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Protocolo mínimo para inventários de répteis Squamata em Estudos de Impacto Ambiental na Mata Atlântica

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOTE DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIODIVERSIDADE

TROPICAL

Protocolo mínimo para inventário de

répteis Squamata na Mata Atlântica

Renan Delpupo Moysés

Dissertação de Mestrado em Biodiversidade Tropical (Sistemática e

genética de organismos tropicais)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOTE DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIODIVERSIDADE

TROPICAL

Protocolo mínimo para inventário de

répteis Squamata na Mata Atlântica

Renan Delpupo Moysés

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito para obtenção do grau de Mestre em Biodiversidade Tropical – Sistemática e genética de Organismos Tropicais.

Orientador: Renato Silveira Bérnils

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Dedico esta dissertação aos meus pais, Helen Dolores Delpupo Moysés e José Luiz Moysés, por sempre me darem o apoio necessário para continuar em frente. Dedico também a Juliana Carmo Ceolin, que nunca deixou de acreditar que eu era capaz, mesmo quando eu mesmo não acreditava.

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AGRADECIMENTOS

A conclusão deste trabalho seria impossível sem a contribuição, direta ou indireta, de várias pessoas, portanto, gostaria de expressar aqui, meus sinceros agradecimentos. Começando do começo, quero agradecer muito ao meu orientador Renato Silveira Bérnils, que me orientou de forma exemplar desde a graduação, me ajudando a crescer como herpetólogo, me estimulando sempre a querer saber mais, mostrando o que é de fato orientar, em todos os sentidos da palavra. Obrigado pelas viagens, por apresentar pessoas, por abrir portas, mostrar as possibilidades da Herpetologia, me ensinar tudo. Obrigado até pelos puxões de orelha que me tornaram um pouco menos procrastinador. Obrigado por tudo!

Momento delicado agora, vamos falar da família. Firme. Mãe, Pai e Teka, sem vocês nada disso seria possível, o apoio de vocês, financeiro e emocional, me ajudaram a superar a distância, o desânimo, a vontade de largar tudo. Nunca deixaram de acreditar em mim e sempre souberam que eu era capaz. Mãe, e Pai, tudo que eu sou hoje é devido à criação que vocês me deram, construindo meu caráter, minha responsabilidade, meu humor (aí foi mais o papai), então, Obrigado!

Juliana, meu amor, obrigado por estar sempre ao meu lado, você foi meu porto seguro nestes dois anos de mestrado, quando eu me senti mais sozinho do que nunca. Era em você que eu sentia a segurança e a vontade de continuar. Seu apoio, carinho e amor foram mais importantes do que você imagina. Te amo!

Galera do Tetralab, Rabello, Kariny, Marília, Diego, Paulo, Bianca e Dani, a companhia de vocês, as risadas, brincadeiras, trabalhos, idas a campo, viagens juntos, tudo. Vocês também são parte disso, aprendi muito com vocês, de varias maneiras. Rabello sempre de bom humor, ri de tudo, o amigo ideal pra tomar uma e dar risada, extrema facilidade na identificação dos bichos, da raiva, valeu mano. Kariny, defensora de Sama city, podia escrever tanta coisa aqui, mas vou resumir. Uma amiga incondicional, companheira de lab do dia-a-dia, sempre rindo e fazendo brincadeira, às vezes tentava esconder algo de ruim que tinha acontecido, mas você sabe, pra mim, você é um livro aberto. Marília, véééééii... Desespero em pessoa. Divertimos-nos muito em Itaúnas, muito responsável e compreensiva, nunca vi uma pessoa lidar tão bem comigo e com o

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Rabello ao mesmo tempo perturbando, você é demais, e não desista dos seus sonhos. Diego chegou quieto, mas depois continuou quieto... Caladão, na dele, mas um cara muito interessado em aprender, observar, ler, só tem que aprender a conversar agora, você tem futuro bisonho! Pauleta, cabeça, um comédia, um dos caras mais engraçados que conheço, mas tem que parar de se preocupar tanto, relaxa, vai dar tudo certo no final. Bianca, amante dos animais, doglover, catlover, turtlelover, e por aí vai, gosta mais de bicho que de gente, com certeza. Dani, trabalhadora, corre atrás do que quer, mas não vai na onda do Rabello não que ele só vai te colocar em problema. Força pela frente Dani, e pode contar comigo quando precisar.

Fala Burrada!!! O que acontece quando colocamos um bando de animais em um grupo? Não sai nada que preste! Meus amigos de infância, que jamais deixaram de estar ao meu lado. Nosso grupo não é só um grupo, é uma família, ri e rirei muito com vocês, valeu animais, e me chamem de mestre de agora em diante.

Cafofo da Ully, nem sei por que eu to nesse grupo... Mentira, outra família, galera que fala o que pensa mesmo, conheci a maioria a pouco tempo, e todos na universidade, mas vocês fazem parte de mim.

Aos profissionais entrevistados Sérgio Augusto Abrãão Moratto, Júlio Cesar Moura Leite, Fernanda Stender, Michel, Fernando Straube, Alberto Urben Filho, Gladson, pessoal do IEMA. Que forneceram informações cruciais, agregando experiências, opiniões e sugestões que possibilitaram a realização deste trabalho.

Ao Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA – do Espírito Santo, disponibilizou sua biblioteca de Estudos de Impacto Ambiental para consulta, bem como profissionais que atuam na análise destes estudos.

À Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Centro Universitário Norte do Espírito Santo – CEUNES e ao programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBT pela oportunidade de realização deste trabalho.

À Coordenação de Aperfeiçoamento e Pessoal de Nível Superior – CAPES pela bolsa de mestrado concedida durante esses dois anos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL...9

REFERENCIAS...12

Capítulo 1 – Bases históricas e legais para a Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil ...14

Bases históricas e legais para a Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil...15

Análise crítica da Instrução Normativa nº 146, de 10 de janeiro de 2007 ...21

REFERÊNCIAS...26

Capítulo 2 – Análise crítica de Estudos de Impacto Ambiental no bioma Mata Atlântica...28 INTRODUÇÃO...29 MATERIAL E MÉTODOS...31 RESULTADOS E DISCUSSÃO...32 CONCLUSÃO...36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...37

Capítulo 3 – Protocolo mínimo para inventários de répteis Squamata na Mata Atlântica...38

