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Amiloidose localizada da córnea. Relato de 2 casos

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Arq. Bras. OfiaI. 53(1): 36-38, 1990

Amiloidose localizada da córnea. Relato de

2

casos

Localized corneal amyloidosis. Study of

2

cases

Aileen Walsh(1) Hamilton Moreira (2) Miguel Bumier Jr.(a) Annando S. Crema(1) Luiz Alberto Molina(') Aroldo Greschechen (5)

Márcia S. Lowen(8)

(1) Médico Voluntário do Departamento de Of­ taJnwlogia do Hospital Universitário Gama Füho.

(2) Professor Auxiliar da Disciplina de Oftalmo­ logia do Faculdade Evangélica do Parando

(3) Professor Adjunto-Doutor e Chefe do De­ partamento de Anatomia Patológica da Es­ cola Pauüsta de Medicina e Professor .Á&sis­ tente do Departamento de Oftalmologia da E.PM.

(4) Diretor Técnico do Banco de Olhos do Cruz Vermelha Brasüeira; Coordenador do Curso de Especialização do Centro de Estudos e Pesquisas dos Ocuüstas Associados; Profes­ sor Auxiliar do Departamento de OftaJnwlo­ gia do Hospilal Universitário Gama Filho. (5) Médico Residente da Disciplina de OftaJnw­

Iogia da Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná.

(6) Médico Residente do Departamento de Ana­ tomia Patológica da Escola Paulista de Medi­ cina.

36

TrabalJw realizado no Departamento de Anatomia Patológica da Escola Paulista de Medicina, em conjunto com as Disciplinas de Oftalmologia do Hospital UniverJitdrio Ga ­

ma Füho e Faculdade Evangélica do Paran4.

RESUMO

Os autores apresentam dois

casos

clinicamente

distintos,

com

diagnóstico histopatol6gico de amiloidose corneana localizada, sem

que padrão familiar e patologias oculares ou sistêmicas associadas

pudessem ser identificadas.

De acordo com a literatura,

os

autores fazem o diagnóstico de

amiloidose corneana

secundária, na qual a provável patologia cau­

sai

não foi identificada, mas não descartam a possibilidade de ami­

loidose primária localizada da c6rnea, patologia

esta

extremamente

rara.

INTRODUÇÃO

Amiloidose pode ser considerada

como um grupo de desordens do

metabolismo das proteínas, de etio­

logia e patogenia diversas, freqüen­

temente associadas com anormalida­

des do sistema imune(3), que têm em

comum certos achados histopatológi­

cos característicos. Sua característica

essencial unificadora é a deposição

em vários tecidos de substância hia­

lina que pode ser distinguida de ou­

tros tipos de substância hialina pelo

uso de técnicas histopatológicas

apropriadas(7) .

Classifica-se amiloidose em loca­

lizada e sistêmica, confonne os de­

pósitos sejam localizados respecti­

vamente em um ou vários órgãos;

classifica-se também em primária e

secundária, confonne estes estejam

associados ou não a alguma patolo­

gia. Dez por cento dos pacientes

com mieloma múltiplo desenvolvem

amiloidose sistêmica; por, aparente­

mente, ter uma relação com amiloi­

dose diferente das outras desordens

sistêmicas, é mais apropriado c1assi­

fi�-la como uma variante do tipo

sistêmico primário.

Amiloidose localizada pode ser

restrita a um único órgão; ser locali­

zada em

uma

única estrutura, geral­

mente secundária

à

inflamação local

crônica; ou, ainda, ter

uma base he­

redofamiliar, como

na

distrofia latti­

ce corn

eana

e distrofia gelatinosa em

forma de gota(2.3).

Amiloidose primária localizada é

ocasionalmente vista na conjuntiva e

tecidos subconjuntivais,

mas

à parte

da distrofia lattice, raramente é vista

na córnea(2.6).

Os autores relatam dois casos em

que foram encontrados depósitos de

amilóide localizados na córnea, sem

padrão familiar, e sem correlação

com doença ocular ou sistêmica,

prévia ou concomitante.

