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QUANTO TEMPO SERIA NECESSÁRIO PARA O TJDFT ACABAR COM OS SEUS PROCESSOS?

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REPATS, Brasília, V.6, nº 2, p 317-339, Jul-Dez, 2019

QUANTO TEMPO SERIA NECESSÁRIO PARA O

TJDFT ACABAR COM OS SEUS PROCESSOS?

HOW MUCH TIME WOULD BE NECESSARY TO TJDFT

TO END ALL THEIR PROCESSES?

Júlio Edstron S Santos

*

Fabiana Alves Calazans

**

Fabiane Cordova Tolentino

***

RESUMO: Este artigo acadêmico demonstrou, por meio dos métodos de revisão

bibliográfica e análise de dados oficiais, a aproximação entre a prestação de serviços jurisdicionais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e o princípio constitucional da eficiência. Para tanto, se percorreu sinteticamente a história do Judiciário no Brasil e especialmente na Capital da República (DF) apontando sua relevância e dificuldades na atualidade. Por fim, com base nos dados oficiais foram destacados os principais índices de produtividade deste Tribunal e mostrado o tempo estimado para a finalização dos atuais processos, tanto com a manutenção da taxa de entrada de novos processos, como, se hipoteticamente não houvesse novos feitos judiciais.

Palavras chave: Poder Judiciário; TJDFT, Princípio da Eficiência.

ABSTRACT: This academic paper has demonstrated, through methods of

bibliographic review and analysis of official data, the approximation between the provision of jurisdictional services of the Federal District Court and Territories (TJDFT) and the constitutional principle of efficiency. In order to do so, the history of the Judiciary in Brazil and especially in the Federal District, pointing out its current relevance and difficulties, was examined. Finally, based on the official data, the main productivity indexes of this Court were highlighted and the estimated time for the completion of the current processes was highlighted, both

* Professor do IDASP/Palmas. Diretor Geral do ISCON do TCE do Tocantins. Doutor em Direito

pelo UniCEUB. Mestre em Direito Internacional Econômico pela UCB/DF. Membro da Comissão de Ensino Jurídico da OAB/MG. Membro dos grupos de pesquisa NEPATS - Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor da UCB/DF, Políticas Públicas e Juspositivismo, Jusmoralismo e Justiça Política do UNICEUB. Editor da Revista de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor – REPATS. E-mail: edstron@yahoo.com.br

** Pós-Graduada em Gestão Pública pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU/MG.

Licenciada em Matemática pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU/MG. Graduando em Direito pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - Uniplan/DF. Servidora do Conselho Nacional de Justiça. fabianacalazans@yahoo.com.

*** Pós-Graduada em Direito Constitucional pela Universidade Cândido Mendes - AVM Faculdade

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with the maintenance of the rate of entry of new cases and, if hypothetically, there were no new legal actions.

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INTRODUÇÃO

Este paper, calcado na utilização dos métodos da revisão bibliográfica e análise dos dados estatísticos oficiais aproximou academicamente a atuação do Poder Judiciário do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), com o princípio constitucional da eficiência, apontando com a verificação sistemática dos dados oficiais, os principais indicadores de custos e atuação do TJDFT no ano de 2017. Registramos que uma das marcas de um país em desenvolvimento são as enormes diferenças sociais e econômicas, que impactam negativamente na prestação de serviços públicos. No Brasil essa realidade não é diferente, somos uma das maiores economias mundiais, mas em várias áreas há um déficit de atendimento à população, como saúde, segurança e educação, o que afeta consideravelmente a prestação dos serviços jurisdicionais.

Assim, pontuamos que o Poder Judiciário foi historicamente a estrutura estatal orgânica, que julgava as demandas que lhe eram apresentadas, atuando para a pacificação da sociedade. Porém, por fatores internos e internacionais, este vem recebendo um maior reconhecimento, inclusive, havendo um considerável aumento de suas competências na Constituição de 1988.

Como efeito do incremento de suas competências, o Poder Judiciário brasileiro tem recebido um número cada vez maior de processos, atingindo no ano de 2017 o impressionante número de mais de 80,1 milhões de processos aguardando julgamento. Essa situação vem gerando desafios e críticas quanto à qualidade da prestação jurisdicional, tanto doutrinárias, quanto populares.

Buscando resolver esta situação por meio da Emenda à Constituição n. 45 foi promovida uma reforma do Poder Judiciário e a criação do Conselho Nacional de Justiça, sendo que estas ações visavam dinamizar a prestação jurisdicional e ao mesmo tempo privilegiar o princípio constitucional da eficiência. Salientamos que o princípio da eficiência deve guiar todas as ações da Administração Pública, levando-a, desta maneira, a tornar as ações estatais mais eficazes, na busca pela efetivação dos direitos e garantias fundamentais para a população.