INTRODUÇÃO...39

MATERIAL E MÉTODOS...40

RESULTADOS E DISCUSSÃO...41

LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS...44

PLANEJAMENTO, MATERIAL DE CAMPO E COLETA DE DADOS...45

MÉTODOS AMOSTRAIS...53

Armadilhas de interceptação e queda, ou pitfall traps...53

Busca ativa...58

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Amostragem em estradas...61

Armadilha de cola...61

Coleta por terceiros...61

Armas de fogo, de ar comprimido, estilingues, bodoques, etc...62

Abrigos artificiais...62

Entrevistas...62

CONCLUSÕES...64

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RESUMO

Os primeiros estudos de caráter ambiental realizados no Brasil datam dos anos 1970, e desde então vêm ganhando cada vez mais importância no cenário nacional. Porém, apenas em 31 de agosto de 1981 o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 6.938, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente, incluindo a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos instrumentos de proteção ao meio ambiente no Brasil. A Instrução Normativa nº146 do IBAMA, de 2007, foi criada com o intuito de estabelecer critérios para procedimentos relativos ao manejo de fauna silvestre em áreas de influência de empreendimentos e atividades consideradas causadoras de impactos à fauna, e passou a ser o documento básico para a realização desses estudos. Porém, a IN nº146 é um documento de caráter generalista, que necessita de adequações para bem atender os inventários dos variados grupos de fauna em cada bioma presente no País. A Mata Atlântica é o bioma mais impactado e densamente habitando do Brasil, com apenas 11% a 16% de sua área original ainda existente. A diversidade de répteis Squamata presente nesse bioma é elevada, com cerca de 250 espécies, o que dá ideia da relevância desse grupo animal na manutenção da biodiversidade e do equilíbrio dos ambientes naturais ali presentes, e valorizando a inclusão dos Squamata em Estudos de Impacto Ambiental (EIAs). O intuito do presente trabalho foi elaborar uma proposta de padronização dos inventários de fauna de répteis Squamata realizados na Mata Atlântica, na tentativa de adequar a IN nº146 a esse grupo naquele bioma e maximizar os esforços de coleta em inventários de fauna através da criação de um protocolo mínimo para inventários de Squamata e um roteiro para traçar perfis herpetológicos regionais ou locais. Foram consultados 17 EIAs arquivados no órgão responsável por meio ambiente no Estado do Espírito Santo para avaliar EIAs que realizaram inventários de répteis na Mata Atlântica. Os pontos positivos e negativos de cada EIA foram elencados e avaliados, e observamos que não existe qualquer padrão quanto aos métodos de amostragem, no esforço empregado em campo ou na forma de analisar os dados obtidos, e contatamos que, na maioria dos casos, uma mesma pessoa se responsabiliza pelos inventários de répteis e anfíbios - grupos muito diferentes na taxonomia e nas formas de amostrar e analisar os dados. Após essa avaliação dos EIAs, de consulta à literatura específica e de entrevistas com profissionais da área, criamos um protocolo para inventários de répteis Squamata em EIAs na Mata Atlântica, o qual enfatiza que: (1) é indispensável que todos os inventários contemplem pelo menos quatro campanhas a campo, uma para cada estação do ano, com pelo menos dez dias de duração cada; (2) não se pode prescindir de uma profunda consulta prévia à literatura específica e a coleções herpetológicas para determinar espécies ocorrentes ou de potencial ocorrência na região do empreendimento; (3) para a amostragem de indivíduos em campo, os inventários devem utilizar busca ativa, armadilhas de interceptação e queda e pelo menos dois métodos adicionais de registro de répteis Squamata; e (4) a avaliação da fauna de Squamata inventariada deve levar em conta o conhecimento já existente sobre a auto-ecologia das espécies, o que, no âmbito da Mata Atlântica, significa ter um domínio bem vasto da literatura de história natural e ecologia de cobras, lagartos e anfisbenas presentes no bioma. Com isso, acreditamos que os inventários de fauna de Squamata realizados na Mata Atlântica se tornarão mais completos, confiáveis e padronizados, aumentando a qualidade dos Estudos de Impacto Ambiental e permitindo que os órgãos ambientais federais e estaduais julguem com melhores critérios os estudos e relatórios que recebem para avaliar.

Palavras-chave: Levantamento, impacto ambiental, legislação ambiental, IN nº146,

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ABSTRACT

The first environmental studies in Brazil were made around 1970. Since then, they are getting more important in the national scene. Yet, only in 31st august of 1981, the National Congress approved the Law n. 6.938, which created the Environment National Politics, including the Environmental Impact Assessment (EIA) as an instrument of environmental protection in Brazil. The IBAMA Normative Instruction nº146, of 2007, was created due to establish criteria for proceedings related to the wild fauna management in enterprise’s influence areas and polluting activities. This document became the base to this kind of study. However, the NI nº146 it’s a document of general character, that require adjustments for better comply with the inventories in the many fauna groups in each biome in this country. The Atlantic Forest is the most impacted and densely inhabited biome of Brazil, with only 11% to 16% of his original cover remaining. The diversity of Squamata reptiles in the Atlantic Forest is very high, with around 250 species, giving the idea of its relevance to this animal group in the biodiversity maintenance and environmental balance of its natural environment. This shows the value of the Squamata fauna inclusion in Environmental Impact Assessment. The present study intention was elaborate a standardization proposition of the Squamata reptiles fauna inventories in the Atlantic Forest, attempting to adequate the NI nº146 to this group in that biome, maximizing the collection efforts in fauna inventories through the creation of a minimum protocol of Squamata fauna inventories and a guide to track herpetological profiles of a location. We consulted 17 EIAs filed in the library of the organ responsible for the environment in the Espírito Santo State, to evaluate EIAs that held reptile’s fauna inventories in the Atlantic Forest. The positive and negative points in each EIA were listed. We observed that there isn’t any pattern in relation to the samplings methods, in field effort or in how to analyze the obtained data. We also realized that the same personal was responsible for the reptiles and amphibians inventories, in most cases. These groups are totally different in their taxonomy, sampling and analyzing methods. After the evaluation of the EIAs, specific literature consulting and interviews with professional herpetologists, we created a protocol for Squamata fauna inventories in the Atlantic Forest, emphasizing that: (1) it is indispensable that all faunal inventories must have at least four field campaigns, one for each season of the year, with at least ten days long each; (2) a deep specific literature and herpetological collections consulting is needed due to determinate the species that occurs or may occurs in the area of the enterprise; (3) for the individuals samplings in the field, the inventories must use active search, pitfall traps and at least two additional methods for Squamata reptiles sampling; and (4) the Squamata faunal inventory evaluation must take into account the knowledge already existent about autecology of species, which in the Atlantic Forest domain, means have a vast domain about the natural history literature and ecology of snakes, lizards and amphisbaenians of this biome. Thereby, we believe that the faunal inventories of Squamata from the Atlantic Forest will became more completes, reliable and standardized. Increasing the quality of Environmental Impact Assessments and allowing judgments with better criteria from the federal and state environmental organs about this studies and reports

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INTRODUÇÃO GERAL

Segundo Scarano et al. (2012), biomas são regiões biogeográficas moldadas pelo clima e que se distinguem uns dos outros por uma coleção única de ecossistemas e espécies, e o Brasil é dividido em sete grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal, Campos Sulinos e Costeiro e Marinho. De acordo com Silva & Casteleti (2005) o bioma Mata Atlântica cobria uma área de aproximadamente 1.400.000 km², apenas no Brasil, e estendia-se ao longo da costa brasileira desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, por uma larga faixa latitudinal. Com mais de 75% de sua área formada por florestas, mas também com enclaves de campos rupestres, caatingas, matas secas xeromórficas, cerrados, mangues e restingas (Silva & Casteleti 2005), ela está isolada dos dois outros grandes blocos de florestas sul-americanas, a Floresta Amazônica e as Florestas Andinas. Os biomas Caatinga e Cerrado são dominados por vegetação aberta e separam a Mata Atlântica da Amazônia, enquanto o Chaco, uma área de vegetação seca das depressões centrais da América do Sul, separa-a das Florestas Andinas, ainda segundo Silva & Casteleti (2005). Diversos autores (Müller 1973, Simpson 1980, Rizzini 1997, Myers et al.2000, Wüster et al. 2002, Sanmartin & Ronquist 2004 e Silva & Casteleti 2005) argumentam que esse isolamento resultou na evolução de uma biota única, com numerosas espécies endêmicas, e por isso a Mata Atlântica é considerada uma das unidades biogeográficas mais singulares da América do Sul .

