FLORIANÓPOLIS�
OUTUBRO
DE
1988
Fernando CrocomoRomaria
da
Terra
Na CentralEXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
CUrso
de Comunícação
Social daUniversidade Fe deral de Santa Ca
tarina.
Esta
edição
foi ela borada na madrugada
de 30 de setembro
de 1988Texto: Ana
Lavrat
ti;
DauroVeras,
DeiseFreitas,
Ge
raldo
Hoffmann,
IvoneiFazzionni,
João Carlos Grando, Jacques Mick,
Karina
Van HoffMendez,
Márcia
Carvalho,
Maria
Alauei
Macarini,
Milton
Spada,
NilvaBianco,
Renata Ro sa,Ruchelle
Zanda-valle,
Sabrinà
.
Franzoni,
OziasTormentor.
Diagramação:
Analú
Zidko,
Cláu-.
dia
Carvalho,
Fer nandoMeneghel,
II kaGoldschmidt,
Rute
Enriconi,
Sa brina Franzoni. Arte: Marta Moritz
Fotografia:
Sabri naFranzoni,
Renata
Rosa,
Renata
Schmidt,
Ruchelle Zandavalle. Laboratório Fotográfico:
Cláudia
Carvalho,
ClaudiaLyra,
Denyris
Lau rindo.Supervisão:
Pro fessoresHenrique
Finco,
Airton Kanitz,
Hélio
Schuch,
Cíntia
Nahra. Telefone:(0482)
33-9215Correspondência:
Caixa Postal472,
Departamento
deComunicação
eExpressão,
Curso deJornalismo,
Floria
nópolis,
SC. Acabamento e Impressão:
DiárioCa
tarinense
Distribuição
Gratuita
Circulação
Dirigi-da .[
r
j
OI' e>�.
o cursode Jornalismo daUFSC está
organizando
oSe minário Latino Americanode
Comunicação
e oXII Congresso do INTERCOM
(So
ciedade Brasileira de Estu dosInterdiciplinares
daComunicação),
este últimocomotema: Industrias Cul turaise os
Desafios
daIntegração
Latino Americana.Estes dois eventos irão se
realizar de 6a10 de setem
bro,
prometendo
ser o acontecimento doano,naárea de
comunicação
em 89. A FE NAJ(Federação
V'acional
âos
Jornalistas)
estáajudan
dona
promoção
do Seminário e a ALAIC
(Associação
LatinoAmericana da Comu
nicação)
naprodução
do INTERCOM. Para a abertura
do
encontro,
pode
estarchegando
emFlorianópolis
GabrielGarcia Marquez.
NAONDA
DO
RÁDIO
Alencar AldoFossá éum nome
queestánaagendadetodo setorís-'
ta de telecomunicações da im prensa
gaúcha.
Irredutívelouvin te das emissoras internacionais de ondas curtas (dasquais
possuiumainvejável
coleção
de gravações) eradioamador, Fossápre para agora um livro inédito: O Manualdo Radioescuta. Para que
seu
projeto
serealize,Fossápôsavendaumatabeladefusos horá rios de todo o mundo chamada
Fuso-matic. Ela é
acompanhada
deuma
ampla
listagem dandoosprefixosde radioamador de todoo
mundo.
Segundo ele,atabela,que funcio
na com umdiscodepapel,serve a
estudantes,
jornalistas,
turistas, geógrafos.O
preço é de Cz$1.000,00 (um mil cruzados) e o
pedido
pode ser dirigido a ele,através daCaixaPostal na 6022, CEP 91.031, PortoAlegre- RS.
ABORTO
COROADO
Dia 5 deoutubro,oBrasilganha
uma nova
Constituição.
OChile diz "sim" ou "não"aPinochet. Nenhumacoincidência. Osgenerais
daqui
conseguemtudooque que rem semprecisar
passarporumplebiscito.
Garantem parasiumaprerrogativa
que ameaça qual queresboço
deregime
democráti co: apossibilidade
deintervençãona ordem interna. Ainda que a
autorização
para intervir tenha quepassarpelo Congresso,nãohá nenhumagarantia
de estabilidade democrática. A sociedade ainda não conseguiu estabelecer um controle sobre as Forças Arma das. E elas têm os tanques, atédesnecessários
paraintimidarumCongresso
Nacionalmajorttaría
mentededireita.Masesteé apenasumdos atrasos da NovaCarta,
já
laureadacom medalhasde ouro,prata
oubronze.Coroam-seosinteresses econô micos que determináram a sua
elaboração.
Coroa-seaUDR, articulação
latifundiários queenterraram aReforma
Agrária.
Coroase oCentrão,bloco
fisiológico
de defesa dos interesses do poder econômico. Coroa-se o DoutorUlysses
Guimarães,mediador fu gaz·da elaboraçãodaCarta, umgrande
presente
para umpresí
denciável aniversariante. Coroa-se o PMDB, atransição
conservadora,osinteresses mili tares e das classes dominantes,JoséSarney...
Houveavanços: direito degre ve, jornada de 44 horas, licença paternidade,
aposentadoria
proporcional, igualdade
de direitos entre homem e mulher, tomba mento do Pantanal e da MataAtlântica, reforma tributáriae a
criaçãodo ConselhoNacional de
Comunicação. Essas conquístas
são frutos das
pressões
populares,e
já
são realidadeemoutrospaíses
hámuitotempo'.
Opiordetudo éessaConstitui
ção já
nasceabortada.Foielabo radaporumCongressoConstitui te e não por uma Assembléia Soberana. E oquepodeparecerconquista
serádetalformaamordaçado pela legislação
complementarque dificilmenteocidadão brasileirovaiusufruirdosnovos
direitos constitucionais até que ocorraarevisão totaldacartaem
1993. Até lá a
Constituição
vai servir del;>andeiranascampanhas
eleítoraís
doPMDB.E doChile,oque será?
'r
A
ÚLTIMA
CHANCE
O concurso "Zero e Wea dão 50
Lps: Escolha,
Responda
eGanhe",foi transferidoparao
próximo
Zero,pois
onúmero decuponsrecebidosfoi inferior ao número de discos. Não deixe de escrever, você agora temmaisuma:chance.Lembrando: você deveresponderoqueacha do Zeroe porquevocê
gosta
doartista escolhido,paraganharodiscodesua
prefe
rência.BoaSorte!Aguarde
nopróximo
nútnerodoZE RO:- Tóxicos nos
Colégios
de Florianópolis
- Biblioteca Central da UFSC.
o XI
Congresso
daINTERCOM que aconteceuem
Viço
sa,Minas
Gerais,
de 2a7desetembro,contoucom apre
sençade
Ethevaldo
Siqueira,
dono daRevista Nacional de TelemáticaeJosé Hamilton Ribeiro
(repórter
do GloboRural).
Sóque foiumapena, quede umcongressocomtal
gaba
rito,
não tenha saído umacartafinaldo encontro. Es pera-sequeos
organizadores
do evento em
Florianópolis
tomemessecuidado.