Ao aproximarmos o princípio da eficiência das ações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) foram apontados que atualmente

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se encontram em andamento 674.538 (seiscentos e setenta e quatro mil, quinhentos e trinta e oito) processos em tramitação, gerando uma proporção de aproximadamente um feito judicial para cada quatro brasilienses, demonstrando ao mesmo tempo a fragilidade da Administração Pública que é uma das principais demandadas e a litigiosidade de nossa sociedade.

Por causa dessa dimensão o TJDFT no ano de 2017 teve um orçamento total de R$ 2.676.427.175,00 (dois bilhões, seiscentos e setenta e seis milhões, quatrocentos e vinte e sete mil e cento e setenta e cinco reais), sendo que a maioria dos gastos é com magistrados e servidores, deixando pouca margem para o desenvolvimento de novas estratégias que efetivem o princípio da eficiência.

Um fato que foi demonstrado é que caso não houvesse a entrada de novos processos o TJDFT, com a estrutura atual demoraria estatisticamente um ano e sete meses para zerar o seu estoque de processos. Contudo, devido ao acúmulo processual, mantida a entrada de novas demandas, frente a taxa de produtividade e eficiência atual, demorariam cinquenta e seis anos e sete meses para que todos os processos sejam finalizados.

No texto apontamos que com os dados acima não realizamos um juízo de valor, apenas constatamos pelos dados oficiais que há necessidade de que a academia apoie as estruturas públicas na busca por soluções que efetivem o princípio da eficiência pela Administração Pública e no caso em tela pelo Judiciário do Distrito Federal e Territórios.

Portanto, a conclusão inescapável deste artigo acadêmico é: Algo precisa ser feito!

2 PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL: uma ligeira conceituação

O Poder Judiciário do ponto de vista histórico é o guardião do cumprimento do Direito, zelando através dos tempos pelo implemento das leis e, na atualidade, também é o guarda da realização integral da Constituição de cada país. Este poder já sofreu cerceamentos com os regimes autoritários, cometeu deslizes históricos, mas também teve um papel importante na concretização dos direitos através dos tempos, bem como demonstrou Arnaldo Godoy, para quem:

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“verifica-se que as togas não temeram os tanques de guerra” (2008, p. 197), citando o exemplo, do Habeas Corpus 40.976-GB, impetrado pelo escritor Carlos Heitor Cony, contra perseguição política, ao tempo do último regime militar no Brasil. Destacando-se ainda, a seguinte síntese acadêmica sobre a sua instauração deste órgão estatal no Brasil:

O Poder Judiciário brasileiro começou a se estruturar com a transferência da corte real de Lisboa para o Rio de Janeiro, no início do século XIX. Em 1808, o Tribunal estava com cerca de 200 anos quando a Corte portuguesa veio para o Brasil, fugindo da guerra na Europa. O Rio de Janeiro passou a ser a capital do Brasil e, nesse mesmo ano, o Príncipe Regente, Dom João VI, por meio de um decreto régio, criou um Conselho Supremo Militar, o Banco do Brasil e substituiu o Tribunal de Relação do Rio pelo Desembargo do Paço. (DISTRITO FEDERAL, 2006, p. 21)

No Brasil o Poder Judiciário teve amparo em todas as nossas Constituições, reconhecendo-se que: “o estabelecimento do Judiciário enquanto poder autônomo é resultado de um longo processo de transformação nas organizações brasileiras” (STRECK, 2018, p. 1413). Assim, este poder teve um papel importante tanto na efetivação dos direitos e garantias essenciais, quanto da própria democracia brasileira ao longo de nossa história.

Há, inclusive, o reconhecimento de sua relevância desde a égide da Constituição Imperial de 1824, descrita academicamente pelo jurista Pimenta Bueno, para quem: “O poder judiciário, segundo nosso direito público, é um poder político distinto e independente, é, como os demais poderes, uma emanação da autoridade soberana da nação”. (BUENO, 1958, p. 317).

Por conseguinte, atualmente1 no Brasil, o Executivo, o Legislativo e o

Judiciário são estruturas orgânicas com alto grau de especialização, denominadas constitucionalmente de poderes e são: “independentes e harmônicos entre si”(BRASIL, 2018, p1), tal como demonstra o artigo 2° da nossa Constituição Cidadã, seguindo a velha lição de Montesquieu (2003). Porém, presentemente também se constata que há pontos de contato entre eles, tais

1 Deve-se lembrar de que na Constituição Imperial de 1924 houve a única experiência de

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como: o compartilhamento do orçamento público e os focos de tensão gerados com a criação e aplicação das leis.

O Poder Judiciário historicamente teve a função principal de julgar os casos que lhe são apresentados, contudo, com o passar do tempo, ele recebeu uma acentuada valorização em suas atividades, principalmente após os horrores da Segunda Guerra Mundial, como demonstram os estudiosos do movimento jurídico difuso e variado denominado de neoconstitucionalismo, tais como Miguel Carbonell (2003), Georges Abbooud (2016) e Eduardo Gambi (2011), devendo ser lembrado a seguinte lição doutrinária:

A existência do Poder Judiciário no Estado Democrático de Direito é assim, de importância vital. Amesquinhá-lo ou procurar diminuir, até mesmo por via obliqua ou reflexa, a sua independência, são condutas que colocam em risco, até mesmo, as conquistas armazenadas, por séculos, em favor da Humanidade (SANDOVAL, 2012, p.182).

