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OS DOCENTES DE ENFERMAGEM FRENTE AO PROCESSO DE MORTE E MORRER 1

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Academic year: 2021

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OS DOCENTES DE ENFERMAGEM FRENTE AO PROCESSO DE MORTE

E MORRER

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BANDEIRA, Danieli

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; COGO, Silvana Bastos

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RESUMO

Nesta pesquisa, delineada como qualitativa e descritiva, objetivou-se conhecer as experiências durante a academia, dos docentes de um curso de enfermagem frente ao processo de morte e morrer e discorrer sobre as implicações na trajetória enquanto docente. A amostra de dez docentes de um curso de Graduação em Enfermagem ocorreu pelo método intencional. A análise dos dados, coletados por meio de entrevista semi-estruturada, gravada e transcrita, permitiu constatar certa deficiência na formação acadêmica dos docentes quanto a temática que implica no trabalho com a morte/morrer na academia. Faz-se necessária a mudança cultural na graduação dos profissionais de enfermagem, para a inserção da temática em seus currículos, buscando a criação de espaços para discussões e reflexões, que possam levar o acadêmico, futuro profissional, a adquirir uma compreensão consisa a respeito do processo de morte e morrer.

Descritores: Enfermagem; Morte; Docentes de Enfermagem.

1. INTRODUÇÃO

O processo de morte/morrer vem sendo discutido, analisado e vivenciado de maneiras diversas no decorrer da história por diferentes áreas do conhecimento. Porém, a

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Trabalho de Pesquisa. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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Apresentador.Enfermeira, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.E-mail: danieli.bandeira@hotmail.com.

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Orientadora. Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutorando em Enfermagem FURG. Professora Assistente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) do Centro de

Educação Superior Norte – RS (CESNORS). Santa Maria, RS, Brasil.

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área da saúde é a que possui maior contato com a temática e, por isso, necessita de atenção especial. Da mesma maneira que a sociedade lida com a morte na tentativa de excluí-la do quotidiano, os profissionais da saúde, principalmente os da enfermagem, também utilizam esse subterfúgio.

A pesar das relações enfermeiro/paciente e enfermeiro/familiar serem uma constante no cotidiano desses profissionais, os cursos de graduação oferecem poucos espaços para trabalhar com a morte/morrer e com as emoções e sentimentos que estas relações com os doentes e seus familiares provocam1. Logo, essa temática, na maioria das vezes, é pouco discutida, acarretando em um trabalho prático quase sempre desqualificado.

Diante disso, sugere-se que a deficiência de abordagem da morte e morrer na graduação seja reflexo das dificuldades que os próprios docentes encontraram em suas formações. Neste sentido, faz-se necessário o conhecimento das experiências com o processo de morte/morrer durante a academia dos docentes de enfermagem e, desse modo, contribuir para uma discussão acerca da necessidade de um preparo formal do acadêmico frente à morte, bem como o preparo dos docentes, já que estes são fomentadores do tema nas disciplinas que ministram.

2. OBJETIVO

O presente estudo objetiva conhecer as experiências durante a academia, dos docentes de um curso de enfermagem frente ao processo de morte e morrer e discorrer sobre as implicações na trajetória enquanto docente.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo e encontra-se estruturado a partir de uma pesquisa qualitativa. A população em estudo foi escolhida conforme amostra intencional2, e constitui-se de dez docentes vinculados a um curso de graduação em Enfermagem de uma universidade pública, localizada em um município da região Norte do Estado do Rio Grande do Sul.

O processo de coleta de dados deu-se por meio de entrevista semi-estruturada3,que serviu de eixo orientador ao desenvolvimento da pesquisa. Os temas norteadores da investigação que subsidiaram as entrevistas foram constituídos de: experiências de morte/morrer na graduação e repercussões das experiências de acadêmico para a docência.Trabalhou-se com os dados por meio da análise temática4, que foi constituída de

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três fases: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Esta pesquisa obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (parecer n. 0056024300011) e seguiu os preceitos éticos determinados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde5,que incluem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o arquivamento das transcrições das entrevistas por um período de cinco anos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise dos dados permitiu a construção de duas unidades temáticas. Tema I: Repercussões das experiências da graduação na docência; Tema II: Experiências dos docentes sobre o processo de morte e morrer na graduação.

Tema I: Repercussões das experiências da graduação na docência

Para que se compreendam as experiências dos docentes de enfermagem em relação ao processo de morte e morrer, é fundamental que se conheça a maneira que esta temática foi trabalhada com eles enquanto acadêmicos. A maioria das falas dos entrevistados possibilita identificar a abordagem da temática morte e morrer de maneira rápida e superficial, durante a formação do enfermeiro, não havendo momentos formalmente estipulados no currículo para que essa discussão acontecesse:

A gente discutiu na disciplina da legislação e ética profissional, de uma forma bem superficial [...] não era uma disciplina ou um conteúdo que tivesse uma discussão mais aprofundada, não era com certeza. (Doc. 4). A melhor maneira de lidar com as emoções que a morte suscita, não é reprimindo ou negando-a, mas sim possibilitando a sua elaboração, sendo, para isso, necessário que o profissional de saúde receba um outro tipo de preparo em sua formação6. A ausência da abordagem da temática na graduação em enfermagem tem contribuído para que haja uma lacuna na formação, bem como uma negação da morte como parte integrante da vida, tendo por consequência profissionais pouco aptos a estabelecer discussões sobre a morte e morrer ou prestar cuidados mais abrangentes a pessoas que vivenciam a finitude e as suas famílias.