Companheiros
do Zero:souacadêmicode
Geografia,
agito
noCentroAcadêmicoe sou leitor desse belíssimotrabalho. Saibam que uso seus textos para basear-me
em seminários e para colo
car meuraciocínioemques
tionamento.
Quero
parabeni
zá-los e me coloco à
disposição
paraser o distribuidor de seus
exemplares
junto
ao CCH em'nome
doCaligeo. É
isso.Jefferson,
Florianópolis.
Zero: Aceitamos sua
aju
da,
companheiro
doCaligeo,
manteremos contato.
Informática:
Situação
Nacional éotema doSeminário
de
Informática,
que irá serealizarnodia 10denovem
bro,
noAuditório da Reitoria.Oeventoiniciaas9horascom
uma
palestra
sobreaPesqui
sa e oDesenvolvimento emInformática
(visão
da empresa
encerrando,
com umamesa redonda onde seráde batidooDesenvolvimentoda
Informática
noBrasil. Oseminário é
promovido pelo
PTE
(Metrologia
Automação)
e recebeu oapoio
da.UFSC, CERTI,
ITAUTEC.A
penitenciária
defloria
nópolis
abre suasportas
àimprensa.
Pelomenosfoies saapromessa donovo seeretárioda
justiça.
Osjornalis
tas não saíram nada
satisfeitos dacasadedeten
ção.
Maioresinformações
napag.16.
P 2
'
ZERO
OUT-88
J
Casa
daJane
Massagens
com
baixo
ventre
Qualquer
dia,
folheando osclassificados,
vocêpoderá
encontrar
umanúncío
convidan dogarotas
de 18 a 21 anos atomarem-se
massagistas,
ga nhando cêrcadeCz$ 45.000,00
mensais. A interessada que
ligar
paraonúmero será atendida poruma vozfeminina que
explicará
tratar-se de um"curso de
massagem".
Ocurso,
segundo
avoz, habilitaasalunasa
posteríormente
atuarem em
clinicas,
móteisouhóteis. Para
participarem,
asinteressadasdevemmarcar um
horário para
entrevista,
daronome e
tipo
fisico. Oendereço
seráindicadosóumahoraan
tes da
entrevista, quando
acandidata deve
ligar
novamente. Feita a
segunda liga
ção,
apenas é indicadooônibusapegare olocal do
desembar
que: bairro do Abraão. Num
esquemaque lembrafilmesde
espionagem,
agarota
devedescer do ônibus e,
atraves-.
sandoarua,pegarumtáxino
ponto
emfrente; Omotoristaalevará
até "acasadaJané".
OLOCAL'
Após
subiruma rua, otáxipára
em umterrenobaldioe omotoristaindicauma casa em
frente.
É
umlocalpobre,
por tasfechadas. Umagarota
abrea
porta após algumas
batidas.Alta,
magra, roupasvelhas emuita
maquiagem,
pergunta
onome, convida a entrar e diz quevai chamar Jane.
Aparece
outra
garota,
maisfranzina,
examina a "candidata" com umolhar avaliadoresai.Pou-, cos
móveis, paisagens
de revistas transformadasemqua
dros. Sobre uma mesinha o
telefone,
numcanto,
o sofáparaas "visitas".
Entraumamulherde meia
idade,
morena: a vozdotelefone.
Roupa
justa, maquiagem.
Apresenta-se,
éJane.Cumpri
mentaa
candidata,
convida-asentar-se e ocupa o
lugar
aolado dotelefone.
Depois, expli
catudooque
poderia
interes-.
sar uma
aspirante
amassagis
ta.
Teste
O "curso" incluiaulas
práti
cas e teóricas de massagem,
dança
eginástica.
A ministrante é a
própria
Jane e aduração
éde 90 dias. Comumdetalhe:
já
naprimeira
sema na aaluna deveatendera umcliente,
escolhido porJane.É
ele quem decide se agarota
está em
condições
de continuar ou não.
Afinal,
lembra sorrindo: "o clientemanda,
éelequem
paga".
Se foraprovada,
agarota já poderá
começaratrabalhar normalmente.
O clienteque
pede
uma massagista
tem direito aduashorasde
serviço,
ondea massagem é
obrigatória, já
que éafachadada
prostituição.
Janeexplica
as normasdacasa: usoobrigatório
depreservativo,
sexoanal
proibido
(o
medo daAids),
oraloptativo.
Além.dis so, agarota
deveapresentar
seus documentos
após
duassemanas emaisumtesteanti
Aids a cada 15 dias. Nenhum
cliente
pode
saberoendereço
dacasa.
"Free-Lance" O
serviço
demassagens funciona das 11 da manhãàs3hs da
madrugada,
dividido emturnos. Cada
garota
deveatenderao menos um cliente por
dia,
mas amaioria''é gananciosa" diz
Jane,
"trabalhamemquase todosos
horários,
sópensam em dinheiro". Evi
dentemente,
aprofessora
nãoprecisa
teressapreocupação,
afinalelafatura
50%
detodosos
ganhos
desuaspupilas.
Após
otelefonema,
a massagista
vai detáxi atéolocal doencontro,
escolhidopelo
freguês.
Pode ser uma residência, boate,
hotel ou motel.O,
cliente
pode
serjovem,
velho,
homem, mulher,
casal.É
elequem, além da taxa
(atual-mente, Cz$ 10.000,(0),
pagaotáxi.
Jane é muito
"protetora":
mandaemboraquem
desobe-decer
qualquer
norma, masfazaressalva dequeasmeni
nas nunca lhe deram
proble
mas.
Segundo
ela,
suas garotas nunca se
prostituiram
antes,
e na suaopinião,
nem ofazem agora. As massagens seriam apenas um "free-lan ce"que
complementao
saláriodosempregos
oficiais,
algo
dealto nivel.
Afirmanão.permitir
quenenhuma
garota
trabalheem sua
agência
maisquecincomeses,
tempo
suficiente para que superem as dificuldadesfinanceiras. Acrescenta ainda
mais uma
ínrormação:
agencia também rapazes bisse
xuais.
A
qualquer pergunta
sobrepossíveis complicações
com apolicia,
Jane dá um sorrisotranqüilizador
eresponde
quenão há
problema algum:
"ospoliciais
sãoamigos.
De vezemquandofazematéuma
visita,
sem mexer com as meninas." Dizainda quese
alguém
maltratarumadas
garotas
po de seprevenir,
pois
aPolicia Federalthe dá cobertura...Convênios
Entre
perguntas
e respostas,
a dona da casapreenche
umafichacomtodos
osdadosda
candidata,
o turnoem queela
prefere
trabalhar,
alémde examinar o físico dagarota.
Entrega
cartões de visita demassagistas quatro-estrelas,
acrescentando que mantém convêniocomtodososmotéis
do
continente,
e ainda comhotéis como
Diplomata,
Florianópolis,
Plaza Caldas daImperatriz
eoutros.Pergunta
qualonomequeagarotagosta
riade adotar
profissionalmen
te e avisa que é· necessáriopossuirvestido
esapato
social,
"algofinoe discreto",
uma vezque a
massagista
nuncasabeaocerto paraondeterá queir
..