Neste sentido, também Ferreira (2016) identificou que o Poder Judiciário no Brasil atuou como impulsionador dos direitos e garantias fundamentais, uma vez que, por ter garantias constitucionais como, por exemplo, a inamovibilidade, pode enfrentar questões polémicas sem o perigo de represarias políticas. Portanto, em um ambiente democrático o Judiciário pode assumir a liderança da proteção de direitos que são reconhecidos, mas que ainda não receberam a proteção expressa da legislação tal como o casamento homoafetivo, que ainda divide opiniões populares.

Como uma das consequências do incremento das atribuições do Poder Judiciário, a Constituição Brasileira de 1988 concedeu amplas competências a esse poder e, sobretudo, reconheceu o “princípio da inafastabilidade da jurisdição” (BRASIL, 2018, p 5), ou seja, todos estão submetidos à jurisdição estatal e ao mesmo tempo o Judiciário deve responder a todos os questionamentos que lhe são apresentados.

Valendo, neste diapasão, a lembrança da vetusta lição do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ilmar Galvão: “a garantia de acesso ao Judiciário não pode ser tida como certeza de que as teses serão apreciadas de acordo com a conveniência das partes” (BRASIL, 2018, p. 45), ou seja, o Poder

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Judiciário tem o dever de responder as partes, não de acatar os seus pedidos, que devem ser avalizados a luz de um processo democrático de avalição das provas apresentadas pelos contentores.

Devido ao seu reconhecimento constitucional houve uma hipertrofia deste poder em nosso país, que em 2017 contava com uma força de trabalho de 18.168 (dezoito mil, cento e sessenta e oito) magistrados providos, 272.093 (duzentos e setenta e dois mil e noventa e três) servidores e 158.703 (cento e cinquenta e oito mil e setecentos e três) auxiliares, o que resultou em um gasto equivalente a 90,5% da despesa total do Poder Judiciário, que naquele ano era de: R$ 90.846.325.160 (noventa bilhões, oitocentos e quarenta e seis milhões, trezentos e vinte e cinco mil e cento e sessenta reais), segundo o relatório: “Justiça em Número 2018”. Sendo que historicamente houve ainda a seguinte evolução de gastos e investimentos:

Gráfico 12

Reconhece-se também que devido à expansão de suas competências constitucionais houve um exponencial aumento do número de processos apresentados à justiça, chegando-se no ano de 2017 a casa dos 80,1 milhões de processos pendentes como demonstrou o levantamento oficial: Justiça em

2 Gráfico elaborado pelos autores com base no documento “Justiça em Números” do Conselho

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Números”3. Causando congestionamentos na prestação jurisdicional e

problemas de todas as ordens, especialmente pessoais, sociais e econômicas. Assim, buscando sanar problemas estruturais no Poder Judiciário e em sua prestação de serviços à sociedade foi promulgada a Emenda à Constituição de número 45 (EC/45), no ano de 2004, realizando uma reforma constitucional no tocante ao Judiciário, provocando alterações sensíveis na atuação judicial, que passou a ser pautada pelo direito à “razoável duração do processo” (BRASIL, 2018, p 06).

Registra-se que desta maneira também se valorizou a utilização do princípio constitucional da eficiência, através da atuação de um órgão especifico chamado de Conselho Nacional de Justiça, que tem a função de supervisionar as atividades administrativas e financeiras deste poder republicano.

O presente órgão bem pode servir para auxiliar no combate aos males que acometem o Poder Judiciário, a saber, a delonga em exercer a função jurisdicional e a ausência de transparência, decorrente de sua natureza fechada, infenso que é as tentativas fiscalizatórias. (TAVARES, 2018, p. 971)

Neste sentido, o Poder Judiciário se encontra em uma encruzilhada já que recebeu uma ampla competência constitucional, em um país que está em desenvolvimento e logo tem grandes desafios sociais e econômicos. Ao mesmo tempo deve ser efetivo na prestação jurisdicional, já que recebe um grande aporte financeiro e administrativo e está sob a tutela dos princípios constitucionais tais como a previsão expressa de atuação com eficiência, como será demonstrado a seguir.

2.1 O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território (TJDFT) e o princípio constitucional da eficiência

Após verificarmos que o Poder Judiciário tem uma complexa função de julgar os casos que lhe são apresentados, apontamos que ele possui um capítulo

3 A publicação Justiça em Números é um levantamento de dados do Poder Judiciário, que é

sistematizado e disponibilizado, por meio físico e eletrônico, gratuitamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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próprio na Constituição Republicana de 1988, que lhe atribui prerrogativas e expõe os seus órgãos, entre eles a chamada “Justiça Estadual”. Que trata do reconhecimento da competência dos Estados membros de legislar e se auto organizar, inclusive, quanto a estrutura do Judiciário, conforme possibilita o artigo 125 de nossa Norma Ápice, seguindo a nossa tradição desde a Constituição de 1934.

