crianças, mas a brinquedoteca na universidade, como cita Kishimoto: “é um espaço privilegiado onde os alunos de diversos cursos podem não só observar a criança, mas também desenvolver atividades com vistas ao aperfeiçoamento profissional”.

(3)

Vivenciando a Brinaquedoteca

A Brinquedoteca é um espaço aberto para o intercâmbio entre os acadêmicos, universidade e comunidade. Disponibiliza a partir de oficinas, visitas monitoradas, atividades e cursos, propiciando às pessoas da comunidade frequentarem a universidade. Inicialmente, ofereceram-se diversas oficinas tais como: Contação de histórias, Primeiros Socorros, Iniciação de Libras, Métodos de Alfabetização, Construindo Brinquedos a partir das Sucatas, Resgate de Brinquedos e Brincadeiras antigas entre outras, com o intuito de dissiminar a relevância do brincar na educação, bem como do espaço na universidade. Com essas oficinas agregaram-se os cursos e os acadêmicos ofereceram-se para as monitorias. Durante esses dois anos contamos com a participação de vinte oito acadêmicos dos cursos de pedagogia, licenciaturas e Psicologia.

Esse espaço é organizado para que o lúdico seja vivenciado independente da idade proporcionando momentos de prazer. Preparamos o espaço para receber o grupo, organizamos de acordo com o número de crianças as oficinas a serem desenvolvidas. A sala da brinquedoteca comporta em torno de 10 crianças, então, se a demanda é maior, utilizamos outras salas de aula, corredor e espaços externos para desenvolvermos as atividades. Sempre recebemos nossos visitantes com brincadeiras de acolhida, movimentando o corpo e integrando o grupo. Caso o grupo seja maior que 15 pessoas ou de diferentes faixas etárias, dividimos em pequenos grupos e as monitoras organizam as oficinas, estas nas salas ao lado, que são decoradas e organizadas para as atividades, (recreação, dobraduras, pinturas no rosto), no corredor, brinquedos e brincadeiras antigas.

As crianças fazem o rodízio pelos espaços de acordo com o seu interesse, elas brincam de forma dirigida nessas oficinas e livre na brinquedoteca e no corredor, que é o espaço de brinquedos antigos, pés de lata, peão, vai e vem,cinco marias, perna de pau, corda entre outros. Independente da idade que os nossos visitantes possuem eles adoram essas brincadeiras e brinquedos. Relembrando a fala de um menino de 07 anos,“nossa! Como é legal anda de pé de lata, faz barulho e eu fiquei grandão”.

(4)

Não só as crianças divertem-se com os brinquedos antigos, acadêmicas e idosos fizeram a festa nesse corredor. Sentiram ao ver esses brinquedos vontade de brincar com eles, alguns arriscaram a andar de perna de pau, outros ficaram brincando de cinco marias e cama de gato, mas divertiram-se muito, na voz de uma delas :“como é bom aqui, é lindo! Nossa eu brinquei muito dessas coisas, minha mãe fazia as cinco maria pra mim com o resto do pano do vestido, e eu brincava muito”(65 anos).

A importância das brincadeiras de rua e dos brinquedos manuais foi abordada na oficina, que propõe a escola como um lugar de resgate desses costumes. “Num mundo em que cada vez mais as crianças buscam o lazer em jogos eletrônicos ou em frente à televisão, o professor é aquele que pode levar outras formas de brincar a seus alunos”, diz a ministrante da oficina de brinquedos e brincadeiras antigas, acadêmica do curso de pedagogia. Bonecas de pano, peteca, pipa, pernas-de-pau, cinco-marias, estão entre as dicas dadas na oficina. “A idéia é ensinar as crianças a serem construtoras de seus momentos de lazer e não mais prisioneiras dos equipamentos modernos, dar-lhes outras opções”, avalia a professora.

No relato do cotidiano podemos observar a alegria, a espontaneidade e busca de solução de problemas, por exemplo: estávamos jogando futebol de botão com uma menina de 03 anos e a monitora fez um gol, a menina rapidamente começou a tampar a goleira para que não fizesse mais gols, no momento que a monitora disse a ela que não fazia parte das regras do jogo ela falou: “faz sim tia!”