Atualmente, 744 espécies de Squamata são conhecidas no Brasil (Costa & Bérnils 2015), e estima-se que cerca de 250 destas estão presentes no bioma Mata Atlântica: aproximadamente 10 espécies de anfisbenas, 70 de lagartos e 170 de serpentes (Marques & Sazima 2004; Kunz et al. 2007; Bérnils et al. 2007; Salles et al. 2010; Costa & Bérnils 2014; Bérnils et al. 2015). Estes números dão ideia da relevância dos Squamata na manutenção da biodiversidade e do equilíbrio dos ambientes naturais presentes na Mata Atlântica, valorizando a inclusão dos répteis em estudos de impacto ambiental realizados nesse bioma, que é o mais impactado pela ação humana no Brasil (Paglia et al. 2004; 2010; Galindo-Leal & Câmara 2005).

Moura-Leite et al. (1993) argumentam que os répteis são importantes em estudos ambientais para a conservação de regiões naturais, por ocuparem o topo de várias cadeias alimentares e, portanto, exigirem certa oferta alimentar que sustente suas populações. Segundo esses autores, essa peculiaridade do grupo faz com que os répteis funcionem como excelentes bioindicadores de primitividade dos ecossistemas. Apesar de sua importância nas

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comunidades naturais, a herpetofauna tende a ser negligenciada em estudos ambientais devido a dois motivos principais: o desconhecimento de sua importância e a falta de modelos e protocolos que sustentem tais estudos (Gibbons 1988). Além disso, as dificuldades de obtenção de amostras significativas em curto espaço de tempo e a escassez de informações prévias nas regiões a serem trabalhadas, dificultam as avaliações ambientais em curto prazo (Moura-Leite et al. 1993).

Os primeiros estudos ambientais realizados no Brasil foram feitos por volta dos anos 1970, e vêm ganhando cada vez mais importância no cenário nacional. O Congresso Nacional aprovou em 1981 a Lei nº 6.938, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente, incluindo a Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos de proteção ao meio ambiente no Brasil. O licenciamento ambiental vem se tornando imprescindível perante as políticas nacionais de proteção ao meio ambiente, sendo exigido a todo novo empreendimento a ser instalado em qualquer região brasileira. Além disso, a busca pelo desenvolvimento sustentável se tornou uma preocupação real, fundamentada, inclusive, na Constituição Federal desde meados de 1980, através da Resolução nº1 do CONAMA/1986. Segundo essa Resolução, quando um empreendimento, obra ou atividade a ser realizada em uma região, for potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, é exigida a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), ao qual deverá ser dada publicidade - exigência estabelecida na Constituição Federal de 1988.

Os EIAs são uma ferramenta importante para a conservação dos ambientes naturais, pois através deles é que medidas mitigatórias e compensatórias de degradação são propostas. Os estudos servem para conhecer o que existe, em relação ao ambiente do local em que o empreendimento será implantado, gerando medidas adequadas que permitem que os impactos sejam minimizados o máximo possível.

Um dos primeiros passos para a realização de um Estudo de Impacto Ambiental, no caso da fauna, é o Inventário de Fauna, que foi normatizado pela Instrução Normativa do IBAMA nº146, de 2007, numa tentativa de padronizar os inventários de fauna no Brasil. Porém, como estamos num país tropical megadiverso, dificilmente um único documento conseguiria se adequar de maneira completa a todos os grupos animais aqui existentes. Por isso, pesquisadores de alguns grupos, como aves e mamíferos, sentiram necessidade de adequar a IN nº146 às suas áreas de pesquisa, visando trabalhos com inventários padronizados.

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Devido ao caráter generalista da IN nº146 , que abre margem para inventários incompletos e métodos não padronizados, observamos a necessidade de também adequa-la aos inventários de répteis. Essa necessidade foi confirmada através de conversas e entrevistas informais com alguns curadores de coleções zoológicas nacionais, biólogos que trabalham com consultoria ambiental, profissionais voltados a pesquisas zoológicas e ecológicas. As pessoas consultadas deram diversas sugestões para a criação de um documento que padronizaria e maximizaria os esforços de coleta de Squamata, procurando criar controle de qualidade e direcionamento para trabalhos futuros, auxiliando biólogos menos experientes a realizarem trabalhos bem feitos.

O intuito do presente trabalho é, então, elaborar uma proposta de padronização dos inventários de fauna de répteis Squamata realizados na Mata Atlântica, na tentativa de adequar a IN nº146 ao estudo dos répteis e maximizar os esforços de coleta em inventários de fauna, através da criação de um protocolo mínimo para inventários de Squamata, e, paralelamente, sugerir um roteiro que permita traçar perfis herpetológicos regionais ou locais.

Para conseguirmos chegar ao produto final deste trabalho, foi necessário realizar um estudo da legislação ambiental no país, com foco na Mata Atlântica, a fim de nos embasarmos o suficiente para conseguirmos fazer uma analise critica da legislação brasileira em relação a Estudos de Impacto Ambiental (EIAs). Também analisamos EIAs da biblioteca do Iema (Instituto estadual do meio ambiente e recursos hídricos) do Espírito Santo a fim de conferirmos como estavam sendo realizados os inventários de répteis na Mata Atlântica, quais as atuais exigências e se havia padronização de métodos. Consultamos também literatura científica referente a inventários de fauna de répteis Squamata. Devido a estas etapas, achamos pertinente dividir esta dissertação em três capítulos: Capítulo I: Bases históricas e legais dos inventários de fauna em Estudo de Impacto Ambiental no Brasil. Capítulo II: Análise crítica da situação dos inventários de répteis Squamata em Estudos de Impacto Ambiental na Mata Atlântica. Capítulo III: Protocolo mínimo para inventários de répteis Squamata na Mata Atlântica.

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REFERÊNCIAS

Bérnils RS et al., 2007. Répteis das porções subtropical e temperada da região neotropical.

Ciência e Ambiente. 35:101-136.

Bérnils RS et al., 2015. Répteis na Reserva Natural Vale, Linhares, Espírito Santo, Brasil.

Ciência e Ambiente. 49:193-210.

Costa HC & Bérnils RS, 2015. Répteis brasileiros: lista de espécies 2015. Herpetologia

brasileira. 4:75-93.

Galindo-Leal C & Câmara IG, 2005. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese. In Galindo-Leal, C. & Câmara, I. G (Eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e

perspectivas. Belo Horizonte: Fundação SOS Mata Atlântica Conservação

Internacional. Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade. p. 3-11.

Gibbons JW, 1988. The management of amphibians, reptiles and small mammals in North America: the needs for an environmental atitude adjustment. In Symposium of

Amphibians, Reptiles and Small Mammals in North America. p.4-10.

Kunz TS et al., 2007. Nota sobre a coleção herpetológica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Biotemas. 20 (3). p. 127-132.

Marques OAV& Sazima I, 2004. História natural dos répteis da Estação Ecológica Juréia-Itaitins. In Marques OAV & Duleba W (Eds.). Estação Ecológica Juréia-Juréia-Itaitins.

Ambiente físico, flora e fauna. Ribeirão Preto. Holos. p. 257-277.