Neste sentido, o Distrito Federal, que é um ente do Estado brasileiro, com competência hibrida no sentido de que acumula as funções dos Estados membros e dos Municípios, tem seu próprio Poder Judiciário seguindo preceito constitucional que visa auxiliar o desenvolvimento e pacificação da sociedade sobre a sua jurisdição. Lembrando a seguinte lição doutrinária:

Historicamente, vindo desde o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, há extensa legislação de organização judiciária para o Distrito Federal, com modificações que se introduziram ao sabor da ampulheta do tempo. (MESQUITA, 1981, p. 1)

Lembramos também que o Distrito Federal foi uma construção jurídica da nossa Primeira República para que se consolidasse a sede do poder político de nosso país e neste sentido, quase sempre, houve a intenção de interioriza-la por vários motivos, como, por exemplo, a segurança da capital de nossa nação que até então ficava no litoral onde poderia ser alvo de uma invasão estrangeira, como apontaram Enaildo Viana e Ricardo Rabinovich (2018), ou ainda como demonstra o seguinte excerto:

A ideia da mudança da capital do Brasil foi defendida em 1789, por Tiradentes. Na época ele propunha a transferência para a Vila de São João Del Rei, interior de Minas. Foi o passo inicial, uma longa e quase interminável trajetória. A ideia da interiorização da capital, já no Planalto Central, foi defendida por figuras conhecidas da nossa história, como o jornalista Hipólito José da Costa, fundador, em Londres, do Correio Braziliense, em 1808, quando enfocou na edição de 1813 a questão. No curso, surge a adesão de figuras de peso como a de José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarca da Independência. Dele teria partido a sugestão de dar à futura cidade o nome de Brasília. O historiador Francisco Adolfo de Vanhargem, o Visconde de Porto Seguro, tornou-se ardoroso defensor da ideia, chegando, em 1877, aos 61 anos, em lombo de burro, a realizar uma penosa viagem ao Planalto Central, a fim de conferir o local onde deveria ser a capital. Em 1891 os constituintes republicanos inseriram no texto constitucional o

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princípio da mudança da capital, consagrado nas constituições que se seguiram. (DISTRITO FEDERAL, 2006, p. 32)

Porém, apenas no governo do então Presidente Juscelino Kubistchek houve a construção de nossa atual capital, que recebeu o nome de Brasília e foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960, inclusive, contando, com uma estrutura do Poder Judiciário, que inicialmente foi formada por juízes e desembargadores

que optaram por se mudar para a nova sede do Brasil. Destarte, sobre a

formação do Poder Judiciário do Distrito Federal apresentamos a seguinte lição histórica sobre os primórdios deste poder em Brasília:

Em 13 de abril de 1960 a Lei foi votada pelo Senado em regime de urgência, sendo levada no dia seguinte à sanção presidencial. Assim nasceu a 1ª Lei de Organização Judiciária, de número 3.754 de 14 de abril de 1960, que passou a regulamentar o Poder Judiciário da Nova capital. A magistratura passaria a ser recrutada por meio de concurso. Foi feita a primeira composição dos órgãos de 1a e 2a instâncias mediante transferência, a pedido, de Desembargadores, Juízes de Direito e Juízes Substitutos da Justiça do Distrito Federal e dos demais Estados. (DISTRITO FEDERAL, 2006, p. 32)

Salientamos que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios também guarda uma particularidade que é a competência de estabelecer jurisdição sobre os territórios que vierem a existir no Brasil. Não nos olvidamos que em linguagem técnica “território” é o espaço que está sob a guarda do governo federal, dentro dos limites dos Estados membros, portanto, são municípios vinculados diretamente à União, tal como já aconteceu com Fernando de Noronha, por exemplo. Porém, por questões políticas esta é uma instituição em pleno desuso na Terceira República Brasileira, já que nenhum membro da Federação brasileira quer perder espaços geográficos para a União.

Seguindo, da sua criação com apenas oito juízes na primeira instância em 1960, o TJDFT, no ano de 2017 contava o serviço de 389 (trezentos e oitenta e nove) magistrados, 7.342 (sete mil trezentos e quarenta e dois) servidores e 5.037 (cinco mil e trinta e sete) auxiliares, o que resultou em um gasto equivalente a 93,1% da despesa total do Tribunal que, naquele ano, era de R$

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2.676.427.175 (dois bilhões, seiscentos e setenta e seis milhões, quatrocentos e vinte e sete mil e cento e setenta e cinco reais).