Em muitos momentos esses jovens, demonstram seus sentimentos em relação a si mesmos, uma jovem de 15 anos, colocou uma fantasia, saia de tule, colares e coroa, olhou para nós e disse: eu não estou a cara da Barbie? Sorrimos e perguntamos? Como estas te sentindo, ela respondeu a própria Barbie e saiu dançando, permaneceu com a fantasia até o momento de ir embora.

Cabe destacar aqui a diferença entre os dois tipos de atividades, as recreativas são planejadas, o educador dirige a ação e as crianças jovens ou adultas seguem a proposta. A atividade no espaço da brinquedoteca é o brincar livre, é a

(5)

criança quem dirige a atividade, ela cria, inventa, transforma, constrói e se expressa livremente. Na brinquedoteca ela é o artista principal e os monitores e educadores são os espectadores, devemos ter cuidado para não tornarmos a criança espectadora.

Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se confundem. O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo.

Outro aspecto que consideramos relevante na sociedade contemporânea é o fato de que a maioria das famílias não dispõe de tempo para brincar com as crianças, e mais do que isso, tempo para estabelecer vínculos afetivos entre pais e filhos. Realizamos uma das oficinas visando à interação entre pais e filhos. Estiveram presentes algumas mães e seus filhos, confeccionaram brinquedos com sucata. “Na fala das mães e das crianças -” foi uma tarde muito divertida”.Uma das crianças sorria o tempo inteiro observando a sua mãe brincar com o brinquedo que elas haviam construído juntas.

Realizamos a oficina de brinquedos e brincadeiras antigas em visita á uma escola da comunidade, estiveram várias mães com seus filhos que passaram boa parte da tarde confeccionando e brincando com peões, pés de lata, vai e vem, contavam para os seus filhos como brincavam com esses brinquedos e quando terminavam o brinquedo saiam para brincar, ficou manifesto tanto o prazer em fazer os brinquedos, quanto a oportunidade de ensinar aos seus filhos como se brinca.É preciso ensinar a brincar, ouvir ser compreensivo e sorrir bastante.

Para facilitar e estimular o relacionamento familiar pode-se escolher um jogo que a criança goste e em torno dele reunir a família, os amigos. O jogo funciona como um objeto facilitador de relacionamento, proporcionando uma boa oportunidade para a convivência agradável e brincando junto, a família pode encontrar novas possibilidades de estreitar o relacionamento e redescobrir o prazer da interação.

(6)

Entender o papel do jogo nessa relação afetiva-emocional e também de aprendizagem requer que percebamos estudos de caráter psicológico, como mecanismos mais complexos, típicos do ser humano, como a memória, a linguagem, a atenção, a percepção e aprendizagem. Vygotsky (1984) afirma que a zona de desenvolvimento proximal é o encontro do individual com o social, sendo a concepção de desenvolvimento abordada não como processo interno da criança, mas como resultante da sua inserção em atividades socialmente compartilhadas com outros.

Nesse espaço recebemos a comunidade para visitas das crianças ,jovens e adultos das escolas da região totalizando 265 crianças, 68 adultos e 12 Idosos, em um ano de funcionamento.

A proposta desse intercâmbio com a comunidade é desenvolver nos adultos e crianças o despertar para a importância da atividade lúdica. Por isso, também desenvolvemos junto às escolas a oficina de resgate de brinquedos e brincadeiras antigas atendendo 154 crianças, nessas atividades possibilitamos uma integração da universidade com a comunidade e oportunizamos as crianças uma maior integração, desenvolvimento motor, autonomia e estimulamos a percepção da importância do lúdico no desenvolvimento do ser humano.

Ao finalizarmos este artigo, faz-se necessário a fala das monitoras e para que isso seja possível iremos utilizar um recurso que faz parte do cotidiano da brinquedoteca, o caderno de relatos. Neste, as acadêmicas deixam registrados todos os acontecimentos do dia, colocam na sua escrita, suas observações, seus sentimentos. Faz parte do ritual, ao iniciar as suas atividades as acadêmicas lerem o caderno nos dias anteriores. Iniciaremos com uma das primeiras monitoras,