Moura-Leite JC, Bérnils RS & Morato SAA, 1993. Método para a caracterização da herpetofauna em estudos ambientais. p. 1-5.

Müller P, 1973. The dispersal centres of terrestrial vertebrales in the Neotropical realm: a study in the evolution of the Neotropical biota and its native landscapes. La Haya. Dr.

W. Junk Publishers. 244 p.

Myers N, Mittermeier RA, Mittermeier CG, Fonseca GAB Kent J, 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. 403. p. 853-858.

Paglia AP et al., 2004. Lacunas de conservação e áreas insubstituíveis para vertebrados ameaçados da Mata Atlântica. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Unidades de

Conservação. Volume II – Seminários. Fundação o Boticário de Proteção à Natureza e

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Rizzini CT, 1997. Tratado de fitogeografia do Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro. Âmbito

Cultural Edições Ltda. 747p.

Salles ROL, Weber LN & Silva-Soares T, 2010. Reptiles, Squamata, Parque Natural da Taquara, municipality of Duque de Caxias, state of Rio de Janeiro, southeastern Brazil.

Check List. 6: 280-286.

Sanmartin I & Ronquist F, 2004. Southern hemisphere biogeography inferred by event-based models: plant versus animal patterns. Systematic Biology. 53(2): 216-243.

Scarano FR et al., 2012. Biomas brasileiros: retratos de um país plural. Rio de Janeiro. Casa

da Palavra. 326p.

Silva JMC & Casteleti CHM, 2005. Estado da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira. In Galindo-Leal C, Câmara IG (Eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e

perspectivas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica. Belo Horizonte: Conservação

Internacional. p. 43-59.

Simpson GG, 1980. Splendid isolation: the curious history of South American mammals. New Haven and London. Yale University Press. 266p.

Wüster et al., 2002. Origins and evolution of the south american pitviper fauna: evidence from mitochondrial DNA sequence analysis. In Schuett GW, Hoggren M, Douglas ME (Eds.). Biology of the vipers. Eagle Mountain Pub Lc. p. 111-128.

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CAPÍTULO 1

Bases históricas e legais para a Avaliação de Impacto Ambiental no

Brasil

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BASES HISTÓRICAS E LEGAIS PARA A AVALIAÇÃO DE IMPACTOS NO BRASIL

Segundo o documento “Deficiências em Estudos de Impacto Ambiental, Síntese de uma Experiência”, realizado pela 4ª Câmara de Coordenação e Revisão da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) de 2004, a preocupação com a proteção ao meio ambiente é um tópico que, ao longo das décadas, vem ganhando cada vez mais força, principalmente a partir dos anos 1970. Essa preocupação crescente pode ser associada a alguns marcos históricos, como o aumento dos níveis de poluição nos países do chamado Primeiro Mundo, em decorrência da expansão industrial; a crise do petróleo, que pôs o mundo em alerta para a possibilidade de escassez dos recursos naturais; e encontros para discutir questões socioambientais, como o Clube de Roma, publicado em 1972 sob o titulo “Os Limites do Crescimento”, que apresentava caráter pessimista quanto à capacidade suporte do planeta em relação ao crescimento econômico e populacional da sociedade.

Em 1972 a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, incluiu definitivamente a questão da degradação ambiental e o esgotamento dos recursos naturais na pauta de discussões da agenda econômica internacional. Uma das repercussões desta conferência, no Brasil, foi a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) em 30 de outubro de 1973 (ESMPU 2004). De acordo com o saite do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis), a SEMA era responsável pelo trabalho político de gestão ambiental; vinculada ao Ministério do Interior, teve papel fundamental na elaboração da Política Nacional do Meio Ambiente. Ela também foi uma das precursoras do IBAMA, juntamente com mais três órgãos que trabalhavam com a área ambiental separadamente: o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que mantinha a gestão das áreas naturais , a Superintendência de Pesca (SUDEPE), que geria os recursos pesqueiros, e a Superintendência da borracha (SUDHEVEA), que buscava viabilizar a produção da borracha. A fusão destes três órgãos com a SEMA deu origem ao IBAMA (www.ibama.gov.br/acesso-a-informacao/historico).

As exigências mundiais quanto à preservação do meio ambiente foram ganhando cada vez mais força. Órgãos financiadores internacionais, como o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), passaram a exigir mecanismos de aferição para o financiamento de projetos, dentre eles a avaliação de impactos ambientais. Em função destas exigências, alguns projetos desenvolvidos no Brasil, em meados dos anos 1970 e inicio dos anos 1980, foram objeto de

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estudos ambientais, como as hidrelétricas de Sobradinho, no estado da Bahia, e Tucuruí, no estado do Pará, que foram financiadas pelo BIRD e pelo BID (ESMPU 2004).

Os primeiros estudos de caráter ambiental realizados no Brasil datam dos anos 1970, e desde então vêm ganhando cada vez mais importância no cenário nacional. Porém, apenas em 31 de agosto de 1981 o Congresso Nacional aprovou um projeto de lei, a Lei n. 6.938 que criou a Política Nacional do Meio Ambiente, incluindo a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos instrumentos de proteção ao meio ambiente no Brasil (Sánchez 2013). O licenciamento ambiental, atualmente, vem se tornando cada vez mais imprescindível perante as políticas nacionais de proteção ao meio ambiente, sendo exigido, portanto, a todo novo empreendimento a ser instalado em qualquer região brasileira. Além disso, o desenvolvimento sustentável é hoje uma preocupação real e fundamentada na Constituição Federal desde meados de 1980 (Resolução nº1 do CONAMA/1986) (Straube et al. 2010).

Em 1983 foi criada a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED) pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Essa comissão era encarregada das análises de problemas ambientais e da elaboração de sugestões de estratégias de crescimento econômico sustentável; foi ainda responsável pela popularização do termo Desenvolvimento Sustentável, através do relatório Nosso Futuro Comum (Our common future, publicado em 1987, também conhecido como Relatório Brundtland). A previsão dos efeitos relacionados à degradação e poluição provocados por empreendimentos é essencial para a elaboração de políticas públicas baseadas no conceito de desenvolvimento sustentável. Neste contexto, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) deveria ter caráter preventivo nas tomadas de decisão dos setores públicos em relação a planos, projetos e programas de desenvolvimento (ESMPU 2004)

Ainda segundo o documento “Deficiências em Estudos de Impacto Ambiental, Síntese de uma Experiência”, realizado pela 4ª Câmara de Coordenação e Revisão da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU), a Política Nacional do Meio Ambiente enfatizou a necessidade de compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a qualidade ambiental. Na referida Lei n. 6.938/81, AIAs e licenciamentos constam como instrumentos distintos, não necessariamente vinculados. Isso denota o caráter amplo da avaliação de impactos, que deve possibilitar uma conexão entre setores governamentais, e destes com a sociedade, como uma prática democrática de planejamento e execução de políticas públicas, abrindo os processos decisórios à participação social.

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Porém, as AIAs se efetivaram no Brasil apenas através da Resolução CONAMA nº01/86, segundo a qual a condução do processo de licenciamento requer, quando a obra ou atividade for potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) – exigência que ficou estabelecida na Constituição Federal de 1988 (ESMPU 2004).