Jane só
declara,
orgulhosa,
que "os clientes sãotodos dealto
nivel,
as meninassÓ
andam em carrões ef se derem
sorte,
nemprecisam
transar."
Esclarecidas todasasdúvi das ecuriosidadedacandida
ta,
Janesepropõe
ámostrarasoutras
dependências
da'
casa.É
hora deencerrar aentrevista,
a"empresária"
dizque tem outras candidatas aatender.O restante dacasa
compõe
se de uma salinha com umcolchão
sujo
nochão,
onde sãodadasasaulas demassagem,
umacozinhaondeasduasou
tras
massagistas
conversam e umagaragemescuraqueJaneafirmaser umestúdiodedan çae
ginástica.
Ela acrescenta que casoalguma garota seja
recém-chegada
na cidade e.esteja
semter ondeficar,
pode
tomar-se residente. As de
mais, cercade
seisgarotas,
só aparecemnoshoráriosdeseusturnos.
Seacanditada
agradar,
Ja ne a leva até os fundos ejá
mostraumasaída
discreta,
a"saída das
massagistas".
Esse
pode
seroiniciodeumanovacarreira habilmente
explora
da.
Nilva Bianco
OS
HOMENS
Deixou
de ser exclusivida de das mu]heres aprestação
de
serviços
de"massagens
especiais"em
Florianópolis.
Os homens começam a ter vez nestemercadoque crescedia' adia.Antes,pensávamos
que só ern cidades maiores, istopoderia
acontecer. O merca dode"serviços especiais"
exe cutado por homens,ultrapas
sou astelasda TV-novela Olho por Olhoda Rede Manchete- e
chegou
ao cotidiano daCapi
tal."Dê
preferência
bissexual". Assim reagiu a Sôniaquando
tentei me inscrever ern suaequipe.
Ao responder-lhe quetopava qualquer tipo
derelação
sexual, ela começou a pedir
minhaficha
completa.
Altura, peso, cor da pelee dosolhos,cabelo, e que fazia e outras coisas do
gênero
...Primeiramente deveria pas sarpelomesmo cursodemas sagemdasmulherese
depois
...Bom
depois
eraação.Transar corn' homens, mulheres, homens emulheres, agradare ser
contratado. "Vou trabalhar muito? Quanto vou ganhar?"
Foramas
perguntas
quefiz aseguir.
Sôniarespondeuqueomercado estava crescendo. "Este
tipo
deserviço
parahomens está começando agora, mas
já existemalguns
clientes cadastrados. Estamos começando
a ter lucro". Dez mil cruzadosacadaprograma para virar amantealuguel.
Ah!Cínco mil ficam corn a
agência.
Vocêtopa?
João Carlos
Grando
o
General
com um
pé
no
passado
Difícil
parto
Café da
manhã,
camas equartoslimpos,
umestatutode funcionamentoe umadireção
de estudantes. Tudo isso por
umpreço simbólico. Esta éa
moradia estudantildaUniver sidade Federalde SantaCata
rina(UFSC)a
queduraspenas sai do chão..A
primeira parte
daobra deve estarpronta
atéo finaldestesemestre,
eteráumacapaci
dadepara130
lugares.
Aotérmino do
projeto,
1200uníversí táríospoderão alojar-se
emcercade 450
quartos.
Estudantes quenão vão mais
precisar
sesubmeter à
exploração
dosaluguéis
florianopolitanos,
queos
impede
muitasvezesdeconcluirseu curso ouatémes mo
começá-los.
Porém,
faltadefiniroscritériosde
seleção
dos futuros moradores. Para
isso,
o Diretório Central dos Estudantes(DCE)
iráreali-Escola
de
Guerra
propõe
Amnésia Nacional
A Escola
Superior
de Guerrafoicriadaem
1949,
enestetempo
sempe esteve subordinadaaoEs tado Maior das
Forças
Arma das- umórgão
assessor do Presidente da
República. Seguindo
esta
lógica,
aESG ministra cur sosde"Altos EstudosdePoliticae
Estratégia".
O atual comandante da
Escola,
GeneraldeExército Oswaldo Muniz
Oliva, afirma,
porém,
que "não existeaintenção
deinterfe rêncianapolitica
dopais".
Masaspolêmicas
econtradições
emtornOdasidéiasdaESG,
edanecessidade desua
existência,
nãoparamai.
Ao
longo
da conturbada história do
brasil,
a EscolaSuperior
deGuerra sempre esteve envolvida em
questões
conflitantes. Omaior
exemplo,
edoqual
aesquerdabrasileira
(jamais)
vaise esquecer, foia
aplicação
efetivadaDoutrinade
Segurança
Nacional,
durante um dosperíodos
maiscríticos da
nação:
aditaduramilitar,
iniciadaem1964. Eapesarde tudooquehouve,
aDoutrina,
quefoi criada há mais de 30 anos,
permaneceintocada. Comosefos
se umacartilhanaverdade.
Nosúltimosdias 19e20 desetem
bro,
aimprensa
deFlorianópolis
pôde
sedefrontarcomesta"verdade".Alunos
daESG,
cuja
turma ironicamentesechama''Centená-zar um seminário com a in
tenção
detornar este processo menoselitista
possivel.
Amoradia estudantil está lo calizadaacimado
Colégio
deAplicação
e as obras iniciaram nocomeçodoano.Masa
construção
caminha lenta mentee quaseparando
- dificilmente irá bater
algum
recorde
olímpico
naengenharia
civil. - A Universidade não
liberaverbas
-parece quever
ba neste
pais,
só para pagar divida externa.-Libera ape
nas
alguns
pedreiros,
alémdeter fornecido o
projeto
arqui
tetõnico daobra.Nestesemes
tre,somenteodinheirodataxa
dematriculadosalunos - me nos de
quatro
milhões - foiempregado
namoradia estudantil. O resto é
conquista
dospróprios
universitários,·
doDCEedasCasas de Estudan tes
(CEUs).
-rioda
Abolição",
visitavamaCapital.
Junto comeles,
o General OswaldoMunizOliva. Cobertode medalhaseestrelas,
umaverda deira armaduraviva,
otodopode
roso da ESG não teve estrutura
para enfrentarcertas
perguntas.
As mãos do General tremiam e suasfaces setornavamaverme
lhadas
-nominimouma
situação
embaraçosa
paraquemsentepe sadeloscomestacor.Asassociações sugeridas
entre a ESG e aVárias Universidadesdo
Bra
sil
já
possuemamoradiaestudantil.
Entre elasaUniversidadeFe deral do Rio Grande do SuI
(UFRGS),
Universidade Fe deral do Paraná(UFPR),
Universidade de São Paulo(USP).
Segundo Rejane
Gomes,
Presidente do DCE da
UFSC,
"Em todas estas Universida
des,
amoradiaestudantil,
sónasceu
depois
deumahistóriapolítica
deforça
eluta.Esemdúvida,
suaconstução
vaiaju
dar no crescimento do mo
vimento estudantil em nosso
estado. Vamos descruzar os
braços!
Educaçãoéumdireito
quenosé
justo"
concluiReja
ne.
