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Glicerol: bioconversão e novas tecnologias

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Academic year: 2021

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GLICEROL: BIOCONVERSÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

ABREU, Dayse Aline Santos1*; RUZENE, Denise Santos1; SILVA, Daniel Pereira2

1 Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Sergipe 2 Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe

* email: abreudayse@gmail.com

Resumo: Buscam-se atualmente novas tecnologias que visem diminuir ou mesmo eliminar o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente. O intuito é a criação de processos e produtos pouco ou não poluentes, tão ou mais eficientes, renováveis e que não gerem outros problemas tão graves quantos os que se tem desejado eliminar. Mesmo com a necessidade de substituir combustíveis fósseis por biocombustíveis a troca pode ser inviabilizada se problemas na produção, distribuição e conservação não forem sanados. Esse trabalho de revisão aborda a problemática do glicerol, subproduto do processo de transesterificação que gera biodiesel e sua incompleta absorção pelas principais indústrias consumidoras, motivo que exige a criação de um novo nicho de mercado para o glicerol, apresentando um panorama não somente sobre o glicerol, mas também sua bioconversão e novas tecnologias voltadas a inovação e sustentabilidade.

Palavras-chave: Glicerol, Bioconversão, Fermentação.

1. INTRODUÇÃO

Dados da International Energy Agency (IEA) de 2014 ainda exibem a dependência mundial de energia de fontes fósseis como gás natural e petróleo, matriz energética não renovável e com aspectos geopolíticos problemáticos em relação à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), além de também serem fontes de energia danosas ao meio ambiente da prospecção ao consumo final (BARROS, 2007).

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Apesar da matriz energética mundial basear-se principalmente em fontes energéticas e combustíveis fósseis, há um movimento internacional para complementação e posterior substituição por fontes energéticas renováveis e não danosas ao meio ambiente.

Há estudos e pesquisas contínuas para aperfeiçoamento do aproveitamento e uso da energia solar, eólica, da biomassa, dos biocombustíveis e de outros tipos de energia limpa. Intermediários químicos advindos do petróleo também estão em processo de substituição por aqueles provenientes de vias em consonância com a química verde, que conceitua reduzir o impacto ambiental com o desenvolvimento e uso de novas substâncias, cujos processos de obtenção também sejam renováveis e não agridam ou sejam alternativas menos agressivas a biosfera (DA SILVA et al., 2014).

Biocombustíveis são ideais para substituir os combustíveis derivados de petróleo, pois há diminuição da geração de gases potencialmente poluentes, a exemplo dos óxidos de enxofre e o CO2 gerado na sua queima que é reabsorvido pelas próprias plantas produtoras de sua

matéria-prima, impactando de forma positiva o ciclo do carbono, que não possui o mesmo equilíbrio quando na queima dos combustíveis fósseis (MOTA et al., 2009).

Metanol, etanol e o biodiesel são exemplos de biocombustíveis, sendo os dois últimos próximos da realidade brasileira, detendo o percentual de 17,6% de participação na matriz de transportes do país, valor superior ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que é 3,6%. No Brasil, o etanol é produzido principalmente da cana-de-açúcar, enquanto que o biodiesel é produzido por óleos e gorduras obtidos da soja (cerca de 73%), do sebo bovino (22%), ou oriundos de algodão, frituras, girassol entre outros (MME, 2015).

Dentro deste contexto, este trabalho visa apresentar perspectivas relacionados ao subproduto glicerol, sua bioconversão bem como o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas a inovação e sustentabilidade, visando sua aplicação nos processos atuais. Pesquisadores do mundo todo enxergam oportunidades de novos usos para o glicerol, com transformações químicas e bioquímicas sendo estudadas, desenvolvidas e aprimoradas. Cabe salientar que, no entanto, a bioconversão revela-se mais vantajosa que as transformações químicas pelo menor número de etapas na geração de produtos, por exigências de menor controle de pressão do processo e temperaturas quando comparadas a gliceroquímica, implicando em custos mais baixos de operação com o maquinário, reatores, instrumentos de medição e controladores e menor quantidade de energia para manter as operações.