Uma das principais causas do despreparo profissional para lidar com a morte, além dos aspectos espirituais, culturais e pessoais, é o ensino dos cursos da área da saúde, que

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privilegiam a formação técnico-científica desses acadêmicos, dando grande ênfase em disciplinas que instrumentalizam o profissional no cuidado para a preservação da saúde e cura das doenças, mas pouco respaldo oferece para que o profissional enfermeiro possa cuidar da pessoa que vivencia a morte e o morrer7,8. Essa instrumentalização do cuidado em enfermagem é percebida na fala dos entrevistados:

[...] o ensino era muito tecnicista, a gente era mais apegado em técnica [...] (Doc. 10).

Acredita-se que o enfoque tecnicista dados pelos cursos de enfermagem repercute negativamente na assistência prestada ao paciente que vivencia o processo de morte/morrer, bem como a sua família. Logo, abre-se um espaço para o seguinte questionamento: será esse enfoque tecnicista e essa abordagem superficial sobre a morte/morrer na graduação dos docentes de enfermagem, foram suficientes para prepará-los para trabalhar com seus alunos as questões inerentes desse processo de morte/morrer? Por mais que o confronto com a morte no cotidiano de trabalho dos profissionais da enfermagem seja uma constante, a dificuldade em encará-la como parte integrante da vida é notória, considerando-a com frequência, como resultado de fracasso terapêutico e do esforço pela cura7. É claro que não se pode desqualificar a parte da formação técnica em detrimento das demais. Contudo, é fundamental o preparo de profissionais da enfermagem para lidar com a morte/morrer, buscando a qualificação da abordagem da temática, seja ela na academia ou nos ambientes hospitalares.

Tema II: Experiências dos docentes sobre o processo de morte e morrer na graduação Desde a formação, os profissionais de enfermagem demonstram dificuldades em se aproximarem de pacientes fora de possibilidades terapêuticas de cura, pois, surgem diversos obstáculos ao se deparar com problemas advindos do contato diário, já que, esses profissionais estão em interação constante com o paciente e seus familiares, provocando desgastes. O sentimento despertado nessas situações traduz-se em impotência, frustração, culpa, irritação, entre outros9. Essas reações encontram-se presentes nas falas dos entrevistados, ao referirem sobre as primeiras experiências de morte e morrer na graduação:

[...] foi bastante traumático [...] ter sabido que aquele paciente que eu estava cuidando que ele tivesse ido a óbito [...] foi bastante duro, inclusive eu fiquei fantasiando na época que eu tivesse deixado de fazer alguma

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coisa ou tivesse feito alguma coisa que contribuísse para a morte do paciente [...] (Doc. 10).

A partir da fala anterior, cabe o seguinte questionamento: será que docentes que vivenciaram diversas situações de estresse em relação à temática se sentem preparados para abordar com seus alunos a questão da morte/morrer? É necessário, pois, preparar os profissionais da saúde para lidar com pacientes fora de possibilidade terapêutica de cura desde a sua graduação, para que esta discussão seja inserida gradualmente no cotidiano de trabalho e habilitem esses profissionais para o amadurecimento dos conhecimentos sobre a temática.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa aponta certa fragmentação na abordagem da temática no decorrer da graduação dos docentes de enfermagem, não apresentando um espaço para a discussão das vivências e implicações que o evento morte suscita nos acadêmicos. Isso denota uma lacuna na formação destes docentes, pois, acredita-se no papel da academia para habilitar o acadêmico de modo que este seja capaz de estabelecer relações interpessoais de ajuda aos pacientes fora de possibilidade terapêutica de cura e aos seus familiares.

As deficiências na graduação dos docentes quanto a temática, sugerem que estes não tenham um preparo formal para o trabalho com seus alunos, sobre as questões inerentes do processo de morte/morrer, o que indica a necessidade urgente de uma mudança cultural na graduação dos profissionais da área da saúde.Para tanto, faz-se necessária, a criação de espaços para discussões e reflexões, que possam levar o acadêmico, futuro profissional, a adquirir uma compreensão mais clara a respeito do processo demorte e morrer.

REFERÊNCIAS

1 Kovács MJ. Educação para a Morte: Desafio na Formação de Profissionais de Saúde e Educação. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo: Fapesp, 2003.

2 Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas; 2009.

3 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2004.

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Paulo: Hucitec; 2007.

5 Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Brasília; 1996.

6 Santos FS. (org.). A Arte de Morrer: Visões Plurais. 1ª ed. São Paulo: Comenius, 2009. 7 Bellato R, Araújo AP, Ferreira HF, Rodrigues PF. A abordagem do processo do morrer e da morte feita por docentes em um curso de graduação em enfermagem. Acta Paul Enferm. 2007; 20 (3): 255-63.

8 Bifulco VA, Iochida LC. A formação na graduação dos profissionais de saúde e a educação para o cuidados de pacientes fora de recursos terapêuticos de cura. Revista Brasileira de Educação Médica. 2009; 33 (1): 92-100.

9 Kovács MJ. Educação para a Morte: Temas e Reflexões. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo: Fapesp, 2003.

Referências

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