João Carlos Grando
tortura no Brasil atormentaram
asidéiasdocomandante.
"Naque
le
período
saimos de um tristequadragésimo
lugar
naeconomiamundial,
para subirmos àoitavaposição"
,justificou
ele,
semexpli
carque mecanismo é esteque faza
tortura incrementaraeconomia. Paraevitar
ínconveníentes,
oGeneral Oliva tem uma
sugestão
fabulosa-aamnésianacional.
"É
preciso
esqueceropassado,
olharparaofuturo"
,repetiueleaolongo
.das
viagens
queaEscola realizouno último mês e que
incluíram,
além deFlorianópolis,
passagenspor
Campo
Grande,
Corumbá,
Ponta
Porã,
PortoAlegre,
BentoGonçalves,
CuritibaeFozdoIgua
çu.
A frase em
direção
aofuturo,
pronunciada pelo
comandante,
secontradizcom
outra,
enriquecida
com ranços do
passado:
"NãovamosmudaraDoutrinade
Segu
rança
Nacional",
assegurou,"porque
elajá
écompleta
etemobjetivos dignificantes
para·oBrasil. Isso só_deve
ocorrer se
houveruma
mudança significati
va no
pais".
Ouseja:
trata-sedeum
invejável
descasocom a nova
Constituição
Brasileira.
"
Os militares têm
papel
diferenciado dentro da
_
sociedade",
legisla
o comandante. No entanto,
ante àsugestão
departícípa
ção
da ESG nasociedade,
atra vés de auxilio à defesa civil-como nocombateaincêndiosem
florestas,
porexemplo
-, retiroua
tropa.
"Issoé coisa para bombeiros",
defendeu-se.Aparentemente
o General se esquece que a vida é um
jogo
deespelhos:
nãohácomoolhar para afrentesemperceber
oque estápor trás.
Assim,
nestejogo
deespelhos,
surge o inevitável: .êimpossivel
esquecer opassado
-até porque certos atos não se
esquecem
jamais.
OndeoGeneral acerta é que o futuro do Brasilpertence
aosjovens.
O que seespera,
porém,
é queumdia elesseencontrem.
Milton
Spada
Mineiros sentam
no
lugar
do
reitor
Elesestavamem
operação
deguerra.
Alguns
controlavamquem entrava esaia.
Outrosdiscutiamtáticasa se remadotadasnoclarear
do dia.Notas eramredigidas,
comissões dividiam tarefas. Emcolchonetesdispostos
nochão,
debruçados
sobreasmesas,sen tadosnacadeira doreitor,osestudan tes dormiam, marcados pelo ritmo frenéticodo dia. No recuo,algunsjoga
vambaralho parao
tempo
passar maisdepressa.
Em nenhum momento, o campo de batalha foi abandonado. No ar, um sentimento de
angústia
com os últi mosboatos: aJustiça
Federal havia dadoumprazoparaqueelessaísseme a
policia
dechoqueameaçava invadir olocal.Foiestaa
situação
vividapelosestu dantes da Universidade Federal deViçosa,
emMinasGerais,nodia 10 de setembropassado.
Elesinvadiramoprédio
daReitoria eexigiram
a nomeação
do primeiro nome da listasêxtupla
de candidatosareitor,levada à PresidênciadaRepública.
Aalguns
metrosdali,participantes
deumCon gresso deComunicação,
vindos deto dasaspartes dopais,
surpreendiamse: osestudantes negavam-seaaban donar o
prédio
mesmodepois
de circularanoticiadequesuaexigência
seriaaceita.
Aparentemente,
sabiamoqueestavamfazendo. "Nãosairemos
daqui
nem seremosdivididosenquanto
anomeação
não foroficializada",de claravaRita, uma morenabaíxínha.dinâmica,decabeloaneladoecurtoe um
eterno
arvigilante
nosolhoscasta nhos-Agora
já
não sei se vou darinformações
avocês",disseelarepen tinamente para duas estudantes de Santa Catarina queparticipavam
doCongresso
deComunicação.
Aolado,encostavaumacaminhonetedaRede
Globo,quelhes dariacarona.Aconfu são- e a
desconfiança
também tinhaespaço entreeles.
"Ataxadeaderência está sendolenta,
mas sepercebequeo
pessoaÍ
estácadavezmais consciente", avaliava Celso Lins de Oliveira, da Assessoria de
Imprensa,
num diaapós
a invasão. Horasdepois,
asituação
mudava:pi
quetes
foram formados em todos oscentros,umgrupo assumiaatarefade mantero
prédio limpo
e opatrimônio
preservado,osinformes corriamcom
rapidezeeficiência.Numaassembléia que envolveu cerca de 600 alunos,
foram tomadas decisões fundamen tais para queomovimento retomas
se a um
pique
decampanha.
Não foi em vão. A comunidade uni versitáriadeViçosa
fezo quenão foipossivel
fazer nas universidades fe derais do Rio Grande do Sul e daBahia,naUNIRIO (RiodeJaneiro)e naUNIR(de Rondônia).
Nestas,
ape sarda revolta dos
estudantes,
osreito resempossadosnãoforamos mesmos escolhidospelaeleição partidária.
Na UniversidadedoMatoGrosso,
oreitor escolhido estáaguardando
hámeses suanomeação pelo
MEC.Porisso,oexemplode
Viçosa
é,antes de maisnada,acomprovação
dequea universidade democrática quesebus ca requerumtrabalhoinsistente,
às vezes,commuitaaudácia.BICICLETASE UDR
Durante umasemana, o movimento
grevista mobilizou a
Fundação
Uni versidadeFederal deViçosa,
que pos suicinco mil alunosemantém convê nioscomempresascomo aItamaraty
(de Mato Grosso do Sul) e a DowQuimica
(de São Paulo), quejá
foipresidida
peloex-mínísto doSNI,Golbery
doCoutoeSilva.Celso Lins coloca aquestão
como apreparação
de "mão de-obraespecializada,comaltatecnologia,
para trabalharpelos
interesses doGovernoedasmultinacionais quepagam.Não
de formarumprofissional
critico,
comcapacidade
decontestara sociedadeesabersuafunção
social". Andandopelocampus,oquesepercebe
é umaheterogênea manifestação
de camadas sociais.Háalojamentos
ba ratosdo lado de dentroeprédios
deapartamentoscom
aluguéis
bemmais carosdo lado deforadauniversidade. Tudo está lotado. Hágentequeanda de bicicletaehácarrosdoano emotos. Norefeitório,
camisetas fazem propagan da tanto da UDRquanto da reformaagrária,
mas todoscomemo mesmofeijão
com arroz e tomam o mesmo leite.O novoreitor, por sua vez,
já
conta com umproblema antecipado:
"nãonos interessa
qual
o nomefigura
notopo
dalistasêxtupla
doscandidatos. Oque queremos é queesse nomeseja
respeitado",
explicou
Antônio César deSouza,presidente
doDCE.Ecompletou
comdecisão: "apartirdoprimeiro dia demandato,seremosoposi
ção".