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2. GLICEROL

Apesar de existirem outras maneiras de obtenção de biodiesel, como o craqueamento e a esterificação, por exemplo, o processo mais utilizado para esse fim é a transesterificação (MME, 2015), que consiste em se fazer reagir um éster de alto ponto de ebulição com um álcool de alto ponto de ebulição a partir do estímulo de um catalisador, geralmente um ácido ou base forte, gerando um novo éster, com ponto de ebulição mais alto e um novo álcool, de ponto de ebulição mais baixo (SCHUCHARDT et al., 1998; SOLOMONS e FRYHLE, 2009). Dessa reação química entre óleos ou gorduras com um álcool (geralmente metanol) que se obtém o biodiesel e o coproduto glicerol, conforme representação na Figura 1.

Figura 1 – Processo de transesterificação.

Na Figura 1, os radicais orgânicos R, R’, R’’ e R’’’ podem ser iguais ou não e o álcool em excesso mantém a reação reversível mais deslocada para a direita, no sentido de formação do biodiesel.

A Transparency Market Research publicou em dezembro de 2014 que 37% do glicerol foi consumido em 2011 por indústrias farmacêuticas e de higiene pessoal. Apesar da produção de glicerol a partir do processo de transesterificação ser significativo (a proporção das substâncias é de 1 para 10, ou seja, a cada 10 kg de biodiesel gerado tem-se 1 kg de glicerol) o coproduto em questão fica contaminado, principalmente por água, catalisador, pelo álcool usado na transesterificação e pelo próprio biodiesel, motivo pelo qual não tem sido absorvido pelas principais indústrias consumidoras, já que a descontaminação necessária para atingir o grau de pureza desejado por essas indústrias seria um procedimento muito oneroso e não justificável para o tipo de uso (SANTIBÁÑEZ et al., 2011; THOMPSON AND HE, 2006).

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alternativas e tecnologias para a substância ainda na forma bruta. Apesar de haver a possiblidade de utilização do glicerol bruto como fonte de calor (ALBARELLI et al., 2011) substituindo a lenha e o carvão, por exemplo, ou como um aditivo na alimentação de animais (THOMPSON e HE, 2006), ele pode servir de base para geração de produtos de maior valor agregado. Os estudos e pesquisas nas áreas de gliceroquímica e bioconversão do glicerol buscam atender essa perspectiva.

3. NOVAS TECNOLOGIAS

Gliceroquímica é o ramo que trata o glicerol como reagente principal de reações químicas para obtenção de outros compostos químicos de maior valor agregado. Na bioconversão seres vivos (bactérias fermentadoras, por exemplo) ou partes destes (como as enzimas) são os responsáveis pela transformação de uma substância em outra. Dentre os produtos gerados a partir da conversão microbiana do glicerol muitos atualmente são obtidos quimicamente de derivados do petróleo, com uso de catalisadores, geração de intermediários e subprodutos tóxicos e poluentes, a altas pressões e temperaturas e por vezes com rendimentos não tão satisfatórios, como no caso do 1,3-propanodiol (DA SILVA et al., 2014).

Também com a fermentação do glicerol, além da geração de produtos de maior interesse, como álcoois, ácidos carboxílicos e hidrogênio, ao final do processo tem-se a biomassa, que é rica em matéria orgânica, podendo ser usada como fertilizante ou uma base à fabricação deste. Por requerer temperaturas menores e pressão próxima a ambiente, não gerar intermediários potencialmente tóxicos e permitir a obtenção de isômeros puros, necessitar um menor números de etapas para geração de uma substância, entre outras vantagens, diferentemente da síntese por via química, que a bioconversão do glicerol sagra-se como mais vantajosa que a gliceroquímica (DA SILVA et al., 2014).

Deste modo, as pesquisas de bioconversão do glicerol se intensificaram e seu uso como fonte de carbono em meio de cultura para microrganismos fermentadores é capaz de gerar etanol, metanol, 1,3-propanediol, butanol, ácido butanoico, ácido propanoico, ácido etanoico e outras substâncias. A geração ou não de uma substância pode estar ligado à espécie de microrganismo adotado, ao pH, a temperatura e ao tipo de processo fermentativo, que pode ser do tipo anaeróbio ou aeróbio, sendo o processo anaeróbio de menor custo operacional (BIEBL, 2001; CHAUDHARY et al., 2011).