Durante as pesquisas realizadas para a elaboração deste trabalho, observamos que um documento imprescindível no processo de avaliação de impactos ambientais deveria ser o Termo de Referência (TR), pois ele serviria como roteiro prévio às avaliações de impactos ambientais e aos estudos de impactos ambientais, determinando as diretrizes desses estudos, fornecendo molduras metodológicas, e definindo o escopo do estudo, sua abrangência temática e até o perfil da equipe técnica. O TR seria, então, um documento balizador que visa garantir as atividades a serem realizadas no EIA, atribuindo aos órgãos ambientais a responsabilidade pelo licenciamento e a adição de etapas adicionais que julgarem necessárias, mas, segundo o documento da ESMPU citado, isto não está fundamentado na constituição federal, de modo que não existem dispositivos que determinem aos órgãos ambientais a elaboração de termos de referência.

De acordo com o IBAMA, o processo de licenciamento ambiental é obrigatório à instalação de qualquer empreendimento ou atividade poluidora ou degradadora do meio ambiente, como dito anteriormente, e esta obrigação é compartilhada com os órgãos estaduais de meio ambiente, através do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), que foi instituído pela Lei nº 9.985/00. O papel do IBAMA é atuar, principalmente, no licenciamento de projetos que ocupem mais de uma unidade da federação, ou em atividades do setor petrolífero e em território marinho. Segundo o saite oficial do IBAMA (www.ibama.gov.br/acesso-a-informacao/atribuicoes), quando o empreendimento ou atividade poluidora se encontra nos limites de apenas um estado, cabe aos órgãos ambientais estaduais o licenciamento do projeto. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) atua quando o empreendimento ou atividade poluidora impacta Unidades de Conservação federais, suas zonas de amortecimento ou áreas circundantes. Nestes casos, o ICMBio deve ser consultado, de acordo com a portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 55/14, que estabelece os procedimentos entre o ICMBio e o IBAMA, e analisa tecnicamente o processo de licenciamento, de acordo com a IN 05/09 (www.icmbio.gov.br/portal/servicos/autorizacao-para-licenciamento.html).

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Assim sendo, compilando as informações acima citadas, as principais diretrizes para a execução do licenciamento ambiental adotadas pelo IBAMA, e consequentemente pelo SISNAMA, são a Lei 6.938/81 e as resoluções do CONAMA nº 001/86 e nº 237/97; e recentemente foi publicada a Lei Complementar n º140/2011, que atribui a responsabilidade do licenciamento ambiental aos estados ou à federação, dependendo da localização do empreendimento.

Segundo a Resolução CONAMA nº01/86, o EIA deve adequar-se à legislação pertinente, em especial à lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecendo a uma série de diretrizes gerais (artigo 5º da Resolução CONAMA nº01/86). De acordo com o Artigo 6º da mesma Resolução, o EIA deve apresentar no mínimo quatro atividades técnicas imprescindíveis: diagnóstico ambiental da área de influência, análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, definição das medidas mitigatórias dos impactos negativos e elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos.

Para os objetivos do presente estudo, apenas a primeira atividade técnica é de fato relevante: o diagnóstico ambiental da área de influência. Esta exigência pede a completa caracterização da situação ambiental da área, antes da implantação do projeto. O item B do parágrafo I, no artigo 6º desta Resolução se refere à caracterização do meio biótico e dos ecossistemas naturais através da análise da fauna e da flora, atentando-se para espécies indicadoras de qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção, e as áreas de preservação permanente. Este item, se respeitado, fornece informações de qualidade e de grande valor, não só para o empreendimento em si, mas também para o meio acadêmico e social no geral.

Apesar da evolução na legislação ambiental no Brasil, em relação aos estudos de impacto ambiental, apenas em 2007 o Ministério do Meio Ambiente publicou um documento que buscava a padronização de procedimentos e critérios em referentes à fauna, envolvendo à questão do licenciamento ambiental para empreendimentos e atividades que causam impactos ambientais: a Instrução Normativa nº146 do IBAMA. Ela foi criada com o intuito de estabelecer critérios para procedimentos relativos ao manejo de fauna silvestre (levantamentos, monitoramento, salvamento, resgate e destinação) em áreas de influência de empreendimentos e atividades consideradas causadoras de impactos à fauna. Com isso, os órgãos ambientais tinham em mãos algo oficial para lhes auxiliar no controle e padronização

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dos EIAs, de modo que a IN nº146 passou a ser o documento básico para a realização desses estudos.

Em relação aos levantamentos de fauna, a IN nº146 faz uma série de exigências para a concessão da licença ambiental, como, por exemplo, o que está estipulado no Artigo 4º, que trata do que deverá conter cada levantamento de fauna:

I - lista de espécies descritas para a localidade ou região, baseada em dados secundários, inclusive com indicação de espécies constantes em listas oficiais de fauna ameaçada com distribuição potencial na área do empreendimento, independentemente do grupo animal a que pertencem. Na ausência desses dados para a região, deverão ser consideradas as espécies descritas para o ecossistema ou macro região;

II - descrição detalhada dos métodos a serem utilizados no registro de dados primários, que deverá contemplar os grupos de importância para a saúde pública regional e cada uma das classes de vertebrados e de invertebrados pertinentes. Em caso de ocorrência, no local do empreendimento, de focos epidemiológicos, fauna potencialmente invasora, inclusive doméstica, ou outras espécies oficialmente reconhecidas como ameaçadas de extinção, o IBAMA poderá ampliar as exigências de forma a contemplá-las.

III – os métodos deverão incluir o esforço amostral para cada grupo em cada fitofisionomia, contemplando a sazonalidade para cada área amostrada;

O Artigo 5º trata dos resultados do levantamento de fauna. Segundo a IN nº146, no levantamento deverá ser apresentado, dentre outras exigências: lista de espécies encontradas, indicando a forma de registro e hábitat, destacando as espécies ameaçadas de extinção, as endêmicas, as consideradas raras, as não descritas previamente para a área estudada, as passíveis de serem utilizadas como indicadoras de qualidade ambiental, as de importância econômica e sinergéticas, as invasoras, e as migratórias e suas rotas; caracterização do ambiente na área de influencia do empreendimento; estabilização da curva do coletor; etc.

Podemos notar através da analise da IN nº 146, que algumas exigências nem sempre são palpáveis para a realidade dos EIAs no Brasil, devido aos prazos, recursos e equipamentos disponibilizados para a realização destes estudos. Para alcançar números satisfatórios, quando falamos de espécies de répteis, é necessário um período grande de coletas, com boa periodicidade das campanhas a campo. Principalmente em se tratando de animais crípticos, que apresentam coloração camuflativa e imobilidade como forma de defesa (Martins, 1996).

Essas dificuldades na obtenção de amostras significativas e confiáveis também afetavam profissionais que trabalhavam com outros grupos taxonômicos, no passado recente,

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principalmente antes do lançamento da IN nº146 do IBAMA (em 2007), na qual foram definidos critérios básicos para a realização de licenciamentos e estudos ambientais. Straube

et al. (2010) propuseram um protocolo mínimo para levantamentos de aves em estudos de

impacto ambiental, no qual procuraram não apenas normatizar e padronizar métodos, mas também discutir mecanismos que permitam enriquecer, maximizar esforços e tornar mais confiáveis os inventários de aves, considerando todos os itens que, segundo esses autores, devem ser contemplados. Isso sugere que a IN nº146 poderia ser complementada, regulamentada e adequada a cada grupo taxonômico, a fim de maximizar e padronizar os EIAs. Straube et al. (2010) realçam que essa instrução normativa possui contradições e incongruências na redação de alguns artigos e incisos, enquanto dá margem a subjetividades em outros trechos. Por exemplo, quando analisamos os artigos 4º (“O levantamento de fauna deverá conter”) e 5º (“Como resultado do levantamento de fauna em áreas de empreendimento, deverão ser apresentados”), observamos que são muito semelhantes e até mesmo redundantes em seus parágrafos, e podem gerar interpretações distintas.