Antônio
Fagundes,
onomeado,já
foi reitor da UniversidadedeViçosa
eétido
como umdospais
dacidade univer sitária.Nasuaprimeira gestão,
de 1974a78,
praticamente
construiuo a cam pus,crioucargosedeuempregoscom salários quesãootriplo
doqueganhamos que executam a mesma
função'
fora doslimites daUFV.
Em83,nocargode
pró-reitor
deadministração
-criado por ele na
gestão
anteriorfoiacusado porrepressãopoli
cialeperseguição
politica
aosuníversí tários.Aindasenãobastasse,criouo140salárioe
suspeita-se
de desvios de verbas.Aparentemente,
osestudantes sabemoque estão fazendo.Maria Alauci
Macarini
OUT-88
ZERO
P
Cuidado!
.
Nino
Noya,
esteseucolunista ex-clu-si-vodoZERO,
vai fazer umaperegrinação pelos
bares,restaurantese similares desta
city.
Não, fofinhos,
nãovoutra zeraquelas
dicazinhas chatas degastronomia
nemoutras bai tolices dogênero,
e sim um verdadeiroserviço
de utilidadepública:
oranking
dos sanitá rios deFloripa.
Apartir
dopróximo
número,
voudivulgan
doa
classificação
doslugares.
Bem
devagar
prá
irdespertan
do acuriosidade
(só
assim vo cês valorizam maismeuZERO,
gatões
...).
Ai vãoumas pequenas
orientações
sobre aescalaRichter/Noya
de insalubridade embanheiros.Esta escalafoiinventada
depois
de uma
feijoada
na casa de campo de umafamosa socialite. Sofriumrevertérioe,enquanto
meditavano
trono,
resolvi passarotempo. Vejamoquesobrou
depois
que deidescarga
pela
primeira
vez(nem
tudo descena
primeira):
A
pontuação
vai de zeroadez,sendo diretamente
proporcio
nalà
periculosidade
do ambien te analisado.Zero- Banheiro
perfumadinho,
geralmente apelidado
de toilete,
comespelho redondo,
toalhalimpa,
saboneteliquido
epapel
higiênico
macio com odorjas
mim. Adescarga,
quando
acionada,libera desodoranteno va so.
Um
-Tampa
do vasomijada.
Ah,
essarapaziada
dehoje
não tem mesmopontaria!
Pente-lhosnochão. ,Dois - Pia e chão
mijados.
Acompanha
ofe-dorzinhocarac teristico.Faltaáguana
torneira eoespelho
estátrincado. Vocêtem uma
ligeira
pressa emsair.
Três -
Barata esmagada
no espelho.
Dentro dovaso,talqual
flotilhas
inglesas singrando
oalto-mar,dois
tijolinhos
o enca ramcomternura. Vocêprende
a
respiração
e olha orelógio,'
rezandoprá
conseguirterminar
oxixi de
cerveja
omaisrápido
possível.
Quatro
-Toalha de pano molha da e
apresentando coloração
ligeiramente
estranha.Papel
higiênico
comasperezaequiva
lente a lixa de metal.
Esgoto
abertonocanto maisescurodo W.C. As
portas
identificam masculino e feminino com ca pas da revistaAmiga.
Cinco
-Descarga quebrada.
Aliás,
nuncafoiusada,pois
não háligação
deágua.
Numcanto,umabaciacheia deum
liquido
turvo espera quealgum
incauto searrisque
a lavar o rosto.Quando
issoacontece, umpro tozoário seposta
debraços
abertos diante da vítima. Aporta
do banheiro traz umaporrada
degrafitos
que chamam você de
tudo,
menos de bonito. Fedor quaseinsuportá
vel.
Seis - Não hávaso. Prá soltar
barrovocê
precisa
ficarde có corassobreumburaconochão.Papel?
Nem pensar. No máxi moumjornal
dasemanapassada,
página
dos
editoriais. Na suafrente,
rabiscada
naparede,umafrase que é
impossível
deixar de ler: "Se vocêjá
deuorabinho, dê uma risadinha...
"
Na
saída,
você pensaem
colo carafedentinanumagarrafa
eusarnaguerra
química
Irã-Ira-que. ,
Sete- °escuroé total. E estra
nho, nenhum cheiro... Você se examina melhor e constata a
morte clínica de seunariz (foi
demais
prá
ele).
"Como avísar osparentes?",
meditavocêenquanto pisa
emalguma
coi sa maleável.Oito
-Ambiente quase indescri tível. A
primeira imagem
que lhevemàcabeça
éaquele
filmeitaliano,"A
Comilança".
Sobre apia
quebrada,
vômito aindaquente,
porção
paraquatro
pessoas.
Nove -
Pesquisando
um poucomais,
épossível
perceber
novômito um resto de
caipirinha
já
amargaealguns
fiosdema carrão. Seolocalfor deluxo,acaipirinha
éde vodca. Do contrário,
decachaça.
Dez-A atmosfera não
permite
aexistência de vida.
Donos debares,restaurantese
similares, tremei! Nino
Noya
vai pegar nospés
de vocês.Tchau,
queridinhos
... I am thebest!
Quem
levou,
levou.Agora.
vaiserdurezaTiro
o
-moo,
tiro!
Bancade revistaemfrenteao
CentrodeConvivênciadaUFSC,
llh30 da manhã. Vinte e sete
pessoas num espaço de dezoito
metros quadrados: esta é uma
ótimaoportunidadeparavocêle
varparacasaaquelarevista gos tosa, mas que está além deseu
orçamento.
Tudo o que você deve fazer é entrar com sua'
pasta
aberta,aproveitarotumultopara "passar
amão"noque desejae "sair de fininho".
Osfurtossãofreqüentes,equando alguémésurpreendido,devolveo material,semque nada theacon
teça de mais grave, a não ser
escutarumabroncadogarotoque
alitrabalha, Eduardo Di Biondi. Com três anos de casa, ele até arrisca a
traçar
um perfil daspreferênciasdos' 'arrochadores". Os rapazespreferemasrevistas de armas e esportes (principal
menteInsideeFluir),bemcomo as pornográficas. As garotas fi
camcom aBizz,Cláudiae
Capri
cho.
Hátambémumaturmaespecial,
os colecionadores de selos, que rompemo
plástico
da"Selo"para carregaremasestampas desejadas. Porém, apreferência geral
dos furtadores recai sobreosdo
ces,chocolates, chicletes,etc. "A maior parte do pessoal que rouba estuda na UFSC, mas os
alunos do
Colégio
de Aplicação também fazemsuasvisitas", diz Adriana Espindola que auxilia Eduardo. Elaseadmira que mui tosdos''espertinhos" sejamfilhos deprofessoresefuncionários.A.C.G., um aluno da Universi
dade,confessaque
já
levoualgu
mas"Inside"paracasa,e sedes
culpadizendoquetem vontade de lerarevista, mas achaque não valeapenacomprá-la.Háquem
.
-...,..
•• , ••• :I � •
Nino
Noya (D.V.)
acheospreçoscarosdemais,eque
com essacriseomelhormesmoé
"passaramão",
O dono da banca, Antônio Reis
de Carvalho, faz mensalmente
um balanço, e quando há dife
.rençacomoacontece quasesem
pre, cobra-adeseusempregados.