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O glicerol é atualmente o único substrato que pode ser bioconvertido a 1,3-propanodiol, a DuPont Tate & Lyle Bio Products, uma joint venture de parceria entre as empresas DuPont (companhia científica mundial) e Tate & Lyle (empresa de alimentos e fabricante de ingredientes renováveis), utiliza a bioconversão para obtenção do 1,3-propanodiol em uma planta industrial na cidade de Loundon, no estado do Tennessee, Estados Unidos. Segundo dados da empresa DuPont Tate & Lyle Bio Products, a produção do Bio-PDO™ (nome comercial para o 1,3-propanodiol da empresa, obtido pela bioconversão de glicose de milho por um microrganismo patenteado) consome 40% menos energia que o 1,3-propanodiol a base de petróleo. Essa substância tem uma gama de usos, a empresa divide o produto em duas marcas: Zemea®, que é de o 1,3-propanodiol de alta pureza e baixa irritação, indicado para indústrias alimentícia, farmacêutica, de higiene e cuidados pessoais, e a Susterra®, o 1,3-propanodiol de grau industrial para aplicações mais robustas, mas ainda assim biodegradável e com baixa toxicidade, usado como fluido de transferência de calor, anticongelante e descongelante entre outros (DA SILVA et al, 2014; DuPont Tate & Lyle Bio Products, 2015).

A condensação de propan-1,3-diol com o ácido tereftálico gera o polímero polipropileno tereftalato (PPT) que apresenta propriedades interessantes frente a outros polímeros mais populares, como é o politereftalato de etileno (PET) e o polibutileno tereftalato (PBT), por ser mais resiliente, mais resistente à estática, com maior facilidade de coloração e maior resistência à descoloração (DA SILVA et al., 2014).

A depender do tipo de fermentação, aeróbia ou anaeróbia, da espécie de microrganismo, qualidade das cepas, nível e tipos de contaminantes do glicerol bruto, além de pH, temperatura, tipo de meio de cultura e aditivos inseridos, diferentes substâncias poderão ser geradas e em diferentes proporções. Os elementos listados devem ser levados em consideração na determinação das condições adequadas para fermentações de alto rendimento.

Uma perspectiva muito interessante para a conversão microbiana do glicerol no Brasil foi apresentada por Da Silva et al. (2014), a adaptação das usinas que fermentam o mosto da cana-de-açúcar para também fermentarem o glicerol nos períodos da entressafra da cana-cana-de-açúcar, uma maneira de baratear a inserção do processo de bioconversão do glicerol no país, já que uma parcela do maquinário necessário já é estabelecido no local e boa parte, se não toda, da mão de obra já usada poderia ser mantida.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os produtos que podem ser gerados com a bioconversão do glicerol justificam ainda mais o uso do biodiesel como potencial biocombustível substituto de combustíveis fósseis. Todo o ciclo de produção e uso do biodiesel pode estar em consonância com os princípios da química verde, da sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente. Por ser gerado de fontes renováveis garante a sustentabilidade, que trata do consumo consciente de bens e produtos levando em conta gerações futuras.

O respeito ao ciclo do CO2, este é garantido com o biodiesel, devido ao balanço positivo

resultante da reabsorção do CO2 decorrente de sua queima, não sendo gerados gases tão tóxicos

quanto os óxidos de enxofre, por consequência tem-se menos gases de efeito estufa na atmosfera, melhoria da qualidade do ar e prevenção do fenômeno chuva-ácida, o meio ambiente é bem menos prejudicado que com o uso de combustíveis fósseis.

Assim, torna-se evidente que a química verde acompanha os processos de produção do biodiesel e a bioconversão do coproduto glicerol, no tipo de transformações químicas e bioquímicas, compromisso na geração, manejo e descarte adequado de resíduos que não possam ser reaproveitados para outros fins, no posterior uso do metanol e etanol obtidos na bioconversão do glicerol nas transesterificações.