Além dos problemas gerados pela interpretação e compreensão da IN nº146, existem outras dificuldades relacionadas à execução dos diagnósticos ambientais que são recorrentes neste tipo de trabalho, como prazos insuficientes para a realização de pesquisas de campo, caracterização da área baseada apenas em dados secundários (às vezes oriundos de publicações antigas), execução de atividades de diagnóstico em etapas posteriores à Licença Prévia e falta de integração entre os dados de estudos específicos (Segundo o documento “Deficiências em Estudos de Impacto Ambiental, Síntese de uma Experiência”, realizado pela 4ª Câmara de Coordenação e Revisão da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) de 2004). Em qualquer estudo de caráter ambiental, a falta de familiaridade com os grupos animais avaliados pode ser um fator agravante na qualidade dos resultados obtidos, pois não se consegue extrair da literatura científica, em pouco tempo, toda a diversidade de uso dos hábitat, história natural e interações ecológicas que as espécies apresentam, e nem garantir a identificação correta de todos os táxons envolvidos.

Devido à inexistência de protocolos específicos para avaliações ambientais utilizando os répteis como bioindicadores, e sendo a Mata Atlântica o bioma mais impactado do Brasil, o presente estudo tem como intuito propor um protocolo mínimo para avaliação da fauna de répteis Squamata na Mata Atlântica e, em conjunto, criar um roteiro que permita traçar perfis herpetológicos regionais ou locais.

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Sob este cenário, o presente estudo visa orientar a elaboração de documentos sobre herpetofauna em estudos de impacto ambiental, particularmente durante a etapa de levantamento. O conteúdo em si está longe de ser normatizador, mas serve primariamente como fonte interpretativa da legislação aplicada ao estudo dos répteis, adicionada de sugestões para o enriquecimento e aplicação da norma vigente.

Análise crítica da instrução normativa nº146, de 10 de janeiro de 2007

A IN nº146 do IBAMA teve como objetivo estabelecer critérios para padronizar procedimentos relativos à fauna no âmbito de licenciamentos ambientais de empreendimentos e atividades causadoras de impacto. Como descrito anteriormente, é fruto de um longo processo histórico de preocupação com o meio ambiente e os recursos renováveis, e que segundo a própria IN nº146, tem o intuito de buscar o desenvolvimento sustentável. Tal documento foi, de fato, um importante passo para galgarmos a utilização responsável de nossos recursos naturais. Porém, sua redação gera certa dificuldade interpretativa. A seguir, faremos uma análise dos parágrafos do artigo 4º “O Levantamento de Fauna deverá conter” pertinentes ao presente estudo (parágrafos I, II, III, VI e VII), que trata da etapa de levantamento da fauna de répteis Squamata em estudos de impacto ambiental. Os parágrafos IV e V não correspondem a atividades ligadas diretamente a etapa de inventário de fauna sob responsabilidade do biólogo, pois tratam da apresentação de mapas, imagens de satélite e fotografias aéreas, além da identificação das bacias hidrográficas e vias de acesso pré-existentes para a área do empreendimento.

Parágrafo I: “lista de espécies da fauna descritas para a localidade ou região, baseada em dados secundários, inclusive com indicação de espécies constantes em listas oficiais de fauna ameaçada com distribuição potencial na área do empreendimento, independentemente do grupo animal a que pertencem. Na ausência desses dados para a região, deverão ser consideradas as espécies descritas para o ecossistema ou macro região”.

O levantamento da fauna de uma região baseado em dados secundários é extremamente oportuno, pois permite que o profissional responsável pelo estudo adquira conhecimento prévio sobre as espécies que pode encontrar, auxiliando até na definição dos métodos a serem utilizados em campo. Porém, a literatura deve ser selecionada com cautela, principalmente se o responsável envolvido for inexperiente, já que esta pode servir para auxiliar na identificação dos exemplares amostrados. Na ausência de material específico para a região a ser estudada,

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consultar literatura muito generalista quanto à distribuição dos animais, pode provocar erros na elaboração da lista prévia de possíveis espécies que ocorrem na região. Segundo Dixon (1979), fatores como relevo, clima e vegetação são grandes limitantes de distribuição dos répteis. Literaturas que apresentem distribuições muito generalistas podem não levar em conta variações de relevo, por exemplo.

No Brasil, as listas oficiais de fauna ameaçada são as listas vermelhas. Segundo Bérnils (2013), o Brasil, obteve sua primeira lista nacional por órgãos ambientais federais em 1968, mas apenas em 1989, com o crescimento da conscientização da necessidade de proteger a fauna presente no país, outra lista foi elaborada. Nela foram apresentados como ameaçados 207 táxons, entre espécies e subespécies, e pela primeira vez seguiu-se as sugestões da IUCN. As categorias e critérios propostos pela IUCN permitem classificar os táxons de acordo com: (i) seu percentual de perda da população em um período de tempo definido, (ii) as causas desse declínio, (iii) o tamanho da distribuição geográfica atual e a área de ocorrência das espécies, (iv) o tamanho atual e o estado de fragmentação das populações, e (v) resultados de análises de viabilidade populacional, quando existem informações suficientes (Bressan et al. 2009).

Atualmente vários estados que possuem extensões da Mata Atlântica em seus territórios, possuem listas oficiais de animais ameaçados, como o Espírito Santo ganhou sua primeira lista oficial de espécies da fauna ameaçada de extinção apenas em 2005, organizada pela ONG Ipema (Instituto Pesquisas da Mata Atlântica), sob a coordenação dos pesquisadores Marcelo Passamani e Sérgio Lucena Mendes. Antes disso, outras organizações e órgãos ambientais também se preocuparam em elaborar suas primeiras listas estaduais: o Paraná em 1995, com lista atualizada em 2003; Minas Gerais também em 1995, atualizada em 2007; São Paulo em 1998, atualizada em 2010; Rio de Janeiro em 1998, ainda sem atualização, mesmo passados 16 anos de sua publicação; e Rio Grande do Sul em 2002 (Machado, 2008). Segundo Bérnils (2013), o estado de Santa Catarina teve sua primeira lista feita em 2010, a Bahia vem elaborando sua lista desde o ano passado, e Pernambuco anunciou as discussões para uma lista estadual a partir de 2014. Os critérios para classificar os táxons variaram entre essas listas, mas as categorias utilizadas seguiram, com pequenas alterações, as indicadas pela IUCN.