“Falar da Brinquedoteca como um espaço lúdico na Universidade é reconhecer a importância do brincar na educação. Temos vivido momentos de grande integração de acadêmicos de diversos cursos da Universidade. Onde a vivência cotidiana nos trás a descoberta do brincar, representada nas visitas monitoradas das crianças do Projeto Social da ULBRA. Nessas visitas temos sentido prazer ao percebermos o brilho no olhar, a alegria que sentem ao chegar na “brincoteca”, é assim que elas a chamam. Colocamos-as a vontade para escolher com o que brincar, com quem e como. Para que descortinem e busquem dentro das caixas, materiais diversos para construírem as suas brincadeiras, assim manifestam relações de autonomia. Sem falar é claro, da

(7)

experiência dos acadêmicos que ficam encantados do quanto às crianças aprendem e manifestam com espontaneidade a criatividade e imaginação.”

Lembramos de FRAGO(2007) que nos diz que o espaço nunca é neutro e nele encontramos as relações de poder manifestadas. A criança dentro da sala de aula muitas vezes é tímida, inibida, e quando colocada em um outro espaço, sente vontade de se expressar e de ocupar este novo espaço, ou seja, ela sente a possibilidade de reconstruir suas relações.

Além dessas atividades também recebemos as visitas de mães da comunidade com as crianças para brincarem. Essa integração manifesta-se nos e-mails recebidos de várias escolas de Gravataí, Cachoeirinha, bem como de professores de educação infantil, acadêmicas do curso de Pedagogia Ead e acadêmicos dos diversos cursos de licenciaturas da ULBRA Gravataí para participarem das oficinas que estão ocorrendo durante o semestre.

No que tange a nossa experiência como docente de ensino superior nos cursos de pedagogia e licenciaturas, a criação de uma brinquedoteca na universidade possibilita a atender a demanda da comunidade e dar um novo perfil, ao processo de ensino-aprendizagem, destacando o lúdico, pois entendemos que o espaço da brinquedoteca não se resume a uma sala com brinquedos, significa uma mudança de postura frente a educação.Criar uma brinquedoteca é mudar padrões de conduta em relação a criança; é abandonar métodos e técnicas tradicionais;é acreditar no lúdico com estratégia do desenvolvimento infantil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura.São Paulo: Cortez,2006.

ABERASTURY, Arminda. A Criança e seus Jogos.Porto Alegre.Artmed:1992.

JACOBY,Sissa.A Criança e a produção cultural- do brinquedo à literatura(Org.) Porto Alegre.Mercado Aberto:2003

FRAGO,Antonio Viñao .Escolano,Agustín. Currículo, espaço e Subjetividade-Arquitetura como programa São Paulo.DP&A, 2007.

(8)

KISHIMOTO, T.M. Jogos Infantis: O jogo a criança e a educação.Petrópolis: Vozes,2007.

_________Jogo,Brinquedo,Brincadeira e a Educação.São Paulo.Cortez:2005. NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil – Simbolismo e Jogo. Porto Alegre: PRODIL, 1994.

NÓVOA, A. (coord.) Os professores e a sua formação. 2ª ed. Lisboa Dom Quixote.,1995.

Referências

Documentos relacionados

Como hipótese, acreditamos que estes podem ser dos mais variados, por exemplo: a QV sendo interpretada como uma visão salvacionista dos problemas ambientais, o qual

Percebo que um objetivo esteve sempre presente desde o princípio, sendo notadamente insistente em muitos momentos do desenvolvimento do trabalho, destacável não só porque faz parte

O modelo matemático que representa o comportamento físico do VSA é composto por equações diferenciais ordinárias cujos principais coeficientes representam parâmetros

Para estudar as obras de José de Albuquerque e saber como e quais foram as influências na construção de seu discurso sobre a necessidade da educação sexual, vimos necessário

Com base na investigação prévia do TC em homens com sobrepeso na meia- idade (LIBARDI et al., 2011) e outras que utilizaram o treinamento aeróbio ou de força de moderada

elas expressam por excelência o espaço do sujeito na sua relação com alteridade, lutando para interpretar, entender e construir o mundo (JOVCHELOVITCH, 2002, p.82). Nesse processo

Los alumnos a los que convencionalmente se dirige la educación especial son los niños y jóvenes con retraso mental, dificultades de aprendizaje, trastornos emocionales y

INCLUSÃO SOCIAL E DESEMPENHO DOS ALUNOS COTISTAS NO ENSINO SUPERIOR NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA.. Belo