Paraelenão existeprejuízo,mas
lamentaqueodinheirotenhaque sair do bolso de EduardoeAdria
na,E Antônioquestiona:
"De que valeadquirirculturarou
bando?"
Mas se vocêpensouemdaruma
passada amanhapelabanca para furtaruma "Veja", uma "Play
boy", ou umchocolate, émelhor pensar duas vezes antes, pois
Eduardoprometequeapartirde agoraadotaráuma atitude mais sériavaiacompanhar''o arrocha dor" até a Polícia do Campus,
Afinalcomoeledizesequeixa,"os
neguinhosnãoarrochamdodono, massim de quem trabalha todosos
dias, das 7h da manhã às 5h da tarde".
Glauco
Galenes
...'...- }L'.... _..._ ,.._ ...._ '"•__ '_..._�_-. ...�_" _••_",._..•••.... _. _..•,••, '••' ,••�.�... ....,...lo•••••••_ ...' �_' .._ ...� ', .._.,.,0_'...�,'.,_.,. ..._ ..
�."._ '."�__..'_...__ • � � _ • ... .. "�...._
Os
sem-terra
impõeml
a
luta
continua!
Os
agricultores
sem-terra de
Santa Catarina
não
se
.
assustaram
com o
fim
da
reforma
agrária
na
Constituição,
já
que
a nova
carta enterra
qualquer perspectivã.
Reunidos
em
Ponte
Serrada,
no
dia
11
de
setembro,
35 mil
agricultores
mostraram que
não vão
ficar calados.
Na 3a
Romaria da
Terra
de
Santa
Catarina,
eles expressaram
sua
religiosidade
edisseram que
a
luta
pela
terra
continua.
Para
eles,
a
terra
pertence
a
todos
os
homens
e
não
pode
ser
apropriada
por
poucos
privilegiados.
Os trabalhadores urbanos também
participaram
da
Romaria,
pois
sabem que
os
problemas
que enfrentam
nas
cidades
tem
origem
no
monopólio
da terra
(leia-se:
latifúndios).
.
A
produção
pode
ser
coletiva
Um pouco além do trevodeIrani, à direitade quem vai paraoextre moOestecatarinense, pelaBR282, estáumdos
primeiros
assentamen tosinstaladospelo
Mirad,emSanta Catarina. São 596 hectares traba lhados por32famílias,
queplantam
hádoisanosecolhemháum,
jáquea
terra tem
problemas
defertilidade. Elas têm que vencer mais estabarreira,paranãoserem
despeja
dascom aalegação
dequenãotemvontadedetrabalhar,maseles não
perderam
aesperançademelhorar suacondiçãodevida, nemabando naram aluta dequeforampioneiros
emSanta Catarina.
O assentamento25 de Maio
-uma
recordação
ehomenagem
à datadaprimeira ocupação,
em1985- foia sede da 3aRomaria da Terra em SantaCatarina.
Em 1985, Santa Catarinaera co nhecida como um Estado que não tinhaproblemasfundiários.Isso foi atéodia25demaio, quandotrês mil pessoas ocuparam uma área em
Mondai,noextremoOeste.
Depois
dediversos assentamentos
provisó
rios, 32familias- cercade 300
pes soas- acabaram sendo
instaladas,
ou
jogadas,
em Ponte Serrada, a oitoquilômetros
dacidadeea531de osromeiros,cumprimentando
Florianópolis.
uns e
outros,
"comomilitanteda Nonovomunicípio
encontraram reformaagrária"
,atéodelegado
uma comunidade fechada, que se
doMirad/SC,JacóAnderle,inter-
esforçavapara
parecerocontrário.pretou
amanifestação
como EncontraramumaIgrejabemdífe "mostrada
insatisfação
dosagri-
rente cujo bispo, DomHenrique
cultores frente ao
projeto
de re- Müller,da diocese de
Joaçaba,
três anos depois ainda fazquestão
deformaagráriado
governo; umato lembrar queasfamíliasvieram de de'repúdio
aos constituintes que outrasdioceses(comosenãopudes-optaram pelo latifúndio,
que é asemmudar de
lugar).
E encontra basedesustentação
dopoderpoli:
ramtambémumaterraimproduti
tico
oligárquico
rural".va, abandonada
pelos
quedetinham O coordenador estadualda Co- opapel
de posseequesechamavam missãoPastoraldaTerra,Carlos de donos. Mas estes só souberamBellé,impressionadocomamaci-
tirara madeiraque existia nela. ça presençadeagricultores, prin-
Ainda assim talvez tenha sidocipalmente
dooestecatarinense,
mais fácil mudar asituação
daonde ocorrem mais conflitos de terra,embora
ninguém
saibaexpli
terra,
avaliaque
"estafoiamaior car - ou não lembra - como asromaria
já
realizadanoBrasil". famílias sobreviveramnoprimeiro
Belléjácomeçaapensarnaquar-
ano,quandotrabalharamaterrae taromaria, que,provavelmente,
nãocolheramnada.seráemLages.
Elessabiamqueteriamqueadubar
Já oteólogo
colombiano Al- ecorrigir
o solo para não colher fredoFerro,que percorreoPais nadanaprimeira
safra.Masa vondesde março desteanoparaum tadeeramaisforte(seráqueaUDR
acompanhamento
e estudo teo-seriatãopersistentenotrabalho?)e
lógico
dasromarias,dizqueesseé eles continuaram..
.
umfenômeno
singular
doBrasil. Trabalho coletivo "Mostra que aIgreja, aqui,
tem Os trabalhadorestiveramquejo
um trabalho de base como ne- gar 30 toneladas de calcário por nhum
partido politico.
hectare paragarantir,
nasegunda
As romarias das terras (são 40 safra, uma colheita total de 700 por ano no Pais) se
distinguem
sacasdemilho,150 dearroz e1M de das romarias tradicionais a lu-feijão.
Mas issonão será suficiente garessagrados
por todoumtra- para asobrevivênciadas famílias balhodepreparação,
deconscien- duranteoano,porissoelasdeverãotização prévia
da maioria dos continuar dividindootempoentreopartícípantes".
trabalho em sua terra e na dos A Romaria de Ponte Serrada outros, onde pagam arrendamen terminou com oplantio
da cruz to.de cedro e a
bênção
e distribui- Aotodosã0317famílias-oscasaisção
de 500 Kg de sementes detêmentre30e50anos-quevivemem
arroz, milho e
feijão. É
o aviso ummunicípio
marcadopelas
grandossem-terra de que, com a despropriedades.Dos 106 mile200 derrota da reforma
agrária
na hectares de Ponte Serrada, 52%Constituinte, os
acampamentos pertencem
a25proprietários.