Parágrafo II:” descrição detalhada da metodologia a ser utilizada no registro de dados primários, que deverá contemplar os grupos de importância para a saúde pública regional, cada uma das Classes de vertebrados, e Classes de invertebrados pertinentes Em

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caso de ocorrência, no local do empreendimento, de focos epidemiológicos, fauna potencialmente invasora, inclusive doméstica, ou outras espécies oficialmente reconhecidas como ameaçadas de extinção, o Ibama poderá ampliar as exigências de forma a contemplá-las”. No caso dos répteis, existe uma variada gama de métodos de amostragem; cabe ao

profissional responsável pelo estudo selecionar os métodos mais adequados ao tipo de empreendimento, bem como aplicar métodos que se complementem, para amostrar o maior número possível de espécies – sempre atentando-se à viabilidade do projeto. Além disso, os métodos descritos no projeto, estudo ou relatório, devem ser aplicados em campo criteriosamente, para que o resultado do EIA seja compatível com a descrição metodológica do projeto apresentado. Espécies de répteis importantes para a saúde pública são, geralmente, as serpentes peçonhentas. Devido à sua abundância ao longo de toda a Mata Atlântica, as serpentes peçonhentas certamente constarão da lista prévia elaborada a partir de dados secundários. Os métodos de constatação de espécies de répteis são os mesmos utilizados para amostrar espécies nativas, ameaçadas de extinção ou invasoras, não havendo necessidade de se utilizar métodos muito específicos para amostragem desses diferentes elementos.

Para a fauna potencialmente invasora, recomendamos consulta a Zenni e colaboradores (2016), que fizeram uma analise dos dez anos do informe brasileiro sobre espécies invasoras. No qual citam seis trabalhos que trataram de répteis invasores no Brasil.

Parágrafo III: “a metodologia deverá incluir o esforço amostral para cada grupo em cada fitofisionomia, contemplando a sazonalidade para cada área amostrada”. Incluir o

esforço amostral na descrição dos métodos é de importante para os EIAs, pois confere confiabilidade aos dados obtidos, desde que o esforço seja satisfatório. Do ponto de vista científico, deve-se contemplar a sazonalidade, devido à variação de hábitos dos animais de acordo com as estações do ano. Porém, nem sempre a sazonalidade é abordada, cabe então aos órgãos ambientais, que têm autoridade legal exigir dados que contemplem épocas do ano distintas. De acordo com Franco e colaboradores (2002), em regiões tropicais, de modo geral, os répteis são mais ativos durante as estações úmidas, contudo, também deve-se coletar nas épocas frias e secas, devido às diferenças sazonais na composição das comunidades, com possibilidade de encontro de indivíduos, de faixas etárias ou estados fisiológicos diferentes das amostragens obtidas em épocas chuvosas. Assim, podem-se obter informações sobre a biologia e ecologia das espécies.

Parágrafo VI: “informação referente ao destino pretendido para o material biológico a ser coletado, com anuência da instituição onde o material será depositado; (anexo

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formulário de destinação/recebimento, assinado pelas partes)”. A destinação do material

biológico coletado é uma questão delicada que envolve grande responsabilidade. Deveria ser uma ação conjunta entre o setor privado e as instituições de pesquisa, com benefícios a ambas as partes se realizada da maneira adequada. Em entrevistas informais com curadores de coleções científicas, que auxiliaram no direcionamento deste estudo, foi sugerido que o próprio profissional responsável pelas coletas indique uma instituição para o tombamento desse material, e que a empresa impactante forneça à instituição os meios para a manutenção deste material, como a doação de álcool, formol, tambores plásticos (para armazenamento de animais em álcool) e armários. Esta prática poderá até constar como medida compensatória de impactos, já que, desta forma, o empreendimento estaria gerando material científico útil. É importante também que a empresa doadora do material permita a publicação dos dados provenientes do material doado, o que promove enriquecimento científico para o grupo amostrado (sugestão que não se limita apenas aos répteis, uma vez que todos os grupos deveriam adotar a mesma prática).

Parágrafo VII: “currículo do coordenador e dos responsáveis técnicos, que deverão demonstrar experiência comprovada no estudo do táxon a ser inventariado”. A análise de

currículos dos profissionais envolvidos nos estudos de impacto ambiental, pelo órgão ambiental pertinente ao tipo de empreendimento, é importante, pois a escolha do profissional é o primeiro passo para um estudo de impacto ambiental bem feito. A crítica aqui se direciona ao trecho que diz respeito à experiência comprovada dos profissionais envolvidos. Se esta comprovação for via publicações científicas voltadas para o grupo taxonômico em questão, profissionais capacitados, mas que estão fora do meio acadêmico, podem ser prejudicados, pois sua baixa produção (publicações) pode se transformar em barreira se o órgão ambiental não os considerar suficientemente experientes

Ao longo do texto foi utilizado muitas vezes o termo “profissional”; vale salientar que o profissional aqui referido é aquele diplomado em Ciências Biológicas, pois cabe ao biólogo realizar os trabalhos de levantamento de fauna; ele possui o conhecimento teórico e a capacidade técnica para realizar um estudo de qualidade em sua área de atuação, utilizando-se dos métodos adequados e literatura correta. Como está fundamentado na Lei nº6.648/79, que regulamentou a profissão de biólogo, e na Resolução CFBio nº10/03, que dispões sobre as atividades, áreas e subáreas do conhecimento do biólogo.

O propósito aqui não é propriamente criticar a IN nº146, pois reconhecemos a importância desse documento, que foi um divisor de águas para a padronização e melhoria da

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qualidade dos estudos de impacto ambiental no Brasil. O que buscamos é tentar elucidar dúvidas que possam surgir de sua leitura, apontando possíveis dualidades, lapsos de linguagem técnica e dificuldades interpretativas. O principal intuito é adequar a Instrução Normativa nº 146 aos estudos que necessitem elaborar levantamentos de répteis Squamata na região da Mata Atlântica, visando obter estudos de fauna de melhor qualidade e padronizados, mesmo quando realizados por biólogos com menos experiência, promovendo assim a maximização dos estudos de impacto ambiental que envolvam répteis na Mata Atlântica.

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REFERÊNCIAS

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Bressan PM, Kierulff MCM & Sugieda AM, 2009. Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo vertebrados. São Paulo. Fundação Parque Zoológico de São Paulo. 645p. DIXON, J. A., 1979. Origin and Distribution of Reptiles in Lowland Tropical Rainforests of South America. In: W.E. Duellman (ed.). The South American Herpetofauna: Its Origin, Evolution, and Dispersal. Monogr. Mus. Nat. Hist., Univ. Kansas 7: 217-240

Souza AR & Reis CF (rev.), 2004. Defiencias em estudos de impacto ambiental: síntese de uma experiência. Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília. 38p.

Franco FL, Salomão MG, Auricchio P, 2002. Répteis In Auricchio P & Salomão MG (eds.).

Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. São Paulo,

Arujá: Instituto Pau Brasil de História Natural. p. 95-124.

Machado ABM, 2008. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. In: Machado ABM et al. (Ed). Listas de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção:

Aspectos Históricos e Comparativos. 1a ed. Brasília, DF : Ministério do Meio Ambiente; Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas. p. 91-110.

Martins M, 1996. Defensive tatics in lizards and snakes: the potential contribution of the neotropical fauna. Anais de Etologica. p.185-199

Sánchez LE, 2013. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo. Oficina

de textos. 495p.

Straube FC et al., 2010. Protocolo mínimo para levantamentos de avifauna em Estudos de Impacto Ambiental. Ornitologia e Conservação: Ciência Aplicada, Técnicas de Pesquisa e

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Zenni RD, Dechoum MS & Ziller SR, 2016. Dez anos do informe brasileiro sobre espécies exóticas invasoras: avanços, lacunas e direções futuras. Biotemas. 29(1): 133-155.