O número apresentado acima se torna ainda mais significativo quanto notamos que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Distrito Federal em 2018 atingiu o número de “2.974.703 pessoas”, ou seja, há um alto valor de manutenção do Poder Judiciário, se comparado com o número de habitantes desta unidade da Federação brasileira. Assim em 2017, segundo o CNJ, o custo da justiça no TJDFT foi de R$ 892,15 por habitante, mais que o dobro da média nacional que foi de R$ 437,47, devendo-se fazer uma reflexão acerca dos motivos desta discrepância, já que não há óbices como a distância territorial, como em outros entes federados.

Frente aos elevados gastos com o Poder Judiciário deve-se ainda analisar que “a ideia de se elevar a eficiência a princípio constitucional da Administração Pública indica que a sociedade brasileira não está satisfeita com os serviços recebidos pelo Estado” (SANTOS, 2016, p. 57). Constata-se, que em um ambiente de ‘tempos líquidos’ tal como proposto por Zigmunt Bauman (2007), em que as mudanças são constantes e a incerteza está quase sempre presente, a estrutura estatal se encontra em constante adaptação para atender a população.

Dessa maneira, frente aos problemas atuais, a sociedade exige constantes modificações, como as crescentes cobranças populares por mais resultados nas ações estatais ou a resolução dos 81,1 milhões de processos judicias ativos em nosso país no ano de 2017, que ainda aguardam julgamento. Em conclusão lógica esses problemas acarretam também uma má prestação jurisdicional, deixando a sensação de que algo precisa ser alterado, gerando, inclusive, a constatação de que:

Com o progresso tecnológico, as mudanças sociais têm ocorrido com muita rapidez. Mas o Estado, cuja finalidade essencial é servir à população continua, pelos seus órgãos, a mover-se lentamente, sem encurtar a estrada ou aumentar o passo (RIBEIRO, 2015, p. 70)

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É válido lembrar que a atual Administração Pública, em sentido amplo, abarca todas as atividades desenvolvidas pelo Estado, inclusive aquelas prestadas pelo Judiciário. Sendo que as medidas tomadas por este poder também estão sob a égide do modelo de administração gerencial, o qual estabelece metas e que se foca nos resultados. Contudo, por ter natureza pública, essas atividades devem estar amparadas pelas normas constitucionais e legais, devido ao princípio constitucional da legalidade. Ainda ressaltamos a noção de que “a marca mais visível da reforma do Estado Brasileiro foi à introdução da exigência de conduta eficiente, elevada a condição de princípio constitucional” (MIRAGEM, 2013, p. 35).

Neste sentido, espera-se que a prestação jurisdicional também siga esse padrão de conduta em que há valorização do cumprimento dos objetivos estabelecidos para cada órgão público para uma prestação de serviços eficiente e efetiva. Sendo esta, também, a conclusão apresentada pelo então Ministro Ayres Britto no Habeas Corpus n°. 94.000 da seguinte maneira:

(...) de nada valeria a CF declarar com tanta pompa e circunstância o direito à razoável duração do processo (e, no caso, o direito à brevidade e excepcionalidade da internação preventiva), se a ele não correspondesse o direito estatal de julgar com presteza. Dever que é uma das vertentes da altissonante regra constitucional de que a "lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito" (inciso XXXV do art. 5º). Dever, enfim, que, do ângulo do indivíduo, é constitutivo da tradicional garantia de acesso eficaz ao Poder Judiciário ("universalização da Justiça", também se diz). (BRASIL, 2018, p. 543)

Deste modo, o ponto fulcral deste paper é apontar que todos os poderes constituídos de República Brasileira estão submetidos aos mecanismos e estruturas de controles internos e externos, como é do espírito democrático e republicano, inclusive, positivados no Preâmbulo da nossa Constituição. E, desta maneira, impõe um dever de atuação a todos os órgãos de nosso país.

Lembramos ainda que “a eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa, portanto, a conduta do agente” (CARVALHO FILHO, 2018, p. 32). Desta forma, não podemos nos olvidar que, especificamente sobre o prisma jurídico:

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A eficiência de que se trata quando se refere ao princípio jurídico-constitucional da eficiência, embora tenha origens nas ciências econômicas, é conceito jurídico, daí porque não se admite – sob qualquer alegação – mera transposição de conceitos econômicos para definição do princípio. Certamente, exercem influência, põem não determinam. (MIRAGEM, 2013, p. 39).

Neste sentido, o TJDFT em sua função jurisdicional também deve primar pelo princípio constitucional da eficiência, visando incluir o cidadão na sua tomada de decisão, seja no plano processual ou estratégico como a abertura ou fechamento de varas judiciais e ao mesmo tempo resolver problemas sociais que lhe são apresentados todos os dias.