RELATO DOS CASOS

Caso clínico (1):

I.V.; 66 anos; br. ;

masC. ;

nato RI, procurou o serviço

do H.U.G.F.,

RJ

em fev/89, com QP

de dor ocular e queda da A V em OE;

apresentava ao exame: A V corrigida

de 20/60 em OD e de vultos em OE;

biomicroscopia: opacificação crista­

lineana discreta em OD, e, hiperemia

conjunti vai intensa, hérnia de úis

às

ARQ. BRAS. OFTAL. 53(1), 1990

(2)

1 2h no limbo, câmara anterior rasa, e, opacificação cristalineana total em OE. HPP: nega trauma e patologias sistêrnicas ou oculares, prévias ou concomitantes. Foi, o paciente, sub­ metido

à

ceratoplastia penetrante (enxerto esclero-corneano) de caráter tectônico, e,

à

facectornia extra-cap­ sular não programada em OE. No ato operat6rio foi observada uma mu­ dança da consistência escleral, com adelgaçamento da mesma. Pesquisa laboratorial e exame clínico, deta­ lhados, mostraram-se insignificati­ vos .

Ecografia

OE - Opacidades ví­ treas, descolamento posterior de vítreo, retina aplicada .

• Anatomia pato16gica dos seg-mentos enviados (Fig. 1):

Fragmento de c6rnea com neo­ vascularização e infiltrado in­ flamat6rio crônico no estroma; presença de massas subepite­ Iiais, eosin6filas, P.A.S. positi­ vas, coradas pelo vermelho congo e com metacromasia po­ sitiva

à

luz polarizada. Pelo tri­ cromo de Masson revelou áreas azuis entremeadas com áreas positivas.

DiagruJstico:

• ceratite crônica com neovas­ cularização.

• amiloidose corneana locali­ zada.

Caso clínico

(2):

I.J

.S. ;

17

anos; masc. ; pr. ; encaminhado ao serviço de oftalmologia da F.E.M. do PR., com QP de diminuição da A

V

em AO. HPP: nega patologia prévia, ocular ou sistêrnica. HF: negativa. Apresentava ao exame:

A V

de per­ cepo lum. em 00 e de

20/200

em OE; biomicroscopia: formações no­ dulares, com aspecto tumoral e colo­ ração amarelada, intensamente vas­ cularizadas, que comprometiam toda a superfície da c6rnea, indo até

2

mm além do limbo em 00; e, quadro

bastante semelhante, menos intenso, parecendo estar em fase mais preco­ ce, com o centro da c6rnea ainda li-ARQ. BRA S . OFT AL. 53( 1), 1990

Amiloidose localizada na c6mea. Relato de 2 casos

Fig. 1 -Depósito amilóide sub-epitelial eosinolflico. (H. E., x 1 00).

vre, em OE. Exames laboratoriais de rotina, e exame clínico mostraram-se normais. Levantamos, então, duas hip6teses: de ser um processo neo­ plásico, apesar da bilateralidade das lesões; e, de ser um acúmulo de ma­ terial sobre a superfície ocular, acre­ ditando ser Iipídico. Sendo a patolo­ gia confinada aos dois terços ante­ riores da c6rnea, decidimos realizar um transplante lamelar com finalida­ de diagn6stica e terapêutica, haven­ do um resultado anatôrnico final per­ feito.

Anatomia pato16gica:

Preparados histol6gicos em am­ bas as c6rneas, revelam prolife­ ração fibroblástica subepitelial com discreto a moderado infil­ trado inflamat6rio linfo-plasmo­ citário e neovascularização. Nota-se intenso dep6sito fibri­ lar, anuclear, de material acid6-filo, P.A.S. positivo, com ar­ ranjo irregular. A coloração es­ pecífica com vermelho congo, submetida

à

luz polarizada comprovou tratar-se de amil6i­ de.

DISCUSSÃO

Em estruturas oculares e anexos as formas mais comuns de amiloido­ se são as formas primárias, tanto lo­ calizada como sistêrnica. A forma sistêrnica afeta mais a c6rnea, cor6i­ de, retina, vítreo e estruturas orbitá­ rias. A pele da pálpebra, a conjunti­ va e a 6rbita são particularmente propensas a serem afetadas pela doença localizada3 . Microdep6sitos de amil6ide têm sido descritos em c6rneas afetadas por uma variedade de doenças: fibroplasia retrolental, ceratoconjuntivite flictenular, dege­ neração lipoídica corneana, glauco­ ma secundário

à

uveCte, ceratocone e trauma penetrante(3.4. 1 0).