Aliar lucro e competitividade aos princípios de sustentabilidade e química verde é realidade, e o Brasil tem competência para isso visto ser especialista em fermentação de escala industrial com históricos de cursos universitários relacionados a esta área, como de engenharia química, engenharia de produção, química industrial e outros cursos afins, sempre voltados de algum modo a esta competência histórica.

Cabe aos empresários e governantes do país incentivar financeiramente o desenvolvimento desse processo e aos pesquisadores e engenheiros unir os conhecimentos já adquiridos às tecnologias já sedimentadas para explorar a bioconversão deste tão recente meio, o glicerol.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio do CNPq, CAPES e FAPITEC/SE, bem como do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI/UFS) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFS) da Universidade Federal de Sergipe.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBARELLI, J.Q.; SANTOS, D.T.; HOLANDA, M.R. Energetic and economic evaluation of waste glycerol cogeneration in Brazil. Brazilian Journal of Chemical Engineering, v.28, n.4, 2011.

BARROS, E.V. A matriz energética mundial e a competitividade das nações: bases de uma nova geopolítica. ENGEVISTA, v.9, n.1, p.47-56, 2007.

BIEBL, B. Fermentation of glycerol by Clostridium pasteurianum - batch and continuous culture studies. Journal of Industrial Microbiology & Biotechnology, 27, p.18-26, 2001.

CHAUDHARY, N.; NGADI, M.O.; SIMPSON, B.K.; KASSAMA, L.S. Biosynthesis of Ethanol and Hydrogen by Glycerol Fermentation Using Escherichia coli. Scientific Research, 1, p.83-89, 2011.

DA SILVA, G.P.; CONTIERO, J.; NETO, P.M.Á; LIMA, C.J.B. 1,3-propanodiol: produção, aplicações e potencial biotecnológico. Química Nova, v.37, n.3, p.527-534, 2014.

DuPont Tate & Lyle Bio Products. Disponível em http://www.duponttateandlyle.com/. Acessado em setembro de 2015.

IEA, International Energy Agency. Disponível em http://www.iea.org/. Acessado em setembro de 2015.

MOTA, C.J.A.; DA SILVA, C.X.A.; GONÇALVES, V.L.C. Gliceroquímica: novos produtos e processos a partir da glicerina de produção de biodiesel. Química Nova, v.32, n.3, p.639-648, 2009.

MME, Ministério de Minas e Energia. Disponível em http://www.mme.gov.br/. Acessado em setembro de 2015.

SANTIBÁÑEZ, C.; VARNERO, M.T.; BUSTAMANTE, M. Residual Glycerol from Biodiesel Manufacturing, Waste or Potential Source of Bioenergy: A Review. Chilean Journal of Agricultural Research, v.71, n.3, 2011.

SCHUCHARDT, U.; SERCHELI, R.; VARGAS, R.M.Transesterification of Vegetable Oils: a Review. Journal of the Brazilian Chemical Society, v.9, n.3, 1998.

SOLOMONS, T.W.G.; FRYHLE, C.B. Química Orgânica. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

THOMPSON, J.C.; HE, B.B. Characterization of crude glycerol from biodiesel production from multiple feedstocks. Applied Engineering in Agriculture, v.22, p.261-265, 2006.

TMR - Transparency Market Research. Disponível em http://www.transparencymarketresearch.com. Acessado em setembro de 2015

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GLYCEROL: BIOCONVERSION AND NEW TECHNOLOGIES

ABREU, Dayse Aline Santos1*; RUZENE, Denise Santos1; SILVA, Daniel Pereira2

1 Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Sergipe 2 Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe

* email: abreudayse@gmail.com

Abstract: Currently new technologies are required to reduce or even eliminate the impact of human activity on the environment. The purpose is to create processes and products non- polluting or low-polluting, so efficient or more than the current, renewable and without to create other problems as serious as those that have sought to eliminate. It is necessary to replace fossil fuels by biofuels; however, this change can be unfeasible if problems in the production, distribution, conservation are not remedied. This review show the problem of glycerol, a byproduct of the transesterification process that generates biodiesel and the incomplete absorption by the main consumer industries, this reason requires the creation of a new niche market for glycerol, showing an overview of the glycerol, its bioconversion and new technologies for innovation and sustainability.

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