Melhorar a governança pública, ouvir a população, planejar melhor, ter bons processos de trabalho, escolher servidores públicos com critério, ter indicadores que possam ser mensurados e melhorados continuamente, articular a atuação dos diversos agentes sociais, divulgar com total transparência os resultados alcançados e, consequentemente, criar condições favoráveis para investimentos internos e externos e para o desenvolvimento nacional sustentável. (NARDES; ALFOUNIAN; VIEIRA, 2016, p.199).

Portanto, do ponto de vista jurisdicional observa-se, ainda pelo relatório oficial do CNJ, que o TJDFT recebeu um incremento do volume processual nos últimos cinco anos, com exceção do ano de 2017, o que se verifica na tabela abaixo relativa à gestão judiciária.

Tabela 1

Pelo bem da clareza numérica o restante dos gastos (6,9 %) do total do orçamento corresponde a outras despesas que se dividem em correntes,

Ano Processos 2013 2014 2015 2016 2017 Casos Novos 395.052 417.789 431.135 469.858 431.758 Pendentes 528.441 553.532 653.722 767.797 674.538 Baixados 468.984 469.800 416.759 423.970 443.636 Sentenças 428.076 452.273 410.875 455.956 406.951 GESTÃO JUDICIÁRIA TJDFT

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despesa com capital e informática, segundo dados retirados do painel Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça do ano de 2018, se relacionando com a própria manutenção das atividades do Tribunal, como por exemplo, a compra de computadores. Sendo que historicamente houve a seguinte evolução dos gastos deste órgão do Poder Judiciário quanto aos gastos e investimentos do TJFT:

Gráfico 24

Salienta-se ainda que a despesa total do Tribunal no ano de 2017 teve um crescimento de 3,5% em relação ao ano anterior, resultado de um aumento de 2,57% das despesas de pessoal e 18,1% das outras despesas. Este aumento de gastos foi ocasionado pelo crescimento na ordem de 48,1% nas despesas de capital, e 65,1% nas despesas de informática. Em contrapartida, as despesas correntes caíram em 6,47%, causando equilíbrio nas contas do TJDFT no ano de 2017.

Uma constatação que já pode ser feita é que há um constante aumento do investimento estatal no Poder Judiciário, reconhecendo-se o seu protagonismo na efetivação dos direitos e garantias fundamentais. Sendo que esta situação apresenta defensores e críticos como dissertou Max Moller (2011).

4 Gráfico elaborado pelos autores com base no painel Justiça em Números do CNJ.

R$2,24 R$2,27 R$2,25 R$2,29 R$2,34 R$2,40 R$2,43 R$2,59 R$2,68 R$2,0 R$2,2 R$2,4 R$2,6 R$2,8 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 B ilh õ e s

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Ainda com base nos dados oficiais o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios finalizou o ano de 2017 com 674.538 (seiscentos e setenta e quatro mil, quinhentos e trinta e oito) processos em tramitação, aguardando alguma solução definitiva, ou seja, há praticamente um procedimento judicial para cada 4 brasilienses, o que demonstra a litigiosidade de nossa atual sociedade e ao mesmo tempo a deficiência da efetivação dos direitos fundamentais, tendo em vista, que a Administração Pública é uma das principais demandadas no TJDFT, tal como demonstra o gráfico abaixo:

Gráfico 35

A existência de um grande número de processos exige uma estrutura física e uma elevada quantidade de pessoal, já que os litígios não param de ser apresentados. Segundo o relatório “Justiça em Números”, no TJDFT, em média, a cada grupo de 100.000 habitantes, 12.325 ingressaram com uma ação judicial no ano de 2017, sendo que “neste indicador são computados somente os processos de conhecimento e de execução de títulos extrajudiciais, excluindo, portanto, da base de cálculo, as execuções judiciais iniciadas” (Relatório Justiça em Números 2018, p 78).

5 Gráfico elaborado pelos autores com base no documento “Justiça em Números” do Conselho

Nacional de Justiça 256.103 169.624 149.852 75.848 57.436 46.348 25.650 19.823 4.921 2.484 101 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 DIREITO CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO DIREITO PENAL DIREITO DO CONSUMIDOR DIREITO PROCESSUAL PENAL DIREITO TRIBUTÁRIO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS…

REGISTROS PÚBLICOS DIREITO PREVIDENCIÁRIO DIREITO DO TRABALHO

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Salientamos que o alto número de processos aumenta os custos estatais, bem como gera angústia aos envolvidos, devido à demora na prestação dos serviços judiciais. A eficiência é um direito fundamental essencial para pacificação da atual sociedade, sendo inaceitável a morosidade nos feitos judiciais, conforme a vetusta lição de Rui Barbosa: "Justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta" (BARBOSA, 2004, p. 46).

Avançando, o gráfico a seguir apresenta a evolução nos últimos cinco anos da demanda processual analisada na tabela 1, apontando como há um crescimento constante do número de processos e ao mesmo tempo a manutenção do volume de trabalho desenvolvido na prestação do serviço judiciário, gerando demora na prestação jurisdicional aplicada no Distrito Federal:

Gráfico 36

Desta maneira, segundo o gráfico acima os casos novos aparecem em ascendência até 2016, entretanto no ano de 2017, estes diminuem o equivalente a 8% em relação ao ano anterior. Nota-se ainda que os processos baixados aumentaram progressivamente até 2014 e diminuíram de forma considerável em 2015, voltando a crescer nos anos 2016 e 2017.