Desvão continuar se
multiplicando
tes, quatromilsomam28 milhecta naspropriedades
dos "tubarões res.das terras sem-fim", como diz
Masosnovosdonosdaquelaárea
"seu" Marcolino,umpequenoquehojelevaonome
"Assentamenagricultor
deConcórdia. to 25 deMaio" - têmmais coisasa Razões para invadir não fal-
ensinaraquemnãosabefazeroutra
tam. Os 20 maioresproprietá-
coisa quenãosejaacumular terra. rios do Pais controlam20.219.412 O grupodejovens
do assentamentoha, 5%das terrasbrasileiras, tem uma área onde tentam fazer
igual
à mesmaquantidade
que umaprodução
coletiva.Elesestão possuemcerca"e
3,3milhõesde apenas iniciando e por isso têmagricultores.
Asmultinacionais
muito queaprender.
Mas sabem possuem36milhões deha., 9,7% que sóvãoconseguir
implantar
suado
Pais,
o dobro das terras dospropriedadecoletivadepoisdemui
camponeses. O maior latifúndio tas tentativas e iniciativas, comodo Pais tem 2,5 milhõesdeha. E aconteceuem85. falta terra?
Dom
José Gomes:
"A
UDR
"A
luta de
-é
contra
o
povo
brasileiro"
classes está
Desde
sexta-feíra,
9,osromei ros começaram a acampar no assentamento "25 de Maio". No sábado vieram mais. Domingo, ummardegente, ônibus, paus-de
ararae carrosde
passeio:
35milpessoas de todos
os pontos
do Estadoinundaramaterrapreta,
arada,seca eadubada à esperada semente. Vieram também delegações
doParanáeRio Grandedo Sul e.observadoresestrangei
ros.
Grupos
de violeiros e sanfoneiros, tocando músicas serta
nejas adaptadas
a letrasagrá
rias, embalavam a multidão crescente. Oroncodoscarros eraabafado
pelas
vozeshumanas que brotavam de todos os ladosnumcanto de encontroe
protesto.
Umafilainterminávelde ônibusdespejava
homens, mulheres ecrianças
demãoscalejadas
echapéus
depalha.
Ocampoe acidadese
abraçavam
nosrostosdetodas asraçaseroças,nosolharesangustiados
eesperançososdecolo nos eoperários.
A Romaria daTerra reuniu o povoemguerra contraolatifún dio.
A"classeroceirae aclasse
operá
ria"jánão
esperam maisaReforma
Agrária
da "nova"Repúbli
ca, queprometeu
distribuir 43 milhões de hectaresnoPaise,até agora, nãodesapropriou
nem 10 milhões..
Em Santa Catarina, 1.577 famí liasde
agricultores
sem-terraconquistaram,
atravésde ocu-r,pações
enegociações,
....mil hectares. O Mirad/SC
prometeu
as sentar29 milfamilias até 89.Cento e
quarenta
e cinco mil famílias (700 milpessoas)
que remvera "terraprometida"
.- Não
importa
teremparado
a reformaagrária
na Constituin te. Elavaiacontecer,porque este povo valexigir
mudanças
naleiefazercomque asterras abando nadas nas mãos dos latifundiá
rios, um dia, caiam namão dos trabalhadores que delas
preci
sam enelas querem
trabalhar,
dizo
bispo
deChapecó,
Dom José Gomes.A cena lembra os filmes de Franco Zefirelll ("Os Dez Man
damentos", "Jesusde Nazaré") ou o
�xodo
doshebreus doEgito
rumoà Palestina.
Depois
deumquadro
sobreasituação
dotraba lhadorno campo, oformigueiro
humano toma formadeumrioecomeçaa "caminhada" de dois
quilômetros.
Umanuvemdepoei
raamarela da estrada que cortao assentamentoseergue por entre as faixas, cartazes e a cruz de
cedro, símbolodas romarias. "Eles (os sem-terra) enfrentam um faraó muito mais
poderoso
queodoEgito,
que éamilitarizaçãodocampoetodaessafaltade leis para
proteger
oagricultor",
compara Dom José.A
procissão
pára.
As mulheresagricultoras
eoperários
sobem aopalco,improvisado
sobre umvelhoScania,para denunciarsua
discriminação
emarginalização.
O rio degente
avança mais um poucoeéa vezdojovemda roça dizerpor que estáem"êxodoru ral".Pedearticulação
entrecampoecidade. Maisadiante,exibe se oquadrodoentiodasaúdebra sileira:10milhõesde
leprosos,
13 milhões de deficientes,doença
dechagas,
câncer,lombriga,
cárie...Aids...
É
meio-diae o povo está com fome. Senta-se numsub-bosque,
no meio da mata. Não há só oscincopães
etrêspeixinhos
do Monte Sinai, mas a "bóia" de cada um entra napartilha.
Osdesprevenidos
pagamCz$ 100,00por um sanduiche de
queijo
e mortadela. Para desembuchar, sete bicas deágua
corrente erefrigerantes
apreço de mercado. Um show de músicas serta
nejas recheadas de trovas des contraiatodos.
Depois vem a
celebração
dasconquistas:
a terra, a diversificação
daprodução, adubação
verde,
cooperação agricola,
associações-
deprodução
e comercialização
esindicalização.
Osprimeiros
frutos da terra conquistada
são ofertas sobreoaltar coberto de lonapreta
dosbarra cos dosacampamentos.
Juntam se também as colheitas das se mentes dístríbuídas na romaria anterior.
-Aqui
estáumaprovadequeo povo nãosedobra diantedás
leisinjustas
e vaiconquistando
seus direitos. Pelaspropostas
do governoé quase
impossível
sair reformaagrária.
Os assentamen tosaté agora realizadossãofruto -dapressãodopróprio
povoenão da eficácia do Mirad. E a UDR está fadada adesaparecer,
por que é contraopovobrasileiro",declarou Dom José Gomes, sob
aplausos,
duranteosermão.Geraldo
Hoffmann
Discretamente infiltrado entrese
aguçando"
o
sociólogo
edeputado
constituinte FlorestanFernandes(PT-SP),quees teveemFlorianópolis
eBlumenau,no último dia 31 de setembro, não vêsolução
paraaquestão agrária
dentro daordemcapitalista
institucionaliza da.Asmudanças
devemocorrerfora da ordem. Diz que,porfalta de visãohistórica,
aUDRbloqueou,
naConstituinte,ocaminho que maisinteressava aela
própria,
oderesolveroproblema
fundiáriopacificamente.
Abaixo, reproduzimos
trecho daentrevista coletí va que Florestan Fernandes concedeu no diretório
regional
do PT, e que nãofoipublicado
pelagrande
imprensa.
,De1967paracá,aumentoua
penetra
çãodo
capitalismo
nocampo.Todaa economiadopós-guerra
naAmérica Latina édeincorporação
às economias centrais. O Brasile oMéxico foramosdois
paises
quesofreramumaincorporação
maisintensa. Absorveramomodo
monopolista
deprodução capita
listaetiveramalterações maciças
no processodeindustrialização
edepenetração
docapitalismo
nocampo. Ocurioso, no caso brasileiro, é que essapenetração
docapitalismo
no camposeacompanha,
nãodaextinção,
masda
recomposição
do latifúndioede todososdramasanteriores,deexpul são dapopulação
do campo para acidade,o
inchaço
dacidadecomofenô menopermanente.