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CAPÍTULO 2

Análise crítica de Estudos de Impacto Ambiental no bioma Mata

Atlântica

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INTRODUÇÃO

Durante a análise dos EIAs consultados, chamou nossa atenção a frequência com que a herpetofauna é abordada de forma conjunta, ou seja, os inventários de répteis e de anfíbios são feitos pelo mesmo profissional (ou equipe) e, algumas vezes, até apresentados em relatório único. Dos 17 EIAs estudados, seis (35%) apresentaram levantamento prévio, métodos, resultados e demais dados e/ou análises tratando répteis e anfíbios em conjunto, e em 15 deles (88%), a pessoa (ou equipe) responsável por Répteis era também responsável por Anfíbios (ou mesmo por toda a fauna avaliada no EIA).

Essa prática é vantajosa para o contratante, que precisará contratar apenas um biólogo (com ou sem equipe auxiliar) para inventariar, identificar e analisar dois grupos taxonômicos distintos (a chamada “herpetofauna”), inclusive no que se refere a avaliar os efeitos do empreendimento (possíveis impactos negativos e positivos medidas mitigadoras e compensatórias etc.). A qualidade do estudo, porém, pode ser gravemente comprometida, porque répteis e anfíbios são grupos megadiversos e complexos, muito diferentes entre si em termos biológicos estritos (fisiologia, ontogenia, comportamento, modos reprodutivos e assim por diante), em suas histórias biogeográficas e na forma de se relacionar com o meio (Zug et

al. 2001), demandando esforços e métodos diferentes (nem sempre complementares) para

serem corretamente amostrados. Outro problema é que, devido à grande diversidade desses grupos nos biomas tropicais, raramente um mesmo profissional consegue se especializar nos dois grupos ao mesmo tempo – especialmente no Brasil, que congrega a maior diversidade de anfíbios do planeta (1026 espécies) e a terceira maior de répteis (773 espécies) (Frost 2014; Segalla et al. 2014; Costa & Bérnils 2015; Uetz & Hošek 2015) .

Como exemplo, em um dos EIAs analisados, o profissional contratado dedicou oito parágrafos aos anfíbios e apenas três aos répteis, deixando claro que se trata de um especialista em anfíbios. Estudos de campo com anfíbios costumam dar maior enfoque à procura por espécimes no período noturno e em ambientes aquáticos lênticos, como brejos, banhados, várzeas, lagoas e igapós, onde os anuros se reúnem para a reprodução (Calleffo 2002); os adultos de diversas espécies apresentam, concomitantemente e em agregações numerosas, machos vocalizando em coro e fêmeas atraídas por suas vocalizações (Haddad & Sazima 1992; Toledo et al. 2012), o que facilita o trabalho do biólogo interessado em amostrar esses animais; também é nesses ambientes que se encontra ovos e girinos da maioria das espécies (Haddad & Sawaya 2000; Toledo et al. 2012). A atenção dada aos sítios de

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vocalização e reprodução dos anuros toma muito tempo do biólogo em campo, prejudicando, inevitavelmente, sua dedicação à busca de répteis Squamata, os quais apenas fortuitamente são encontrados nos ambientes propícios aos anfíbios.

A correta identificação dos táxons registrados também pode ser comprometida pela contratação de uma única pessoa para abordar répteis e anfíbios num EIA, conforme indicado acima. Um exemplo é a obtenção de dados através de registros secundários, como entrevistas. Em um dos EIAs analisados, o responsável técnico registrou três espécies de serpentes através de entrevistas: Liophis miliaris (atualmente Erythrolamprus miliaris), Chironius sp. e

Bothropoides jararaca (= Bothrops jararaca); todas podem ser facilmente confundidas com

outras espécies presentes na região estudada, inclusive com serpentes pouco aparentadas a estas. Devido ao seu caráter mítico e ao grande temor que as serpentes geram nas pessoas em geral, há certa tendência ao exagero e, por isso, a utilização de entrevistas na obtenção de registros de serpentes em EIAs deve ser vista com cuidado. O profissional que conduz a entrevista deve ser capaz de filtrar as informações fornecidas pelo entrevistado, baseando-se em características morfológicas bem distintas e facilmente reconhecíveis para que a informação possa ser validada.

Após a pequena introdução e os parágrafos com exemplos (podem ser incluídos outros), fica faltando apenas um parágrafo de fechamento, ou seja, que traça o objetivo e a justificativa do presente capítulo.

O presente capítulo tem por objetivo analisar criticamente EIAs armazenados na biblioteca do Instituto Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – IEMA, do Espírito Santo. Em cada EIA, foram analisados quesitos como: métodos utilizados, levantamento prévio de dados (dados secundários), lista de espécies, esforço amostral, qualidade da informação obtida, equipe, período de campo, sazonalidade e domínio do grupo. Esta análise serve para sabermos como estão sendo feitos os inventários de fauna de répteis nesses estudos, a fim de nortear a criação de um protocolo mínimo para padronizar os inventários de fauna de répteis Squamata na Mata Atlântica.

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MATERIAL E MÉTODOS

Com o objetivo de analisar a qualidade e a multiplicidade dos Estudos de Impacto Ambiental que realizaram inventários faunísticos envolvendo répteis na Mata Atlântica, buscamos a biblioteca do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) do Estado do Espírito Santo, que é o órgão ambiental responsável pela normatização e fiscalização de empreendimentos potencialmente impactantes nesse estado. Nessa biblioteca procuramos todos os estudos disponíveis realizados no século XXI, o que totalizou 17 EIAs feitos para diversas regiões do Espírito Santo, tratando de construção de pequenas centrais hidrelétricas, termelétricas, linhas de transmissão, rodovias, portos e atividades de mineração, entre outras. O mais recente estava com data de 2013 e o mais antigo era de 2001. Como não há necessidade de citar nomes ou especificar os estudos analisados, todos serão tratados por números aleatoriamente atribuídos (1 a 17), sem ordem cronológica, alfabética ou outra qualquer.

Sempre foi nossa intenção limitar a presente análise aos répteis Squamata da Mata Atlântica. Nesses termos, a escolha do IEMA e dos EIAs ali arquivados se deu por três motivos: I - O Espírito Santo é um dos dois únicos estados brasileiros com 100% de sua área continental inserida no bioma Mata Atlântica (Scarano et al. 2012), ao contrário de Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, dentre outros, que possuem importantes frações de outros biomas em seu território (IBGE 2004); isso garante que todos os estudos presentes na biblioteca do IEMA foram realizados na Mata Atlântica stricto sensu. II - A fauna ocorrente no Espírito Santo é a que conhecemos melhor, permitindo análises críticas mais completas. III - Como o presente trabalho foi desenvolvido no Espírito Santo, os EIAs arquivados no estado eram os mais acessíveis, evitando-se viagens para visitar bibliotecas de outros estados.

As análises seguiram oito critérios básicos: equipe, levantamento de prévio de espécies (dados secundários), métodos utilizados no registro de espécies, esforço amostral, período de campo, lista de espécies encontradas ou registradas para a região, domínio do grupo e qualidade da informação obtida.

Visando agregar a maior gama possível de experiências, tornando as análises mais completas e conhecer pontos de vista variados, além da consulta aos EIAs da biblioteca do IEMA, realizamos entrevistas informais com biólogos que trabalham com consultoria ambiental, curadores de coleções zoológicas nacionais e servidores de órgãos ambientais

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