6 Gráfico elaborado pelos autores com base no painel Justiça em Números do CNJ. 350000 400000 450000 500000 550000 600000 650000 700000 750000 800000 2013 2014 2015 2016 2017 Casos Novos Pendentes Baixados Sentenças

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Também se verifica que os acumulados dos processos pendentes no TJDFT foram reduzidos no ano de 2017, uma vez que os baixados aumentaram e os casos novos minguaram. Ocorrendo um acréscimo de 5% no volume dos processos finalizados, como demonstrando pelos dados deste Tribunal, que vem adotando práticas que privilegiam o princípio da eficiência.

De 2013 até 2016, houve um crescimento acumulado de 45,3% dos processos em tramitação. Em contrapartida, em 2017 foi o único ano que se obteve uma redução de 12% do estoque, ou seja, uma diminuição de 93.259 (noventa e três mil, duzentos e cinquenta e nove) processos. Pontuamos que esta ação foi um importante movimento para se diminuir os processos em tramitação em todo TJDFT e consequentemente melhorar a qualidade da prestação judiciária.

Como consequência em 2016, a taxa de congestionamento dos processos que era de 64,4%, caiu para 60,3% no ano de 2017, conforme gráfico abaixo, devido a ações pontuais do TJDFT, como, por exemplo, o investimento em conciliações, evitando-se, por exemplo, casos como o mais antigo processo ativo deste Tribunal que data de 24 de março de 1969, versando sobre um divórcio consensual:

Gráfico 47

Pontuamos, a bem da clareza conceitua, que a taxa de congestionamento pode ser definida como o “indicador que mede o percentual de casos que permanecem pendentes de solução ao final do ano-base, em relação ao que

7 Gráfico elaborado pelos autores com base no painel Justiça em Números do CNJ.

53% 54,10% 51,10% 64,40% 60,30% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 2013 2014 2015 2016 2017

Taxa de Congestionamento - TJDFT

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tramitou (soma dos pendentes e dos baixados)”, tal como demonstrou o Relatório Justiça em Números 2018 (p. 72), ou seja, este dado é a diferença entre os procedimentos judiciais pendentes e aqueles que terminaram durante o prazo de um ano.

É necessário ainda informar que “de todo o acervo, nem todos os processos podem ser baixados no mesmo ano, devido à existência de prazos legais a serem cumpridos, especialmente nos casos em que o processo ingressou no final do ano-base” (Relatório Justiça em Números 2018, p. 72), seguindo desta maneira, a legislação vigente que impõe prazos processuais a serem seguidos.

Ressaltamos também que há uma diferença considerável entre o número de casos novos em 2017 somados aos pendentes acumulados do ano anterior em relação ao número de processos baixados. Ao somar os casos pendentes de 2016 com os processos novos de 2017, obtivemos 2,7 vezes mais processos do que o número dos baixados em 2017. Buscando a exatidão terminológica, em nosso pensamento, é como dizer que enquanto a soma dos processos pendentes recebidos de 2016 e dos casos novos de 2017 fossem equivalente a 250 processos, o TJDFT baixa apenas 100 processos em 2017, ficando, portanto, 150 processos à espera de finalização.

Estas disparidades exprimem a realidade de que, mesmo se mantido a produtividade dos magistrados e servidores e que não houvesse a entrada de novas demandas, o tempo de giro8 do acervo seria de 1,52, o que corresponde

a aproximadamente 1 ano e 7 meses de trabalho para zerar o acervo. Exemplificando, considere esporadicamente que se todo o acervo de 2017 foi autuado em 31/12/2017, então o acervo seria finalizado apenas em 01/08/2019, caso não houvesse alguma mudança estrutural no TJDFT.

Sob outra perspectiva, utilizando-se o mesmo cenário de 2017 e mantendo-se os números de casos novos e baixados, constantes nos próximos anos e repetindo-se o número de processos pendentes, seriam necessários aproximadamente 56 anos e 10 meses de trabalho para zerar o estoque.

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Percebe-se que para zerar o estoque há uma necessidade de baixar mais processos que o número de processos novos que entram anualmente, assim reduz-se o estoque dos processos pendentes de anos anteriores e diminui-se o acervo dos processos em tramitação. No caso acima, demostramos com a seguinte fórmula: 8 , 56 431758 443636 674538 ) 2017 2017 ( 2017 − = − NOVOS BAIXADOS PENDENTES Anos

Ou seja, 0,8 anos, equivale a 80% de um ano de 12 meses, aproximadamente 10 meses.