No caso clínicd2), a hip6tese clí­ nica de ser patologia tumoral, le­ vantada antes do transplante lamelar e do diagn6stico anátomo-patoI6gi­ co, justifica-se plenamente ; Soares e colsJ8), reportaram um caso de ami­ loidose localizada primária conjunti­ vo-palpebral, cujo diagn6stico inicial foi de carcinoma espinocelular.

Em uma revisão de literatura, ex­ cetuando as distrofias lattice e

(3)

tinosa em forma de gota, encontra­ mos apenas alguns casos raros de envolvimento corneano isolado, co­ mo o descrito em

1 930

por Lewko­ jewa(4). Hidayat<2), recentemente, descreveu

62

casos de amiloidose corneana associados com tracoma; outros casos têm sido reportados nos quais depósitos lúnbicos ocorreram com outro envolvimento ocular5, mas amiloidose corneana isolada parece ser rara. Em ambos os casos aqui re­ portados o envolvimento corneano foi localizado, sem história de pato­ logia sistêmica ou ocular �révia e sem padrão familiar como ocorre na distrofia lattice e na distrofia gelati­ nosa em forma de gota(9).

O amilóide é identificado nos te­ cidos por certas características de impregnação por corantes e uma apa­ rência ultra-estrutural típica. Os de­ pósitos hialinos extracelulares são vistos em Hematoxilina Eosina, e são

PAS

positivos; coram com ver­ melho congo, e devido a sua nature­ za fibrilar, exibem uma birrefringên­ cia característica para o verde(1). Em ambos os casos supracitados, todas estas características foram encontra­ das.

Recentes estudos das subunidades da fibrila protéica têm mostrado duas proteínas básicas, rotuladas

AL

e

AA (A

de amilóide e

L

de cadeia le­ ve). Proteína

AL

mostra seqüência homóloga com a gama globulina e é encontrada principalmente na ami­ loidose primária, particularmente na

associada com mieloma m111tiplo.

AA

é uma proteína com seqüência 11nica homóloga que não lembra ga­ ma globulina; é encontrada na maio­ ria dos casos de amiloidose secundá­ ria e febre familiar do Mediterrâneo. Antisoros para

AA

e

AL

têm sido preparados e podem ser usados para

Amiloidose locaJjzatfCl na córnea.

Relato de 2 casos

identificar diferentes tipos de ami­ lóide{6,8).

McPherson &

C01S(5),

em

1 966,

notaram depósitos de amilóide em

7

de

200

especimens submetidos a um laboratório de patologia ocular; o que vem de encontro com a nossa hipótese de que nos dois casos su­ pracitados, estaríamos frente

à

ami­ loidose corneana localizada e secun­ dária, aonde a patologia causal não pôde ser identificada.

CONCLUSÃO

Foi o intuito deste relato descrever dois casos de amiloidose corneana lo­ calizada, com quadros clínicos com­ pletamente distintos, em que não foi possível identificar uma patologia ocular ou sistêmica associada, nem uma história familiar.

É

provável, de acordo com a lite­ ratura, que sejam dois casos de ami­ loidose localizada na córnea como resultado de doença ocular pré-exis­ tente e não identificada, sendo pos­ sível também que exames de "follow up" venham a revelar a presença de amiloidose sistêmica. Fica porém a hipótese de que possa se tratar de dois casos de amiloidose primária localizada na córnea, que, diferen­ temente das outras fo

rmas

de amiloi­ dose corneana, é um achado extre­ mamente raro.

É

importante lembrar que o mero reconhecimento de amilóide em uma estrutura ocular não pode ser consi­ derado como diagnóstico clínico­ patológico completo.

A

possibilidade de amilóide em sítios extra-oculares, desordens oculares e/ou sistêmicas associadas ou subjacentes, aspectos familiares e mielomatose, deve sem­ pre ser considerada.

CMmSI��r: B�fl;S�r.[iFU

ar: Ivrt ri,uWGIA

38

� 'v'

SUMMARY

The autlwrs reports two clinically different cases, with hystopatologic diagnosis of localized corneal amy­ loidosis; no familial pattem and ocular or systemic patologies were identified.

According to the literature, the autlwrs

make

the diagnosis of se­ condary localized corneal amyloido­ sis, in which the probable causal patology was not identified, and the possibility of primary localized cor­ neal amyloidosis, an extremely rare disorder, is not excluded.

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