Aditadura introduziu issocomo uma técnicapara aliviartensõessociaisno campo, transferindo-as paraacidade,
e através deum sistema
repressivo
modernizadoeconcentrado,submetê lasaocontrole
pela
violência.As
condições
para resolveraquestão
agrária
nãosurgiram.
Elasdeveriam ter nascidodopróprio capitalismo.
Eocapitalismo
nãogerou atéagoraessascondições.
Deumlado,oproprietário
daterra continuasendolatifundiário enãoabremão dolatifúndio.Associao latlfúndfoa suasegurança, ao seu
poder,
ao seuprestígio
local,regional
e nacional.Poroutro lado, nãohá porparte
do governorespostas
nosentido decriar programasdereformaagrá
riarealmente eficazes. Criou-seumapolítica
decolonização
edeslocamento detensões,deexpulsãodo trabalhador da terra para a cidade. Aquestão
agrária apresenta
nuances distintas emcadaregião
doBrasil,masapresen taem comum ofatode nãosepoder
arranjar solução
dentroda ordemso-cialexistente.
Há dois
grandes
canais de mobilízação:
ACPT-Comissão PastoraldaTerra,que
representa
umaalternativa que procuraasolução
daquestão
agrá
riadentrodaordem. A
burguesia,
em vezdeficar furiosacom aCPT,deveria reconhecê-la.É
claro queexistemnaCPT correntes mais radicais e que
defendem
soluções
reformistaseaté revolucionárias. Masapolítica
oficial daIgrejaéadaConciliação,
doconvi viopacifico,
dasolução pacifica
dosproblemas.
ACPT procura viascompatíveis
com acriação
deumasocie dade civilcivilizadae uma novaevolução
histórica.Masa
burguesia
ruraleurbanaestá tão. cega diante do
problema agrário
que,se a
propriedade
éameaçada,
achaque elaseráameaçada
emtodososluga
res . Eháumoutrocanal depolitiza
ção, quevinculaaCPT, mas que
tem um'nexomais profundo com os
partidos politicos
- oPT,os PCs. São formas depolitização
maisradicais,deconteúdo reformistamaispro
fundo,eque colocamalternativasmais
amplas, mas que, ao mesmo
tempo,
não sãoviáveisnas
condições
atuais. SeaConstituição
tivesseaprovado
areforma
agrária,
ela teria dado umimpulsoàs tendências
pacificas
deso
lução
doproblema
(oquenãopode,
noentanto,ser
comparado
aoEstatutodaTerra,elemento'
'pra inglês
ver" eque só funcionou noque dizrespeito
aos programas decolonização).
A UDRbloqueou
ocaminhode maiorinteresse para elaprópria,
porfalta de visão histórica.Aracionalidadedocompor
tamentoburguês,
nocaso,setransfor mou numairracionalidade,porqueproduziu
efeitos contráriosàqueles
que deveriamservisados. .Na medida em que os
oprimidos
nãovêem
condições
dealteração
den trodaordem,eles vão procurar condições
dealteração
forada ordem. Oquesignifica
queosistemarepressivo,porsua vez,temdese
reorganizar
eestásereorganizando.
O Exército Brasileiro nãoestáImportando
armasmoderni zadasderepressão
para brincar. Há umaprevisãode aumentodeluta de classesnacidadee nocampo.Eháumreaparelhamento
dossistemas de repressão policial-militar
paraImpedir
qualquer
subversão àordem.A
geografia
é
• •
mais
Importante
do
que
a
política?
EnquantoJoséGomes, Bispode Cha
pecóe ex-presidentenacionaldaComissão
Pastoral da Terra(CPT)sepreocupouem
explicarosentidoreligiosoepolíticoda lutapela terra,seucolegaDomHenrique
Müller,da diocese deJoaçaba,que tem
jurisdiçãosobre PonteSerrada,esforçava
separalembrarumaquestãogeográfica:
que diocese teriacomofiéisas32 familias
que estão morando noassentamento 25
de Malo? Para ele esteproblemaassu
miu proporções até maiores do que a
razão principalda romaria. Assim pa
receu aos romeiros que escutavam o
bispo chamar a atenção para este as
sunto. Pols, comoele insistiu, "a preo
cupaçãodaIgrejadevesercom ospecados
cometidos pelo rebanho, ou em outras
palavras,deslizesespiritualsenão"peca
dos"terrenos,como abrigapelaterra.
Dom Henrique fez questão de lem
brar queoprefeitoAntoninho Rossi, de
Ponte Serrada, recebeu multo bem os
"irmãos vindos da diocese de Chape
cô", como se não fosse responsabilida
de dopoderpúblicoresolverosproble
massociais
..Alémdisso,nosermão,que
deveriaserummanifesto de acolhida do
bispoanfitrião daRomaria,fezquestãode
ressaltar que ele visitou "todas as 32
famiJias",láinstaladas."Grandecoisa"
comentouumromeiro.
Mesmo tendo visitado todasas fanú
lias,DomHenriquenãosoube citarmeta
de dosproblemasenfrentadospeJasfanú
lias,citadospor DomJoséGomes,em sua
mensagemdurantecelebraçãodatarde.É
claro queesteteve umaacolhida muito
melhorqueosromeiros. Eumdos motivos
foi ele ter dado muito malsimportânciaà
situaçãodo povooprimidodoqueafútil
questão dos limites entre as dioceses.
Principalmentenumaregiãoque foi
ce-nário da mals sangrenta guerra civil
brasileira porcausadeumadisputade
fronteiras.Quemnão conheceaGuerra do
Contestado?
AprimeiraRomaria da Terra há dois
anos, foiemTaquaruçu.local deumadas
batalhas do Contestadonomunicipiode
Fraíburgo(diocesedeJoaçaba);asegun
da, no anopassado, foi emPapanduva (DiocesedeCaçador),numaárea decon
flito entreagricultorese oexército,ea
terceira faina diocese deJoaçaba.Curio
samenteduas foramnaDiocese doBispo
tidocomoomais conservador doRegional
Sul IV da CNBB, o Estado de Santa
Catarina, e nenhuma foi realizada na
dioceseemque maisavançounadefesa
dosoprimidos,deChapecó.
Paraseteruma idéia melhorda diferen
çaentreosdoisbisposbasta fazeruma
análise dos movimentos existentes em
cada diocese.
Enquanto a CTP foi criada em Cha
pecô,em1977,por DomJosé,quechegoua
presidiro movimento anível nacional,
bemcomooCIM!-Conselho
Indígenísta Missionário-só dezanosmais tarde Dom
Henriquecomeçouaaceitaromovimento
em sua diocese. Mas mesmo assim o
movimento surgiu pelamobilizaçãodos
agricultoresquecomeçaramaparticipar
decursosediscussõesemoutrasdioceses
por contaprópria.
Esse aspecto e arealização de duas
romarias najurisdição de Dom Henri
querepresentamaconfirmaçãodateoria dobispodeChapecó,queopovo temo
poderde transformarasociedade. Pelo
menos umbispoestá sucumbindo.