Salientamos que o cálculo feito acima leva em conta apenas os dados oficiais apresentados pelo CNJ que apontam uma média histórica indicada pelos próprios Tribunais. Logo, eles são válidos no sentido de se demonstrar tendências. Assim, nossa apresentação se coaduna com a situação atual e busca apontar academicamente um gargalo que precisa ser corrigido para que seja efetivado o princípio fundamental da eficiência na prestação jurisdicional do TJDFT.

Ante o exposto, o elevado número de processos apresentados ao TJDFT consiste em uma das principais causas na demora da prestação jurisdicional no Distrito Federal. Contudo, verifica-se que para redução do acervo dos processos em tramitação, sendo necessário aumentar a produtividade do Tribunal, elevar o número de casos baixados e diminuir a demanda recebida (casos novos) anualmente, para que se consolide o princípio da eficiência neste órgão da Administração Pública Distrital.

Por fim, temos que o princípio constitucional da eficiência deve ser buscado pelo TJDFT porque sua atuação deve reconhecer que cada, processo apresentado, é além de um dado quantitativo uma vida que necessita de uma resposta eficaz do Estado-juiz.

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Por meio de uma revisão bibliográfica e de uma análise dos dados oficiais, demonstramos a relevânia do Poder Judiciário na atualidade, especialmente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), por ser o objeto desta pesquisa, para a efetivivação dos direitos e garantias fundamentais.

Demonstramos que com a promulgação da Emenda à Constituição de n°. 45 (EC/45), houve uma maior preocupação com o estabelecimento de metas e do cumprimento do princípio constitucional da eficiência pelos órgãos do Judiciário brasileiro.

Destacamos principalmente que na busca pela concretização do princípio da eficiência, na prestação jurisdicional brasileira foram verificados resultados positivos como um maior acesso a jurisdição e negativos, tal qual a demora na prestação de serviços jurisdicionais.

Isso posto, apresentamos, de forma sintética, as referências sobre como o Poder Judiciário teve ancestralmente a função de julgar os casos que lhe eram apresentados, atuando na busca pela pacificação social. Contudo, a partir da Segunda Guerra Mundial, o Judiciário passou a receber um maior reconhecimento no âmbito internacional. Sob essa ótica, no Brasil, com a Constituição de 1988, esse poder foi dotado de amplas competências que proporcionaram o reconhecimento constitucional do direito ao acesso à justiça pelos cidadãos e, consequentemente, passou a receber substanciais aportes humanos e financeiros.

Como reconhecimento da relevância do Poder Judiciário e da expansão de suas competências, houve um acúmulo de processos, inclusive, ultrapassando a casa dos 80,1 milhões de procedimentos judiciais no ano de 2017 em nosso país. Como consequência, há grandes reclamações doutrinárias e populares sobre a morosidade e a prestação de serviços judiciários.

Salientamos que o princípio da eficiência deve guiar todas as ações da Administração Pública, melhorando, desta maneira, a tornar as ações estatais mais eficazes na busca pela efetivação dos direitos e garantias fundamentais, que ainda precisam ser implementados em nosso país.

Buscamos aproximar juridicamente o princípio da eficiência das ações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), apontando que

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atualmente se encontra em andamento mais de 674.538 (seiscentos e setenta e quatro mil, quinhentos e trinta e oito) processos em tramitação, gerando uma proporção de aproximadamente quatro ações judiciais para cada morador de Brasília.

Sendo que esta situação demonstrou simultaneamente a fragilidade da Administração Pública, que é uma das principais demandadas e a litigiosidade de nossa sociedade, que não consegue resolver os seus problemas sem a intervenção estatal.

Neste sentido, devido ao alto volume de processos o TJDFT no ano de 2017, utilizou um orçamento total de R$ 2.676.427.175 (dois bilhões, seiscentos e setenta e seis milhões, quatrocentos e vinte e sete mil e cento e setenta e cinco reais), constatando-se pelos dados oficiais que a maioria dos gastos efetuados por este Tribunal foi com os seus magistrados e servidores.

Pela análise dos dados oficiais foi apontado que hipoteticamente, caso não houvesse a entrada de novos processos no TJDFT, com a atual estrutura física e quantidade de magistrados e de servidores, demoraria estatisticamente um ano e sete meses para zerar seu estoque de processos.

Porém, devido ao acúmulo processual, se for mantido o número de novas demandas, frente a taxa de produtividade e eficiência atual, haverá a demora de cinquenta e seis anos e sete meses para que todos os processos sejam finalizados pelo TJDFT.

Portanto, em nosso texto apontamos, com base nos dados oficiais, sem um juízo de valor, que há a necessidade de que a comunidade acadêmica apoie as estruturas públicas, inclusive ao Judiciário, na busca por soluções que efetivem o princípio da eficiência pela Administração Pública e, no caso em tela, pelo Judiciário do Distrito Federal e Territórios, para que a prestação de serviços jurisdicionais não cause prejuízos as partes e a própria sociedade.

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